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Sociologia, Problemas e Práticas

 ISSN 0873-6529

TORRES, Eduardo Cintra. Quando a multidão e o amor se encontram na literatura. []. , 58, pp.155-173. ISSN 0873-6529.

^lpt^aNo âmbito da sociologia da literatura, este ensaio percorre textos literários em que se encontra uma conjugação da multidão com o amor erótico. Começamos pela Madame Bovary e por textos de Baudelaire e de De Quincey para chegarmos a dois contos portugueses, “A Ruiva”, de Fialho de Almeida, e “Amor de Outrora”, de Florbela Espanca. Todos os textos narram amores socialmente reprováveis e neles os protagonistas beneficiam do anonimato da multidão, de que recebem uma carga erótica, para iniciarem uma relação amorosa como se ela fosse aceite pela sociedade. Em todos os textos, porém, está directa ou indirectamente presente a impossibilidade de os amores proibidos serem aceites pela multidão enquanto símbolo da sociedade. Todos os textos terminam com separações ou morte. Desta forma, a multidão erotizada é ambivalente: ela proporciona a relação erótica, mas não a sua aceitação. Ela dá ou representa quer o que há de bom na vida em sociedade - a sociabilidade, o amor - quer a coacção dos valores colectivos sobre os indivíduos.^len^aWithin the framework of the sociology of literature, this essay examines the literary texts in which the crowd and erotic love intermix. We begin with Madame Bovary and texts by Baudelaire and De Quincey to arrive at two Portuguese stories, “A Ruiva”, by Fialho de Almeida, and “Amor de Outrora”, by Florbela Espanca. All of the texts tell of socially censurable love and all the protagonists in them benefit from the anonymity of the crowd, from which they receive an erotic charge, to begin a love affair as if it were accepted by society. In all the texts, however, the impossibility of the forbidden love being accepted by the crowd, as a symbol of society, is directly or indirectly present. The texts all end with separations or death. In this way, the eroticised crowd is ambivalent: it affords the erotic relationship but not its acceptance. It gives or represents both the good side of life in society - sociability, love - and the forcing of collective values on individuals.^lfr^aDans le contexte de la sociologie de la littérature, cet essai parcourt des textes littéraires dans lesquels on retrouve une conjugaison entre la foule et l’amour érotique. Nous commençons par Madame Bovary et par des textes de Baudelaire et de De Quincey pour arriver à deux contes portugais: “A Ruiva”, de Fialho de Almeida, et “Amor de Outrora”, de Florbela Espanca. Tous les textes narrent des amours socialement répréhensibles et les personnages y bénéficient de l’anonymat de la foule, dont ils reçoivent une charge érotique, pour commencer une relation amoureuse comme si elle était acceptée par la société. Toutefois, tous les textes évoquent, directement ou indirectement, l’impossibilité que les amours interdits soient acceptées par la foule en tant que symbole de la société. Tous les textes se terminent par la séparation ou par la mort. Ainsi, la foule érotisée est ambivalente: elle est propice à la relation érotique, mais pas à son acceptation. Elle donne ou elle représente ce qu’il y a de bon dans la vie en société - la sociabilité, l’amour -, mais aussi la contrainte des valeurs collectives sur les individus.^les^aEn el ámbito de la sociología literaria, este ensayo transita textos literarios donde se encuentra una conjunción entre multitud y amor erótico. Comenzamos por Madame Bovary y por textos de Baudelaire y de de Quincey para luego llegar a dos textos portugueses, “A Ruiva” de Fialho de Almeida, y “Amor de Outrora”, de Florbela Espanca. Todos los textos narran amores socialmente reprobables y en ellos los protagonistas se benefician del anonimato de la multitud, de la cual reciben carga erótica, iniciando una relación amorosa, como si ella fuera aceptada por la sociedad. En todos los textos, por consiguiente, está directa o indirectamente presente la imposibilidad de que los amores prohibidos sean aceptados por la multitud como símbolo de la sociedad. Todos los textos se terminan con la separación o la muerte. De esta forma, la sociedad erotizada es ambivalente: proporciona una relación erótica, pero no su aceptación. Ella da o representa, sea lo que hay de bueno en la vida en sociedad - la sociabilidad, el amor -, sea la coacción de los valores colectivos sobre lo individuos.

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