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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

 ISSN 2182-5173

CARNEIRO, Joana Pinto    CABRAL, Helena. A linha ténue entre a demência e depressão no idoso: relato de caso. []. , 32, 2, pp.118-124. ISSN 2182-5173.

^lpt^aIntrodução: Os problemas de memória em idosos são um motivo frequente de consulta em cuidados de saúde primários. Através desta queixa comum surgem desfechos clínicos distintos, importando a sua identificação precoce e orientação atempada. Segue-se um caso clínico ilustrativo de como abordar este motivo de consulta em cuidados de saúde primários, quais os potenciais diagnósticos, vertentes terapêuticas e respetivas especificidades no doente idoso. Descrição do caso: Mulher, de 82 anos, viúva há dois anos, pertencente a uma família alargada. A utente vem à consulta trazida pela filha, sua cuidadora informal. A familiar refere que a mãe parece apática, triste e mais sonolenta nos últimos meses. Relata ainda que, de forma progressiva, deixou de participar nas tarefas de casa, não quer sair, evidenciando recorrentemente um discurso repetitivo e arrastado. Mais recentemente apresenta lapsos de memória episódicos e lentidão psicomotora. No decorrer da consulta são ilustrados alguns episódios do quotidiano, designadamente dificuldade crescente nos trocos da mercearia, em reconhecer nomes de “conhecidos” e de determinados objetos, apresentando ainda episódios recorrentes de desorientação espacial (“perde-se por diversas vezes na via pública”). Foram colocadas como possíveis hipóteses de diagnóstico: quadro depressivo com declínio cognitivo associado ou processo demencial inicial com sintomas depressivos. A doente inicia prova terapêutica com sertralina, demonstrando melhoria significativa do humor, do desempenho funcional e avaliação cognitiva sem alterações. Comentário: A depressão não é uma consequência natural do envelhecimento. A maioria dos idosos que recorre aos cuidados de saúde primários prioriza as queixas somáticas em detrimento do sentimento de tristeza que facilmente é reprimido. Por outro lado, poder-se-á estar a tratar pseudodemências em virtude de alterações cognitivas, potencialmente reversíveis com tratamento antidepressivo/psicoterapia.^len^aBackground: Memory problems in the elderly are a frequent reason for consultation in primary health care. This common complaint can have different causes with different outcomes, emphasizing the need for early diagnosis and timely management. The following case illustrates how family doctors can approach this problem and manage the diagnosis and treatment of memory problems. Case description: An 82-year old female patient widowed for 2 years and living with her daughter, who is her primary caregiver, came with her daughter to a medical appointment. The daughter complained that her mother was more apathetic, sadder, and sleepier in the last few months. She had been showing less interest in housework and did not want to leave the house as she formerly did. She had repetitive speech. Recently, she had experienced memory lapses and seemed to be slowing down. During the clinic visit, she told the doctor about her difficulty in paying for groceries, in recognizing acquaintances' names, and in recognizing familiar objects. She had been disoriented at times, getting lost more than once in the street. The possible diagnoses considered were depressive disorder with cognitive impairment or dementia with depressive symptoms. The patient began treatment with sertraline, showing significant improvement in mood, performance and cognitive function, without signs of a cognitive deficit. Comment: Depression is not a natural consequence of old age. Many elderly people put physical complaints before feelings of sadness in primary care consultations. Pseudodementia may be potentially reversible with antidepressants and psychotherapy.

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