INTRODUÇÃO
A Radiação Ótica Artificial (ROA) inclui a luz emitida de todas as fontes artificiais, em todas as suas formas, como raios ultravioleta, infravermelho e laser. Algumas destas formas de luz artificial podem ser prejudiciais aos trabalhadores, a menos que medidas de proteção estejam em vigor, contudo, considerando a diversidade de situações em que esta exposição ocorre, acredita-se que a maior parte dos trabalhadores e dos profissionais a exercer em equipas de Saúde Ocupacional, poderá não conhecer ou valorizar particularmente este fator de risco laboral, sobretudo quando comparado com outros que também possam existir no posto de trabalho.
Apesar da bibliografia ser escassa nas diversas bases de dados cientificas pesquisadas, é possível encontrar algumas recomendações, nos motores de busca eletrónica generalistas, sem que se perceba às vezes a base que fundamentou as diversas indicações. Nesse sentido, realizou-se uma pesquisa bibliográfica no sentido de perceber que conhecimentos deverão ter as equipas de saúde ocupacional para proteger a saúde dos trabalhadores expostos a fontes de Radiação Ótica Artificial.
METODOLOGIA
Efetuou-se uma scoping review para responder à pergunta protocolar: o que se sabe sobre a exposição laboral a Radiação Ótica Artificial?
Em função da metodologia PICo, foram considerados:
-P (population): trabalhadores expostos a radiação ótica artificial.
-I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre a radiação ótica artificial
-C (context): saúde ocupacional nas empresas com postos de trabalho com exposição a radiação ótica artificial.
Foi realizada uma pesquisa em setembro de 2019 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina, Academic Search Ultimate, Science Direct, Web of Science, SCOPUS e RCAAP”.
No quadro 1 podem ser consultadas as palavras-chave utilizadas.
Motor de busca | Password 1 | Password 2 e seguintes | Critérios | Nº de documentos obtidos | Nº da pesquisa | Pesquisa efetuada ou não | Nº do documento selecionado | Codificação inicial | Codificação final |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
RCAAP | Radiação ótica artificial | -pesquisa avançada -título |
0 | 1 | Não | ||||
Radiação óptica artificial | 0 | 2 | Não | ||||||
Radiação ótica artificial | -pesquisa avançada -texto integral |
26 | 3 | Sim | |||||
Radiação óptica artificial | 27 | 4 | Sim | ||||||
EBSCO | Artificial Optical Radiation | -com acesso a resumo -humano |
11 | 5 | Sim | 2 4 5 11 |
5.1 5.2 5.3 5.4 |
10 11 4 8 |
|
Science Direct | 21.530 | 6 | Não | ||||||
+ occupational | 507 | 7 | Não | ||||||
Anterior + health | 443 | 8 | Não | ||||||
Anteriores + medicine | 243 | 9 | Sim | ||||||
“Artificial Optical Radiation” | 24 | 10 | Sim | ||||||
SCOPUS | Artificial Optical Radiation | -com acesso a resumo -humano |
957 | 11 | Não | ||||
+ occupational | 25 | 12 | Sim | 1 3 5 6 7 9 13 16 18 22 23 26 27 28 29 30 31 33 34 |
12.1 12.2 12.3 12.4 12.5= 5.1 mas completo 12.6 =5.2 =5.3 - - 12.7 - 12.8 - 12.9 =5.4 mas completo 12.10 - - - |
5 - 6 7 - 2 - - - - - - - - - 3 - - - |
|||
Academic Search Ultimate | “Artificial Optical Radiation” | 9 | 13 | Sim | 4 | 13.1 | 9 |
CONTEÚDO
Caraterísticas da Radiação Ótica Artificial
A Radiação Ótica Artificial (ROA) é o termo dado à radiação eletromagnética (REM) que pode causar danos oculares1.
Os comprimentos de onda mais curtos estão na região azul e os mais longos na vermelha1. A radiação infravermelha (IV), micro-ondas e radioelétrica são radiações com comprimentos de onda cada vez mais longos; por usa vez, a radiação ultravioleta (UV), Rx e raios Gama têm comprimentos de onda cada vez mais curtos. Quando a REM contata com um material, provavelmente fornece alguma energia, situação essa que pode originar reações bioquímicas.
Quanto mais curto o comprimento de onda, mais energia existirá. Logo, a luz azul é potencialmente mais danosa que a verde e esta mais que a vermelha: no setor do visível a radiação UV é a mais energética. O comprimento de onda interfere também com o patamar de penetração1.
