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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

 ISSN 2182-5173

DOMINGUES, Inês Gonçalo; FONTE, Pedro    RIBEIRO, Diogo. De pais para filhos: transmissão vertical e ambiental da ansiedade. []. , 39, 4, pp.332-339.   30--2023. ISSN 2182-5173.  https://doi.org/10.32385/rpmgf.v39i4.13661.

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Introdução:

A ansiedade é um sentimento universal sem que isso constitua doença ou mesmo anormalidade. Esta pode assumir um caráter patológico quando funciona de maneira inapropriada, condicionando mecanismos mal adaptativos, estando, neste caso, perante uma perturbação de ansiedade. A influência genómica e ambiental é cada vez mais reconhecida como importante na sua génese e perpetuação. Por isso, para uma compreensão mais holística, na presença de uma perturbação de ansiedade é fundamental avaliar o contexto familiar através de avaliação familiar, prática muitas vezes esquecida na rotina do médico de família.

Descrição dos casos:

Nesta avaliação familiar, traduzida em relato de caso, a ansiedade configura uma perturbação multigeracional de expressão diversa. Este tipo de transmissão apoia a componente genético-ambiental da perturbação ansiosa. Foram avaliados três elementos de um agregado familiar com perturbação ansiosa: mãe e dois filhos. A génese da perturbação ansiosa da matriarca terá sido possivelmente favorecida por predisposição genética, adivinhável pelos antecedentes familiares, bem como pelo ambiente de conflito, recorrentes episódios de violência verbal e física no seio do casal de que fez parte, perpetuada por diversos eventos ansiogénicos. A transmissão da perturbação ansiosa para a geração seguinte terá sido proporcionada pelo ambiente comum de violência familiar, aliado à expressão de ansiedade materna através da componente não verbal, pela expressão física de ansiedade, instrucional pelo alarmismo para as diferentes situações de perigo que surgiam ao longo do dia e comportamental pela evicção de situações novas. Curiosamente, embora a génese da perturbação de ansiedade e os sintomas iniciais de ambos os filhos tenham sido comuns, a predisposição individual e os eventos ansiogénicos subsequentes moldaram-nos de forma distinta, quer na manifestação da ansiedade quer na gestão da mesma.

Comentário:

A medicina geral e familiar ocupa uma posição privilegiada na avaliação individual e familiar desta patologia. À semelhança desta família considera-se que muitas famílias portuguesas reúnem as mesmas características e que ainda não é dada a devida atenção a esta cadeia de transmissão de psicopatologia. A procura ativa de fatores familiares que aumentem o risco de perturbação de ansiedade e valorização da perturbação de ansiedade como psicopatologia com grande impacto individual, familiar e social é fundamental. O tratamento adequado das perturbações de ansiedade numa geração pode reduzir a prevalência das mesmas nas gerações futuras.

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Introduction:

Anxiety is a universal feeling without constituting a disease or even an abnormality. This can assume a pathological character when it functions inappropriately, conditioning maladaptive control, more precisely, an anxiety disorder. Increasingly, the genomic and environmental influences are recognized as important in its genesis and perpetuation. Therefore, for a more holistic understanding, of the presence of an anxiety disorder, it is fundamental to have the family context available through family assessment, a practice that is often forgotten in the routine of the family physician.

Case description:

In this family assessment, anxiety configures a multigenerational disorder with different expressions. This type of transmission supports the genetic and environmental components of an anxiety disorder. Three elements of a family household with anxiety disorder were evaluated: mother and two children. The genesis of the matriarch's anxiety disorder was possibly favored by a genetic predisposition, guessed by her family history, as well as by the confliction’s environment, recurrent episodes of verbal and physical violence by her husband, perpetuated by various anxiogenic events. The transmission of the anxiety disorder to the next generation would have been provided by the common environment of family violence, combined with the expression of maternal anxiety through the non-verbal component, by the physical expression of anxiety, instructional by the alarmism for the different situations of danger that operate throughout the day and behavioral by avoiding new situations. Interestingly, although the genesis of the anxiety disorder and the initial symptoms of both children were common, individual predisposition and subsequent anxiogenic events shaped them differently, both in the manifestation of anxiety and in its management.

Comments:

General and family medicine occupies a privileged position in the individual and family evaluation of this pathology. Like this family, it is considered that many Portuguese families have the same characteristics, and that proper attention is still not given to this chain of transmission of psychopathology. The active search for family factors that increase the risk of anxiety disorders and valuing anxiety disorders as psychopathologies with great individual, family, and social impact is essential. Appropriate treatment of anxiety disorders in one generation can reduce their prevalence in future generations.

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