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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. v.16 n.4 Lisboa ago. 2009

 

Terapêutica farmacológica da Colite Ulcerosa

 

Horácio Lopes, António Curado

 

RESUMO

O tratamento farmacológico da colite ulcerosa, inclui 5-ASA rectal para a proctite, e um reforço da terapêutica, consoante a gravidade e a extensão, com o 5-ASA oral, corticóide oral, corticóide endovenoso e, finalmente, ciclosporina (seguida de azatioprina) ou infliximab se a doença se torna mais severa ou resistente ao tratamento médico.

 

INTRODUÇÃO

A Colite Ulcerosa é uma doença crónica, caracterizada por uma inflamação difusa da mucosa do cólon e do recto. A sua etiopatogenia é desconhecida. Tem sido sugerida a existência de uma desregulação primária do sistema imunitário da mucosa cólica, que leva a uma resposta imunológica exacerbada à microflora normal. Envolve o recto (proctite) na maioria dos casos e quando envolve a sigmóide ou o cólon descendente, estamos perante uma colite distal/esquerda; se envolver o transverso, ou todo o cólon, trata-se de uma pancolite. Tem uma morbilidade importante, levando a sintomas recorrentes de diarreia sanguinolenta, urgência rectal e tenesmo. A idade habitual do aparecimento dos sintomas, tem dois picos – entre os 15 e os 40 anos; e entre os 50 e os 80 anos. Surge igualmente no homem e na mulher. Em 6-47% dos doentes surgem manifestações extraintestinais – ulcerações orais, artropatia periférica e manifestações cutâneas, como o eritema nodoso, são as mais comuns.

 

TERAPÊUTICA DA DOENÇA ACTIVA Proctite (P) activa

Na proctite activa a terapêutica tópica é superior à oral e os salicilatos são os indicados; consoante a severidade podem ser utilizados supositórios (ou espuma), na dose de 1 g por dia, para a indução da remissão. No caso de não haver resposta podemos associar 5-ASA oral (3g/dia) ou corticóide tópico (ex: budesonido em enema, na dose de 3 mg/dia).

 

Colite esquerda (CE) activa

Na colite distal, a terapêutica de escolha é a combinação de 5-ASA oral e tópico. A terapêutica oral pode ir aos 4,8 g/dia. Se não ocorrer melhoria da  sintomatologia em 1 a 2 semanas, recomenda-se o uso de corticóides – usualmente até 40 mg/ dia de prednisolona.

 

Pancolite (PC) activa

Na colite extensa devemos utilizar 5-ASA oral combinado com 5-ASA tópico, pois a formulação oral isoladamente não consegue induzir a remisão na maioria dos doentes.

Um doente com colite severa, deve ser hospitalizado e devem utilizar-se  corticóides endovenosos (ev) (ex. prednisolona na dose de 0,75-1mg/Kg). Nos doentes intolerantes à corticoterapia ou corticorresistentes (sem resposta até aos 5-7 dias) deve ser considerada terapêutica com ciclosporina na dose de 2-4 mg/Kg/dia (aferida de acordo com os níveis séricos) ou tacrolimus até à concentração sérica de 10-15 ng/ml ou terapêutica biológica com infliximab (5mg/Kg às 0, 2, 6 e depois de 8/8 semanas).

 

 

 

 

TERAPÊUTICA DE MANUTENÇÃO

Indicada em todos os doentes com algumas excepções em que a extensão da doença é muito limitada. O objectivo é manter o doente em remissão e sem esteróides.

O 5-ASA oral é o fármaco de 1ª linha. Na proctite e na colite esquerda, a utilização de 5-ASA tópico também poderá ser uma alternativa. Como 2ª linha, temos a combinação do 5-ASA oral e tópico. A mínima dose oral efectiva é de 1,2 - 1,5 g /dia e a tópica é de 3 g/semana. Está indicada a terapêutica de manutenção com azatioprina (2-2,5 mg/Kg/ dia) nos doentes:

 - que responderam à ciclosporina/tacrolimus na indução da remissão;

 - com recaídas precoces ou frequentes ou com intolerância ao 5-ASA; - corticodependentes e corticorresistentes;

 - que só respondem aos corticóides por via endovenosa.

Poderá ainda associar-se à azatioprina o 5-ASA, por possível efeito sinérgico e protector do cancro colo-rectal. Num doente que respondeu ao infliximab, este poderá ser utilizado como terapêutica de manutenção.

 

 

 

 

NOTAS FINAIS

Em cerca de 2/3 dos doentes a remissão e a manutenção são conseguidas com 5-ASA. Nenhum ensaio comparou as terapêuticas médica e cirúrgica na colite ulcerosa. A colectomia está indicada nos casos de displasia, cancro, megacólon tóxico, não resposta à terapêutica médica máxima ou hemorragia maciça.