A tutoria é a pedra angular da medicina académica.1 A capacidade de ensinar é diretamente proporcional ao co-nhecimento científico, mas também clínico.
Na Medicina Interna, a atividade diária com doentes tão complexos quanto diversos e o constante intercâmbio de aprendizagem interpares no trabalho de equipa na enfermaria ou serviço de urgência, são oportunidades de formação ímpar, a reclamar partilha. O Centro de Ensino e Investigação em Medicina Interna (EIMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna foi pensado ao encontro desta inquietação, com o objetivo de “reforçar o papel dos internistas na academia, (…) ao nível da discussão e integração nos currículos das escolas superiores médicas, no ensino pré e pós-graduado (…)”.2
Nas escolas médicas portuguesas, o contacto mais próximo com a Medicina Interna tem início no terceiro ano do Mestrado Integrado em Medicina, com a unidade curricular de Semiologia ou Propedêutica. Sendo a cadeira-base de introdução à atividade clínica, não só nas aulas práticas como também nas teóricas, nenhuma especialidade faz tanto sentido no ensino semiológico quanto a Medicina Interna, uma vez que a história clínica/ exame físico continuam a ser os nossos principais diferenciadores.
Por outro lado, apenas a assimilação continuada no dia-a-dia de uma equipa médica permite compreender a dimensão e a dinâmica do trabalho do internista. Esse treino profissio-nalizante de algumas semanas, nos últimos anos do currículo médico, é base elementar para a prática clínica em qualquer diferenciação dos futuros médicos. O internista tem lugar de destaque no ensino do raciocínio clínico, pela abordagem da fisiopatologia integrativa e no pensamento incorporador de sinais e sintomas. “From bedside to classroom, from classroom to bedside.”: pretende-se levar a experiência clínica para as aulas e trazer os alunos até à experiência clínica, sendo que o ensino é, em si mesmo, uma fonte de aprendizagem. Ainda que a integração na equipa assistencial seja o mais importante, a contemplação de tempo dedicado ao ensino deve ser uma preocupação dos serviços que recebem estudantes de Medicina.
Para se fazer bem, é necessário saber. Além do entusiasmo e do conhecimento, é fundamental a formação em “como ensinar” (Fig. 1). Torna-se necessário investir na aquisição de competências em modelos e métodos de ensino e tutoria,1,3) resultados de aprendizagem e avaliação, numa era de recursos tecnológicos e conexões globais.
É curiosa a sobreposição da etimologia da palavra uni-versidade com a legis artis da Medicina Interna. A palavra “universidade”, de origem latina (“Universitas”), significa “universalidade, conjunto, totalidade”; o vocábulo latino formado por “unus” e “verto”, refere-se ao conceito de unidade, “tornar em um”. O internista é, por excelência, o médico agregador dos múltiplos problemas do doente no seu todo individual. Assim, o papel da Medicina Interna no Ensino faz tanto sentido quanto o objetivo de tornar os alunos em médicos mais completos.