1.Introdução
A curadoria digital envolvendo Software de Análise Qualitativa trata-se de uma temática de pesquisa, em processo de desenvolvimento, em um estágio pós-doutoral, no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF), na Universidade de Aveiro - Portugal. Tal pesquisa emerge a partir da necessidade de escolha e organização de dados qualitativos da pesquisa científica, a partir do crescente desconforto de pesquisadores em torno dos dilemas éticos que perpassam a pesquisa em educação, pois a conduta ética deve ser uma preocupação constante do pesquisador, em qualquer das etapas de sua investigação.
A intenção da pesquisa é provocar reflexões na comunidade de pesquisadores, em um contexto, segundo Barros e Marcondes (2019, p. 2), “de pouca produção acerca do tema para o público específico de educadores que, muitas vezes, pesquisam em seu próprio local de trabalho”. Assim como de diferenciar-se de pesquisas sobre o tema, no sentido de abordar premissas que envolvem um projeto, desde o seu design inicial até a divulgação de resultados.
Somadas a essas preocupações, observa-se nos últimos anos, que pesquisadores têm procurado incorporar os desenvolvimentos tecnológicos, mais especificamente a utilização de programas, como Computer Aided Qualitative Data Analysis Software (CAQDAS), os quais têm sido úteis para a gestão de dados e apoio aos processos de codificação (Valente, 2015).
Esta tipologia de software se destaca e são procurados porque possibilitam que a análise qualitativa seja, segundo Andrade, Costa, Linhares, Almeida e Reis (2018, p. 279, tradução livre), “realizada em diversos formatos (áudio, vídeo, imagem, texto), níveis de trabalho colaborativo (individual, duas pessoas trabalhando ao mesmo tempo ou mais de duas) e com possibilidades distintas de organização dos dados pesquisados”.
Apesar da utilização desses software, há pesquisadores que têm lançado luz sobre problemas que passavam despercebidos, como por exemplo, a gestão de dados de pesquisa, sua preservação, seu reuso, seu compartilhamento. Alguns desses problemas podem ser aplicados ao software de análise de dados qualitativos, como por exemplo, a funcionalidade de trabalho colaborativo, a qual envolve questões relacionadas aos dados compartilhados, à reutilização de dados científicos, ao anonimato, à confidencialidade, entre outros aspectos, cuja metodologia é chamada de curadoria digital.
Segundo Sayão e Sales (2012), a curadoria digital surge como uma área de práticas e de pesquisa de espectro amplo que dialoga com várias disciplinas e diferentes profissionais. “Isto porque, como se trata de uma área que só recentemente despontou como crítica para a pesquisa, ainda restam muitas lacunas práticas e teóricas a serem equacionadas [...]” (Sayão & Sales, 2012, p. 189).
Nesse sentido, de modo que possa ser preenchida uma dessas lacunas, pelos investigadores na área da educação, na construção de um trabalho rigoroso e sistemático faz-se necessário apresentar uma proposta de formação de curadoria digital baseada no desenvolvimento de competências. Pois, partindo do pressuposto de que os software contribuem para o processo de pesquisa qualitativa, é fundamental que se compreenda a importância de uma formação de curadoria digital, pois os gestores de pesquisas poderão auxiliar seus colaboradores a incorporarem as competências necessárias na utilização de CAQDAS.
Com a popularização da Internet e com o desenvolvimento das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), muitos setores da sociedade vêm se modificando. Estas alterações também são sentidas na pesquisa qualitativa com o uso de CAQDAS. Segundo Silva e Costa (2021), nos últimos anos tem ocorrido um crescente interesse, por parte dos pesquisadores, pelas abordagens de investigação qualitativa no contexto digital. Desta maneira, o uso de software em investigações científicas de base qualitativa tem ganhado reconhecimento, tanto no desenvolvimento de estratégias de revisão de literatura quanto no registro, na organização, coleta, análise e triangulação de dados (Souza, Costa, & Moreira, 2011; Silva & Almeida, 2017) e, como resultado, influenciando o design da investigação qualitativa, demandando dos pesquisadores, competências digitais.
Behar et al. (2013, p. 23), alertam que existem resistências e críticas em relação ao uso do termo “competência” por sua associação com o vocábulo “competição”. Para as autoras, corroboram outros autores, que compreendem as competências como “um conjunto de elementos compostos pelos Conhecimentos, Habilidades e pelas Atitudes”.
