Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher
ISSN 0874-6885
POEMA
Käthe Kollwitz
(Ende Juli 1915)
Es kommen Zeiten, wo ich Peters Tod fast nicht mehr fühle. Es ist ein gleichgültiger Seeelenzustand, ich fühle statt einem Gefühl Leere. Dann kommt allmählich ein dumpfes Sehnen - durch Tage. Endlcih dann bricht es durch, dann wein ich, wein ich, dann fühle ich wieder mit meinem ganzen Körper, meiner ganzen Seele daβ der Peter tot ist.
Soll das wirklich später so sein, daβ ich ganz gewöhnt bin an sein Fortsein, daβ nur noch hin und wieder das lebendige Empfinden kommt von dem was verloren ist ?
Seit ich von Dir bin
scheint mir des schnellstens Lebens
Lärmende Bewegung
nur ein leichter Flor
durch den ich Deine Gestalt
Immerfort wie in Wolken erblicke.
Sie leuchtet mir freundlich und treu
wie durch des Nordlichts bewegliche Strahlen
Ewige Sterne Schimmern.
(…)
(Käthe Kollwitz, Die Tagebücher 1908-1943, München: btb, 2012, p. 192-3)
(Finais de Julho 1915)
Surgem momentos, nos quais quase deixei de sentir a morte de Peter. Um estado de espírito de apatia. Um vazio no lugar de um sentimento. Dias a fio, sobrevém-me gradualmente uma ansiedade absurda. Por fim, depois quebra-se e eu irrompo em lágrimas, começo a chorar, após o que sinto novamente por todo o meu corpo, por toda a minha alma que Peter está morto.
Irá de facto mais tarde acontecer assim: habituar-me-ei completamente à sua ausência e que uma vez por outra sobrevenha ainda esse sentir fulgurante daquilo que já se perdeu?
Desde que apartada de ti
parece-me, da vida mais frenética,
o movimento ruidoso
apenas um leve véu
através do qual vislumbro
sempre a tua figura pelas nuvens.
Alumia-me graciosa e fiel
como através dos tremeluzentes raios da aurora boreal
as estrelas eternas resplandecem.
(…)
(Käthe Kollwitz, Die Tagebücher 1908-1943, tradução Fernando Ribeiro. München: btb, 2012, pp. 192-3)