ARTIGO ORIGINAL

A saúde dos turistas e a necessidade de profissionais de saúde nos cruzeiros do Douro

The tourist health and the need of health professionals aboard Douro river cruises

Vítor Rodrigues^1[*], Fernando Freitas¹, Diana Martins¹, Filomena Raimundo¹, Amâncio Carvalho¹, Carlos Almeida¹, Isabel Barroso¹, Cristina Antunes¹

¹ Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Vila Real, Portugal

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RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar indicadores de saúde dos turistas dos cruzeiros do rio Douro acerca da sua saúde e da presença a bordo de profissionais de saúde. O estudo foi realizado através da entrega de questionários face-a-face aos turistas que realizaram cruzeiros no rio Douro na empresa “Barcadouro”, de abril a outubro de 2018. Participaram 1086 pessoas entre os 18 e os 89 anos de 36 nacionalidades. Para responder às questões de investigação, utilizou-se estatística descritiva e o teste de Qui-Quadrado. A maioria dos turistas tinha entre 55 e 74 anos. Dos turistas 28.4% tem ou teve alguma doença/limitação, sendo as mais frequentes doenças cardiovasculares (49.8%); 42.7% tomam algum tipo de medicação, sobretudo para o aparelho cardiovascular (57.6%) e 26% da amostra toma entre 1 a 2 comprimidos. A maioria dos turistas concorda com a necessidade de presença de profissionais de saúde a bordo durante o cruzeiro. Cerca de um terço dos turistas dos cruzeiros no rio Douro apresentam doenças/limitações e a presença de profissionais a bordo é do seu interesse e por isso surge a necessidade de desenvolver novas estratégias de implementação de cuidados de saúde e uma abordagem proativa no âmbito da saúde do turista.

Palavras-chave: turistas, saúde, cruzeiros

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ABSTRACT

The objective of the present study was to evaluate the Douro cruises tourists’ health indicators regarding their personal health, and the need for the presence of a healthcare professional on board. This study was accomplished through a face-to-face delivery of surveys to tourists attending cruises on the Douro River with the “Barcadouro” tour operator, between April and October 2018. Participants were 1086 tourists, with ages between 18 and 89, from 36 different nationalities. To pursue the study aims the Chi-Square test and descriptive statistics were used. Most of the tourists were adult-senior (55-74 years). Only 28.4% of the tourists have or had some disease/limitations, mostly cardiovascular diseases (49.8%). A percentage of 42.7% was intaking medication, mainly for the cardiovascular system (57.6%) and 26% were intaking between one and two pills. The majority agreed with the need for health professionals on board and the development of new strategies for healthcare on board. About a third of the tourists who frequent the Douro river cruises have diseases/limitations and the presence of health professionals on board seems to be of their interest and therefore, it is necessary to develop new strategies for health care and a proactive approach in the cruises’ tourist healthcare.