Nesta proposta de formação em curadoria digital em CAQDAS, as competências digitais são compreendidas como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, estratégias e sensibilização quando se utilizam as tecnologias digitais (Gutiérrez, 2011; Ferrari, 2012), nesse caso específico, competências que os pesquisadores que utilizam CAQDAS precisam desenvolver para realizar tarefas, resolver problemas de forma crítica, se comunicar, gerenciar as informações, colaborar, criar e compartilhar conteúdo, construir e organizar sua pesquisa de maneira criativa, autônoma, ética e reflexiva.
No entanto, Gisbert e Esteve (2011) e Larraz (2013), entendem que a competência digital não se reduz ao fato de saber utilizar tecnologia, mas significa compreender os elementos informacionais e comunicativos, no intuito de resolver situações em uma sociedade de constante evolução. Em outras palavras, reside na capacidade dos pesquisadores, a partir da utilização de CAQDAS, avaliar, selecionar, aprender e usar tais softwares conforme as necessidades das pesquisas qualitativas que desenvolvem, esses pressupostos estão diretamente relacionados à curadoria digital.
Segundo Souza (2018), Silva e Costa (2021), a curadoria digital passou a ser empregada em dispositivos que trabalham com a informação digital, ou seja, que necessitam de seleção, armazenamento, classificação e análise. Desta forma, o conceito amplia-se para todo o processo de gestão de materiais digitais. Por isso, a curadoria digital traz conceituações que se apoiam no Modelo do Ciclo de Vida da Curadoria Digital (Digital Curation Center, 2019).
Para o Digital Curation Center (DCC) (2019), a curadoria digital é um processo complexo, contínuo e interdisciplinar, que envolve a manutenção, preservação, avaliação, reavaliação, o uso e reuso, assim como a agregação de valores aos dados da pesquisa digital, por todo seu ciclo de vida. Barton (2018) e Silva & Costa (2021) acrescentam que as atividades que envolvem a curadoria digital são diversas e diferentes. Barton (2018) identificou um conjunto de palavras que contribuem para compreender o processo da curadoria digital: criação; seleção; organização; apresentação; interpretação.
Observa-se que a curadoria digital vem se espalhando rapidamente por diferentes contextos, dentre eles, os CAQDAS. A partir desse cenário, é essencial reconhecer e refletir sobre a competência digital e as implicações associadas à curadoria digital. Desse modo, o objetivo deste capítulo é apresentar uma proposta de formação para pesquisadores qualitativos em curadoria digital através da exploração de CAQDAS, a partir do desenvolvimento de competências.
Este texto não tem por intenção aprofundar-se em nuances terminológicas utilizadas na literatura, deseja somente elucidar definições que abrangem os campos das competências digitais e da curadoria digital em CAQDAS. Assim, o presente capítulo está organizado em quatro seções, sendo esta primeira a introdução; a segunda, a articulação entre curadoria digital e CAQDAS; a terceira, a proposta de formação de curadoria digital em CAQDAS e, por fim, as considerações finais.
2.Curadoria Digital em CAQDAS
A ideia de curadoria digital, segundo Barton (2018), vem emergindo como uma nova área, em função da crescente preocupação da preservação, uso, reuso e compartilhamento desses materiais. Desta forma, também vem se espalhando rapidamente por diferentes contextos, dentre eles, os CAQDAS. Por outro lado, a curadoria digital, em CAQDAS, pode envolver a organização e a gestão de recursos digitais durante todo o processo da pesquisa qualitativa, tendo como perspectiva o desafio síncrono e/ou assíncrono de atender o gestor da pesquisa e seus colaboradores, o que engloba processos de organização das fontes, codificações, questionamentos e gestão da pesquisa, além de demandar a capacidade de adicionar valor a esses dados no sentido de criar, selecionar, organizar, apresentar e interpretar novas fontes de informação e de conhecimento (Silva & Costa, 2021).
