INTRODUÇÃO
Analisando empiricamente o desempenho laboral dos Trabalhadores com peso a mais, fica-se com a perceção que a Capacidade de Trabalho possa ficar prejudicada; realizou-se esta Revisão Bibliográfica no sentido de perceber o que tem vindo a ser publicado sobre o tema.
METODOLOGIA
Em função da metodologia PIC o, foram considerados:
-P (population): população ativa com Excesso de Peso ou Obesidade.
-I (interest): reunir conhecimentos relevantes sobre a eventual interação do peso a mais com a Capacidade de Trabalho
-C (context): Saúde Ocupacional nas empresas com postos de trabalho ocupados com funcionários com Excesso de Peso ou Obesidade
Assim, a pergunta protocolar será: A Obesidade altera a Capacidade de Trabalho?
Foi realizada uma pesquisa em agosto de 2021 nas bases de dados “CINALH plus with full text, Medline with full text, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, Cochrane Methodology Register, Nursing and Allied Health Collection: comprehensive, MedicLatina e RCAAP”.
No quadro 1 podem ser consultadas as palavras-chave utilizadas nas bases de dados.
No quadro 2 estão resumidas as caraterísticas metodológicas dos artigos selecionados.
Quadro 2 Caraterização metodológica dos artigos selecionados
Artigo | Caraterização metodológica | Resumo |
---|---|---|
1 | Tese de Mestrado | Trata-se de um projeto brasileiro que analisou a capacidade de trabalho e a composição corporal de um grupo de 66 jornalistas de cinco canais televisivos, de uma região do país. |
2 | Artigo Original | Este artigo norueguês planeou avaliar a eventual influência da Obesidade na Capacidade de Trabalho em 626 asmáticos. Percebeu-se que os mais obesos apresentam pior controlo da patologia (mais sintomas). |
3 | Artigo Original | Nesta referência bibliográfica holandesa os autores pretenderam investigar a eventual interação entre a Carga de Trabalho e a Obesidade, na Capacidade de Trabalho, entre mais de 36.000 funcionários da construção civil. Concluíram que as duas primeiras se associavam a menor Capacidade de Trabalho e de forma sinérgica; logo, a atenuação das primeiras potenciará a segunda. |
4 | Artigo Original | Um grupo de investigadores ingleses publicou um trabalho que se debruçou sobre a eventual relação entre o IMC e a Capacidade de Trabalho em funcionários com mais idade, numa amostra de quase 5.000 elementos entre os 50 e os 64 anos. Concluíram que a Obesidade (sobretudo se grave e/ou no sexo feminino) diminuiu a capacidade de trabalho. |
5 | Artigo Original | No documento canadiano aqui inserido idealizou-se observar em que medida um programa de exercício intenso e de curta duração conseguiria alterar a Capacidade de Trabalho, numa amostra de oito indivíduos obesos. |
6 | Artigo Original | Uma autora norte-americana escreveu um artigo relativo ao eventual aumento de desempenho profissional entre bombeiros, bem como respetivas lesões e acidentes fatais, salientando a questão da elevada prevalência da Obesidade. |
CONTEÚDO
A Capacidade de Trabalho poderá ser definida na medida em que um funcionário consegue no presente, e eventualmente no futuro, executar as suas tarefas, em função do seu estado de saúde e capacidades física e mental. As empresas serão mais competitivas se possuírem trabalhadores mais saudáveis (1).
Uma vez que a população está cada vez mais envelhecida e se mantém a exercer uma profissão até uma idade mais tardia, a Capacidade de Trabalho torna-se cada vez mais escassa, ficando também mais problemática a questão do Absentismo (que pode quantificar indiretamente a Capacidade de Trabalho (2)). Percebendo melhor quais os fatores que a determinam, ficaremos mais aptos para gerir a Saúde Ocupacional (3).
A acumulação de gordura é resultado do desequilíbrio entre o consumo e o gasto calórico. A distribuição corporal do tecido adiposo poderá ser mais relevante que a quantidade total de gordura em si; ou seja, quando o predomínio é abdominal, existe maior probabilidade de surgirem alterações metabólicas (como a hipertensão arterial, diabetes e dislipidemia) ou, por outros termos, perímetro abdominal versus IMC (Índice de Massa Corporal). Considera-se normal uma percentagem de gordura nos homens adultos entre 12 e 15% e, para as mulheres, 20 a 25% (1).
Estima-se que em 2030 existam cerca de um bilião de indivíduos com Obesidade a nível mundial (4), estando a prevalência a aumentar (2) sobretudo entre a 5ª e a 7ª décadas de vida (4).
