Introdução
A prática do basquetebol no contexto das seleções nacionais para além de ser um momento de glorificação, é desde há muito tempo considerada um factor de exaltação de uma determinada comunidade ou país. Relegados que são os aspectos de benefícios físicos, psicológicos e sociais na prática de desporto de alta competição.
As seleções nacionais fazem parte da preocupação duma dada sociedade o que faz com os seus integrantes estejam expostos a pressões com a necessidade de demonstrar resultados que provoque a alegria comum. Este facto requere que se controle os níveis da ansiedade no geral e da ansiedade pré-competitiva em especial. Aliás, os desejos dos adultos tendem, por vezes a suplantar os níveis de exigência dos próprios executantes provocando níveis de ansiedade imprevisto.
Realmente o que deveria ser prazeroso, como jogar na seleção nacional de basquetebol, também tornou-se um compromisso, uma obrigação de resultado, da qual depende a auto-estima, e na qual o objecto de interesse principal é o produto final: o rendimento. A espontaneidade e a criatividade das brincadeiras cederam seu lugar a actividades dirigidas, cópias fiéis do modelo adulto de ganhar, em que o resultado final é mais importante que todo o desenrolar da actividade meramente educativa e recreativa.
Os jogos entre as seleções nacionais tornaram-se sinónimo para glorificação e engrandece os vencedores como representantes sociais. Existindo a tendência de cobrança de resultados aos jovens selecionados o que requere o controlo do ambiente pré-competitivo onde podemos encontrar a ansiedade em forma cognitiva, somática e autoconfiança que é referenciada por Martens et al. (1990), Machado (2006) e da seguinte forma:
No geral a ansiedade é conceituada como um estado emocional que surge em resposta à maneira como a pessoa avalia ou interpreta uma situação, seja em momentos de perigo real ou imaginário, desencadeando sintomas como frio no estômago, opressão no peito, palpitações, transpiração excessiva, dor de cabeça e/ ou falta de ar (Araújo et al., 2007; Gama et al., 2008; Román & Savoia, 2003).
Dependendo de sua circunstância ou intensidade, a ansiedade pode ser útil ou tornar-se patológica, prejudicando o funcionamento psíquico/somático do indivíduo. Em níveis normais, trata-se de um fenómeno fisiológico responsável pela adaptação do organismo em situações de perigo. Entretanto, quando a ansiedade é excedente, ao invés de contribuir, desencadeia a falência da capacidade adaptativa (Benute et al., 2009).
A ansiedade interfere nos comportamentos e motivos para os indivíduos para praticarem desporto. Podendo também desempenhar um papel fundamental na determinação dos resultados como onde e com quem as pessoas se exercitam como é o caso de um jogo de basquetebol (Spink, 1992).
Nos estudos de ansiedade pré-competitivo, um contributo assinalável foi feito por Martens em 1977, ao sugerir o Sport Competition Anxiety Test (SCAT) e, mais tarde, o Competitive State Anxiety Inventory-1 (CSAI-1) com objectivo de compreender o ser humano nos momentos pré-competitivos desportivos. Na base do teste supracitado surgiram vários resultados de hierarquização dos factores de ansiedade pré-competitivo cognitiva, somática e autoconfiança de que são exemplos os mencionados no Quadro 1.
Autor | Resultados |
---|---|
Barbacena & Grisi (2008) | 1º Autoconfiança 2º Cognitiva 3º Somática |
Bertuol & Valentini (2006) | Moderada |
Gotine (2019) | 1º Ansiedade Cognitiva 2º Ansiedade Auto Confiança 3º Ansiedade Somática |
Vasconcelos-Raposo et al. (2007) | 1º Autoconfiança com 2º Ansiedade cognitiva 3º Ansiedade somática |
Santo (2008) | 1º Autoconfiança 2º Ansiedade Somática 3º Ansiedade Cognitiva |
Machava (2019) | 1º Autoconfiança 2º Somática 3º Cognitiva Moderado |
Madime (2017) | 1º Somática 2º Cognitiva 3º Autoconfiança |
Massingue (2014) | 1º Somática 2º Autoconfiança 3º Cognitiva |
As evidências de valorização diferenciada dos factores de ansiedade pré-competitiva, requere da equipa técnica, por exemplo duma seleção nacional de basquetebol, uma atenção com vista a adotar estratégia para lidar com eles (ansiedade somática, cognitiva e autoconfiança).