Marques (2014), Machado (2015) e Resende (2019), mesmo não abordando o conceito de curadoria digital em CAQDAS, trazem reflexões sobre a curadoria de dados da pesquisa, que vem ganhando importância junto às instituições de pesquisa. Lage e Godoy (2008), de forma mais específica, trazem argumentos que vão ao encontro do processo de curadoria digital, tendo em vista que buscam aproveitar e utilizar todos os recursos disponíveis, desde o momento em que se inicia a investigação, ainda na fase de organização do referencial teórico.
De acordo com Silva e Costa (2021, pp. 17-18), independente dos recursos digitais que serão utilizados, conjunto de dados disponíveis e do tempo de duração de uma pesquisa qualitativa,
[...] a curadoria digital em CAQDAS deve assegurar que eles possam ser analisados e interpretados continuamente. Refletir sobre o processo de curadoria digital e, consequentemente, aplicá-la, pode minimizar a perda de informações, além de reforçar o valor a longo prazo dos dados existentes e os tornar disponíveis para a (re)utilização em novos contextos e/ou novas abordagens de pesquisa.
Nesse perpectiva, o foco da curadoria digital na pesquisa qualitativa com CAQDAS está na gestão de todo o processo, que pode envolver o conceito de ciclo de vida dos recursos digitais, de forma que ele permaneça continuamente acessível e possa ser recuperado, (re)organizado, (re)selecionado, (re)criado, (re)utilizado, (re)interpretado e (re)analisado, o que se mostra fundamental em pesquisas qualitativas. As ações previstas na curadoria digital, de acordo com o modelo do Centro de Curadoria Digital, podem incluir: conceituar; criar; acessar e usar; avaliar e selecionar; descartar; ingerir; preservar; reavaliar; armazenar; acessar e reutilizar; transformar (Figura 1).
Barton (2018) identificou um conjunto de palavras que contribuem para o complexo conceito de curadoria digital, as quais são organizadas em cinco etapas, que se coadunam com o modelo do Centro de Curadoria Digital: criação (aprimorar, reaproveitar, montar, recontextualizar, agregar); seleção (filtrar, escolher, reunir, coletar, montar, acumular, desejar); organização (vincular, arquivar, catalogar, editar, conectar, interpretar, gerenciar, classificar); apresentação (compartilhar, divulgar, exibir, distribuir, recomendar); interpretação (ensinar, proteger, cuidar, ajudar, editorializar).
Observa-se que as atividades que envolvem a curadoria digital são diversas, mas ao mesmo tempo são diferentes, na medida em que a criação original é importante. Assim, uma análise sobre os desafios da pesquisa qualitativa, frente às TDIC, é trabalhada nos estudos de Davidson (2012). Apesar do enfoque da pesquisa, esse estudo tem aderência e aproxima o conceito de curadoria digital e CAQDAS, tendo em vista que a autora explica o projeto de um jornal, a partir da combinação entre o uso de software de análise de dados qualitativos (NVivo). Nesse processo, Davidson (2012) identificou cinco estágios: criação de dados; organização de dados por meio do NVivo; análise das abordagens às respostas primárias; análise das respostas secundárias; por fim, o processo de curadoria.
3.Proposta de formação de curadoria digital em CAQDAS
Para a proposta de formação de curadoria digital em CAQDAS optou-se por trabalhar, a partir do conceito de Blended Learning, mais especificamente com o modelo de aprendizagem híbrido denominado Self-Blend, considerado um modelo disruptivo, porque caracteriza-se, sobretudo, pelo desenvolvimento de atividades de aprendizagem em ambientes virtuais, neste caso com o uso do software de apoio à análise de dados qualitativos webQDA - www.webqda.net, com professor online, sendo esta a espinha dorsal de todo o processo de formação (Moreira & Horta, 2020).
Para dar suporte ao modelo de aprendizagem escolheu-se o modelo de curadoria de conteúdo digital (Chagas, 2018) e o Framework DigCompEdu (Lucas & Moreira, 2018).
Apesar da importância dos estudos apresentados no tópico anterior e as aproximações conceituais com os CAQDAS, o modelo proposto por Chagas (2018) contribui para o processo de formação, pois foi utilizado como forma de autorizar os alunos a se tornarem protagonistas no processo de aprendizagem, com o objetivo de analisar as possibilidades pedagógicas do uso de tal curadoria como metodologia na formação profissional de discentes e docentes/pesquisadores de um curso superior.
