A osteomielite enfisematosa (OE) caracteriza-se pela presença intraóssea de gás. A via de infeção mais comum é hematogénea, sendo as Enterobacteriaceae e os anaeróbios os agentes mais frequentes.1,2
Homem de 70 anos, com antecedentes de neoplasia da próstata com metastização ganglionar e óssea; hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2. Recorreu ao hospital por febre após realização de sessão de quimioterapia. Apresentava-se hipertenso, taquicárdico e com desconforto à palpação do hipogastro. Analiticamente, leucocitose 21200 com neutofilia 97%; creatinina 2,6 mg/dL; PCR 57,1 mg/dL; hiperglicémia 500 mg/dL, urina com leucocitúria 500/μL e nitritos positivos. A ecografia renal revelou uretero-hidronefrose esquerda e espessamento do urotélio por provável infeção associada. Ficou internado com o diagnóstico de infeção urinária e iniciou ceftriaxone.
A urocultura e hemoculturas identificaram Escherichia coli sensível ao trimetropim/sulfametoxazol pelo que a antibioterapia foi alterada. A tomografia computorizada (TC) abdominopélvica mostrou extensas alterações ósseas no sacro, com múltiplos pequenos focos de ar intramedular à direita, suspeito de osteomielite enfisematosa (Fig.s 1 e 2); próstata com nodularidade; marcada ureterohidronefrose crónica esquerda devido a massa adenopática tumoral ilíaca. A Ortopedia excluiu indicação cirúrgica.
Cumpriu 28 dias de antibioterapia, tendo-se verificado melhoria clínica e analítica progressiva. Teve alta com indicação para manter antibioterapia durante mais 4 semanas.
Os doentes diabéticos são mais suscetíveis ao desenvolvimento de OE e têm maior risco de complicações.3,4
A TC é o método de diagnóstico mais sensível.3,5O tratamento inclui antibioterapia dirigida ao agente etiológico, embora ainda não exista consenso quanto à duração pensa-se que 4 a 6 semanas serão adequadas.3 O desbridamento cirúrgico está reservado para os casos complicados de abcesso ou necrose,4,6e associa-se a pior prognóstico.2,6
Estão descritos cerca de 50 casos de OE na literatura inglesa.5 A OE apresenta uma elevada taxa de mortalidade,1,5pelo que exige um diagnóstico precoce e tratamento agressivo.