Mulher de 37 anos, 2 gesta, 2 para (G2P2), sem antecedentes de relevo, colocou um sistema intrauterino (SIU) em consulta de ginecologia, dois meses após o segundo parto, em 2017. Foi realizada uma ecografia ginecológica imediatamente após a sua colocação, que assegurou o correto posicionamento do SIU.
A doente engravidou no ano seguinte à colocação do dispositivo. Nas ecografias obstétricas não foi possível identificar o SIU e assumiu-se que o mesmo teria sido expulso. A gravidez, sem intercorrências, foi acompanhada pela médica de família e em consulta de obstetrícia. O recém-nascido nasceu com 38 semanas, por parto eutócico, em 2019.
Em 2020, a doente foi referenciada pela médica de família a consulta de ginecologia para contraceção definitiva. Na consulta, foram solicitadas radiografias abdominal e pélvica, que revelaram um corpo estranho com a forma de “T” no quadrante superior direito do abdómen (Fig. 1), identificado como o SIU colocado dois anos antes.
Foi realizada cirurgia laparoscópica para remoção do dispositivo e salpingectomia bilateral, durante a qual se constatou que o SIU estava ancorado no mesocólon transverso. Foi pedida colaboração da Cirurgia Geral, que confirmou a integridade da parede do cólon transverso. Ambas as intervenções decorreram sem intercorrências.
Os contracetivos intrauterinos apresentam elevada efetividade e segurança. A perfuração uterina é rara (0,06% a 0,16%) e obriga à remoção cirúrgica do dispositivo.1 Trata-se da complicação mais grave, que pode ser assintomática, causar dor abdominal, febre, ou hemorragia uterina.2 Em 15% dos casos, podem ocorrer complicações em órgãos adjacentes. O cólon é frequentemente o mais afetado.3
A gravidez após colocação do SIU deve fazer suspeitar de perfuração uterina.2 O diagnóstico deve ser realizado por ecografia, ou tomografia computorizada (após o parto). Em caso de migração e na ausência de comorbilidades, está recomendada a sua remoção para evitar complicações, nomeadamente a lesão de órgãos adjacentes, ou a formação de aderências. A abordagem cirúrgica deve ser planeada pela equipa médica, atendendo à localização do dispositivo.3