A radiação ótica compreende a REM com comprimento de onda entre os 100nm e 1mm. Entre os 100nm e os 400nm está a UV (UVA 100-400nm; UVB 315-400nm; UVC 100-280nm). Entre os 780nm e 1mm estão os IV (IVA 780-1400nm; IVB 1400-3000nm e IVC 3000nm-1mm). A luz visível está entre os 380 e os 780nm. A luz azul, por sua vez, situa-se entre os 300 e os 700nm2.
A radiação UV é não ionizante e situa-se no fim da zona azul da luz visível/ Raios X (400 a 100 nm); a capacidade de provocar danos é inversamente proporcional ao comprimento de onda (como já se mencionou) e diretamente proporcional ao tempo de exposição. A radiação UVA tem a energia mais baixa e, por isso, é a menos lesiva; a UVC está na posição oposta e a UVB fica num patamar intermédio3.
Fontes de Radiação Ótica Artificial
Muitos trabalhadores estão expostos à ROA, nomeadamente através da iluminação e dos écrans de computadores; logo, a regra de suprimir a exposição (como se tenta por vezes fazer com outros fatores de risco) não tem a mesma aplicabilidade neste contexto. Aliás, em áreas como a Saúde e em alguns espetáculos, os limites das diretivas podem ser ultrapassados com relativa facilidade1; este último setor apresenta alguma complexidade a este nível4. Qualquer luz artificial, interna ou externa, também aqui se enquadra (mesmo a proveniente do veículos automóveis)1, por exemplo.
Entre as fontes de ROA pouco relevantes e, por isso, avaliadas como eventualmente seguras, podem ser consideradas:
➢ iluminação fluorescente com ou sem difusores sobre as lâmpadas ou através de projetores
➢ ecrãs de computador ou equivalentes
➢ armadilhas para insetos com UVA
➢ fotocopiadoras
➢ quadros brancos interativos
➢ LEDs (Light Emitting Diode ou diodo emissor de luz)
➢ luzes dos veículos (nevoeiro, marcha-atrás, travões e pisca)
➢ flash fotográfico
➢ aquecedores radiantes de teto a gás e iluminação das ruas1.
À partida, também se podem considerar sem grande relevância médica:
➢ iluminação do teto sem difusores (se superiores a 600 lux)
➢ iluminação com projetores com lâmpadas de mercúrio de alta pressão/ halogeneto metálico (seguro se o vidro estiver intacto e se não se estiver na linha de mira)
➢ projetores de secretária (seguro se não se olhar diretamente para o feixe)
➢ luz negra UVA de baixa pressão (também se não se olhar diretamente)
➢ laser classe 1 (seguro se a proteção estiver intacta)
➢ faróis dianteiros (se não se olhar de forma direta e prolongada para o feixe)1.
Quanto a ROAs utilizadas especificamente em contexto médico, podem ser destacadas:
➢ iluminação do posto de trabalho (mais intensa no bloco cirúrgico)
➢ iluminação de diagnóstico (transiluminação do feto, aparelho oftalmológico, lâmpada de Wood)
➢ terapêutica (fototerapia UV, luz azul, fotodinâmica, fisioterapia, cirurgia)
➢ computadores
➢ negatoscópios
➢ câmaras de fluxo laminar
➢ simuladores solares1.
Alguns autores destacam, contudo, que as lâmpadas portáveis de UV podem ser bastante perigosas, até porque geralmente não estão encapsuladas/ isoladas, como acontece com outras fontes e/ ou podem ter o invólucro não íntegro1.
No quadro 2 estão registadas algumas fontes de produção de radiações específicas.
