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Angiologia e Cirurgia Vascular

 ISSN 1646-706X

SEMIAO, Carolina et al. Anemia pré-operatória como factor predictor de morbilidade - Análise retrospectiva de um departamento de cirurgia vascular. []. , 16, 3, pp.145-153. ISSN 1646-706X.

Introdução: A anemia está associada a um aumento do número de eventos adversos no período pós-operatório precoce devido ao elevado stress fisiológico e aumento das necessidades cardíacas. O objetivo do presente estudo foi avaliar a relação entre a presença de anemia pré-operatória com os outcomes de morbi-mortalidade em doentes submetidos a cirurgia vascular electiva, nomeadamente endarterectomia carotídea, reparação cirúrgica de aneurisma da aorta abdominal, reparação endovascular de aneurisma da aorta abdominal (EVAR) e bypass infra-inguinal por isquemia crónica. Métodos: Análise retrospectiva de todos os doentes intervencionados entre 2016 a 2018 a: endarterectomia carotídea, reparação cirúrgica de aneurisma da aorta abdominal, EVAR e bypass infra-inguinal por isquemia crónica. Foram excluídos todos os procedimentos realizados em contexto de urgência e aqueles com necessidade transfusional superior a 4 unidades de glóbulos rubros. Os níveis de hemboglobina foram categorizados de acordo com a definição da OMS para anemia: grave (< 8 g/dL), moderada (8-10,9 g/dL), ligeira (11-11,9 g/dL no sexo feminino; 11-12,9 g/dL no sexo masculino) e ausência de anemia (e12 g/dL no sexo feminino e e13 g/dL no sexo masculino). Resultados: A população estudada incluiu 257 doentes, 74 (28%) dos quais foram submetidos a EVAR, 26 (10,1%) a reparação cirúrgica de AAA, 67 (26,1%) a endarterectomia carotídea e 90 (35%) a bypass infra-inguinal. A anemia pré-operatória foi identificada em 37,4% (n = 96) dos doentes. Destes, 67,7% (n = 65) apresentavam anemia ligeira e 32,3% (n = 31) tinham uma anemia moderada-grave. Os doentes anémicos apresentam um total de dias de internamento mais prolongado em comparação com aqueles sem anemia (16,61±16,5; 7,68±4,92, respectivamente) (p = 0,022), bem como um internamento mais prolongado na Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos comparativamente aos doentes com hemoglobina dentro dos valores normais (2,08 dias ± 1,12; 1,77 dias ± 1,01, respectivamente) (p<0,001). A existência de anemia pré-operatória associou-se com o aumento das necessidades transfusionais peri-operatórias (p<0,001), tal como expectável. A ocorrência de eventos adversos foi influenciada pela presença de anemia (p<0,001), nomeadamente infecção da ferida operatória (p = 0,002) e re-intervenção (p<0,007). Os doentes com necessidade de suporte transfusional peri-operatório tiveram uma tendência para a ocorrência de um maior número de eventos adversos (p<0,001), tais como lesão renal aguda (p = 0,006), infecções do tracto respiratório (p =0,015), infecção da ferida operatória (p = 0,001) e re-intervenção (p = 0,001). Conclusão: O estudo da anemia deverá ser incorporado na avaliação do risco pré-operatório. A anemia por deficiência de ferro é o tipo mais comum de anemia. Nesta situação, a suplementação com ferro oral ou endovenoso no período pré-operatório é o tratamento preferencial, que poderá inclusive diminuir as necessidades transfusionais. Os doentes que apresentem ferropenia sem anemia, também têm indicação formal para iniciar suplementação de ferro. Estes resultados corroboram a necessidade de implementação de um programa bem estruturado, que vise a optimização da hemoglobina e do ferro no período pré-operatório, redução das perdas de sangue intra-operatórias e melhoria do status do doente anémico com o objetivo comum de atingir outcomes mais favoráveis.

: Anemia pré-operatória; Suplementação com ferro oral e endovenoso; Patient blood management; Cirurgia vascular.

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