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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
Print version ISSN 1646-2122
Rev. Port. Ortop. Traum. vol.22 no.1 Lisboa Mar. 2014
ARTIGO ORIGINAL
Estudo retrospetivo de lesões tumorais do punho e mão
Sílvia SilvérioI
I. Hospital Ortopédico de Sant?Ana. Parede. Parede. Portugal.
RESUMO
Objectivos: Realizar um estudo retrospectivo dos tumores do punho e mão da Unidade de Cirurgia da Mão e comparar os resultados com os existentes na literatura.
Material e Métodos: Estudo retrospectivo realizado a partir dos diagnósticos de uma base de dados da Unidade no período de 2000 a 2009. Foram excluídos quistos sinoviais, bossas cárpicas e tofos gotosos por decisão dos autores.
Os processos consultados foram analisados com base nos parâmetros: sexo; idade; diagnóstico; benignidade/ malignidade; primário secundário; origem (óssea, cutânea , vascular, nervosa); localização; clínica; tipo de cirurgia; evolução. A maioria dos diagnósticos foi confirmada por exame anatomo-patológico.
Resultados: Obtivemos um número total de 65 tumores em 65 doentes estudados. Idade média de 49,6 anos; 42 casos do sexo feminino; 55,4% de tumores de tecidos moles (n:36); 44,6% de tumores ósseos (n:29); 1 caso (1,5%) de tumor ósseo maligno.
Conclusões: Os resultados encontrados são semelhantes aos descritos na literatura. Os trabalhos existentes sobre tumores da mão são escassos, especialmente em relação aos mais raros, e na maioria dos casos não apresentam um seguimento a longo prazo que permita estabelecer uma orientação de tratamento. Devida à raridade dos tumores malignos, um especialista, na sua prática clínica, acaba por ter experiência limitada. Se a este facto se juntar um quadro clínico inicial pouco específico, será o suficiente para explicar a elevada percentagem de erros no seu diagnóstico numa fase inicial.
Palavras chave: Tumor, encondroma, osteocondroma, tumor desmóide, quisto ósseo aneurismático, tumor de células gigantes tenossinoviais, tumor glómico, punho, mão.
ABSTRACT
Objective: to conduct a retrospective study of wrist and hand tumors treated in our Unit of Hand Surgery, and compare the results with those found in existing literature.
Material and Methods: a retrospective study was carried out based on the diagnoses found in the database of our Unit, from 2000 to 2009. Synovial cysts, carpal lumps and gouty tophi were excluded from the study.
The clinical files were analyzed using the following criteria: gender; age; diagnosis; benignity/malignancy; primary/secondary; origin (bony, cutaneous, vascular, neural); location; clinical presentation; surgical procedure; evolution. Most diagnoses were confirmed by anatomopathological exam.
Results: we obtained a total number of 65 tumors, representing 65 patients. Mean age was 49.6 years, 42 females, 55.4% were soft tissue tumors (n = 36), 44.6% were bone tumors (n = 29), 1 case (1.5%) of malignant secundary bone tumor.
Conclusion: the results are similar to those found in literature. The existing studies concerning hand tumors are scarce, especially regarding the rarest ones. Most studies do not include long-term monitoring, which would be necessary to establish a guideline for treatment. Given the rarity of malignant tumors, specialists end up having limited experience in their clinical practice. Furthermore, the initial clinical presentation is close to unspecific. This fact results in a high percentage of misdiagnoses in the initial phase.
Key words: Tumor, Enchondroma, Osteochondroma, Desmoid tumor, Aneurysmal bone cyst, Giant cell tumor of the tendon sheath, Wrist, Hand.
INTRODUÇÃO
Os tumores da mão e do punho representam um motivo frequente de consulta da sub-especialidade. A maioria destas lesões é benigna1.
A radiografia é suficiente para o diagnóstico da maioria dos tumores ósseos, especialmente os de representação mais frequente.
Nos tumores de tecidos moles recorre-se em primeiro lugar à ecografia para a ajuda no diagnóstico. A cintigrafia é um exame sensível, com o aumento da sua captação nas áreas afectadas pela lesão bem como a detecção de metástases. No entanto é inespecífico...
A TAC e a RMN são utilizadas em situações específicas para diagnóstico e orientação do tratamento cirúrgico. A RMN, nas sequências de T1, T2 e STIR, é útil e de grande sensibilidade no diagnóstico diferencial de necrose avasculares,fraturas ocultas ou trabeculares2.
O tratamento cirúrgico está preconizado nas situações de alteração funcional ou de agressão e invasão das estruturas adjacentes ou após o diagnóstico inicial.
