1. Introdução
É sabido que os portugueses aportaram à ilha de Timor em demanda do sândalo (Santalum album L.), na sequência da conquista de Malaca por Albuquerque em 1511, a que se seguiu a viagem comandada por António de Abreu às ilhas das especiarias, Banda e Molucas. Dessa viagem resultou a documentação cartográfica elaborada por Francisco Rodrigues reportada a c. 1512, também coligida a partir de informação de origem javanesa (Sousa, 2016), que menciona “a ilha de Timor onde nasce o sândalo”, embora se tenha por provável que só posteriormente terá existido contacto com as populações da ilha, cerca de 1514 ou 1515 (e.g. Matos, 1974, p. 36; Thomaz, 1998, p. 594; Casquilho, 2014).
Mas o comércio do sândalo com potências regionais tem uma história mais antiga: no tratado Tao-i-Chi-Lueh (c. 1350) um cronista chinês escreveu que nas montanhas da ilha, aí designada Ku-li Ti-men, não crescem outras árvores senão sândalos, que são muito abundantes, sendo o lenho comercializado em troca de prata, ferro, porcelana e tecidos (Ptak, 1983); ainda Ptak (1983) refere a existência de menções chinesas a Timor anteriores, datadas de 1250 e 1345, sendo então a ilha nomeada como Ti-wu ou Ti-men.
Também há notícia da presença regular de mercadores javaneses, indianos e árabes, entre outros; por exemplo, Timor é mencionada num poema javanês reportado a 1366 (Hägerdal, 2012, p.15) e o cronista da viagem de Magalhães e Elcano, Antonio Pigafetta, refere que, estando aportado em Timor em 1522, viu um junco das Filipinas (lução) carregando sândalo (Pigafetta, 1524, p. 79). Na Figura 1 pode ver-se um esboço da ilha de sua autoria.
O médico português, judeu sefardita, Garcia de Orta, dedicou ao sândalo um colóquio do seu tratado escrito em Goa em meados do século XVI, onde se pode ler:
E quanto he ao sandalo branquo e amarelo, muyto grande cantidade se guasta em toda a India; porque toda a mais gente, ora sejam Mouros ora Gentios, se untam com sandalo desfeito em aguoa, e pisado em pedras, que pera esse mister tem feitas; e asi untam todo o corpo até que se seca pera estarem frios, e cheirarem bem; porque esta terra he muito quente, e a gente della muyto amigua de cheiros. (Orta, 1563/1895, p. 282)
Também existe menção de um mapa de Timor concebido por Emanuel Godinho de Erédia cerca de 1613, onde, para além do sândalo, se refere a existência de plantas medicinais e ouro (Gunn, 2009). No entanto, não parece haver notícia da utilização do sândalo na ilha de Timor como planta medicinal, apesar de lhe serem conhecidas desde há muito propriedades terapêuticas: por exemplo, misturando a madeira moída em pó com água e leite para curar febres altas e gonorreia e ainda como tónico cardíaco (e.g. Sousa, 2018, p. 118), a que acrescem outros usos, incluindo valências anticancerígenas (e.g. Casquilho, 2015).
Um exemplo elucidativo dessa elipse é a lista de 32 plantas compilada no final do século XVIII pelo dominicano Frei Alberto de S. Thomaz (c. 1789/2016), cuidadosamente ilustrada, onde não consta essa espécie arbórea de lenho odorífero. A título exemplificativo mostra-se na Figura 2 a estampa 36 dessa compilação, denominada Dilla/marmeleiro, aí referida como sendo útil contra o veneno da cobra verde, fazendo-se uma aplicação de cataplasma de casca da árvore mastigada junto com betel (Piper betle L.).
De entre os enciclopedistas franceses que visitaram Timor, tem-se conhecimento do botânico Leschenault de la Tour que, no início do século XIX, faz uma descrição detalhada das atribuições dos régulos e do direito costumeiro na região de Kupang (Cupão), incluindo no abate e venda de árvores de sândalo (Durand, 2006, pp. 188-190) e também do texto que Louis-Claude de Freycinet publicou em 1815, onde se descrevem numerosos atributos dos reinos mineral, vegetal e animal (Durand, 2006, pp. 207-216).
Posteriormente são conhecidos os relatos das viagens dos naturalistas britânicos Wallace (1890) que passou quatro meses em Díli em 1861, e de Forbes (1885) que visitou a ilha cerca de duas décadas depois, durante meio ano, deixando uma descrição circunstanciada, acompanhada de anexos sistemáticos onde constam cerca de 255 espécies de plantas. Um marco incontornável na caracterização da flora presente no Timor português é a lista de mais de 240 nomes indígenas de espécies vegetais, elaborada por Ruy Cinatti (Gomes, 1954).
Recentemente Sousa, Silva, Paiva e Silveira (2011) elaboraram um guia de árvores e arbustos presentes na cidade de Díli, com informação detalhada sobre as espécies.
Em termos genéricos de biodiversidade, Timor-Leste está inserido na região denominada Wallaceae (e.g. Denis 2014, p. 11), num dos “hotspots” aí considerados (Sodhi, Koh, Brook & Ng, 2004), propondo-se, a propósito da conservação dos recursos naturais, uma agenda multidisciplinar que inclui a delimitação de reservas e incentivos económicos, controle demográfico, capacitação de instituições e implementação de regimes de conservação (Sodhi, Posa, Lee, Bickford, Koh & Brook, 2010). No entanto, as mudanças no coberto vegetal em Timor-Leste na década 1989-1999 foram analisadas e concluiu-se que no período considerado as florestas de tipo savana tropical decresceram em área quase 15% (Bouma & Kobryn, 2004), assunto revisitado recentemente onde se enfatiza a maior pressão antrópica no Sul do país, resultando em menor abundância e diversidade (Crespi, Ferreira, Fonseca & Marques, 2013).