Radiação | Utilização | Acidentalmente produzida |
---|---|---|
UVC | Esterilização por fluorescência (laboratórios) e fotolitografia | Tratamento de tintas, iluminação, soldadura com arco |
UVB | Solário, fototerapia, fluorescência (laboratório) e fotolitografia | Lâmpadas germicidas, tratamento de tintas, iluminação e soldadura com arco |
UVA | Fluorescência (laboratório, espetáculos, atividades forenses), fototerapia, solário, tratamento de tintas, armadilhas de insetos e fotolitografia | Lâmpadas germicidas, iluminação e soldadura de arco |
Visível | Iluminação, semáforos, remoção de varizes e pelos, tratamento de tintas, armadilhas de insetos, fotolitografia, fotocópias, projeção, ecrãs de televisão e computador | Solário, aquecimento/ secagem e soldadura |
IVA | Luz de vigilância, aquecimento, secagem, remoção de varizes e pelos, comunicações | Iluminação, soldadura |
IVB | Aquecimento/ secagem, comunicações | Iluminação, soldadura |
IVC | Aquecimento/ secagem | Iluminação, soldadura (1) |
Setores Profissionais mais relevantes
A ROA é particularmente frequente nos seguintes setores/ tarefas profissionais:
➢ trabalhos com altas temperaturas, como os que envolvem vidro ou metal (IV)
➢ setor gráfico (em que as tintas envolvem fotopolimerização)
➢ arte e espetáculo (projetores e efeitos luminosos especiais; holografia- projeção de imagens)
➢ radiação UV para revelar colorações fluorescentes
➢ tratamentos estéticos com IVs e UVs
➢ trabalho em áreas fechadas, com iluminação potente
➢ esterilização por UVs (como na produção de fármacos, investigação ou tratamento de águas residuais)
➢ soldadura
➢ soldagem a laser no fabrico de plásticos
➢ atividades com processamento de materiais (corte, marcação, perfuração/ fotolitografia)
➢ medição ótica
➢ medicina (oftalmológica, cirúrgica, terapia fotodinâmica, dermatologia, medicina dentária, diagnóstico geral)
➢ comunicações (fibra, espaço livre, satélite)
➢ armazenamento de informações óticas (CD/ DVD, impressora)
➢ espetroscopia (identificação de substâncias)1.
Algumas radiações provenientes de alguns tipos de soldadura são muito intensas5,6, ainda que variável com o método específico, sobretudo a nível de radiação UV e visível; deve-se ainda considerar a radiação refletida e a proveniente do sistema de iluminação/ luz natural6. A radiação UV da soldadura pode causar eritema e fotoqueratite ocular; se a exposição for crónica poderá ocorrer envelhecimento cutâneo e patologia oncológica dermatológica. A radiação azul é também muito relevante a nível de danos oftalmológicos, neste contexto. Contudo, apesar das medidas de proteção coletiva e EPIs, os soldadores com frequência estão expostos a valores superiores aos máximos recomendados pelas normas5. Entre a ROA mais lesiva destaca-se a originada pela soldadura com arco de alguns metais; esta existe em inúmeros postos de trabalho e também é praticada, por vezes, no domicílio7.
Todas as situações com maior risco em contexto hospitalar estavam associadas à radiação UV. A iluminação usada nos blocos operatórios é muito brilhante (tungsténio-halogénio), ainda que não seja frequente os profissionais olharem diretamente para o feixe (cima)8.
As lâmpadas com UV são também usadas, por exemplo, na deteção de alguns estupefacientes (como crack), em contexto de veículos (automóveis e aviões). A generalidade dos trabalhadores receia estas lâmpadas, sobretudo devido às informações que circulam nos mass media, relativas à exposição em solários artificiais3.
Assim, entre a principais fontes de ROA destacam-se a soldadura, fornos de secagem de pintura, metalurgia, trabalhos com vidro, bem como equipamentos médicos (laser, fototerapia, neonatal, esterilização, luzes no bloco operatório). Menos atenção é dada à iluminação de escritórios, écrans, fotocopiadoras, scanners e LEDs; ainda que, por vezes, o tempo de exposição possa ser prolongado2.
Classificação da Radiação Ótica Artificial
A ROA divide-se em radiação laser e não coerente. Os feixes laser geralmente têm um único comprimento de onda ou um número pequeno de comprimentos de onda diferentes; contudo, a baixa divergência mantém a potência ou energia, mesmo a distâncias consideráveis. No entanto, existem lasers com muitos comprimentos de onda e/ ou feixes divergentes1.
Na classificação de segurança dos lasers podem ser consideradas as seguintes categorias:
➢ 1- seguros, mesmo se olhar direto e de forma prolongada para o feixe (exemplo: impressoras, gravadores e leitores de CD/ DVD, bem como laser de processamento de materiais); pode provocar encandeamento, sobretudo se a luz ambiente for fraca
➢ 2- emitem radiação visível e são seguros para exposições curtas, mesmo com instrumentos de observação ótica, mas podem causar dano se se olha diretamente para o feixe; supõe-se que o desvio do olhar e/ ou pestanejar sejam proteção suficiente
➢ 3R- risco baixo com exposição breve
➢ 3B- perigosos com exposição direta a determinada distância ocular (menos de 13 centímetros e mais que 10 segundos); podem causar lesões cutâneas e risco de incêndio de substâncias inflamáveis
➢ 4- perigosos para o olho (com exposição direta) e pele; risco de incêndio1.
Contudo, esta classificação não abrange os riscos que possam existir nas situações de reparação/ manutenção e também não considera exposições múltiplas1.