De acordo com os pressupostos, o objetivo deste estudo foi analisar as características de factores de ansiedade pré - competitiva nos jogos da selecção nacional de Moçambique Sub-16.
MÉTODOS
O estudo é de natureza transversal, pois os dados foram recolhidos num único momento temporal. Também é de caracter exploratório e quantitativo pois é orientado para os resultados.
Amostra
A nossa amostra é constituída por 12 atletas, com idades compreendidas entre os 15 aos 16 anos de idade dos quais 4 com 16 anos e 8 com
15 anos. Esta amostra constitui, por coincidência o número total das atletas ou população da selecção em estudo.
Instrumentos
O instrumento de recolha de dados utilizado foi um questionário auto administrado, denominado “Lista de Sintomas de Stress e Pré-competitiva (LSSPC)” desenvolvido por Chagas (1995). Este instrumento é composto por dezassete perguntas objetivas, o qual utiliza a escala Likert, abordando itens que incluem a avaliação de sintomas psicológicos, fisiológicos e sociológicos, os quais estão relacionados com a ocorrência de ansiedade pré-competitiva e competitiva.
Cada pergunta da referida lista teve uma apreciação de 5 alternativas que foram: 1= Quase nunca, 2 = Geralmente, 3 = As vezes, 4 = Raramente, 5=Quase nunca. Sendo que, também valorizam em baixa ansiedade (17 a 40 pontos), ansiedade moderada (41 a 62 pontos) e ansiedade elevada (63 a 85 pontos). Os somatórios dos factores podem ser divididos por números de indicadores de cada factor e obter-se por este meio a hierarquia.
Procedimentos
Para a recolha de informações relacionadas com a elaboração deste trabalho recorreu-se às atletas de basquetebol da selecção nacional onde um membro da Rede de Estudos do Desporto e Desenvolvimento Humano (REDH) fazia parte da equipa técnica na qualidade de treinador adjunto. Contudo, solicitou-se a Federação Moçambicana da Basquetebol a anuência que foi prontamente satisfeita e inclusive indigitada uma psicóloga para acompanhar os trabalhos. Após a sua permissão, foi realizada uma breve explicação acerca da pertinência e aplicabilidade dos questionários às atletas, assim como as normas do seu preenchimento. Contudo, o ambiente de aceitabilidade da pesquisa propiciou a realização de recolha dos dados nos seis jogos. De realçar que, depois do primeiro jogo os próprios atletas exigiam o questionário para responder às questões nas vésperas do jogo. De salientar que a distribuição e a recolha dos questionários foram feitas 1 hora antes da competição com vista a atender os objectivos do estudo.
RESULTADOS
Os fatores de ansiedade que mais manifestaram-se nas basquetebolistas da seleção sub-16 são: Autoconfiança (no 1º jogo da vitória) e Somática (nos cinco jogos onde a equipa obteve derrota). No Quadro 2, estão espelhadas as características da valorização da ansiedade pré-competitiva nos contextos jogos e resultados.
Os níveis de ansiedade das basquetebolistas nos jogos demonstram, pela ordem dos jogos, os valores seguintes: 1º jogo, resultado vitória, com nível de ansiedade de 59.16 e diferença de 11 pontos nas conversões; 2º jogo, resultado derrota, com nível de ansiedade de 53.34 e diferença de 7 pontos convertidos; 3º jogo, resultado derrota, com nível de ansiedade de 59 e diferença de 3 pontos convertidos; 4º jogo, resultado derrota, com nível de ansiedade de 61.16 e diferença de 38 pontos; 5º jogo, resultado derrota, com nível de ansiedade de 56.17 e diferença de 17 pontos e 6º jogo, resultado derrota, com nível de ansiedade de 55.4 e diferença de 17 pontos (Quadro 2).