OBJECTIVOS
Este trabalho teve como objectivo o estudo retrospectivo dos tumores do punho e mão operados pela Unidade de Cirurgia da Mão. Também quisemos comparar os resultados obtidos com os da literatura que é escassa e não apresenta seguimento a longo prazo o que dificulta a orientação terapêutica.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo retrospectivo realizado a partir dos diagnósticos de uma base de dados da Unidade no período de 2000 a 2009. Foram excluídos quistos sinoviais, bossas cárpicas e tofos gotosos por decisão dos autores.
Nos processos consultados foram analisados os seguintes parâmetros:
- sexo;
- idade;
- diagnóstico;
- benignidade/ malignidade;
- Primário/secundário;
- origem (óssea, cutânea , vascular, nervoso);
- localização;
- clínica;
- tipo de cirurgia;
- evolução.
A maioria dos diagnósticos foi confirmada por exame anatomo-patológico.
RESULTADOS
Analisando especificamente cada um dos tipos de tumores (Tabela 1): nos casos de tumores de tecidos moles o diagnóstico pré-operatório é difícil de estabelecer. A ecografia e mais recentemente a RMN permitem-nos apenas conhecer a exacta localização e dimensões. Em muitos casos mesmo após a visualização intra-operatória da lesão não se consegue estabelecer o diagnóstico com segurança, tendo que se aguardar o resultado do exame anatomo-patológico2. (Tabelas 2 e 3, Figuras 1 e 2 e Tabela 4).
O tratamento dos tumores de tecidos moles foi na sua maioria a excisão completa. Em dois quistos mucóides foi necessário recorrer a retalho cutâneo. (Figura 3, Tabelas 5 e 6, Figuras 4 e 5, Tabela 7, Figuras 6 e 7 e Tabela 8).
EVOLUÇÃO
Dos tumores de tecidos moles que recidivaram, 3 curaram após re-operação (2 glómicos e 1 histiocitoma) (Tabela 9). Actualmente encontram-se sob vigilância 1 condromatose, 1 schwanoma e 1 tumor desmóide. Um caso de quisto mucóide abandonou o estudo.
Dos tumores ósseos que recidivaram, 2 curaram após re-operação (1 quisto ósseo aneurismático e 1 condroma periostal) (Tabela 10). Actualmente encontram-se sob vigilância 1 condrometaplasia sinovial e 1 lesão de Nora.
DISCUSSÃO
A prevalência de tumores de tecidos moles é superior à dos ósseos (55,4% - 44,6%)
Dos tumores de tecidos moles, o mais frequente foi o xantoma/ tumor de células gigantes tenossinoviais (27,8%). Dos tumores ósseos o mais frequente foi o encondroma (55,2%).
A frequência das lesões malignas foi de 1,5% de todos os tumores e 3,5% dos tumores ósseos
Tal como noutros trabalhos trata-se de uma lesão osteolítica da 3ª falange do 4º dedo,secundária a um tumor pulmonar (osteofílico).
Apenas registámos um caso de tumor cutâneo-queratose actínica hiperqueratótica. No entanto a realidade é muito superior, pois é na pele que a incidência de lesões malignas da mão é mais elevada (1 em cada 5 casos)!
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados são semelhantes aos descritos na literatura1-6. Os trabalhos existentes sobre tumores da mão são escassos, especialmente em relação aos mais raros, e na maioria dos casos não apresentam um seguimento a longo prazo que permita estabelecer uma orientação de tratamento2.
Devida à raridade dos tumores malignos, um especialista, na sua prática clínica, acaba por ter experiência limitada. Se a este facto se juntar um quadro clínico inicial pouco específico, será o suficiente para explicar a elevada percentagem de erros no seu diagnóstico numa fase inicial1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Irisarri C. Tumores benignos y malignos en la mano. Revista Española de Cirurgia de la Mano. 1995; 49 (22): 9 [ Links ]
2. Capomassi M, Irisarri C. Tumores de la Mano. Madrid, Espanha: Panamericana; 2009. [ Links ]
3. Campanacci M, Bertoni F, Bacchini P, Enneking W, Notini S. Bone and Soft Tissue Tumors. 1ª. Nova Iorque: Springer; 1990. [ Links ]
4. Grunet J, Buchler U. Tumoren der Hand. Therapeutische Umschau. 1995; 52: 166-174 [ Links ]
5. Palmieri TJ. Common Tumors of the Hand. Orthopaedic Review. 1987; 16 (6): 367-378 [ Links ]
6. Leung PC. Tumors of Hand. Hand. 1981; 13 (2): 169-172 [ Links ]
Silvia Silvério
Hospital Ortopédico de Sant?Ana
Rua de Benguela
2779-501 Parede
Portugal
silverio.silvia@gmail.com
Data de Submissão: 2013-10-07
Data de Revisão: 2014-03-03
Data de Aceitação: 2014-03-03