Por outro lado, é sabido que o conhecimento ecológico tradicional no domínio da etnobotânica e práticas fitoterapêuticas contribui para melhorar e implementar políticas de conservação e gestão dos recursos naturais (Ragupathy, Steven, Maruthakkutti, Velusamy & Ul-Huda, 2008) além de promover a resiliência cultural das comunidades. Este aspecto foi, aliás, ressalvado expressamente para a comunidade de língua fataluku no pós-conflito (McWilliam, 2008), e abordado no âmbito da caracterização aprofundada dessa cultura no tempo do Timor português (Gomes, 1972, pp.202-203).
Neste escrito, procurar-se-á dar um contributo sistematizado de algumas dezenas de plantas referidas como tendo propriedades medicinais associadas a práticas tradicionais em Timor-Leste, efetuada através da revisão bibliográfica da literatura existente e de informação verbal prestada por curandeiros.
2. Práticas tradicionais e plantas medicinais em Timor
Pelos relatos disponíveis, os timorenses - anteriormente à cristianização e até aos dias de hoje - ainda que em formas híbridas, professam uma religião constituída por um conjunto de superstições assente num misto de temor e adoração pelo espírito dos mortos, materializados por pedras, aves, animais, poços, ribeiras ou objetos dotados de misterioso poder mágico, benéfico ou maligno, a que chamam lulik (em tétum) que significa sagrado e intangível (Matos, 1974, p. 34), ou ainda santo e interdito, regulando as relações humanas com a divindade por intermédio da natureza e da invocação dos espíritos dos antepassados (Araújo, 2016). Neste âmbito incorre, para além do sacerdote dato lulik, também a figura do curandeiro denominado matan-dook (e.g. Figueiredo 2004, p. 105) termo que também se aplica a feiticeiro e vidente, significando literalmente “olho longe” (Costa, 2000, p. 244).
Trindade (2016) refere o que o lulik reporta-se ao cosmos espiritual que contém a criatura divina - Maromak em tétum, Uruwatu em makasae- o espírito dos ancestrais e a raiz espiritual da vida, incluindo as regras e os regulamentos sagrados que ditam as relações entre as pessoas, e entre estas e a natureza. Já Freud (1918, p. 128) referia que o animismo é um sistema de pensamento e que a raça humana desenvolveu, no decurso das eras, três grandes representações do universo: animista, religiosa e científica - e que a primeira, não sendo ainda uma religião, contém os seus fundamentos.
Wallace (1890, p. 149) identificou as práticas tradicionais que então observou designando-as pomali e equiparou-as ao conceito de tabu prevalecente nas ilhas do Pacífico, enquanto Castro (1867, p. 315-317) identifica pomali com a casa sagrada, uma-lulik em tétum, também referindo que os estilus de Timor constituem o conjunto de regras estabelecidas pela tradição e observadas pelas comunidades da ilha, conceito que é designado por adat em ilhas vizinhas da Indonésia como seja em Flores (e.g. Moser, 2011, p. 16; Viola, 2013, p. 16).Também Forbes (1885, p. 475) relata minuciosamente um caso em que foi impedido de entrar numa floresta considerada lulik - um interdito cuja violação incorreria em doença e morte, de acordo com a tradição local. Obviamente, também se erguem vozes dissonantes; por exemplo, ainda no período colonial português, o padre Ezequiel Pascoal insurgia-se contra as práticas tradicionais terapêuticas, afirmando: “E que obstáculo à intervenção benéfica da ciência, obstáculo mais nocivo do que se imagina” (Pascoal, 1936).
Moreira (1968) refere que a sapiência dos matan-dook é vastíssima mas secreta, e que as próprias plantas medicinais são consideradas lulik (sagradas) e só podem ser colhidas para fins curativos, sendo bem poucos os que conhecem as suas aplicações. O termo lulik, próprio do tétum, expressa-se doutras formas nos diferentes grupos etnolinguísticos de Timor-Leste de que foram identificados 31 tipos - ancorados em duas raízes principais, designadas respetivamente austranésia e papua-melanésia (e.g. Figueiredo, 2004, pp. 64-70) -, tendo-se por exemplo as palavras: tei em fataluku, pó em bunak, falu’unu em makasae, entre outras.
Existem vários trabalhos que sistematizaram informação relativamente a plantas medicinais utilizadas em Timor-Leste. Além do texto precursor de Frei Alberto de S. Thomaz (1788-1800/2016), já anteriormente referido, Moreira (1968) organizou, por campos terapêuticos, uma lista de plantas medicinais do Timor português. Já depois da independência de Timor-Leste, Collins, Martins, Mitchell, Teshome e Arnason (2006) compararam, em termos de etnobotânica e características fitoterapêuticas, as subculturas laklei e idate, dialetos de idalaka, aparentado a mamba’e, língua do ramo austranésio; na continuidade, produziram uma elucidação sobre as práticas medicinais tradicionais no domínio da etnobotânica na cultura fataluku da região oriental do país e sua importância na resistência à ocupação Indonésia, reportando cerca de 40 espécies vegetais (Collins, Martins, Mitchell, Teshome & Arnason, 2007).
A docente timorense Maria da Costa defendeu, há poucos anos, em dissertação de mestrado, que as plantas medicinais como instrumento de ensino serão de grande importância e que o uso dessas plantas como recurso didático auxiliará na formação e reflexão para o aproveitamento dos biomas e outros recursos naturais e também nas intervenções do homem no meio ambiente (Costa 2010, p. 47). Ainda, elaborou-se um esboço ilustrado de espécies que é utilizado atualmente junto dos estudantes do ensino básico e secundário em Timor-Leste (Ezequiel e Santos, n.d.). Recentemente, uma dissertação de mestrado realizada e defendida na Universidade Nacional Timor Lorosa’e visou a caracterização do valor socioeconómico e cultural das plantas medicinais em Timor-Leste (Martins, 2015).