Funcionários com Excesso de Peso ou Obesidade, em média, ausentam-se do trabalho mais quatro dias por ano. A Obesidade associa-se a Absentismos mais prolongados e estes, por sua vez, a maior taxa de Desemprego, em função das patologias associadas (4) (alterações músculo-esqueléticas, doenças cardiovasculares (3) (4) e alterações emocionais). Contudo, deve-se realçar que as normas variam entre países e sistemas, pelo que quando a ausência ao trabalho por doença não é remunerada, esta tende a ser mais breve do que quando é, sobretudo se a 100%. Aliás, em alguns países, a "baixa" é considerada prolongada quando superior a vinte dias (4), quantificação essa que deixa perplexidade, se comparada com a realidade portuguesa, em que com muita facilidade se recebe um período inicial de catorze dias, incapacidade essa renovada por trinta dias, por vezes, várias vezes, numa percentagem significativa de casos.
Em trabalhadoras com mais idade, a Obesidade duplica o risco de perda de emprego (4).
As alterações na Capacidade de Trabalho poderão ser justificadas pela menor aptidão cardiovascular, menor resposta às exigências físicas e devido às comorbilidades associadas e atrás mencionadas; contudo, mesmo desconsiderando as patologias relacionadas, com técnicas estatísticas adequadas, a relação com a Obesidade mantém-se (4).
Esta pode ser mais prevalente nos estratos socioeconómicos mais baixos e, nestes, também costuma ser mais frequente o trabalho físico, pior remunerado e com menos apoio à ausência por incapacidade (4).
A Obesidade e uma elevada Carga de trabalho associam-se a pior Capacidade de Trabalho, eventualmente de forma sinérgica, através de questões músculo-esqueléticas, cardiovasculares (3) e/ou alterações na função/sintomas pulmonares, na medida em que aumenta a pressão intra-abdominal, existindo diminuição da FVC (volume máximo de ar que pode ser exalado numa expiração forçada) e da FEV1 (volume de ar expirado no primeiro segundo, após uma inspiração máxima). Ou seja, indivíduos com IMC superior a 30 apresentam sintomas respiratórios com seis vezes maior probabilidade (2). As posturas forçadas/mantidas também poderão apresentar um efeito sinergístico, neste contexto (3).
Logo, a atenuação da Obesidade e da Carga de Trabalho irá potenciar a Capacidade de Trabalho (3), nomeadamente através do exercício (3) (5) e emagrecimento (3).
Contudo, trabalhadores com pior capacidade cardiovascular poderão considerar, com maior probabilidade, que o esforço físico laboral é excessivo, devido à sua menor capacidade física e saúde global (3).
Em postos de Trabalho com grande exigência física os funcionários deverão estar em boa forma física, em função das implicações que existem perante a mobilidade, resistência e energia (6).
Numa coorte de quase cinco mil indivíduos, entre os 50 e os 64 anos, verificou-se que a Obesidade estava associada à redução do horário de trabalho e ao Absentismo. A Obesidade, sobretudo se grave, diminui a Capacidade de Trabalho dos indivíduos nestas faixas etárias e antecipa o término da vida profissional, sobretudo no sexo feminino (4).
O exercício promove a libertação de substâncias que se associam positivamente a emoções/sensações/prazer, reação à dor e comportamento (endorfinas); ou seja, de certa forma podem atuar como antidepressivas, calmantes e analgésicas. Em termos laborais o exercício consegue promover a diminuição dos Acidentes de Trabalho e do Absentismo, aumentando a produtividade e lucro. A nível fisiológico consegue influenciar positivamente a capacidade muscular, mobilidade, circulação sanguínea, atenuar doenças cardiovasculares, melhorar o padrão de sono, controlar o peso e aumentar a autoestima (1).
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Ainda que a bibliografia sobre o tema não seja abundante, a que se encontrou é razoavelmente consensual relativamente à interação negativa entre o Excesso de Peso/Obesidade e a Capacidade de Trabalho; logo qualquer medida que atenue a primeira situação, potenciará a segunda, com realce para o Exercício e a restrição calórica. Contudo, o assunto por vezes não é devidamente valorizado pelos trabalhadores ou até uma parte destes nem sequer está recetiva a abordar o tema, ficando agressiva quando um profissional de saúde tenta fazer esse trajeto.
Seria ainda assim interessante que uma equipa de Saúde Ocupacional, a exercer numa empresa com um número razoável de Trabalhadores, estudasse melhor esta problemática, divulgando posteriormente os dados obtidos, em revista da área.