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Revista Portuguesa de Saúde Pública

 ISSN 0870-9025

CARDOSO, Susana; SANTOS, Osvaldo; NUNES, Carla    LOUREIRO, Isabel. Escolhas e hábitos alimentares em adolescentes: associação com padrões alimentares do agregado familiar. []. , 33, 2, pp.128-136. ISSN 0870-9025.

^lpt^aIntrodução: São múltiplos os fatores que condicionam as escolhas alimentares. Nas idades infanto‐juvenis, os pais desempenham um papel importante na construção de preferências alimentares. Tal influência é especialmente relevante na infância, mas parece prolongar‐se através do período da adolescência. Objetivo: O principal objetivo do estudo foi caracterizar a associação entre hábitos alimentares do agregado familiar e escolhas alimentares dos adolescentes. Método: Trata‐se de um estudo com abordagem mista, quantitativa e qualitativa. Numa primeira etapa, a recolha de dados (quantitativos) foi feita através da Escala de Hábitos Alimentares (EHA), autopreenchida por uma amostra de adolescentes a frequentar o ensino secundário (10.°‐12.° ano) em 2 escolas do distrito de Coimbra. Desta forma, foi possível caracterizar os adolescentes quanto à adequação de hábitos alimentares. De seguida, para a componente qualitativa do estudo, foram identificados e selecionados os adolescentes com pontuações mais elevadas na escala EHA (i. e., com hábitos mais adequados) e os adolescentes com pontuações mais baixas nesta escala (i. e., com hábitos alimentares menos adequados). Estes adolescentes foram entrevistados relativamente às suas preferências alimentares, nomeadamente quanto à escolha alimentar em vários contextos (em casa, na escola e fora de casa), hábitos do agregado familiar e razões conducentes às opções efetuadas. Foram questionados ainda quanto ao risco de saúde (i. e., perceções de risco) associado aos hábitos alimentares, decisão perante o impulso de comer e situações associadas e, por último, acerca de intenções de mudança de hábitos. Foi feita uma análise de conteúdo de natureza temática, com codificação linha‐a‐linha segundo o método de Charmaz e codificação axial (com recurso ao software MaxQDA). Resultados: Participaram 358 adolescentes, dos 14 aos 18 anos (média = 15,78; desvio‐padrão = 1,05; 46,9% rapazes). A média da pontuação obtida nos itens da EHA (escala tipo Likert 1‐5) foi de 3,434 (desvio‐padrão = 0,346), variando entre 2,15‐4,3. A pontuação total resultante da soma dos itens variou entre 86‐172 (numa escala entre 0‐200), com uma média de 137,4 pontos (desvio‐padrão = 13,85). Não foram encontrados hábitos alimentares significativamente diferentes entre grupos etários ou estratos socioeconómicos, sendo as raparigas a assumir escolhas alimentares mais adequadas. O grupo de adolescentes com hábitos adequados (média EHA entre 3,75‐4,3; pontuação total EHA entre 150‐172) integra 11 alunos; o grupo com hábitos desadequados (média EHA entre 2,65‐3,125; pontuação total EHA entre 106‐125) integra 17 alunos. Os adolescentes com hábitos alimentares mais adequados descrevem o estilo parental como sendo mais interventivo do que o descrito pelos adolescentes com hábitos menos adequados. Esta influência, por parte dos pais, é operacionalizada de formas diversas: através de estilo autoritativo, através dos exemplos comportamentais (por parte dos pais) e/ou através de negociação ou controlo da disponibilidade alimentar em casa. Da análise de conteúdo também se infere que os pais/familiares dos adolescentes com baixa pontuação na EHA tendem a ter hábitos alimentares pouco saudáveis. É frequente o registo de sensações de bem‐estar associado ao padrão alimentar, por parte dos alunos com hábitos mais adequados; nos adolescentes com hábitos menos adequados foram registadas ações de acomodação aos hábitos, sem desenvolvimento de uma postura ativa de remediação como, por exemplo, iniciativa para mudar os hábitos, mesmo que pontualmente. Os resultados deste estudo apontam para a necessidade de as intervenções de educação alimentar entre jovens apostarem no desenvolvimento de comportamentos alimentares adequados ao nível de todo o agregado familiar, em complemento a intervenções educativas dirigidas apenas aos jovens.^len^aIntroduction: There are several factors that can influence food choices. In children and youngsters, parents play an important role in the construction of food preferences. This influence is especially relevant in childhood but it seems to extend throughout adolescence. Objective: to characterize the association between the household habits and the food choices of adolescents. Method: This is a quantitative and qualitative study. In a first moment, data collection (quantitative) was made by the Eating Habits Scale (EHA). Students from two schools of Coimbra (10th to 12th grade) were asked to complete the EHA. Thus, it was possible to characterize adolescents according to adequacy of eating habits. Then, for the qualitative study, we selected the students according to the best (more appropriate habits) and the worst (bad habits) score EHA obtained. These adolescents were interviewed about their food preferences, including on food choice in different contexts (at home, in school and outside the home), household habits and reasons of the choices. Were also asked about perceptions of risk associated with eating habits, decision before the urge to eat and, finally, about the intentions of changing habits. A content analysis was made, using line‐by‐line coding method according to Charmaz and axial codification (using MaxQDA software). Results: The census of students was invited to participate in the survey, reaching a sample size of 358 students, aged 14 to 18 (mean = 15.78, standard deviation = 1.05; 46.9% boys). The average score on itens of EHA (likert 1‐5) was 3,434 (standard deviation 0.346) with mean between 2.15 and 4.3. Among the adolescents, the total score obtained in the EHA ranged between 86 and 172 (possible values between 0 and 200), with an average of 137.4 (standard deviation = 13.85). There were no significant different eating habits according to each age group or socioeconomic stratum, with the girls to take more appropriate food choices (higher scores EHA). The group of adolescents with proper habits (EHA average 3.75-4.3; EHA scores between 150 and 172), includes eleven students. The group of inadequate habits (EHA average 2.65-3.125; EHA scores between 106 and 125), includes 17 students. Adolescents with proper eating habits describe the parenting style as more interventionist than those reported by adolescents with bad habits. This parents' influence is operationalized in several ways: through authoritative style, through behavioral examples (by parents), and/or through negotiation or control of food availability at home. From content analysis we also infer that parents/families of adolescents with low scores in EHA tend to have unhealthy eating habits. Registration of feelings of well ‐being associated with dietary patterns is common among adolescents with proper habits; among adolescents with inadequate habits, we found conformity, without developing an active remediation attitude as, for example, initiative to change habits, even occasionally. The results point to the need for education interventions among youngsters with particular focus in developing appropriate household eating behaviors, in addition to educational interventions directed only to youngsters.

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