Naturalmente, a problemática da fitoterapia ao longo dos tempos e no contexto das diversas culturas e biomas, tem uma amplitude transversal: por exemplo a historiadora brasileira Mary del Priore documenta, de forma narrativa, múltiplas utilizações de plantas medicinais indígenas, a par de outras importadas, no período colonial do Brasil (Priore, 2016, pp. 367-383). Ainda, Ferrão (2012) oferece uma boa panorâmica da permuta de plantas ocorrida entre África Ocidental e a América do Sul, no período dos descobrimentos portugueses. Também, Costa e Carvalho (2012) reportam a importância dos Colóquios de Garcia de Orta atrás referidos, na circulação do conhecimento médico entre oriente e ocidente, no século XVI.
3. Metodologia
A metodologia utilizada neste trabalho consistiu de duas etapas. Numa primeira fase recolheu-se da bibliografia consultada, constante na Tabela 1, o conjunto de espécies identificadas ao nível do nome científico, tendo como foco as fontes direcionadas ao tema de estudos sobre fitoterapia em Timor-Leste, como sejam F1, F2, F3, F6, F7, F10, que constituem a base da referenciação, enquanto as outras fontes são utilizadas de forma complementar, dada a sua natureza genérica sobre flora existente em Timor, incluindo exóticas adaptadas, como sejam F4, F5 e F9, neste último caso incidindo exclusivamente em plantas lenhosas dos arruamentos de Díli, embora comportando ocasionalmente informação de natureza fitoterapêutica; por sua vez F8 (Sarmento, Worachartcheewan, Pingaew, Prachayasittikul, Ruchirawat & Prachayasittikul, 2015) reporta especificamente uma só planta cujas propriedades foram estudadas em contexto laboratorial numa vertente bioquímica - tendo os autores confirmado a respetiva relevância em face dos usos tradicionais - e que salientamos, por forma a servir de referência/modelo para estudos análogos.
Código | Fontes |
---|---|
F1 | Collins et al. (2006) |
F2 | Collins et al. (2007) |
F3 | Ezequiel e Santos (s/d) |
F4 | Forbes (1885) |
F5 | Gomes (1954) |
F6 | Martins (2015) |
F7 | Moreira (1968) |
F8 | Sarmento et al. (2015) |
F9 | Sousa et al. (2011) |
F10 | S. Thomaz (c. 1789/2016) |
Numa segunda etapa, foram inquiridos curandeiros matan-dook, sobretudo nas cidades de Díli e Baucau. A inquirição foi livre, no sentido de que lhes foi dada a iniciativa de mencionar plantas associadas a práticas fitoterapêuticas tradicionais, sendo descartados os casos em que houve menos de 5 plantas mencionadas, restando, no final, um total de 45 curandeiros apurados. Para efeitos de sistematização do âmbito fitoterapêutico, utilizou-se a Tabela 2, onde pode ver-se a lista de grupos de patologias/desordens de sistemas orgânicos que foi adotada neste artigo para associar as menções dos curandeiros. Esta foi adaptada das versões existentes em Collins et al. (2006, 2007), com a principal diferença de que na Tabela 2 não referimos os domínios da medicina tradicional veterinária e da terapêutica dos envenenamentos que ocorrem nessas referências por um lado e, por outro, acrescentou-se o grupo das doenças tropicais (G12) pelas numerosas menções efetuadas pelos curandeiros relativas a malária. Também no caso de Martins (2015, pp. 67-71) utilizou-se apenas a síntese da informação relativa às plantas medicinais de Timor-Leste constante nessas páginas.
As menções efetuadas pelos curandeiros são denotadas M(x), sendo x o respetivo número; observe-se no entanto que tal não significa que tenham existido x curandeiros diferentes a mencionarem a planta em questão, porquanto o mesmo curandeiro pode mencionar várias vezes a mesma planta relativamente a terapêuticas de patologias distintas. As menções dos curandeiros foram desambiguadas recorrendo a nomes vernáculos das plantas em diferentes línguas maternas de Timor-Leste, depois associadas frequentemente à língua malaia, para efeitos de se obter fotografias auxiliares disponíveis na internet que permitissem escrutinar a identificação. Naturalmente que neste artigo não nos pronunciamos sobre a relevância das menções, apenas procurando reportar o que nos foi comunicado.
Código | Grupo de patologias |
---|---|
G1 | Inflamações, infeções, infestações |
G2 | Lesões (feridas, pequenas cirurgias) |
G3 | Desordens ortopédicas (esqueleto, tendões e músculos) |
G4 | Desordens do sistema digestivo |
G5 | Problemas de obstetrícia |
G6 | Problemas dermatológicos |
G7 | Desordens urológicas, venéreas e genitais |
G8 | Desordens do sistema respiratório |
G9 | Desordens do sistema cardiovascular |
G10 | Síndromas indefinidos: psicológicos/neurológicos/cefaleias/nutricionais |
G11 | Desordens sistemas sensoriais (oftalmológicas, surdez, etc) |
G12 | Doenças tropicais (malária) |
Adaptado de Collins et al. (2006, 2007)
4. Resultados
Apresentam-se os resultados que derivaram da compilação bibliográfica referida e da auscultação aos curandeiros, organizados alfabeticamente por família botânica. Em alguns (poucos) casos utilizou-se sinonímia, quando as correspondentes fontes a implicavam, sendo o sinónimo apresentado entre parêntesis retos, por exemplo [Cascabela thevetia (L.) Lippold]. Para efeitos da nomenclatura botânica adotada utilizou-se preferencialmente o sítio da internet Tropicos (tropicos.org), complementado pelo sítio Encyclopedia of Life (eol.org) e outros; em poucos casos deixamos a fonte interrogada (?) porque embora nos pareça ser tal, não houve confirmação absoluta.