Keywords: tourists, health, cruises

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Introdução

Ao longo dos anos, a saúde dos turistas tem vindo a ser cada vez mais abordada, nomeadamente pelos setores de governo, agências de viagem, empresas aéreas e marítimas. Contudo, grande parte das ações desenvolvidas nesta área focam-se apenas no alerta e descrição dos riscos e nas recomendações de vacinação consoante o pais de destino turístico, que são realizadas maioritariamente na consulta de saúde do viajante (Matos & Barcellos, 2010). A atual situação sociodemográfica mundial, com o gradual envelhecimento da população e o aumento da esperança média de vida devido às melhores condições de acesso aos cuidados de saúde, remete-nos para uma forte preocupação com os hábitos saudáveis, o envelhecimento saudável e a qualidade de vida da população. Esta população sénior é também, nos dias de hoje, a que possui um estilo de vida maioritariamente baseado no lazer e entretenimento devido à maior disponibilidade pessoal, financeira e profissional e proporcionará o crescimento do turismo sénior em grande escala (Alén, Losada, & de Carlos, 2017), que se caracteriza por atividades turísticas realizadas por pessoas com 55 anos ou mais (Shibanova, 2016). Em particular, o turismo de cruzeiros parece contribuir para o bem-estar subjetivo (Lyu, Mao, & Hu, 2018). No entanto, a preocupação com o estilo e a qualidade de vida não deixa de ser importante em qualquer período da vida de cada individuo, e os bons hábitos de saúde, tais como uma dieta equilibrada e nutritiva, a prevenção de doenças e fatores de risco e a prática de exercício físico são fatores fundamentais para melhorar a saúde e para um envelhecimento ativo (Avci, Altin, & Kaya, 2016). Neste contexto ainda, e devido ao aumento da população idosa e do turismo sénior, prevê-se que os profissionais de saúde tenham um papel central na melhoria dos acessos e na qualidade dos serviços de saúde e providenciem serviços essenciais que promovam a saúde, ajudem na prevenção de doenças e levem serviços de saúde a indivíduos, famílias e comunidades (WHO, 2014). Tendo como objetivo geral aprofundar questões relativas à saúde dos turistas do rio Douro e a sua visão sobre a presença de profissionais de saúde a bordo das embarcações, foi estabelecida uma parceria entre a Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) e a empresa “Barcadouro com a finalidade de desenvolver estratégias para promover e melhorar as condições de conforto, segurança e de saúde a bordo dos navios de cruzeiro.

Método

Este é um estudo do tipo descritivo, exploratório e transversal realizado junto de turistas que realizaram cruzeiros fluviais no rio Douro a bordo dos navios da empresa “Barcadouro” no ano de 2018. A amostra foi conseguida pelo método acidental, entre abril e outubro de 2018. Foi obtido o consentimento informado no momento da entrega dos questionários, após uma breve explicação sobre os objetivos do estudo e sua finalidade. O questionário foi preenchido de forma voluntária pelos turistas que aceitaram participar no estudo.

Participantes

Aceitaram colaborar no estudo 1086 turistas, com idades compreendidas entre os 18 e os 89 anos. Do total de participantes, 681 (62.7%) eram do sexo feminino, 707 (65.1%) eram casados, 190 (17.5%) solteiros e 88 (8.1%) divorciados. Relativamente às nacionalidades, os turistas entrevistados provinham de 36 nacionalidades diferentes, sendo as mais frequentes a portuguesa (37.5%), a francesa (20.3%) e a brasileira (8.4%). Quanto ao nível de instrução, a maioria dos turistas (651; 60.4%) possuíam o ensino superior e 619 (57%) dos turistas encontravam-se ativos no que diz respeito ao emprego. Das profissões mais frequentes, que foram organizadas em grupos consoante a área de trabalho, 442 (71.4%), eram especialistas das atividades intelectuais e científicas 142 (22.9%) técnicos e profissionais de nível intermedio e 84 (13.6%) trabalhadores não qualificados.

Instrumentos

A recolha de dados foi realizada através do preenchimento de um questionário entregue aos turistas, com uma demora média de preenchimento de cerca de cinco minutos. O questionário foi elaborado depois de efetuada uma revisão da literatura, com o intuito de obter informações acerca dos dados a recolher. A primeira parte foi composta por seis questões sobre dados sociodemográficos. Na segunda parte do questionário, os turistas responderam a nove questões sobre o que pensavam acerca da presença de profissionais de saúde, a bordo dos navios que realizam cruzeiros no rio Douro. A terceira parte do questionário integrou quatro questões sobre o estilo de vida. Na quarta parte do questionário, recolheram-se informações sobre os antecedentes clínicos e, por último, a quinta parte inquiriu os participantes acerca dos seus dados estato-ponderais, tais como, a altura e o peso; e tensão arterial.

