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Etnográfica
versión impresa ISSN 0873-6561
Resumen
BRITO, Thaís Fernanda Salves de. Do enfeite à festa: o uso do bordado como narrativa, ação e engajamento em duas festas tradicionais brasileiras. Etnográfica [online]. 2022, vol.26, n.1, pp.275-298. Epub 05-Mayo-2022. ISSN 0873-6561. https://doi.org/10.4000/etnografica.11564.
A cultura dos bordados materializa um saber-fazer que tem atravessado séculos e lugares, revelando modelos de trabalho doméstico, ensinando perspectivas de gênero, atributos morais nas artes da criação e, em certos momentos, caminhos para ação política. Bordar é uma ornamentação nos tecidos a partir de linhas que trazem volumetria e cor, cujos riscos partem de um repertório amplo e criativo de técnicas e de usos que narram histórias, memórias, conhecimentos. Como parte deste extenso repertório, há uma modalidade específica de bordado: o richelieu. Este bordado é feito por uma espécie de jogo entre a volumetria das linhas sobre o tecido e dos recortes feitos nos tecidos, assemelhando-os às rendas. O bordado richelieu compõe uma longa tradição na transmissão do saber-fazer e nos modos de uso das peças e, para a cultura do bordado, assume papel de elegância, tradição e sofisticação. Contudo, um olhar mais atento pode nos conduzir a outras potências (inclusive, podem transcender o seu caráter ornamental). A presente investigação parte de um olhar comparativo para duas festas tradicionais do nordeste brasileiro, nas quais o bordado richelieu assume um lugar de destaque: a festa de Sant’Anna (Caicó, RN) e a festa de Nossa Senhora da Purificação (Santo Amaro, BA). Aparentemente inofensivos, no contexto dessas festas, esses bordados transpõem a noção de souvenirs, enfeites para a casa ou indumentária, conduzindo discursos, narrativas e posicionamentos políticos imprevisíveis.
Palabras clave : bordado richelieu; festa; política; Santo Amaro; Caicó.