4.1. Espécie(s) da Família Acanthaceae
Na Tabela 3 pode ver-se o grupo de plantas da família Acanthaceae que são reportadas na literatura mencionada, das quais Ai-kahoris é mencionada como associada à terapêutica de patologias do problemas não claramente identificados ou síndromas indefinidos (G10 na Tabela 2) e, residualmente, do sistema digestivo (G4).
4.2. Espécie(s) da Família Acoraceae
Na Tabela 4 pode ver-se que a planta Kanuan é mencionada, sendo associada à terapêutica de patologias do sistema digestivo (G4), ainda problemas ortopédicos (G3) e outros não claramente identificados (G10).
4.3. Espécie(s) da Família Amaranthaceae
Na Tabela 5 relativa à família Amaranthaceae ocorreram duas menções em relação à única planta reportada na literatura: uma relativa ao sistema digestivo (G4), outra urológica (G7).
4.4. Espécie(s) da Família Amaryllidaceae
Na Tabela 6 relativa a plantas da família Amaryllidaceae, alho e cebola são mencionadas pelos curandeiros relativamente à terapêutica de problemas digestivos (G4), mas com uma conotação de panaceia, também para infestações parasitárias (G1), doenças tropicais (G12), lesões (G2), problemas ortopédicos (G3) e outros, incluindo do sistema respiratório (G8).
4.5. Espécie(s) da Família Anacardiaceae
Na Tabela 7 relativa a plantas da família Anacardiaceae, o cajú é mencionado para terapêutica de problemas respiratórios (G8) e a casca das mangueiras para problemas cardiovasculares (G9).
4.6. Espécie(s) da Família Annonaceae
Na Tabela 8 relativa a plantas da família Annonaceae, tem-se que Ai-ata (nona) é mencionada sobretudo no âmbito do grupo de problemas digestivos (G4), embora também com uma conotação de panaceia (problemas dermatológicos, cardiovasculares, etc.) enquanto que Ai-ata mala’e é mencionada para cálculos renais (G7) por exemplo.
4.7. Espécie(s) da Família Apiaceae
Na Tabela 9, a cenoura tem uma menção relativamente a tratar infestações parasitárias (G1).
4.8. Espécie(s) da Família Apocynaceae
Na Tabela 10, relativa a plantas da família Apocynaceae, só existem duas espécies mencionadas pelos curandeiros: Ai-hanek (casca e folhas) tem muitas menções relativas ao tratamento da malária (G12), mas também cefaleias (G10) e infestações parasitárias (G1); por sua vez, Ai-sucar é mencionada sobretudo para problemas do âmbito respiratório (G8); Santo Antoni tem uma menção relativamente a problemas do âmbito digestivo (G4).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Alstonia scholaris (L.) R. Br. | Ai-hanek (mutin)/Ai-dotik*/Roti+ | Regiões tropicais | F1, F5, F7, F9, M(14) |
Alstonia spectabilis R. Br. | Karuti metan, Wiahara# | Austrália, Timor | F1, F4 |
Cerbera manghas L. | Ahioan/Amibya# | Índia, ilhas do Índico | F2 |
Ervatamia pubescens (R. Br.) Domin | Ai-laliti | Ásia, Papua Nova Guiné, Austrália, Ilhas do Pacífico | F1 |
Plumeria rubra L. | Ai-santantoni/Santo Antoni/Chempaka+ | Jamaica, Suriname, América tropical | F1, F6, F7, F9, M(1) |
Thevetia peruviana (Pers.) K. Schum [Cascabela thevetia (L.) Lippold] | Ai-liis/Jepun+ | América central e do sul, Perú | F1, F9 |
Wrightia pubescens R. Br. | Ai-litik metan | Sudeste asiático, Filipinas | F1 |
Calotropis gigantea (L.) R. Br. ex Schult. | Ai-sucar/Ai-tabuac* | Ásia e África tropicais | F1, M(4) |
4.9. Espécie(s) da Família Araceae
A planta referida na Tabela 11 da família Araceae não foi mencionada pelos curandeiros.
4.10. Espécie(s) da Família Arecaceae
Na Tabela 12 constam as plantas reportadas na literatura da família Arecaceae, das quais o fruto de Bua é primariamente mencionado pelos curandeiros como sendo adequado para esfregar na pele a propósito de lesões (G2) e também para dores algo indefinidas (G10); o óleo de coco é muito mencionado à laia de panaceia embora com ênfase em lesões (G2) e fraturas (G3) e também problemas dermatológicos (G6) ou mesmo respiratórios (G8).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Areca catechu L. | Bua/Pinang siri+ | Sudeste asiático | F3, F5, F9,M(14) |
Arenga pinnata (Wurmb) Merr. | Tali-metan/Tali tua/Naulurú+/Para# | Ásia tropical, Indonésia, Índia | F5, F6, F9 |
Cocos nucifera L. | Nu’u/Vata# mimiraka#/Hesabul+ | Trópicos (indeterminada) | F2, F3, F4, F5, F6, F9, M(17) |
Metroxylon sago K.D. Koenig | Tali-babak/Acar | Sudeste Asiático, Molucas, Nova Guiné | F5, F6 |
4.11. Espécie(s) da Família Asphodelaceae
O aloé referido na Tabela 13 da família Asphodelaceae não foi mencionado pelos curandeiros.
4.12. Espécie(s) da Família Asteraceae
Na Tabela 14 da família Asteraceae, a planta Birama (tétum) ou Baibailada (nome makasae) é mencionada repetidamente, sendo as folhas esmagadas utilizadas como cicatrizante externo de feridas (G2), também referida como “betadine de Timor”. Trata-se de uma planta que não foi detectada antes na pesquisa bibliográfica realizada, sendo exótica e considerada infestante.
