Doente do sexo masculino, de 69 anos de idade, com défice mnésico e comportamental progressivo, realizou ressonância magnética crânio-encefálica (RM CE) que revelou atrofia cortical de predomínio parietal. Dado o quadro de alterações comportamentais marcadas e a suspeita clinica de Demência Frontotemporal (DFT), foi referenciado para a realização de estudo cerebral de tomografia por emissão de positrões (PET) com fluordesoxiglicose marcada com Flúor-18 (2-[18F]-FDG). As imagens adquiridas 30 minutos após a administração endovenosa de 241 MBq de 2-[18F]-FDG mostraram redução acentuada da captação do radiofármaco no córtex parietal bilateral, especialmente no precuneos (e cíngulo posterior), moderada no córtex temporal bilateral e menos evidente no frontal. Este padrão de hipometabolismo essencialmente posterior é mais sugestivo de doença neurodegenerativa do sistema nervoso central do tipo temporoparietal, designadamente Doença de Alzheimer (DA) (Fig. 1).
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Figura 1: PET cerebral com 2-[18F]-FDG mostrando hipometabolismo temporoparietal bilateral, mais evidente no precuneos e cíngulo posterior, sugestivo de demência de Alzheimer.
A PET cerebral com 2-[18F]-FDG reflete o consumo de glicose pelas células gliais, que produzem adenosina trifosfato, permitindo o normal funcionamento da sinapse neuronal. Consequentemente, é um estudo sensível na deteção de padrões de metabolismo que são característicos para cada demência, sendo particularmente útil no diagnóstico diferencial entre DA e DFT.1 O hipometabolismo da glicose nas regiões temporal anterior, frontal e cíngulo anterior é frequentemente encontrado nos doentes com DFT, enquanto o hipometabolismo nas regiões temporoparietal, precuneos e cíngulo posterior é mais comum nos doentes com DA numa fase inicial, sendo que à medida que a doença progride há envolvimento do córtex frontal.2
Clinicamente, é importante diferenciar os doentes com DFT dos com DA, pois doentes com DFT podem sofrer efeitos adversos graves quando tratados com inibidores da colinesterase.3
No presente caso clínico, o doente apresentava um quadro dominado por alterações comportamentais que levantou a hipótese diagnóstica de DFT e a PET com 2-[18F]-FDG não só confirmou a presença de envolvimento frontal, como evidenciou o hipometabolismo de predomínio posterior, concordante com os achados do exame morfológico prévio (RM CE) e sugestivo de DA.