Chagas (2018), com base em revisão de literatura, propos um modelo de curadoria de conteúdo digital, o qual possui característica cíclica e é organizado em seis fases: plano de curadoria; busca; seleção; contextualização; compartilhar; avaliar (Figura 2). Nesse trabalho, também compreende-se essas fases como competências digitais que os gestores de pesquisas qualitativas poderão desenvolver. Assim, para analisar o processo de curadoria digital em CAQDAS, recorremos a esse modelo, principalmente se aproximar de um processo de formação, assim como por contribuir na organização e gestão das informações, além da possibilidade de definir as responsabilidades de gestores e colaboradores das pesquisas.
Desta forma, a primeira fase refere-se ao plano de curadoria, momento no qual o curador realiza o planejamento da curadoria proposta. A segunda trata do início da busca por informação, por meio da definição das fontes de pesquisa. A seleção, terceira fase, é o momento em que o curador realiza uma análise crítica dos materiais encontrados na segunda fase. Após a busca e seleção dos conteúdos digitais, Chagas (2018) apresenta a quarta fase, que se refere à contextualização. Na quinta etapa, Chagas (2018) sugere o compartilhamento, no qual o curador disponibiliza o conteúdo curado, como resultado das fases anteriores. Por fim, Chagas (2018) explica a sexta fase, que se refere à avaliação da curadoria.
O framework DigCompEdu foi desenvolvido pelo Joint Research Centre e é usado na Comunidade Europeia para categorizar o estágio de desenvolvimento dos professores no que se refere ao uso das TDIC como recurso educacional (Redecker, 2017). Tal framework será usado, nesse estudo, na proposta de formação, além disso foi escolhido em função de ser amplo, atualizado e contemplar atividades envolvendo o uso das tecnologias digitais, as quais serão adaptadas a partir do contexto já mecionado.
O framework DigCompEdu propõe categorizar as competências digitais de educadores, neste caso específico, de gestores de pesquisas qualitativas e seus colaboradores, organizando-as em seis áreas: Área 1: Engajamento profissional; Área 2: Recursos digitais; Área 3: Ensinar e aprender; Área 4: Avaliação; Área 5: Capacitar os alunos; Área 6: Facilitar a competência digital dos alunos.
A partir dessas áreas, segundo o CGI.br. (2018), o framework descreve seis estágios diferentes pelos quais a competência digital normalmente se desenvolve. Nos dois primeiros - novato (A1) e explorador (A2) - o pesquisador assimila novas informações e desenvolve práticas digitais básicas. Nos dois estágios seguintes - integrador (B1) e especialista (B2) -, o pesquisador aplica, expande e estrutura suas práticas digitais. Nas fases mais elevadas - líder (C1) e pioneiro (C2) -, ele compartilha seus conhecimentos, critica a prática existente e desenvolve novas práticas.
Para o recorte desta proposta, realizou-se algumas escolhas e adaptações, voltadas à pesquisa qualitativa, as quais estão relacionadas à Área 2 - Recursos Digitais, pois essa área está relacionada diretamente aos conceitos que abarcam a curadoria digital (seleção; criação e modificação; gestão, proteção e partilha). Além disso, também nos apropriaremos das propostas de atividades do framework, as quais faremos reflexões sobre cada processo.
Vale pontuar que utilizar-se-á o software webQDA como apoio ao processo de formação, pois com esse software, o pesquisador pode selecionar, criar, modificar, editar, visualizar, interligar, organizar e gerenciar recursos digitais, além disso o pesquisador pode criar categorias, codificar, controlar, filtrar, procurar, proteger, questionar e compartilar os dados com o intuito de responder às questões que emergem na sua investigação (Costa, Moreira, & Souza, 2019), assim como as demandas das pesquisas de seus colaboradores.