4.13. Espécie(s) da Família Brassicaceae
As folhas do agrião, referido na Tabela 15, são mencionadas para tratar lesões na boca/aftas (G2).
4.14. Espécie(s) da Família Bromeliaceae
O ananás, referido na Tabela 16, só mereceu uma menção relativamente ao grupo G5 (obstetrícia)
4.15. Espécie(s) da Família Burseraceae
A planta Ai-quiar referida na Tabela 17 não foi mencionada pelos curandeiros.
4.17. Espécie(s) da Família Caricaceae
Na Tabela 19 da família Caricaceae, a papaeira é mencionada sobretudo relacionada com a terapêutica da malária (G12) usando infusão de folhas, mas também infestações de parasitas (G1) e o sumo do fruto mencionado para cálculos renais (G7).
4.18. Espécie(s) da Família Casuarinaceae
Na tabela 20 relativa à família Casuarinaceae a planta Ai-kakeu é mencionada como tratamento em infusão de casca para problemas do sistema digestivo (G4) e urológicos (G7).
4.19. Espécie(s) da Família Clusiaceae
Na Tabela 21 a planta correspondente não foi mencionada pelos curandeiros.
4.20. Espécie(s) da Família Convolvulaceae
A batata doce referida na Tabela 22 não foi mencionada pelos curandeiros.
4.23. Espécie(s) da Família Dioscoreaceae
A planta da Tabela 25 foi objeto de uma menção, relativa ao foro ginecológico/obstétrico (G5/G7).
4.25. Espécie(s) da Família Euphorbiaceae
Da Tabela 27 de plantas da família Euphorbiaceae existem várias que são mencionadas: em relação a Ai-kami menciona-se sobretudo que os frutos esmagados são utilizados para problemas de lesões (G2) e ortopédicos (G3), mas também em problemas do sistema digestivo (G4) e obstétricos (G5); por sua vez, frutos e folhas de Ahi oan (“luz pequena”) são mencionados para tratar fraturas (G3), lesões (G2) e desordens do sistema respiratório (G8); ainda, Ai-farina é mencionada sobretudo para o tratamento de malária (G12) e também do sistema cardiovascular (G9); finalmente, há uma menção do rícino para problemas respiratórios (G8).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Aleurites moluccana (L.) Willd. | Ai-kami/Ai-badut*/Pokuru#/Bá-dut-mi+ | Molucas | F1, F2, F4, F5, F6, F7, F9, M(22) |
Euphorbia atoto G. Forst. | Foy hasa reku reku# | Ásia, Austrália, Ilhas do Pacífico, Tahiti | F2 |
Jatropha curcas L. | Ahi-baduk(t)/Ahi oan/Mutu mutu mimi raka# | México, América central e do sul | F1, F2, M(7) |
Jatropha gossypiifolia L. | Ai-baduk malay/Damar merah+ | América tropical, ilhas do Caribe | F1, F9, M(2) |
Mallotus philippensis (Lam.) Müll. Arg. | Ai-manu teen/Lurdi* | Índia, Ásia do sul e sudeste | F1 |
Manihot esculenta Crantz | Ai-farina | México, América do Sul | F3, M(7) |
Ricinus communis L. | Ai-Kalula mean/Mealum+ | Sudeste do Mediterrâneo, África oriental, Índia | F1, F4, F5, M(1) |
4.26. Espécie(s) da Família Fabaceae
Na Tabela 28 pode ver-se o grupo de plantas da família Fabaceae que são reportadas na literatura referida, das quais: Ai-laras/Kadus é mencionada como associada à terapêutica de problemas do sistema digestivo (G4); Sukaer foi mencionada para problemas de lesões (G2), sistema digestivo (G4) e ortopédicos (G3); Ai-Kafe fuik tem uma menção para problemas de obstetrícia (G5); Sincoma’as tem uma menção para manifestações dermatológicas (G6); e Ai-turi uma menção para parasitas intestinais (G1).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Abrus precatorius L. [Glycine abrus L.] | Naconeta+ | Ásia, Oceania | F10 |
Aeschynomene arborea L. [Desmodium ramosissimum G. Don] | Turís+ | Madagáscar | F10 |
Albizia lebbeck (L.) Benth. | Iparakuliku#/Hilalo+ | Ásia, Oceania | F2 |
Cassia fistula L. | Ai-laras/Ai-suku/Ai-feto/Kadus*/Larus+ | Índia, Sri Lanka, Ásia do sul | F1, F5, F9, M(3) |
Erythrina variegata L. | Ai-dik/dic | Índia, Malásia, Austrália, Ilhas do Pacífico | F1, F5, F7 |
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit | Ai-Kafe fuik/Ai-miraek/Samtuku fuik+ | América central e do sul | F1, F6, F9, M(1) |
Mimosa pudica L. | Sensitiva | América central e do sul | F7 |
Pachyrhizus erosus (L.) Urb. | Sincoma’as | México | F3, M(1) |
Pterocarpus indicus Willd. | Ai-naro/Ai-naa/Makari# | Sudeste asiático, Filipinas, Timor | F1, F2, F5, F9 |
Sesbania grandiflora (L.) Poir. | Ai-turi/Cala+ | Sudeste asiático | F5, F7, M(1) |
Tamarindus indica L. | Ai-sukaer/Kaylemu# | África tropical, pantropical | F2, F3, F5, F6, F7, F9, M(5) |
4.27. Espécie(s) da Família Lamiaceae
Na Tabela 29 da família Lamiaceae, a planta Ruku tem várias menções relativamente a tratar lesões (G2), problemas do sistema digestivo (G4), do sistema respiratório (G8), e ainda problemas de obstetrícia (G5), portanto com uma conotação de panaceia, embora não pareça estar referida na literatura consultada.
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Coleus amboinicus Lour. | Oréganu+ | África Oriental e do Sul | F3 |
Gmelina philippensis Cham. | Kapuasamaru# | Região Indo-Malaia | F2 |
Hyptis capitata Jacq. | Laka ho* | América tropical | F1 |
Orthosiphon stamineus Benth. | Ruku+ | Malásia, Indonésia | M(10) |
4.28. Espécie(s) da Família Lauraceae
Na tabela 30 relativa à família Lauraceae, a planta Abukat é mencionada como tratamento para problemas do sistema respiratório (G8), do sistema urinário (G7) e ainda para o sistema cardiovascular (G9), nomeadamente colesterol.
4.29. Espécie(s) da Família Loganiaceae
Na tabela 31, relativa à família Loganiceae, a planta Bak moruk é mencionada como tratamento para problemas de doenças tropicais (G12), do sistema digestivo (G4) e de obstetrícia/ginecologia (G5/G7). Recorda-se que é a única planta referida em F8, que resolvemos destacar a propósito de um estudo laboratorial de incidência bioquímica, que aparentemente veio confirmar algumas propriedades que lhe são atribuídas pela medicina tradicional, e que poderá servir de modelo de investigação em termos de ciência positiva para outras espécies mencionadas neste trabalho.
4.30. Espécie(s) da Família Lythraceae
Na Tabela 32 da família Lythraceae pode ver-se que a planta romãzeira (o fruto, as folhas e a casca) é mencionada como associada à terapêutica de patologias de problemas de tensão arterial e sistema cardiovascular (G9) e ainda desordens urológicas, incluindo cálculos renais (G7).
4.31. Espécie(s) da Família Malvaceae
Na Tabela 33 da família Malvaceae a planta Ai-lele fuik é mencionada sobretudo para problemas respiratórios (G8), enquanto Ai-lele é indicada pelos curandeiros para problemas algo indefinidos (G10); por sua vez, a planta Ai-fau é mencionada para tratamentos obstétricos (G5) e de fraturas ortopédicas (G3); também Ai-solda é sobretudo referida para fraturas (G3); ainda, Sida rhombifoliasubsp.retusa é mencionada sobretudo para desordens do sistema digestivo (G4); finalmente, a planta Ai-nitas foi mencionada para tratar malária (G12) e também síndromas indefinidos (G10).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Bombax ceiba L. | Ai-lele fuik | Índia, Ásia tropical | M(3) |
Ceiba pentandra (L.) Gaertn. [Bombax pentandrum L.] | Ai-lele/Cabidaua+ | América tropical, África tropical, Índia | F5, F6, F7, F9, M(2) |
Hibiscus rosa-sinensis L. | Ai-funan sapatu | Ásia oriental | F3, F4 |
Hibiscus tiliaceus L. | Ai-fau/Waru+ | Indeterminada tropical | F3, F4, F5, F9, M(9) |
Pterospermum acerifolium Willd. | Ai-solda | Ásia continental, Índia | F5, F7, M(9) |
Sida acuta Burm. f. | Arboy matan* | América central | F1 |
Sida retusa L. [Sida rhombifoliasubsp.retusa(L.) Borss. Waalk.] | Arbau wain mata*/Barabuti+ | Europa, Açores | F1, M(7) |
Sterculia foetida L. | Ai-nitas/Ai-bane+/Po’oria# | Ásia tropical, África oriental tropical, Austrália | F1, F4, F5, F9, M(11) |
Urena lobata L. | Kakuik* | América do sul, Sudeste asiático | F1 |
4.32. Espécie(s) da Família Meliaceae
Na tabela 34 relativa à família Meliaceae, a planta Ai-lelo é mencionada como tratamento para problemas do sistema cardiovascular (G9); por sua vez, Ai-saria foi mencionada como sendo utilizada para tratamento de fraturas (G3) e síndromas indefinidos (G10).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Azadirachta indica A. Juss. | Ai-lelo/Erua# | Índia, Nepal, Sri Lanka | F1, F2, M(3) |
Melia azedarach L. | Ai-saria | Ásia (Indo-malaia), Austrália | F1, M(2) |
Sandoricum koetjape (Burm. f.) Merr. | Sanpoló+ | Região da Malásia, Malésia | F3 |
4.33. Espécie(s) da Família Menispermaceae
A planta Shururu referida na Tabela 35 não foi mencionada pelos curandeiros.
4.34. Espécie(s) da Família Moraceae
A planta Kulu-jaka na tabela 36 é mencionado pelos curandeiros para tratar problemas cardiovasculares (G9) e desordens do sistema digestivo (G4).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Artocarpus heterophyllus Lam. | Kulu jaka/Ai naka+ | Índia, Ásia tropical | F3, F5, F6, F9, M(5) |
Ficus hispida L. f. | Ai-tafui | Ásia, Indonésia e Austrália | F1 |
Ficus racemosa L. | Ai-gun/Ai-hali karau/Tatiru asa-lepeku# | Sri Lanka a Malásia, Indonésia, Austrália | F1, F9 |
Ficus septica Burm. f. | Ai-mahak | Ásia e Austrália, Malésia | F1 |
4.35. Espécie(s) da Família Moringaceae
Na Tabela 37 pode ver-se que a planta Ai-marungi é mencionada, associada à terapêutica de problemas cardiovasculares (G9) e do sistema digestivo (G4).
4.36. Espécie(s) da Família Muntingiaceae
Na Tabela 38 pode ver-se que a única planta da família Muntingiaceae que é reportada na literatura, a Sereja, é mencionada por um curandeiro como associada à terapêutica de patologias do sistema cardiovascular (G9).
4.37. Espécie(s) da Família Musaceae
Na tabela 39, relativa à família Musaceae, a planta Hudi (bananeira) é mencionada como tratamento para problemas do sistema digestivo (G4) e do trato urinário (G7).
4.38. Espécie(s) da Família Myrtaceae
As folhas e frutos da goiabeira da Tabela 40 são mencionados também para tratar problemas do sistema digestivo (G4) e urinário (G7).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Eucalyptus alba Reinw. ex Blume | Ai-bubur mutin | Austrália, Timor, Nova Guiné | F1, F6 |
Melaleuca leucadendra (L.) L. [Melaleuca leucadendron L.] | Ai-ulun moras/Cajepute+ | Indonésia, Áustrália | F5, F7 |
Psidium guajava L. [Psidium pomiferum L.] | Goiaba(s)/Koibasa*/ Goiabeira+ | América central e do sul, ilhas do Caribe | F1, F3, F5, F6, F7, M(12) |
Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry | Ai-uhak/Jambu melaka+ | Malésia, Sudeste asiático, Ásia tropical | F3(?), F9 |
4.39. Espécie(s) da Família Oleaceae
Na Tabela 41, a planta correspondente não foi mencionada pelos curandeiros.
4.40. Espécie(s) da Família Oxalidaceae
Na tabela 42 relativa à família Oxalidaceae, a planta Bilimbi é mencionada como tratamento para problemas de diabetes, que aqui reportamos, ainda que menos propriamente, relativo ao sistema cardiovascular (G9).
4.41. Espécie(s) da Família Pandanaceae
A planta Bora referida na Tabela 43 não foi mencionada pelos curandeiros.
4.42. Espécie(s) da Família Passifloraceae
A planta Markisa da Tabela 44, da família Passifloraceae, foi mencionada uma só vez, para problemas de tensão arterial (G9).
4.43. Espécie(s) da Família Phyllanthaceae
Das plantas da Tabela 45 da família Phyllanthaceae, a planta Kelan teve uma menção relativa ao tratamento de malária (G12).
4.44. Espécie(s) da Família Piperaceae
Na Tabela 46 relativa a plantas da família Piperaceae (Malus e Ai-manas ai leten) são muito mencionadas pelos curandeiros: relativamente à primeira, as folhas mascadas, com uma longa tradição na Índia e sudeste asiático, aparecem referidas sobretudo na aplicação em lesões dermatológicas (G6) e também de afeções do grupo G7; por sua vez, Ai-manas ai leten, é mencionado para recuperação pós-parto (G5), mas também fraturas (G3) e síndromas indefinidos (G10).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Peperomia pellucida (L.) Kunth | Pimenta+/Erva de jabuti+ | Ásia, África | F3 |
Piper betle L. | Malus/Betel+/Furuc+ | Índia, sul e sudeste asiático | F4, F5, F7, M(12) |
Piper nigrum L. | Pimenta+ | Índia | F7 |
Piper retrofractumVahl | Ai-manas ai leten | Ásia | M(20) |
4.45. Espécie(s) da Família Poaceae
Na Tabela 47 relativa a plantas da família Poaceae, são mencionadas pelos curandeiros as seguintes: Ai-lia fuik teve uma menção relativamente a malária (G12); Du’ut morin foi referido relativamente à terapêutica de problemas do sistema respiratório (G8) e vários outros grupos de patologias; Du’ut-manlai e Batar foram mencionadas para problemas pós-parto (G5).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Arundo donax L. | Ai-lia fuik | Mediterrâneo, Portugal | F1, M(1) |
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf | Du’ut morin | Ásia do sul, Sudeste asiático | F6, M(8) |
Imperata cylindrica (L.) Rauesch. | Du’ut-manlai/Beerasa#/Hac maulain+ | Ásia, Micronésia, Melanésia, Austrália | F1, F2, F5 M(2) |
Saccharum officinarum L. | Tohu (mean) | Índia, Sudeste Asiático | F5, F6 |
Zea mays L. | Batar | México, América central | F3, F5, M(2) |
4.46. Espécie(s) da Família Polypodiaceae
A planta Manu-fuluk na tabela 48, é mencionada para tratar os problemas relacionados com o sistema digestivo (G4) e também cardiovascular (G9).
4.47. Espécie(s) da Família Rhamnaceae
Na Tabela 49, Ai-lok foi mencionada relativamente a emplastros de casca para otites (G11) ou síndromas indefinidos (G10) e problemas do sistema digestivo (G4).
4.48. Espécie(s) da Família Rubiaceae
Na Tabela 50 relativa a plantas da família Rubiaceae, o Ai-bakuru é mencionado para terapêutica de problemas cardiovasculares (G9) e respiratórios (G8); e a casca do Ai-katimun para problemas do sistema digestivo (G4) e malária (G12).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Morinda citrifolia L. | Ai-bakulu/Ai-bakuru*/mengkudu+ | Sudeste Asiático, Australásia | F1, F4, F5, F6, F9, M(5) |
Nauclea orientalis (L.) L. [Sarcocephalus cordatus Miq.] | Ai-fukira/Ai-soso*/Savele# | Malásia, Sudeste Asiático, Nova Guiné, Austrália | F1, F2, F7, F9 |
Timonius timon (Spreng.) Merr | Ai-katimun/Ai-katimuk* | Timor, Molucas, Austrália, Malésia | F1, F9, M(6) |
4.49. Espécie(s) da Família Rutaceae
Na tabela 51 relativa à família Rutaceae, a planta Derok é mencionada como tratamento para vários problemas, principalmente respiratórios (G8) ou síndromas indefinidos (G10), sobretudo utilizando-se as folhas esmagadas em infusão ou vapor. Também a planta Arruda é mencionada, neste caso para infestações parasitárias (G1) e síndromas indefinidos (G10).