Factores Ansiedade Pré-Competitiva | |||||
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Jogo | Contextos Resultados | Cognitiva | Somática | Autoconfiança | Nível |
1º Jogo | Vitória por 38 x 49 | 12.00 | 29.75 | 17.41 | 59.16 |
2º Jogo | Derrota por 64 x 57 | 12.42 | 24.75 | 16.17 | 53.34 |
3º Jogo | Derrota por 61 x 64 | 11.67 | 30.75 | 16.58 | 59 |
4º Jogo | Derrota por 33 x 71 | 11.58 | 33.00 | 16.92 | 61.5 |
5º Jogo | Derrota por 60 x 43 | 11.58 | 28.67 | 15.92 | 56.17 |
6º Jogo | Derrota por 39 x 56 | 10.75 | 29.57 | 15.08 | 55.4 |
Soma | 56.92 |
As basquetebolistas de seleção-sub16 atribuíram valores que variavam de 2.68 a 3.1 na ansiedade cognitiva, 3.09 a 4.12 na ansiedade somática e 3.01 a 3.48 na autoconfiança (na escala de 1 a 5) conforme o gráfico 1.
DISCUSSÃO
Na interpretação da ansiedade pré-competitiva foi da extrema importância para entender como as atletas interpretavam o significado da conquista, e como as diferenças individuais de cada uma podiam influenciar o processo da conquista.
O nível de ansiedade pré-competitiva, dependendo da soma obtida, pode ser classificado de baixa ansiedade (17 a 40 pontos), ansiedade moderada (41 a 62 pontos) e ansiedade elevada (63 a 85 pontos). As participantes no estudo atribuíram o nível moderado de ansiedade pré-competitiva. Estes resultados corroboram com os resultados de Machava (2019) e Bertuol & Valentini (2006) na demonstração do nível de ansiedade moderada.
Jogar na selecção tende a apresentar exigências acrescidas o que propicia a ansiedade alta ou moderada. Os níveis de ansiedade apresentada nas competições tendem a diferenciar das apresentadas nos treinos ou seja, nível baixo nos treinamentos e alto nas competições (Becker Jr., 1989). Sendo que, o papel do treinador afigura-se importante para optimizar a ansiedade.
As basquetebolistas da selecção sub-16 demostraram uma relativa valorização da ansiedade somática no período que antecede a competição. Esta evidência corrobora com os estudos de Madime (2017) e Massingue (2014) que nos seus estudos relatam a valorização da ansiedade somática.
A ansiedade somática demonstra um elevado nível de activação que é essencial para actividades desportivas que requerem velocidade, resistência, salto em altura e forca como é o caso de basquetebol. As basquetebolistas da seleção-sub-16 atribuíram valores relativamente superiores à ansiedade somática visto como de ordem fisiológica. Sendo que, a sua activação pode estar relacionada com estímulos relacionados com assistentes nas bancadas, importância do jogo, factor casa.
A segunda dimensão mais valorizada foi autoconfiança o que corroborou com os estudos de Gotine (2019) e Massingue (2014). Na visão de Martens et al. (1990) a autoconfiança deve ser equacionada como a ausência da ansiedade cognitiva. Entretanto, a fraca confiança e confiança excessiva nas capacidades individuais e do grupo podem contribuir para a sua valorização.
CONCLUSÃO
Os jogos da selecção nacional de Moçambique Sub-1 foram caracterizados pelo domínio da ansiedade somática e um nível moderado da ansiedade pré - competitiva.
A ansiedade somática deve ser visto como forma de preparação fisiológica e não um construto negativo. Neste prisma pode se considerar como uma activação do organismo para encarar o jogo.