Procedimentos

Os questionários para recolha de recolha de dados foram entregues juntamente com os consentimentos informados e foram traduzidos em três línguas; inglês, português e francês com o objetivo de facilitar a recolha dos dados e englobar o máximo de participantes com diferentes nacionalidades. O único critério de inclusão foi ter mais de 18 anos de idade. Durante todo o processo foi garantido o total anonimato de todos os participantes e a confidencialidade das informações obtidas e o estudo obteve autorização da Comissão de Ética da UTAD (nº 64/2017 de 10/10/2017) e da empresa Barcadouro em 07/12/2017.

Análise estatística

Os dados recolhidos foram analisados através do software IBM SPSS® versão 21. Foi utilizada a estatística descritiva para analisar as frequências e o teste de Qui-Quadrado para verificar diferenças de frequências nas respostas. Utilizou-se um nível de significância de 5% na análise dos dados (p< 0.05).

Resultados

De entre a amostra de participantes, obteve-se uma média de idades de 54.9 anos (±14.9). A maioria dos turistas era do grupo adulto-sénior (51.6%), seguido do grupo adulto (28.8%), do grupo jovem (13.4%) e por fim o grupo sénior (6.2%). O grupo adulto-sénior foi também o grupo com maior número de pessoas inativas face ao emprego (31.5%), seguido do grupo sénior (6.0%) e também o grupo com mais indivíduos com formação superior (30.2%), seguido do grupo adulto (17.3%). Da amostra, 35.4% tem por costume realizar cruzeiros.

Acerca dos antecedentes clínicos (tabela 1 ), relativamente a algum tipo de doença ou limitação diagnosticada, as respostas mais frequentes foram doenças cardiovasculares (49.8%), incluindo-se aqui todas as doenças relacionadas com o aparelho cardiovascular, tais como, hipertensão arterial (mais frequente), dislipidemia, arritmias, fibrilação auricular, etc.; as doenças endocrinológicas (13.8%), onde se inclui a diabetes mellitus e doenças tiroideias e doenças oncológicas (12.6%). Sobre a medicação, as que são mais frequentemente utilizadas dirigem-se ao aparelho cardiovascular (57.6%), hormonas e medicamentos usados no tratamento de doenças endócrinas (16.3%) e medicação com atuação no sistema nervoso central (9.4%). Cerca de 26% da amostra tomava entre um a dois comprimidos por dia.

 

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No que concerne à opinião dos turistas sobre a presença e necessidade de profissionais de saúde a bordo os resultados apresentam-se na tabela 2.

 

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Discussão

Espera-se que, nos próximos anos, o número de cruzeiros fluviais no rio Douro, continue a aumentar e, consequentemente, o número de turistas a bordo destes navios. Verifica-se, assim, a necessidade de uma abordagem proativa no âmbito da saúde do turista (Baker & Stockton, 2013). Torna-se necessário manter uma comunicação eficaz e vantajosa entre as operadoras turísticas, o turista e os profissionais de saúde, tendo em conta a opinião dos participantes no estudo. Além do turismo sénior, que crescerá nos próximos anos e que tem inerente a si um perfil heterógeno de turistas que precisam de respostas personalizadas e diversificadas (Alén, Losada, & Domínguez, 2016).

A maioria dos turistas que frequentam os cruzeiros do Douro são uma população adulta ou sénior, maioritariamente estrangeiros e uma percentagem significativa apresenta necessidades de saúde. Quase metade dos turistas toma algum tipo de medicação, o que se enquadra nos dados estatísticos disponíveis para estas idades (Eurostat, 2014). Também se verificou, neste estudo, que cerca de 27.3 % dos turistas apresentava doenças ou limitações, sendo que 11.6% fez ou faz algum tipo de tratamento. Estes dados sustentam a necessidade de os profissionais de saúde, designadamente os enfermeiros, sugerirem estratégias de promoção e vigilância de saúde voltadas para esta população (Alén et al., 2016; Matos & Barcellos, 2010). Esta assunção é afirmada pelos participantes neste estudo, a maioria dos quais concordam ou concordam totalmente que a presença de profissionais de saúde a bordo aumentaria a sua segurança e proporcionaria maior confiança na experiência turística.

