INTRODUÇÃO
O sarampo é uma das doenças transmissíveis conhecidas mais infeciosa (1), sendo provocada por um agente biológico do grupo 2 e também é conhecido que os profissionais de saúde desempenham um papel importante na propagação dessa patologia (2). Como tal, a imunização destes profissionais é uma prática fundamental, em conjunto com medidas básicas de controlo de infeção. A recomendação desta imunização centra-se em vários conceitos essenciais que têm em consideração o papel que os profissionais de saúde podem desempenhar na transmissão de agentes infeciosos aos doentes e colegas de trabalho, bem como o aumento do risco de infeção para o próprio. Trata-se de uma doença provocada por um vírus que tem o homem como único reservatório conhecido, com uma vacina segura, barata e que produz imunidade vitalícia, com testes diagnósticos específicos e sensíveis, para a qual todos os infetados desenvolvem sintomas e não existem portadores crónicos (3,4). A erradicação do sarampo representaria uma grande conquista para a Saúde Ocupacional/ Saúde Pública. Contudo, apesar da alta cobertura de vacinação, esta patologia continua a causar surtos razoavelmente frequentes (5,6). Estima-se que o risco de contrair sarampo seja 13 a 19 vezes superior em profissionais de saúde, versus população-geral (7). Um dos objetivos da Saúde Ocupacional é garantir a saúde e o bem-estar dos trabalhadores devendo as medidas preventivas, tal como a vacinação da população trabalhadora, ser uma das suas responsabilidades.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho foi determinar o status imunológico do sarampo entre os profissionais de saúde de um instituto de português de oncologia.
MATERIAL E MÉTODOS
Com o recurso à interpretação dos dados de saúde existentes nos processos clínicos no software de gestão de saúde e segurança do trabalho (UTILSST®), efetuou-se um estudo retrospetivo dos trabalhadores no ativo até final de abril de 2018, inferindo o grau de imunidade para o sarampo através da interpretação do histórico credível de doença e da análise do registo vacinal (VAS/VASPR - registo de duas doses após os doze meses de idade, administradas com um intervalo mínimo de quatro semanas).
RESULTADOS
Constata-se que no total de 2154 trabalhadores, 61,9% tem registo de imunidade contra o sarampo; 37,1% história credível de doença e 24,8% registo de duas doses de vacina (Figura 1).
Dos imunizados, a maioria é do género feminino (81,1%). O grupo profissional com maior taxa de imunização é o dos Enfermeiros (66,7%), sendo o grupo dos Médicos o de menor (45,8%) - consultar tabela 1 e figuras 2 e 3.
CONCLUSÃO
É fundamental garantir a proteção dos profissionais de saúde contra o sarampo, de forma a evitar a existência de cadeias de transmissão e o contágio subsequente a doentes/ trabalhadores com maior risco de complicações. Assim, é desejável um alto nível de imunidade. Existe claramente necessidade de mais esforços para garantir que todos os profissionais de saúde estejam imunes ao sarampo. Em situação de desconhecimento, para que se possa atualizar o perfil imunológico do trabalhador, em relação ao sarampo, o médico do trabalho deve solicitar o estudo laboratorial da serologia deste vírus, através da deteção de anticorpos da classe Imunoglobulina G (IgG). Para deteção desta IgG específica, o teste laboratorial ELISA (Enzyme-linked immunosorbent assay) é o de maior sensibilidade e especificidade de 100%. Os custos associados à realização deste exame devem recair sobre o empregador. Neste instituto português de oncologia, apesar de nem todos os trabalhadores se encontrarem protegidos, a intervenção constante do Serviço de Saúde Ocupacional permite assegurar que a maioria se encontra imunizada.
Muitos hospitais implementam uma campanha anual de vacinação contra a gripe: uma abordagem semelhante poderá funcionar para o sarampo como um programa único de intervenção conjunta. É provável que os profissionais de saúde percebam erroneamente o risco de adquirir e transmitir o sarampo: todos devem receber informações sobre a infeção do sarampo, vacinação, direitos e responsabilidades na prevenção da infeção hospitalar. Os conselhos de administração dos hospitais têm ao mesmo tempo o dever de garantir a segurança dos utentes e dos trabalhadores, sendo que a infeção do sarampo adquirida em ambiente hospitalar deve ser uma prioridade de alto nível. A implementação de um programa único de vacinação contra o sarampo com intervenção sistemática durante os exames de saúde deve ser a realidade, podendo os programas de imunização contra o sarampo ser fortalecidos por meio da vacinação obrigatória. Alternativamente, aqueles que possuam alguma contraindicação à vacinação (reação anafilática a uma dose anterior da vacina, à neomicina, à gelatina ou a outros componentes da vacina; Gravidez; Trombocitopenia ou púrpura trombocitopénica na sequência de uma dose anterior da vacina; Imunodepressão grave, congénita ou adquirida; Terapêutica imunossupressora), que recusam a vacinação ou deixam de seguir as recomendações da saúde ocupacional podem ser recolocados em serviços de baixo risco.
Neste instituto português de oncologia, não há registos de surtos de sarampo nos últimos anos. Contudo, a situação epidemiológica do sarampo na Europa tem vindo a possibilitar a importação de casos de doença, causando desta forma surtos em Portugal que são rapidamente controlados. Em 2018, 93% dos casos estiveram associados a surtos, cuja origem da infeção teve início em casos importados de outros países, nomeadamente Itália, França, Uganda, EUA, República Checa e Ucrânia. Embora a Organização Mundial da Saúde continue a reconhecer Portugal como um país sem Sarampo (8), uma ação mais assertiva é necessária por parte dos trabalhadores, conselhos de administração hospitalares e alta administração da saúde para garantir que os profissionais de saúde estejam adequadamente protegidos contra o sarampo.
Nos hospitais os doentes infetados deverão permanecer em quartos de isolamento ou em regime de coorte, pelo menos, até quatro dias após o início do exantema. Aquando da observação do doente, este deve utilizar máscara cirúrgica, sendo que os profissionais devem usar os seguintes equipamentos de proteção individual: máscara de proteção (N95 ou FFP2), luvas, fardamento e calçado adequado, touca descartável e óculos de proteção. O empregador, através do serviço de saúde ocupacional, deve promover formação periódica de saúde e segurança com relação aos agentes que se transmitem por gotículas; às medidas de prevenção adequadas; à importância da vacinação; à profilaxia após a exposição; aos sinais e sintomas da doença. Estes doentes devem permanecer internados em locais com o adequado sistema de ventilação artificial e/ ou natural. Sendo certo de que, apenas aqueles trabalhadores que estejam adequadamente vacinados/ imunizados deverão prestar serviços de saúde nestes casos.