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Medievalista
versión On-line ISSN 1646-740X
Med_on no.22 Lisboa dic. 2017
VARIA
A investigação em rede sobre as pequenas cidades ou a procura da centralidade de um objeto de estudo periférico
Adelaide Millán da Costa*
*Universidade Aberta, Departamento de Ciências Sociais e de Gestão / Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos Medievais, 1269-061 Lisboa, Portugal. E-mail: adelaide.costa@uab.pt
O Plano Estratégico do Instituto de Estudos Medievais (2015-2020) inclui o estudo das pequenas cidades como um dos eixos prioritários a desenvolver, no âmbito do Grupo de Investigação Espaços e Poderes. Ao tempo da elaboração do Plano Estratégico, já a pesquisa sobre esta temática específica da História Urbana se vinha paulatinamente a desenrolar no IEM, traduzindo-se em eventos científicos que juntaram investigadores de vários países e de áreas científicas distintas e em concretizações mais duradouras, como é o caso do ebook Petites villes européennes au bas Moyen Âge: Perspectives de Recherche, dado à estampa em 2014[1].
O mês de outubro de 2016 correspondeu a uma fase crucial no processo de colocar este objeto de estudo, tradicionalmente considerado periférico, na agenda da investigação. Com efeito, no decurso das 1ªs Jornadas de Idade Média, realizadas em Castelo de Vide, foi constituída a In_Scit (International Network_ Small Cities in Time).
Tal como se encontra consignado nos estatutos, esta Rede “assume-se como uma plataforma de colaboração entre investigadores, de qualquer área científica, e todas as entidades que desenvolvam e/ou promovam pesquisa sobre comunidades urbanas de reduzidas dimensões, abordadas na sua historicidade”. De acordo com esta premissa, os objetivos da Rede são: (i) “desenvolver a investigação científica sobre as pequenas cidades, numa perspetiva multidisciplinar, desde a origem dos núcleos urbanos até ao presente”; (ii) “promover o trabalho conjunto entre investigadores e organismos locais, nacionais e supra nacionais que representem, na atualidade, as pequenas cidades, aumentando o impacto da pesquisa sobre os decisores e a sociedade”.
A criação desta plataforma, ao mesmo tempo que propicia as condições básicas para desenvolver investigação não forçosamente circunscrita pelos limites cronológicos da Idade Média nem pela barreira disciplinar da História, adota a intervenção societária como uma das vertentes a explorar.
De momento, a Rede acolhe dois projetos:
I) PETVIL_2016/17 – Pequenas cidades nos séculos XIII-XV. Reinos de Portugal e da França e terras francófonas do Império. Estudo comparativo / Petites villes du XIIIe au XVIe siècle. Royaumes de France et de Portugal et terres francophones d'Empire. Etude comparative.
Este projeto resultou de uma proposta submetida pelo Instituto de Estudos Medievais da FCSH/NOVA e do Centre d'Histoire “Espaces et Cultures” da Université Blaise Pascal ao Programa Pessoa – 2016 (área de CiênciasHumanas), concurso de cooperação transnacional luso francês, financiado pela FCT e pelo Campus France.
II) PETVIL_ESEA_2017/2018 – As pequenas cidades e a coesão territorial na Europa do sul e no espaço atlântico: análise comparada de longa duração / Les petites villes et la cohésion territoriale dans l'Europe du sud et dans l´espace atlantique: analyse comparée de longue durée.
Este projeto, de caráter exploratório, foi selecionado para financiamento na 1ª edição do concurso estabelecido em convénio entre a FCSH e a Casa de Velázquez (2017) e agrega investigadores das três unidades de investigação em História da FCSH – o Instituto de Estudos Medievais, o Centro de História d’Aquém e d’Além-mar e o Instituto de História Contemporânea – bem como especialistas espanhóis, franceses, brasileiros e argentinos, entre historiadores, arquitetos, urbanistas e geógrafos.
