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GOT, Revista de Geografia e Ordenamento do Território

On-line version ISSN 2182-1267

GOT  no.25 Porto June 2023  Epub Mar 12, 2024

 

Editorial

EDITORIAL

Fantina Tedimi 

iDepartamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal


O número 25 da GOT é lançado em nova plataforma, que segue a mais recente versão OJS (Open Journal System). Procura-se facilitar a submissão e o processo de revisão dos textos, bem como a consulta de artigos que, seguramente, aumentará o impacto da revista. Associada a esta transição, e de forma a marcar este momento, a revista surge com uma nova imagem. A equipa editorial reconhece a importância da publicação rápida dos artigos, pelo que a GOT passa a dispor de uma secção de Publicação Avançada em que os artigos, logo que aceites para publicação e editados, são disponibilizados online.

Este número da GOT reúne 10 artigos de 30 investigadores vinculados a 12 instituições brasileiras e 5 portuguesas. São muito diversas as temáticas abordadas, nomeadamente conservação ambiental e sustentabilidade, turismo, desenvolvimento rural, urbanismo bioclimático e planeamento urbano,

O artigo de Franklin Costa, Victor Leite, Paula Gomes e Maria Daniele de Queiroz apresenta a análise da vulnerabilidade natural à perda do solo no médio curso da bacia hidrográfica do Rio Apodi Mossoró, no Brasil, com o uso de geotecnologias. São apresentadas as condicionantes do meio físico que mais influenciam a vulnerabilidade natural. A metodologia utilizada permitiu avaliar a heterogeneidade existente na bacia hidrográfica. Para as áreas de maior vulnerabilidade os autores propõem que sejam definidos critérios que limitem o uso e ocupação do solo, tendo como suporte as legislações ambientais em vigor, visando a conservação ou restauração dos sistemas naturais ainda existentes e o uso sustentável do solo.

A investigação realizada por Simone Torres e Ruskin Freitas avalia o desempenho climático de tecidos urbanos com diferentes densidades construtivas e padrões morfológicos, recorrendo a parâmetros urbanísticos tradicionais (taxa de ocupação do solo e taxa de solo natural) e avançados (porosidade da malha e o índice de densidade arbórea). A área de estudo é a cidade de Arapiraca-AL, Brasil. Os resultados obtidos evidenciam a importância dos parâmetros urbanísticos avançados para o entendimento da morfologia de conjuntos de edificados e para otimizar o aproveitamento de estratégias bioclimáticas no ambiente urbano, pelo que devem ser considerados no processo de revisão e elaboração dos instrumentos de ordenamento territorial urbano. Face aos resultados, é proposta a revisão da legislação urbanística local para a redução dos impactos negativos decorrentes do processo de ocupação do solo, desfavorável às condições climáticas do semiárido de Arapiraca.

O artigo de Nádia Aun, Renato Assis e Orlando Rodrigues aborda o contributo da agricultura biológica no desenvolvimento rural, no norte interior de Portugal. Tendo como área de estudo o distrito de Bragança e utilizando a metodologia da rede rural, os autores inquiriram 40 agricultores que se dedicam à agricultura biológica. Para além de caracterizarem os produtores (p. ex., idade, instrução, motivações) e analisarem as características das atividades agrícolas desenvolvidas, identificaram diversos constrangimentos, incluindo os de natureza institucional. Concluem que a reocupação e desenvolvimento do mundo rural assenta na diversificação de estratégias de inovação capazes de gerar rendimento, de aumentar a rentabilidade da atividade agrícola e a agregação de valor aos produtos agrícolas. Neste processo, a agricultura biológica tem um papel que deve ser valorizado. Os autores realçam a necessidade de reforçar as sinergias com outras atividades (p. ex., comercialização da produção) de modo a reforçar e valorizar o capital social, a promoção de redes, o potencial de inovação e o dinamismo e sustentabilidade económica da região. Sugerem que deve ser pensada uma política comum que consiga organizar e ocupar um território com inúmeras identidades, mas em que a agricultura e os atores que a praticam são um elemento crucial e geradores de outras atividades e iniciativas.

Pedro Fernandes desenvolveu uma revisão sistemática da literatura para responder à questão: As cidades inteligentes são humanas e inclusivas? As principais conclusões apresentadas são: i) a cidade inteligente não é apenas formada por tecnologia e deve atribuir-se uma centralidade aos aspetos humanos. As cidades inteligentes devem ser humanas e inclusivas; ii) as tecnologias utilizadas devem melhorar as condições de vida das populações e gerar igualdade de oportunidades; iii) deve ser atribuída ao cidadão uma maior intervenção e participação na gestão urbana (p. ex., orçamentos participativos, aplicações para telemóvel nas quais os cidadãos podem apresentar opiniões e sugestões). O autor afirma que, nas cidades inteligentes 2.0, a dimensão social está mais presente, tornando-as mais humanas e inclusivas; elenca, igualmente, um conjunto de estratégias que devem ser consideradas para a maior inclusão e humanização das cidades inteligentes.

