48 
Home Page  

  • SciELO

  • SciELO


Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

 ISSN 0874-6885

        20--2023

https://doi.org/10.34619/enl9-rxlc 

Poema

Dança

Ana Marques Gastãoi 

iInvestigadora autónoma. Portugal.


Fonte: Rego (2004).

Figura 1. Dance 

Somos mortais em nossa manifestação aparente, imortais

na substância. Somos o círculo de infinitos discretos,

a diferença entre o máximo e mínimo, esse quê de extensão

e duração que em sua cantabile continuidade persiste

suspenso na mais dolorosa voz. Somos a roda no instante

do naufrágio, a partida em si já um regresso: de tudo

precisamos até do inferno quando o tempo se esgota como

simulacro da memória. Somos o planeta, terra não isenta

de lamento nem o coração do susto. Somos a circunferência;

sabemos: o que morre tem tantas vidas quantas as estrelas.

Escondemo-nos numa elipse e assim tocamos o limiar das

extremidades, conscientes de que o amor não é preservação

nem cativeiro e o prazer tem a forma de uma carta escarlate.

Somos o anel, sete vezes aberto, sete vezes fechado, a melodia

depois da agonia, assombro, desvio submerso. Somos a prudência

e o excesso, o bruxedo e o feitiço, o tacto, veloz ou lento, depois

do sol poente; a imaginação do que nunca foi. Somos isto e o seu

contrário, causa primeira de um teatro animado. Somos

a reminiscência de um quarto pelo qual dançamos até morrer.

Fonte: Gastão (2004).

Referências bibliográficas

Gastão, A. M. (2004). Nós/Nudos - 25 poemas sobre 25 obras de Paula Rego (p. 103). Gótica. [ Links ]

Rego, P. (2004). Dance (Sketch). In A. M. Gastão (Ed.), Nós/Nudos - 25 poemas sobre 25 obras de Paula Rego (p. 102). Gótica. [ Links ]

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons