Publicada em dezembro de 2020, a antologia Coordenadas Gráficas: Cuarenta Historietas de Autoras de España, Argentina, Chile y Costa Rica (Coordenadas Gráficas: Quarenta Bandas Desenhadas de Autoras de Espanha, Argentina, Chile e Costa Rica), fruto da colaboração da equipa de curadoras Elisa McCausland (Espanha), Mariela Acevedo (Argentina), Paloma Domínguez Jería e Isabel Molina (Chile) e Iris Lam (Costa Rica), com coordenação de Carolina Chávez e design de capa e contracapa de Daniela Ruggeri, surge como um “atlas aberto” (McCausland et al., 2020, p. 11), em processo de construção, que visibiliza o trabalho de 40 autoras de banda desenhada procedentes dos respetivos países. Cabem ser destacados dois antecedentes desta publicação: em primeiro lugar, a exposição de caráter itinerante “Presentes: Autoras de Tebeo de Ayer y Hoy”, inaugurada na Real Academia de Espanha em Roma, e produzida pelo Colectivo de Autoras de Cómic1 (CAC) em colaboração com o projeto Ventana da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (2016-2017). E, em segundo lugar, Nosotras Contamos. Un Recorrido por la Obra de Autoras de Historieta y Humor Gráfico de Ayer y Hoy (Nós Contamos. Um Percurso Pela Obra de Autoras de Banda Desenhada e Humor Gráfico de Ontem e Hoje; Acevedo, 2019).
Cabe salientar o mérito desta antologia, que oferece uma visão geral de diferentes autoras de banda desenhada de múltiplos espaços hispano-americanos, estilos e gerações, apresentadas numa linguagem criativa e inclusiva. A sua estrutura e formato, disponível online, facilita a sua consulta e leitura porque, por um lado, temos o material da exposição, assim como os textos de apresentação e a seleção de obras na página web do Centro Cultural de Espanha na Costa Rica - Cooperação Espanhola Cultura/San José, por outro lado, na mesma página, podemos ler o livro em formato PDF.
A obra começa com uma apresentação de carácter geral, redigida por Carolina Chávez (Diretora do Centro Cultural Espanha Córdova na Argentina), seguido de um texto de apresentação, feito em conjunto pelas curadoras do projeto, intitulado “Mapear el Territorio, Construir Genealogías” (Mapear o Território, Construir Genealogias), onde se explicam os fundamentos desta obra e a sua razão de ser.
Posteriormente, quatro partes, uma por país, Espanha, Argentina, Chile e Costa Rica, com a mesma estrutura: um texto de introdução da curadora responsável pela seleção das peças e um espaço, dividido de forma mais ou menos equitativa, para cada uma delas. Assim, temos uma sequência de artistas apresentadas mediante breves biografias com a indicação das obras mais representativas, acompanhadas dos respetivos autorretratos, desenho e/ou rubrica, seguidas de uma seleção do seu trabalho, que pode ser uma peça inteira, um fragmento de uma história de banda desenhada ou romance gráfico, inéditos ou publicados ao longo das últimas décadas. As quatro partes apresentam uma unidade e um esquema muito similar, onde cada secção partilha um objetivo comum: criar uma irmandade transnacional e intemporal de mulheres autoras de banda desenhada para combater o patriarcado heteronormativo, nomeadamente nos âmbitos editorial e político. Se bem que, quando se faz uma leitura mais atenta, notamos que são antologias em certa forma independentes, na medida em que, com o seu próprio estilo, mostram as suas problemáticas separadas em blocos nacionais com um diálogo transnacional entre elas pouco aprofundado.
A primeira secção, intitulada “España” (Espanha), começa com uma declaração de princípios da curadora, Elisa McCausland. Nesta introdução, “Una Hermandad Transnacional de Autoras de Historieta” (Uma Irmandade Transnacional de Autoras de Banda Desenhada), a curadora, mais uma vez, defende o conceito de irmandade de mulheres que tecem redes e se encontram, se reencontram e se reconhecem em torno de artefactos culturais e projetos criativos para transformar essas redes em comunidades de afeto e conhecimento, com o objetivo final de questionar sempre as estruturas de poder andronormativas a partir do pensamento crítico.
Numa segunda parte, a curadora afirma que a obscuridade ou desconsideração em relação às autoras, cartunistas ou ilustradoras, nomeadamente do passado, deveu-se ao seu género, ao facto de serem mulheres, à ditadura franquista e às suas nefastas consequências, que implicaram a destruição da maioria dos princípios da Segunda República Espanhola, e por último, à precariedade laboral que os agentes deste tipo de criação artística sofreram durante anos.
Posteriormente, McCausland apresenta uma listagem das autoras mais significativas, desde os anos 1960 e 70 até 2014, ano em que foi publicada a antologia de histórias Enjambre (Enxame) e foi fundado o CAC2, que criou laços com outros coletivos tais como Collectif des Créatrices de Bande Dessinée (Coletivo de Criativas de Banda Desenhada; 2015) ou Moleste Collettivo per la Parità di Genere nel Fumetto (Coletivo Moleste para a Igualdade de Género na Banda Desenhada; 2020), coletivo italiano que luta pela igualdade de género na banda desenhada. Além disso, o CAC criou a plataforma Wombastic (2014) e, mais tarde, estabeleceu relações com a agrupação argentina Línea Peluda. Esta curadora destaca também o diálogo transoceânico de Coordenadas Gráficas e de muitas das suas vozes, que já estavam presentes na precursora antologia Viñetas de Tortas y Bollos. Cómics Lésbicos Desde dos Orillas (Vinhetas de Tartes [Fufas] e Bolos [Sapatonas]. Banda Desenhada Lésbica de Duas Margens; Castro & Ortiza de Zárate, 2019) e no catálogo duma antologia igualmente essencial, cujo título é Papel de Mujeres (Papel de Mulheres; INJUVE, 1988).
De seguida, no segundo bloco desta secção, encontramos 10 autoras de distintas gerações, nascidas entre 1946 e 1993, e de diferentes procedências: Badajoz, Barcelona, Cádis, Castellón, Madrid e Valência. A primeira, Laura Pérez Vernetti, com “Extraños en un Tren” (Desconhecidos num Comboio), de 1985, inspirada na novela de Patricia Highsmith com o mesmo nome, foi publicada no ano 1985 na revista barcelonesa de referência para adultos El Víbora. Também temos a mesma autora, com um fragmento da banda desenhada erótica “Susana”, publicada na editora Amaniaco em 2004. A segunda artista, Mayte Alvarado, com “Los Amantes” (Os Amantes), um fragmento do romance gráfico La Isla (A Ilha; Penguin Random House), que identifica o eu mulher com o mar, numa narrativa expressiva de ambiente mediterrânico nas cores azul, branco, vermelho e preto, e onde esta mulher se abraça a um marinheiro. Esta é de alguma maneira comunicante com a peça inédita Variaciones Orbitales (Variações Orbitais) de Carla Berrocal, que trata a questão do sexo e o mito de Adão e Eva numa peça inédita de ficção científica. Diferente perspetiva, com duas Evas, é aquela que apresenta Susanna Martín, no relato da vida quotidiana de um casal lésbico que quer ser mãe na sua peça Pajuelas (Canudo), com fundo autobiográfico em duas vozes: espanhol e catalão. Vemos a mesma autora em “Chicazo” (Maria Rapaz), nas tiras publicadas em 2017 e 2018 na revista Píkara Magazine, onde questionava a identidade e a construção de género que nos são atribuídas na infância, a lesbofobia e a violência que sofremos nas mãos dos outros. Sobre este tema debruça-se igualmente a pioneira Montse Clavé em “Betty de BUP”3, quando, com bastante humor, nos apresenta a relação da jovem com a mãe, os amigos e o resto do mundo. Anos mais tarde, Raquel Gu, sem as fronteiras da idade, aprofunda nas tiras da revista El Jueves o mesmo tema desde a perspetiva da mulher adulta. Usa a imagem das bonecas de recortar num ativismo feminista ao ressaltar que o corpo de mulher é a liberdade que ninguém lhes pode arrebatar; enquanto a mais jovem de estas artistas, Núria Tamarit, denuncia, no formato de postal, os condicionantes e barreiras da sua geração que sofre a precariedade laboral ou a gentrificação, na história “En el Suelo” (No Chão; 2019), com a que descreve o passeio de manhã cedo, numa cidade ocupada, na companhia do seu amigo cão. Uma jovem contemporânea, mas diferente das enérgicas e resistentes protagonistas das obras de Maria Colino na banda desenhada Margarita (Margarida; Horas y Horas, 1991), onde se combina a força do traço e o humor. Por último, Laura Pérez, em “Atávico”, que pertence à banda desenhada Ocultos (Astiberri, 2019) nos apresenta num cromatismo da terra, e sem palavras, a sua preocupação em relação à transformação que se produz através do olhar. Tema que também explora Maria Llovet, em Insecto (Inseto), publicado pela editora Norma no ano 2016, quando reflete sobre as perspetivas das mulheres do milénio enquanto corpos observados.
Na segunda secção, dedicada à produção argentina, Mariela Acevedo reconstrói a história das autoras femininas de banda desenhada e ilustração nesse país, tendo em conta alguns dos seus pontos de inflexão. Destaca, entre eles, Nosotras Contamos. Un Recorrido de Autoras de Historieta y Humor Gráfico de Ayer y Hoy (Buenos Aires, 2019), uma mostra com livro-catálogo, coordenada pela própria Acevedo (2019), que evidencia o aumento das produções gráficas criadas por mulheres na última década. A crescente participação feminina não se produz apenas a partir do trabalho individual, responde antes à intervenção feminina nas múltiplas vertentes do ecossistema literário. Nomeadamente, através das antologias coletivas, Pibas (Raparigas; Hotel de las Ideas, 2019) e Historieta LGTBI (Banda Desenhada LGBTI; EMR, 2017); das publicações autogeridas que, pela sua vez, criam novas colaborações (Club Vampire e Las Fieras Fanzine, 2018); das mostras, encontros e festivais literários (“¡Vamos las Pibas!”); e das revistas feministas (Clítoris, 2010). Em síntese, diversos espaços desde onde é possível visibilizar e incentivar a produção historietista feminina, estabelecendo pontos de contato.
Na segunda parte, abre a seleção Patricia Breccia, que desde a década de 70 tem contribuído com uma vasta produção, representada por “A Sangre Fría” (A Sangue Frio), publicada em 1987 na revista Fierro, de temática fantástica e recurso à monstrificação duma mulher submetida à pressão patriarcal. Continuamos com La Lejana e a sua obra inédita de 2020, Pumita (Puminha), na qual é possível encontrar paralelismos com o relato de Patricia Breccia, numa sequência dinâmica, de cores intensas, que recorre à transformação fantástica como forma de resistência perante a violência do sistema patriarcal. Segue Dani Ruggeri, encarregada do design editorial desta publicação, que apresenta com Nísperos (Nêsperas; 2020) uma visão da infância feminina livre e aventureira; e Mariana Salina, colaboradora na revista Clítoris (2011-2013), com “Karate-Do” (2020), relato inédito, mediante o qual se explora a violência contra a mulher no espaço público e o empoderamento desta mediante as artes marciais. Pela sua vez, Nacha Vollenweider aborda, em Mujeres Volando (Mulheres a Voar; inédita, 2013), a presença dos medos que nos ameaçam na rua e a necessidade de encontrar formas de escapar a eles. Em diálogo com esta, Gato Fernández explora em “Quieta” (Fierro, Volume 3, 2017) a luta contra um ser fantástico que impede a sobrevivência num ambiente extremamente precarizado. Femimutancia, autora não binária, indaga no fanzine Les Niñes (Es Menines; autoeditado, 2017) sobre a família como espaço de abusos e de múltiplas violências, da mesma forma que Sole Otero investiga com Naftalina (2020) esta mesma questão, nomeadamente a repressão e a violação. Fecham esta secção, María Alcobre em “La Nena (Cuarentena)” (A Míuda, Quarentena), publicada de forma sequenciada na revista Fierro (2016-2017), que se debruça sobre o aborto no âmbito familiar, desde o olhar infantil, e a dupla Muriel Frega e Ariela Kreimer com SkatePark (Parque de Skate; Albatros, 2020), que apresenta dois modelos de relacionamento romântico (tóxico/saudável) durante a adolescência.
A terceira secção, a do Chile, começa com um texto de apresentação intitulado “El Germen de una Genealogía Feminista” (O Germe de uma Genealogia Feminista), escrito pelas curadoras Paloma Domínguez e Isabel Molina. Nesta introdução, descrevem a situação das primeiras criadoras chilenas de banda desenhada, nos anos 1960 e 70, que foram limitadas à área da produção para crianças, num papel tradicional da mulher mãe, professora e cuidadora. Posteriormente, e já nos anos 1980, destacam a figura de Maliki, uma das poucas mulheres na altura a trabalhar para uma revista de denúncia, sátira e humor como Trauko (1988-1991), que foi resistente à ditadura pinochetista e sofreu a sua censura. Precisamos de avançar uns anos, quando em 2008 apareceu o primeiro fanzine feminista, Tribuna Femenina (2008-2014), criado por Melina Rapimán, como alternativa às narrativas androcêntricas nas quais não havia espaço para a mulher, para chegar aos nossos dias e às autoras que começaram os seus trabalhos na autoedição, na autopublicação em redes sociais e fanzines, no webcomic e na agrupação em coletivos de resistência feminista para denunciar questões tais como: a violência patriarcal, os cânones impositivos e hegemónicos de beleza, os papeis da mulher ou os processos reprodutivos, entre outras.
A primeira da mostra é Estefani con E, num fragmento de Por Ti, por Mí, por Todas (Por Ti, por Mim, por Todas; RIL Editores, 2019), onde relata como uma adolescente ganha consciência, a partir do machismo reinante numa família amiga, da luta feminista, enquanto esta se inicia no âmbito doméstico para chegar ao espaço público. Segue a luta Desobediencia Visual, com La Barba (A Barba; 2020), que foi publicada em formato fanzine e que, diretamente e sem artifícios, nos confronta com o facto de aceitarmos de uma vez por todas o nosso corpo e os nossos pelos. Neste caso, uma adolescente que tem hirsutismo, um facto bastante mais habitual do que pensamos, nega-se a tomar hormonas enquanto aprende a aceitar o seu físico. Também Melina Rapimán, entre a ternura e o humor, nos apresenta outra jovem que sofre vergonha quando tem pela primeira vez a menstruação, desinformada e pouco apoiada pelo seu entorno de mulheres adultas. Nesta mesma linha, podemos inserir a banda desenhada da reconhecida Maliki, na denúncia, entre choros e lágrimas teatrais, da gordofobia e da própria punição em relação ao corpo e o suposto peso ideal num fragmento do Diario Oscuro (Diário Escuro; Reservoir Book, 2019) que lhe serviu como terapia. A seguir, Supnem, numa história inspirada em acontecimentos reais, espantosamente do ano de 2005, no Chile, quando pouco ou nada se sabia do vírus da imunodeficiência humana, apresenta a banda desenhada Mi Sida (A Minha Sida), que foi publicada em 2015, com intenção pedagógica, em fanzine, e com o objetivo de explicar o via-crúcis que era na altura fazer o teste da Sida no meio da desinformação das jovens e ainda mais como pessoa trans. Neste sentido, também Panchulei na Carta Abierta a Mis Amigxs Artistas (Carta Aberta xs Mxs Amigxs Artistas; 2019), que publicou na própria página web, insiste na ideia de que a arte deve ser resistente e, também, luta e enfrentamento. Atitude que também revela Lesbialis, onde a miúda de “El Milagro” (O Milagre; 2017) enfrenta a instituição religiosa, as freiras e Deus, que a oprimem, para viver o seu lesbianismo com a cabeça levantada. Enfrentamento no qual se filia também Devil Katy, com a peça em fanzine Acoso Callejero (Assédio na Rua; 2016), onde descreve o assédio sexual na rua para acabar com: “o que interessa é que nunca mais fiquemos caladas”, enquanto a intimista Margarita Valdés, em “Diario” (Diário; 2017), na revista Carboncito, desenha a reconstrução depois de uma separação sentimental. A última autora do Chile, Sol Díaz, cofundadora da revista feminista inclusiva Brígida (2018), apresenta a história materna de La Cuidadora del Huevo (A Cuidadora do Ovo; 2017), num cromatismo de azul, branco e vermelho, onde uma mulher se desgasta enquanto protege incansavelmente um ovo, simbologia do filho, o qual deriva num gigante humano de rosto plano que, finalmente, pousa a mulher na palma da sua mão, como se fosse King Kong, e diz: “gracias [agradeço]”. A única palavra da história.
Iris Lam encarrega-se de perfilar o panorama da produção feminina de banda desenhada e ilustrações na última secção desta antologia, dedicada à Costa Rica, cujo título é “La Incipiente Escena del Cómic Hecho por Mujeres en Costa Rica: La Ilustración Como Acto de Resistencia Feminista” (A Cena Emergente da Banda Desenhada Feminina na Costa Rica: A Ilustração Como Ato de Resistência Feminista). Nela, põe em relevo a importância das ilustrações de humor gráfico publicadas em jornais nacionais como meio de difusão do trabalho de autores principalmente masculinos, que, ainda hoje, predominam no panorama da banda desenhada costarricense. Neste contexto, ganha especial destaque a organização La Pluma Sonriente, dedicada em exclusivo ao humor gráfico na América Central e em ativo desde a década de 1980 até o presente. A curadora afirma que os nomes femininos na cena da banda desenhada da Costa Rica continuam a ser escassos, daí a relevância de uma antologia como a que nos ocupa, que tem o mérito de reunir pela primeira vez no panorama costarricense o trabalho de um conjunto de autoras. São, assim, referidos a seguir oito nomes que fazem parte da história da banda desenhada produzida em Costa Rica por mulheres, uma nómina das pioneiras que, no entanto, em contraste com as secções anteriores, não aparecem nesta antologia. Esta secção opta por novas autoras. Contudo, os critérios de seleção das 10 autoras escolhidas, desta vez são esclarecidos, diferentemente das secções anteriores. Assim, ficamos a saber que uma convocatória de caráter nacional realizada ex professo permitiu selecionar ilustradoras profissionais e artistas visuais contemporâneas, tendo em conta a qualidade e a pertinência das suas obras em relação a este projeto. O resultado obtido é um grupo de autoras nascidas nos anos 1990, na sua maioria, tanto ilustradoras como artistas visuais, que exploraram o universo da ilustração nesta convocatória, o que é indicativo da “cena emergente” apontada já desde o título desta secção. No entanto, sente-se a falta das representantes das gerações anteriores.
A seleção que encerra esta antologia inclui o trabalho da artista transfeminista Emma Segura, quem com “Amiga de las Flores” (Amiga das Flores) desenvolve a ideia do corpo como jardim; um motivo que continua Ariel Bertarioni Barquero em “Clase de Natación” (Aulas de Natação), onde o corpo se transforma numa flor aquática. Por outro lado, a beleza hegemónica é posta em discussão em “Conversaciones Filosóficas con una Gata Señora en una Caja de Cartón: Los Pelos” (Conversas Filosóficas com uma Senhora Gata Numa Caixa de Cartão: Os Pelos) de Raquel Mora Vega; enquanto Chabela Lazo Rosales explora os pormenores de um quotidiano criativo e precário em “Domingo”. Por sua vez, “En lo Profundo de Mi Pecho” (Nas Profundezas do Meu Peito), Daniela Acuña Carmona mostra-nos as formas da dor e Karen Pérez Camacho, na mesma linha, alude ao desaparecimento e, provavelmente, os feminicídios em “La Última Vez” (A Última Vez). O formato breve faz-se presente em “Microcómic” (Micro Banda Desenhada), de Ruth Angulo Cruz, com uma série de híper relatos imaginativos e ecocríticos, e em “Microrrelatos” (Micro Histórias), de Angélica Solís, a artista aborda as diferentes formas de assédio que sofremos como mulheres na rua. “Tiempo de Vivir en Peceras” (Tempo de Viver em Aquários), de Mónica Morales Argüello, retoma o relato ambiental e intimista, e Man Yu, em “Todo por Amor” (Tudo por Amor), reclama a luta pela autoestima num tom depressivo.
Em suma, consideramos que se trata de uma mostra variada e representativa de criadoras da banda desenhada, em acesso aberto, que merece a leitura e exploração desde diferentes prismas de caráter científico-pedagógico, e que mereceriam ser relacionadas entre elas além das fronteiras nacionais. Um trabalho louvável que reflete as diferentes preocupações e problemáticas de autoras de banda desenhada de diferentes lugares e gerações, se bem que também seja estranha a ausência de algumas figuras reconhecidas e do esclarecimento de grande parte dos critérios de seleção.