Lasers de classe 1 são seguros e não necessitam de nenhuma avaliação; contudo, as classes 3B e 4 podem causar lesões oculares e os de classe 4 também lesões cutâneas. Num local de trabalho onde existam as classes 3B e 4 deverá existir um trabalhador que assuma a responsabilidade pela segurança dos lasers1.
Valores limite
Para proteção da córnea, conjuntiva e pele em relação à radiação UV em geral, para um turno de trabalho de oito horas, estabeleceu-se o limite de 30 J/m2 (180 a 400 nm). Para a UVA (315 a 400 nm) esse valor passa para 10 KJ/m23,9.
Poderá ser problemático o cumprimento desses valores em alguns setores profissionais, como o das filmagens que, por vezes, atingem dez horas por dia, com exposição frequente e intensa9.
No documento da ACT (caraterizado na bibliografia) existem vários quadros relevantes que registam os valores limite de exposição (consoante o tempo, zona do corpo atingida e tipo de radiação)1, cuja consulta será pertinente.
Eventuais consequências médicas
A radiação ótica é absorvida pela superfície do corpo, pelo que as consequências geralmente estão limitadas à pele e olhos (com especial vulnerabilidade para o cristalino); os efeitos fotoquímicos predominam na região do UV e os térmicos em contexto de IV1. A resposta de aversão à ROA não é equivalente entre indivíduos, logo, a eficácia como mecanismo de defesa não é uniforme4. Os efeitos podem ser agudos ou crónicos1. Outro artigo realça também que a radiação ótica entre os 180 e os 3000 nms é absorvida pelas camadas superficiais do organismo (sobretudo pele e olho), causando alterações secundárias a mecanismos fotoquímicos e/ ou térmicos. Os primeiros dependem da intensidade e tempo de exposição; os segundos, por sua vez, dependem mais da capacidade que o tecido tem para conduzir o calor (dependente da intensidade e dimensão da área atingida). Globalmente, também é relevante o comprimento de onda10.
No quadro 3 estão registadas as principais consequências para o olho e pele, em função dos diversos tipos de radiação.
Radiação | Olhos | Pele |
---|---|---|
UVC | fotoqueratite, fotoconjuntivite | eritema, cancro |
UVB | fotoqueratite, fotoconjuntivite, cataratas | eritema, elastose (fotoenvelhecimento) e cancro |
UVA | fotoqueratite, fotoconjuntivite, cataratas, lesões na retina | eritema, elastose e hiperpigmentação |
Visível | lesões na retina (queimadura) | queimadura (1) |
IVA | cataratas, queimadura na retina | |
IVB | cataratas | |
IVC | queimadura na córnea |
A maioria da radiação UV que incide na pele é absorvida pela epiderme (embora comprimentos de onda específicos possam penetrar mais). A exposição excessiva e por períodos breves poderá originar eritema e edema, oito a vinte e quatro horas depois e com até três a quatro dias de duração, com posterior hiperpigmentação, desidratação e/ ou descamação. A longo prazo a consequência mais séria é a patologia oncológica cutânea. A exposição crónica pode provocar elastose e eventuais alterações na função imunitária1. O principal efeito positivo é a produção de vitamina D1,3.
A radiação ultravioleta que atinge o olho é absorvida pela córnea a cristalino (quer A, quer B). é possível o surgimento de fotoqueratite e fotoconjuntivite (também conhecidas como “cegueira da neve ou do soldador”); os sintomas principais são a fotofobia e a dor; podem desaparecer até cerca de trinta minutos depois ou durar até vinte e quatro horas, em função da intensidade da exposição. A exposição crónica a UVA e UVB pode levar à formação de cataratas, em função das alterações proteicas no cristalino. Também podem ser lesionadas a córnea e conjuntiva, nomeadamente na queratopatia da gotícula (depósitos amarelos/ acastanhados), pterígio (crescimentos excessivo de tecido sobre a córnea) e/ ou pinguécula (lesão amarela e proliferativa da conjuntiva) 1.
A radiação visível penetra cutaneamente, aumentando a temperatura (atenuada com a vasodilatação e sudação) e poderá levar a queimadura1.
A retina apresenta risco superior ao da pele em relação à radiação visível, sobretudo quando se olha de forma prolongada; a contração pupilar e o desvio do olhar constituem mecanismo de defesa. A nível ocular esta pode causar danos equivalentes à radiação UV, ainda que o brilho da luz colabore como mecanismo de proteção. As lesões fotoquímicas na retina podem causar uma deficiente visão noturna e da cor1.
Um laser muito potente, por sua vez, poderá provocar destruição total das células atingidas1.
A radiação IVA na pele e olhos pode causar os mesmos danos que a radiação visível. Contudo, a retina não consegue perceber a presença da radiação IV, pelo que não existem os mesmos mecanismos de proteção que para a luz visível. A exposição crónica pode também levar a cataratas. A IVA não tem energia suficiente para ocorram danos fotoquímicos. A IVB, na pele, pode levar aos mesmos danos térmicos que a radiação visível e a IVA. A nível ocular, também podem ocorrer cataratas. Quanto aos IVC, a nível ocular, o dano mais relevante é a queimadura da córnea1.
Outros artigos, ainda que não especificando por tipo de radiação, publicaram que, a nível ocular, podem ocorrer globalmente fotoqueratite, conjuntivite, catarata, pterígio e melanoma ocular. Por sua vez, em contexto cutâneo poderá surgir eritema, queimadura, fotoenvelhecimento, melanoma, carcinoma de células basais ou escamosas6. Assim, a foto/ querato/ conjuntivite, o melanoma e a catarata são razoavelmente frequentes11 sobretudo nos soldadores6. Outro artigo também salientou que não são raros o eritema, fotoconjuntivite, fotoqueratite; bem como elastose, cancro de pele e cataratas, como efeitos agudos e crónicos, respetivamente3.
Existem agentes químicos que têm a capacidade de potenciar a fotossensibilidade, nomeadamente alguns antibióticos (tetraciclina, sulfametoxazol, trimetopim), ansiolíticos, diuréticos (tiazidas), hipnóticos (fenobarbitol), carvão/ creosoto, alguns cosméticos e vegetais (cenoura, figo, limão). Estes produtos podem contatar com o organismo através da ingestão, administração injetável ou por via cutânea (a intensidade e timing dos efeitos depende da via de entrada)3.
Efeitos indiretos a considerar que poderão ser problemáticos (em contexto laboral) são a luz ofuscante, explosão e incêndio (sobretudo com lasers de classe 4)1.
Medidas de Proteção Coletiva
Dentro da bibliografia selecionada, apenas um documento mencionou algumas medidas de proteção coletiva, nomeadamente:
➢ desligar fontes de radiação que não sejam estritamente necessárias naquele momento
➢ substituição de equipamentos ou processos mais perigosos, por outros menos danosos
➢ alterar o equipamento para atenuar a produção de radiação
➢ interrupção do processo se existir um trabalhador na proximidade
➢ encapsulamento total ou com pequenas janelas de observação devidamente protegidas
➢ elaborar documento com a política da empresa em relação a este tema e descrição dos procedimentos, bem como trabalhadores expostos e os funcionários responsáveis por orientar o assunto
➢ entregar aos trabalhadores a cópia da avaliação de riscos
➢ manter o registo dos trabalhadores autorizados às etapas e/ ou locais mais perigosos
➢ estruturar um plano de emergência (lasers de classe 3B e 4)
➢ criar um plano de auditoria
➢ manter as áreas mais perigosas interditas por barreiras, fechaduras ou teclados codificados
➢ implementar sinalização de segurança (tipo de perigo e EPIs recomendados ou obrigatórios) e
➢ assegurar a formação e consulta aos trabalhadores1.
Medidas de Proteção Individual (EPIs)
Quanto a medidas de proteção individual, podem ser realçadas as seguintes:
➢ óculos1/ máscara1,7/ escudo facial- a escolha depende do comprimento de onda, potência/ energia, densidade ótica e necessidade de graduação do trabalhador; bem como exigência visual global/ perceção da cor e existência de reflexos1.
➢ luvas
➢ farda com mangas compridas e/ ou manguitos de material adequado
➢ botas/ calçado adequado7.
Por exemplo, não é raro que os soldadores, iniciem o procedimento sem máscara, colocando-a apenas posteriormente; a formação e treino dos funcionários são por isso muito relevante7.
DISCUSSÃO/ CONCLUSÃO
O estudo de revisão comprova a existência de dano potencial para os trabalhadores induzido pela ROA. Contudo, o tema não cativa a mesma atenção que outros fatores de risco laborais, pelo que está pouco desenvolvido e uma parte da população nem terá noção de que existe.
Seria interessante que equipas nacionais de Saúde Ocupacional, com clientes com grande número de funcionários expostos, investigasse melhor o tema, quantificando os conhecimentos dos trabalhadores/ chefias e empregadores, registando a semiologia e patologias associadas, clarificando quais os subtipos de radiações envolvidos nas diversas tarefas, sugerindo ainda medidas válidas de proteção coletiva e individual (especificando modelo e/ ou materiais).