Cada vez mais os turistas que procuram experiências únicas são adultos ou idosos, com formação superior, o que foi observado nos dados deste estudo, acarretando maior exigência no que concerne ao tipo de serviços que são oferecidos pelos operadores turísticos, neste caso nos cruzeiros do Douro.

Conclusões

Conclui-se que a presença de profissionais de saúde a bordo dos cruzeiros parece ser do elevado interesse dos turistas, possivelmente pelo aumento da perceção de segurança e conforto durante a viagem, associado ao facto de a maioria dos turistas dos cruzeiros serem adultos ou seniores e apresentarem necessidades efetivas em termos de saúde. Assim, compete à indústria dos cruzeiros e ao setor da saúde desenvolver estratégias e intervenções que favoreçam a saúde e consequentemente a experiência dos turistas que visitam o nosso país. Atendendo à escassez de artigos relativos a este tema, no futuro serão necessários estudos centrados na questão de saúde dos turistas e acerca da presença de profissionais de saúde a bordo, que podem ainda contribuir como um elemento de competitividade e de marketing a favor da empresa turística por constituir um fator de qualidade.

 

REFERÊNCIAS

Alén, E., Losada, N., & de Carlos, P. (2017). Profiling the segments of senior tourists throughout motivation and travel characteristics. Current Issues in Tourism, 20(14), 1454-1469. https://doi.org/10.1080/13683500.2015.1007927        [ Links ]

Alén, E., Losada, N., & Domínguez, T. (2016). The impact of ageing on the tourism industry: An approach to the senior tourist profile. Social Indicators Research, 127(1), 303-322. https://doi.org/10.1007/s11205-015-0966-x        [ Links ]

Avci, I. A., Altin, A., & Kaya, P. S. (2016). The eating habits, consuming foods, and body mass index of elderly people registered in a family health center in Samsun. Progress in Nutrition, 18(5), 352-359. Retrieved from http://www.mattioli1885journals.com/index.php/progressinnutrition/article/view/4443        [ Links ]

Baker, D. M. A., & Stockton, S. (2013). Smooth sailing! Cruise passengers demographics and health perceptions while cruising the Eastern Caribbean. International Journal of Business and Social Science, 4(7), 7-17. Retrieved from http://ijbssnet.com/journals/Vol_4_No_7_July_2013/2.pdf        [ Links ]

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Lyu, J., Mao, Z., & Hu, L. (2018). Cruise experience and its contribution to subjective well-being: A case of chinese tourists. International Journal of Tourism Research, 20(2), 225-235. https://doi.org/10.1002/jtr.2175        [ Links ]

Matos, V., & Barcellos, C. (2010). Relações entre turismo e saúde: abordagens metodológicas e propostas de ação. Revista Panamericana de Salud Pública, 28(2), 128-134. https://doi.org/10.1590/S1020-49892010000800009        [ Links ]

Shibanova, G. (2016). Tourism in Europian Union. Senior Tourism. The Institute of the Hospitality Management in Prague, Department of Economies and Economics, Praga, Republica Checa. Retrieved from https://is.vsh.cz/th/nd7nq/Shibanova_final_12.6.2016.pdf

World Health Organization (WHO). (2014). Health professions networks. Retrieved November 13, 2018, from http://www.who.int/hrh/professionals/en/.         [ Links ]

 

Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence

^[*] Autor correspondente: Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Quinta de Prados, 5001- 801 Vila Real E-mail: vmcpr@utad.pt

 

Agradecimentos:

Nada a declarar

Conflito de Interesses:

Nada a declarar.

Financiamento:

Projeto SAICT-POL/23434/2016 - “Health TuriDouro - Intervenções dirigidas às necessidades de saúde dos turistas dos cruzeiros do rio Douro”, com referência NORTE-01-0145-FEDER-023434, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional Regional do Norte (NORTE2020).

 

Artigo recebido a 29.11.2018; Aceite a 21.05.2019