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Aegle marmelos (L.) Corrêa | Ai-dila tukun/Ai-dila fatuc/Dilla+ | Índia, Bangladesh | F1, F5, F6, F7 |
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle [Citrus aurantium L.] | Derok | Sudeste Asiático | F5, M(10) |
Citrus hystrix DC. | Derok manu kidun/Ami churuku# | Sudeste Asiático | F2 |
Citrus maxima (Burm.) Merr. | Jambua/Dambua+ | Malásia, Sudeste Asiático | F3, F5 |
Citrus medica L. | Derok sin/Deroc mean | Sudeste Asiático | F3, F5 |
Ruta graveolens L. | Arruda | Balcãs | M(3) |
4.50. Espécie(s) da Família Sapindaceae
Na Tabela 52 relativa à família Sapindaceae não ocorreram menções de curandeiros em relação às plantas reportadas da literatura consultada.
4.51. Espécie(s) da Família Sapotaceae
Da Tabela 53, as plantas correspondentes também não foram mencionadas pelos curandeiros.
4.52. Espécie(s) da Família Simaroubaceae
A planta designada Bico referida na Tabela 54 não foi mencionada pelos curandeiros.
4.53. Espécie(s) da Família Solanaceae
Na tabela 55, relativa à família Solanaceae, são referidas várias plantas pelos curandeiros relativamente à terapêutica de: problemas digestivos (G4), síndromas indefinidos (G10), problemas de sistemas sensoriais (G11). A beringela é mencionada para hepatite (G4) e problemas ginecológicos (G7), enquanto a folha de tabaco é utilizada para atenuar dores de dentes, o mesmo foi mencionado para o tomate selvagem.
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Capsicum annuum L. | Ai-manas/Cunus+ | América tropical, México | F5, F7(?) |
Capsicum frutescens L. | Ai-manas bo’ot | América tropical, México | F3 |
Datura stramonium L. | Trumpeta, Acona+ | América do norte, México | F10, M(1) |
Nicotiana tabacum L. | Tabaku | América tropical e subtropical | F6, M(2) |
Solanum melongena L. | Berinjela/karuuk+ | Ásia, Norte de África | F3, M(5) |
Solanum habrochaites S. Knapp & D.M. Spooner | Tomate fuik | América do sul | M(1) |
4.55. Espécie(s) da Família Zingiberaceae
Na Tabela 57 pode ver-se o grupo de plantas da família Zingiberaceae que são reportadas na literatura mencionada, das quais Kinur é mencionada como associada à terapêutica de problemas do sistema digestivo (G4) incluindo hepatite, e do sistema respiratório (G8), incluindo oncológicos, bem como Temulawak; o rizoma de Ai-lia é muito mencionado à laia de panaceia, embora com ênfase em problemas obstétricos (G5), sobretudo de recuperação pós-parto, mas também malária (G12) e estados febris em geral (G10); por sua vez a planta de nome malaio Kencur (também referida como Ai-lia mutin) é mencionada para o tratamento de lesões (G2) e esterilidade feminina.
Nome científico | Tétum/Mambae*/Fataluku#/ Outro+ | Área provável de origem | Fontes |
---|---|---|---|
Alpinia caerulea (R. Br.) Benth. | Lenkuas+ | Austrália, ilhas do Pacífico | F6 |
Curcuma domestica Valeton | Kinur/Curur+ | Índia, Sudeste asiático | F5, F6, M(13) |
Curcuma zedoaria (Christm.) Roscoe | Bilik* | Índia, Indonésia | F1 |
Curcuma zanthorrhiza Roxb. | Temulawak+ | Indonésia, Índia | F6, M(1) |
Kaempferia galanga L. | Ai-lia mutin; Kencur+ | Ásia do sul e sudeste | M(6) |
Zingiber officinale Roscoe | Ai-lia | Índia, Sudeste asiático | F3, M(17) |
5. Conclusão
Neste trabalho, e conforme a metodologia antes descrita, são reportadas um total de 130 espécies vegetais associadas a práticas fitoterapêuticas tradicionais em Timor-Leste, organizadas em 55 famílias botânicas; das 130 espécies referidas, 123 estão referenciadas nas fontes bibliográficas correspondentes, constantes da Tabela 2, enquanto outras 7 só nos apareceram mencionadas pelos curandeiros; o total de espécies mencionadas pelos 45 curandeiros foi de 71, com uma incidência muito variável, desde só uma menção, que sucedeu em cerca de 15 espécies, até um máximo de 22 menções relativamente a Ai-kami (Aleurites moluccana (L.) Willd.).
Obviamente que, em nenhum caso, vamos pronunciar-nos sobre a relevância terapêutica das menções efetuadas, sendo que é por demais conhecida a natureza tóxica de algumas plantas reportadas, de que é exemplo paradigmático a Trumpeta (Datura stramonium L.), conhecida em Portugal, entre outros nomes, como “figueira-do-diabo”, mas que já se mostra constar no trabalho de Frei Alberto de S. Thomaz (c. 1789/2016) antes referido, conforme ilustrado na Figura 3, dizendo-se, por exemplo, que as folhas pisadas aplicadas em cataplasma aliviam a enxaqueca; ainda, as menções reportadas aos grupos definidos na Tabela 2 apresentam-se, pelo menos em alguns casos, de forma difusa ou ambígua, mas considera-se que tal é suficiente para uma primeira aproximação aos conceitos fundadores deste artigo.
Em qualquer dos casos, a riqueza e diversidade do conjunto de espécies aqui referidas merecerá, por certo, a continuação da investigação sobre esta temática, não só ancorada nos domínios da etnobotânica e da fitoterapia, se possível complementada por experimentação laboratorial e clínica, mas também na valência da salvaguarda dos recursos fitogenéticos e da biodiversidade em Timor-Leste, bem como na dimensão da antropologia cultural.