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Etnográfica

 ISSN 0873-6561

RAMOS, Alcida Rita. Nomes Sanumá entre gritos e sussuros. []. , 12, 1, pp.59-69. ISSN 0873-6561.

^lpt^aComo os demais indígenas Yanomami, os Sanumá (o subgrupo mais setentrional dessa família lingüística amazônica) praticam com afinco o sigilo dos nomes próprios. No entanto, ao contrário dos outros, eles praticam também a suspensão do sigilo quando se trata de “fazer coisas com nomes”, para parafrasear J. L. Austin. Transformados em ferramentas sociais, os nomes sanumá são capazes de marcar o público com recursos do privado. Assim, alguns poucos nomes masculinos são retirados de seu sigilo doméstico para anunciar o surgimento de grupos patrilineares com os quais os Sanumá organizam sua vida política e matrimonial. Com o advento do conquistador, nomes estrangeiros começaram a entrar no léxico social dos Sanumá, aliviando, assim, a pressão sobre a quebra de sigilo onomástico. Primeiro missionários protestantes, com seus Davis e suas Saras, depois garimpeiros e outros aventureiros da mata, com seus regionalismos e alcunhas idiossincráticas - Ceará, Paraíba, Passarão, etc. - têm contribuído substancialmente para que os nomes sanumá fiquem cada vez mais preservados do ouvido público. Pareceria, então, não ser mais necessário sussurrar nomes para identificar as pessoas, podendo-se agora chamá-las aos gritos. No entanto, as coisas não se passam bem assim. De que modo a etiqueta dos nomes tem reagido a essas mudanças é o que tentarei esquadrinhar aqui.^len^aLike the other Yanomami Indians, the Sanumá (the northermost subgroup of this Amazon language family) preserve their personal names in secrecy. But, unlike most Yanomami, they suspend this secrecy when it is necessary to “do things with names”, to paraphrase J. L. Austin. Personal names, transformed into social tools, are capable of marking the public sphere with devices coming from the private realm. In this way, a few male names lose their secrecy so as to herald the emergence of new patrilineal groups with which the Sanumá organize their marriage and political life. With the arrival of outsiders, foreign names made their entrance in the Sanumá social lexicon, thus relieving the pressure over name secrecy. First came protestant missionaries with the Davids and Sarahs, then gold miners and other jungle adventurers with their regional and idisioncratic nicknames - Ceará, Paraíba, Passarão, etc. - greatly contributing to keep Sanumá personal names away from the public ear. It would thus seem that whispering would no longer be necessary, and crying out people’s names could be done at ease. Things, however, are not as they seem. To what extent Sanumá naming etiquette has reacted to these changes is what I intend to scrutinize.

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