Relação entre o Modelo de Curadoria Digital e a Área 2 Recursos Digitais
Os utilizadores do webQDA têm ao seu dispor uma variedade de recursos digitais que podem utilizar na pesquisa qualitativa. Uma das competências-chave que qualquer pesquisador precisa desenvolver é aceitar essa variedade, para identificar os recursos que melhor se adequam aos seus objetivos, abordagem teórica e metodológica, grupo de participantes; para estruturar a riqueza de materiais, estabelecer ligações e modificar, adicionar e desenvolver recursos digitais para apoiar a sua prática de pesquisa. Ao mesmo tempo, precisam de ter consciência de como usar e gerir conteúdo digital de forma responsável. Por tudo isso, devem selecionar, criar, respeitando as regras de direitos de autor quando utilizam, modificam e partilham recursos e proteger conteúdo e dados sensíveis. Desta forma, a seguir, explicamos as relações entre as características da curadoria digital proposta por Chagas (2018), a Área 2 do framework de referência (Redecker, 2017), as atividades propostas, os objetivos de aprendizagem da proposta de formação e como serão direcionadas à curadoria digital com o uso do webQDA (Figura 3).
3.1.1 Fase 1 - Plano de Curadoria
A primeira fase reside no Plano de Curadoria (Chagas, 2018), a qual refere-se ao momento de iniciar o planejamento da curadoria no webQDA, identificando os participantes, a temática, os objetivos, a abordagem teórica e metodológica, os tipos de conteúdos curados na coleta de dados, a periodicidade de atualização da curadoria, entre outros elementos necessários. Sempre levando em consideração à identificação, avaliação e seleção dos recursos digitais para o processo de organização da pesquisa qualitativa com o webQDA, assim como planejamento da sua organização e utilização (Lucas & Moreira, 2018). Tendo em vista essa fase, a seguir, as sugestões de atividades e seus respectivos objetivos (Tabela 1).
3.1.2 Fase 2 - Busca
A segunda fase trata, segundo Chagas (2018), do início da busca por informação, por meio da definição das fontes de pesquisa, por exemplo, das bases de dados, dos espaços virtuais. Uma vez determinadas as fontes, tem-se a etapa da definição e refinamento dos termos de busca. A seguir, as sugestões de atividade e seu respectivo objetivo (Tabela 2).
3.1.3 Fase 3 - Seleção - Criação e modificação
A terceira etapa trata-se, segundo Chagas (2018), do momento de realizar uma análise crítica dos materiais pesquisados na fase 2 (Busca) que deverão ser selecionados seguindo a fase 1 (Plano de Curadoria). Assim com, o momento que abarca a Seleção do framework do DigCompEdu, de seleção, criação e modificação de recursos digitais voltados à pesquisa qualitativa. Levando em consideração o objetivo da pesquisa, o contexto, a fundamentação teórica, a abordagem metodológica e o grupo de participantes, ao selecionar recursos digitais e planificar a sua utilização (Lucas & Moreira, 2018). A partir dessa fase, a seguir, a sugestão de atividade e objetivos de aprendizagem (Tabela 3).
3.1.4 Fase 4 - Contextualização - Gestão, proteção e partilha
A Fase 4 apresenta o momento de definir a forma que o conteúdo será contextualizado, para posterior compartilhamento com os integrantes da pesquisa. Assim com, o momento que abarca a Seleção do framework do DigCompEdu, a gestão, proteção e partilha. Segundo Chagas (2018), é uma fase, na qual o curador deverá dar sentido e agregar valor, a todo material selecionado imprimindo o seu ponto de vista. Chagas (2018) explica ainda, que o curador poderá optar por realizar uma contextualização simples, na qual tem a possibilidade de descrever o contexto do conteúdo, ou ainda, “realizar uma contextualização mais aprofundada, recorrendo a mesclagem de conteúdos gerando assim um novo contexto para estes novos conteúdos” (p. 175). A seguir, a sugestão de atividade e os objetivos de aprendizagem (Tabela 4).
3.1.5 Fase 5 - Compartilhamento - Gestão, proteção e partilha
A fase 5 abarca o compartilhamento, no qual o curador disponibilizará o conteúdo curado, como resultado das fases anteriores. Assim com, o momento que abarca a Seleção do framework do DigCompEdu, a gestão, proteção e partilha. Chagas (2018) sugere diferentes formas de compartilhamento, para essa proposta, a sugestão é a forma como o pesquisador irá compartilhar o conteúdo com os demais colaboradores da pesquisa. Em outras palavras, como trabalhará na organização do conteúdo digital e a disponibilização aos pesquisadores colaboradores e/ou alunos orietandos dos pesquisadores. Assim como, a proteção do conteúdo digital sensível. Respeitando e aplicando corretamente regras de privacidade e de direitos autorais. Além de compreender a utilização e criação de licenças abertas e de recursos abertos, incluindo a sua atribuição adequada (Lucas & Moreira, 2018). A seguir, algumas sugestões de atividade e objetivos (Tabela 5).
