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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

 ISSN 2182-5173

SILVA, Maria Inês; PINTO, Joana    VIANA, Manuel. Mal de Pott: um diagnóstico improvável. []. , 37, 2, pp.174-177.   30--2021. ISSN 2182-5173.  https://doi.org/10.32385/rpmgf.v37i2.12823.

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Introdução:

As manifestações osteoarticulares da tuberculose são a terceira apresentação mais frequente da tuberculose extrapulmonar, sendo o esqueleto axial o local mais afetado, o que se designa por espondilodiscite tuberculosa ou Mal de Pott. Apresenta-se um caso clínico que pretende alertar para este diagnóstico, pouco frequente nos cuidados de saúde primários, cuja clínica inespecífica e insidiosa pode dificultar e atrasar o diagnóstico e o tratamento.

Descrição do caso:

Homem, 82 anos, nacionalidade portuguesa, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial medicada e controlada. Sem outros antecedentes pessoais de relevo, nomeadamente infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) ou imunossupressão. Desconhece antecedentes pessoais de tuberculose ou contactos de risco. Recorre à consulta aberta da sua Unidade de Saúde Familiar por dor na região dorsal e no hemitórax esquerdo com cerca de quatro meses de evolução, com uma intensidade de 6 em 10, sem irradiação, com alívio parcial com medicação analgésica e anti-inflamatória e agravamento com os movimentos. Sem história de traumatismo. Nega sintomatologia respiratória, neurológica e outros sintomas constitucionais gerais. O exame objetivo não evidenciou alterações à observação da coluna dorsal, nomeadamente sinais inflamatórios locais ou deformação visível da coluna, nem dor à palpação e nem alterações da sensibilidade ou força muscular. Realizou radiografia da coluna dorsal e radiografia do tórax que não revelaram alterações significativas. Dada a evolução temporal optou-se por realizar tomografia computorizada da coluna dorsal que revelou alterações fortemente sugestivas de um processo de espondilodiscite. O doente foi referenciado para o serviço de urgência hospitalar, onde foi proposto internamento para estudo e orientação, do qual se realça biópsia óssea positiva para polymerase chain reaction (PCR) de bacilo de Koch. Foi assumido o diagnóstico de Mal de Pott, tendo o doente iniciado tratamento com anti-bacilares.

Comentário:

O Mal de Pott tem como sintoma mais comum a dor localizada, com agravamento progressivo ao longo de semanas ou meses, ou seja, uma clínica pouco específica e insidiosa, o que contribui para o atraso no diagnóstico. Podem existir sintomas constitucionais, como perda de peso ou febre, embora estes estejam presentes em menos de metade dos casos. Os métodos de imagem são importantes para o diagnóstico, nomeadamente a tomografia computorizada e a ressonância magnética, sendo a radiografia da coluna pouco sensível, particularmente na fase inicial. Após o diagnóstico, o tratamento deve ser instituído de forma célere com o fim de melhorar o prognóstico. O médico de família tem um papel importante quer na suspeita diagnóstica desta patologia, permitindo o diagnóstico e tratamento atempados, quer no seu seguimento, apoiando a adesão ao tratamento e a gestão das complicações da doença.

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Introduction:

Osteoarticular manifestations of tuberculosis are the third most frequent presentation of extrapulmonary tuberculosis, with the axial skeleton being the most affected site, which is called tuberculous spondylodiscitis or Pott’s disease. We present a clinical case that aims to alert to this diagnosis, uncommon in primary health care, whose nonspecific and insidious clinic can hinder and delay diagnosis and treatment.

Case description:

82-year-old Portuguese man, with a personal history of Arterial Hypertension. No other relevant personal history, namely infection by the human immunodeficiency virus (HIV) or immunosuppression. He has no story of tuberculosis or risk contacts. He goes to his Health Unit with pain in the dorsal region and in the left hemithorax with about four months of evolution, with an intensity of 6 in 10, without irradiation, with partial relief with analgesic and anti-inflammatory medication, and worsening with movements. No history of trauma. He denies respiratory, neurological, and other general constitutional symptoms. On physical exam, there were no changes to the observation of the dorsal spine, namely local inflammatory signs or visible deformation of the spine, no pain on palpation, and no changes in muscle sensitivity or strength. Dorsal spine and chest X-rays were performed, and both were considered normal. Given the temporal evolution, it was decided to perform computed tomography of the dorsal spine, which revealed changes that were strongly suggestive of a spondylodiscitis process. The patient was referred to the hospital emergency service, where he was admitted for study and orientation, having a positive bone biopsy for Koch Bacillus. The diagnosis of Pott’s disease was assumed, and the patient started treatment with tuberculostatic agents.

Comment:

The most common symptom of Pott’s disease is localized pain, with progressive evolution over weeks or months, that is, a non-specific and insidious clinic, which contributes to the delay in diagnosis. Constitutional symptoms may exist, such as weight loss or fever, although these are present in less than half of the cases. Image methods, such as computed tomogra-phy and magnetic resonance Imaging, are important for diagnosis. Spine radiography is insensitive, particularly in the initial phase. After diagnosis, the treatment should be instituted quickly to improve the prognosis. The family doctor has an important role in diagnosis and in follow-up, supporting adherence to treatment and management of disease complications.

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