Respetivamente em etapa de concretização e em fase preliminar, o PETVIL_2016/17 e o PETVIL_ESEA_2017/2018 corporizam o ainda breve percurso deste eixo de pesquisa, desde o início promovido com o objetivo de implementar a comparabilidade geográfica e cronológica, através da coerência metodológica, tal como se constata nos seus sumários:
PETVIL_2016/17
“Este projeto visa estabelecer as bases da comparação entre núcleos urbanos medievais de pequena dimensão, situados em duas áreas geopolíticas europeias: Portugal e França. Através de estudos de caso, privilegia-se a influência de condicionantes que intervêm na configuração destes centros, como a posição geográfica e o domínio jurisdicional. Pretende-se contribuir para matizar as seguintes constatações: (i) ainda que Europa seja fundamentalmente constituída por pequenas cidades, a investigação académica privilegia a análise das grandes; (ii) se bem que um centro urbano não corresponda a uma ilha, só há pouco tempo a historiografia ultrapassou o enfoque monográfico, investindo na abordagem das relações espaciais, por vezes através da importação acrítica de modelos de outras ciências; (iii) apesar de a Idade Média corresponder a um tempo de fluxos de indivíduos, bens e saberes que não conheciam fronteiras, os medievalistas continuam a limitar, demasiadas vezes, o estudo dos fenómenos tendo em conta os marcos territoriais dos estados-nação”.
PETVIL_ESEA_ 2017/2018
“É um lugar-comum, entre a comunidade científica, defender que uma investigação comparativa de larga escala sobre as pequenas cidades está votada a um êxito relativo – quando não ao fracasso – por impossibilidade de uma definição consensual do objeto de estudo. Apesar disso, abalançamo-nos a submeter uma proposta sobre este tema, visando estabelecer paralelos num horizonte cronológico e territorial extenso, ainda que, obviamente, concretizando a análise em pontos de observação selecionados.
Esta aposta em contra corrente sustenta-se na seguinte premissa: a abordagem das “pequenas cidades” não tem de basear-se numa definição prévia que anteceda a pesquisa, antes deve partir da conjugação de categorias de indicadores de centralidade que, em diferentes lugares e tempos, sejam comparáveis.
A adoção deste princípio transfere para a metodologia a utilizar o garante da coerência e a hipótese da comparabilidade, eliminando a tirania dos critérios da extensão física e do peso demográfico de um núcleo urbano. Claro que tais fatores, ainda que matizados, continuam vigentes, dado serem excluídas, à partida, as cidades consideradas grandes, à luz da sua época e inserção geopolítica, como serão os casos de Lisboa ou Madrid, por exemplo.
Será assim pela identificação do alcance de fluxos de atração integrados em grandes categorias (como a política, economia, religião e cultura entre outras) que a centralidade se irá revelar. E, a partir desses vínculos, poderá apreender-se uma coesão territorial avant la lettre, tanto pela implementação de uma estratégia política de construção do território, quanto por iniciativas comunitárias mais informais.
Tratando-se de um projeto exploratório, não se procura a abordagem exaustiva de um território definido mas a multiplicidade cronológica e espacial de pontos de observação. Assim, analisam-se núcleos urbanos situados em Portugal, Espanha, França e em territórios americanos que, durante a Época Moderna, foram colónias destes países, como o Brasil, Antilhas, Colômbia, Argentina. A constituição de uma equipa multidisciplinar, integrada por historiadores e historiadores de arte - desde especialistas desde a Idade Média à Época Contemporânea – bem como por arquitetos, urbanistas e geógrafos corresponde a uma garantia epistemológica e metodológica de exequibilidade do projeto”.
A Rede Internacional_Pequenas Cidades no Tempo já tem disponível o seu sítio na Internet onde os interessados podem informar-se sobre o desenrolar dos projetos, eventos científicos e demais iniciativas organizadas ou promovidas pela In_Scit, bem como partilhar a sua disponibilidade para investigar nesta área e/ou as suas próprias propostas de trabalho.
Convidamos todos a visitar o website, e a seguir a Rede no facebook:
https://pequenascidadesnotempo.wordpress.com
https://www.facebook.com/In_Scit-169171670262333
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
COSTA, Adelaide Millán da – “A investigação em rede sobre as pequenas cidades ou a procura da centralidade de um objeto de estudo periférico”. Medievalista [Em linha]. Nº 22 (Julho – Dezembro 2017). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA22/morais2214.html.
Data do texto: 11 de Maio de 2017
NOTAS
[1] Disponível em http://iem.fcsh.unl.pt/ebooks/estudos11