3.1.5 Fase 6 - Avaliação
A fase 5 refere à avaliação da curadoria, à receptividade do compartilhamento do conteúdo digital, por meio de comentários entre os pesquisadores. Nesse processo, Chagas (2018) destaca a importância da definição de indicadores e/ou critérios, os quais auxiliarão no processo da avaliação e deverão estar interligados aos objetivos definidos no início da primeira fase, o plano de curadoria. A seguir, uma sugestão de atividade e proposta dos objetivos de aprendizagem (Tabela 6).
4.Considerações Finais
Este estudo foi elaborado com o objetivo de apresentar uma proposta de formação para pesquisadores qualitativos em curadoria digital por meio da exploração de CAQDAS, a partir do desenvolvimento de competências. Trata-se de um estudo bibliográfico que busca caracterizar e explicitar os conceitos orientadores das reflexões encetadas. Tais reflexões são aprofundadas com a escolha do Modelo de Curadoria de Conteúdo Digital na Educação (Chagas, 2018) e o Framework DigCompEdu (Lucas & Moreira, 2018), mais especificamente a Área 2 - Recursos Digitais, pois está relacionada aos conceitos e as competências que abarcam a curadoria digital.
O estudo se justifica pela influência pela necessidade de propor essa formação, frente aos desafios da pesquisa qualitativa em educação. Nessa perspectiva, os pesquisadores serão os protagonistas do processo de curadoria digital. Também justifica-se pelas contribuições que poderá trazer para os pesquisadores que trabalham com investigação qualitativa, especialmente, os que utilizam o CAQDAS, pois, a curadoria digital, se bem utilizada, poderá facilitar o gerenciamento dos arquivos, agilizar a codificação e busca de respostas, além de facilitar a comunicação entre os participantes da pesquisa. Entretanto, quem decide sobre a curadoria digital (Plano de Curadoria; Busca; Seleção; Contextualização; Compatilhamento; Avaliação), continuará sendo o pesquisador.
É pertinente considerar, também, que os desafios a serem enfrentados na implementação de práticas de curadoria digital em CAQDAS, são inúmeros; porém, devem ser enfrentados por investigadores qualitativos, que disponibilizam e compartilham seus dados de pesquisa em CAQDAS. A partir dessa proposta de formação, será possível identificar os procedimentos realizados no software webQDA com maiores ou menores fragilidades e, assim, apontar possíveis respostas formativas.
A adoção do Modelo de Curadoria de Conteúdo Digital na Educação (Chagas, 2018) e a adaptação do Framework DigCompEdu às necessidades de formação em Curadoria Digital, se mostram em sinergia com as demandas atuais da pesquisa qualitativa, pois observa-se a necessidade dos pesquisadores reflitam e ampliem as discussões com seus colaboradores sobre o processo de curadoria digital, sem deixar de atentar para os aspectos de direitos, permissões e compartilhamento de acesso. Nas atividades e objetivos de aprendizagem, recomenda-se que os pesquisadores envolvam seus colaboradores, monitorando suas ações e interações e fornecendo realimentação, levando em consideração a melhorar as práticas de curadoria digital, tanto individuais quanto colaborativas.
Por fim, vale salientar que não é pretensão deste trabalho encerrar as reflexões sobre a proposta de formação de Curadoria Digital em CAQDAS, mas contribuir com a construção do conhecimento acerca de tal temática. O uso do software webQDA para apoiar o processo dessa formação é recomendado, mas isso implica na disponibilidade do software, bem como na colaboração e na competência digital do pesquisador. A colaboração, a partir do uso do software webQDA, também precisa ser incentivada, tendo em vista a ampliação da participação ativa dos colaboradores no processo.
Por fim, ressalta-se que há limitações, no presente estudo, pois trata-se de uma proposta de formação, a qual ainda encontra-se em fase de desenvolvimento. Por tudo isso, acredita-se ser necessário ampliar os estudos e iniciar o processo de formação com pesquisadores, no sentido de ouvi-los, para suscitar novas problematizações.