O artigo de Rosemary Hoff, Rodrigo Alberti, Jorge Viel, Henrique Pauletto e Milena Nhoatto avalia as áreas mais favoráveis à expansão da viticultura na “Serra do Sudeste”. Dados de hipsometria, declive, exposição e uso e ocupação do solo foram analisados num sistema de informação geográfica de acesso aberto para criar um zonamento das condições. A informação gerada foi exportada para uma base de dados e permite i) apoiar a tomada de decisão de produtores que pretendem expandir a área de viticultura e ii) monitorizar as melhores condições de plantação de diferentes castas para produzir vinhos com carácter distinto. Os autores realçam a importância da sua investigação na gestão da área de viticultura.

O artigo de Letícia Souza e Rosana Prado tem como objetivo demonstrar a importância do planeamento de iniciativas de reassentamentos para populações em situação de vulnerabilidade social que habitam áreas de construção ilegal. A área de estudo é a Vila dos Pescadores, na cidade de Porto Alegre, no Brasil. Localizada numa área de risco, a Vila dos Pescadores impede a valorização do espaço público de lazer e também a implementação de um projeto de mobilidade urbana. As autoras identificam as principais consequências do processo de urbanização ilegal e defendem que, como não é possível proceder à legalização da Vila dos Pescadores, deve ser preparado um projeto de reassentamento. É apresentada uma proposta que, para ter sucesso, deverá ter em consideração um conjunto de fatores e condições que são devidamente explicados neste trabalho.

Fabiana Pavel e Patrícia Romeiro investigaram os desafios que o aumento rápido e exponencial do fluxo de turistas nas cidades de Lisboa e Porto colocam no desenvolvimento urbano, realçando o papel das políticas públicas locais na resolução de problemas. As autoras afirmam que as medidas adotadas para mitigar os principais problemas existentes (p. ex., aumento do preço da habitação) não foram suficientes. Defendem a criação de políticas que integrem os conceitos de sustentabilidade, participação e inovação, promovam a convivência sustentável entre o turismo e outras atividades urbanas, bem como atendam aos interesses dos residentes nas duas cidades.

O artigo de Giovana Almeida, Douglas Roesler e José Nicácio foca-se na relação homem-natureza e nos impactos ambientais gerados pelo crescimento económico. Tem como objetivo compreender o papel que o lago Itaipu tem no desenvolvimento urbano-territorial nos municípios Lindeiros, Paraná, Brasil. A principal conclusão deste trabalho é que o lago da Itaipu assume múltiplos papéis, sendo, um deles, a formação da região dos Lindeiros que influencia as relações com o desenvolvimento urbano-territorial. As implicações teóricas da investigação traduzem-se no aprofundamento conceptual e empírico das discussões sobre as relações entre o impacto ambiental e o desenvolvimento urbano-territorial e regional, assim como para compreender as novas territorialidades e relações entre os atores sociais, numa área que é reconfigurada espacial e territorialmente. Os principais beneficiários das diversas implicações práticas são os gestores dos municípios Lindeiros, Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago da Itaipu e Usina Itaipu, assim como a população local.

André Coelho, Giovanilton Ferreita e António Goulart apresentam uma metodologia para análise espaço-temporal dos focos de queimadas/incêndios na Microrregião Litoral Sul do Estado do Espírito Santo, Brasil. O estudo evidenciou que há uma relação direta entre características geográficas, características meteorológicas e as ações antrópicas de desflorestação para fins diversos. Os autores demonstram que a metodologia utilizada oferece importante contribuição para ações de controle e monitorização, que podem ser aplicadas a diferentes escalas espaciais.

Por último, o objetivo do trabalho de Leila da Silva, Bruno Farias, André Guedes, Kátia Avelar e Patricia Dusek foi avaliar o “Plano Diretor” (PD) da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Os autores recorreram à revisão da literatura científica e à análise documental; concluíram que, não obstante alguns constrangimentos (p. ex., má gestão do PD), o PD ainda se revela um instrumento de boas práticas da Governança Pública Municipal, mesmo adequado ao planeamento de metas de médio e longo prazos.

A diversidade de temáticas e de abordagens conceptuais e metodológicas fazem deste número da GOT uma edição particularmente interessante.

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