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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

Print version ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.32 no.1 Lisboa Mar. 2024  Epub Mar 31, 2024

https://doi.org/10.32932/rpia.2024.03.131 

EDITORIAL

Interdisciplinaridade em imunoalergologia

1 Coordenadora da Unidade de Imunoalergologia, Hospital Pedro Hispano, Unidade Local de Saúde, Matosinhos, Portugal

2 Imunoalergologia, Hospital Luz Arrábida, Porto, Portugal


A especialidade de imunoalergologia é na sua génese uma especialidade de fronteiras.

Por um lado, fronteiras com o mundo exterior porque o nosso eu imunológico todos os dias se debate com o “outro”, esse meio que existe para além de nós e que na doença alérgica, sendo inofensivo, é sentido como agressor. Se a fronteira é a pele, falamos de dermatite atópica e urticária, se é a via aérea, de asma e rinite, se o trato gastrointestinal, de alergia alimentar e doenças eosinofílicas do tubo digestivo. Procuramos restaurar a homeostasia nestas barreiras hipersensíveis contrariando a inflamação através de fármacos ou de uma forma mais subtil, ludibriando o nosso sistema imunológico, promovendo a tolerância. Somos hábeis em, mantendo o nosso self, ensinar como gerir o non self que pacificamente nos rodeia.

As fronteiras também existem no macrocosmos médico onde nos movemos. O facto de vermos a pessoa com doença alérgica como um todo e não do ponto de vista de apenas um órgão torna-nos especialistas do “sistema alérgico”. As zonas de encontro com as outras especialidades que se dedicam ao órgão de per se são óbvias.

Estas especialidades têm um conhecimento aprofundado do órgão a que se dedicam, carecendo muitas vezes da visão global da pessoa alérgica. Temos assim o desafio e obrigação de nestas fronteiras estabelecermos pontes. As pontes têm sempre dois sentidos e é na partilha de conhecimento e de experiências que melhoramos em termos científicos. São várias as evidências que demonstram que os doentes avaliados em consultas interdisciplinares de asma grave têm menos exacerbações de asma e melhor qualidade de vida. De igual modo, os doentes com rinossinusite crónica e polipose nasal simultaneamente avaliados pela especialidade de alergologia e ORL têm maior controlo da doença.

Em 2022, na Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM), iniciamos uma consulta interdisciplinar de rinossinusite/polipose nasal e asma grave. É composta por elementos das especialidades de imunoalergologia, pneumologia, otorrinolaringologia, medicina interna, que duas vezes por mês se reúnem presencialmente para discutir casos clínicos das suas consultas que suscitam duvidas e para decidir qual a melhor estratégia terapêutica para cada doente. Esta consulta tem ainda a colaboração de colegas de oftalmologia, reabilitação respiratória e endocrinologia, quando necessário; o farmacêutico hospitalar pode também intervir na discussão de efeitos adversos de alguns fármacos, sendo uma mais-valia. Participar neste projeto tem sido uma experiência muito enriquecedora, sendo que a tomada de decisão por um grupo de profissionais acresce eficiência, ponderação e consenso.

De igual modo, o estabelecimento de um protocolo com o serviço de oftalmologia para observação de todos os doentes com dermatite atópica moderada a grave no nosso hospital, independentemente da abordagem terapêutica, permitiu verificar que todos estes doentes apresentavam pelo menos uma queixa oftalmológica que justificava a observação em consulta de Oftalmologia.

Existindo fronteiras, saber estabelecer pontes e consensos é um dos grandes desafios da nossa especialidade.

Trabalhar em equipa de forma interdisciplinar é exequível, gratificante e faz parte das boas práticas que devemos almejar.

Recebido: 31 de Março de 2024; Aceito: 31 de Março de 2024

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