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Nascer e Crescer
versão impressa ISSN 0872-0754
Nascer e Crescer vol.21 no.3 Porto set. 2012
Panorama Nacional do Bullying
Mafalda Ferreira1, Margarida Gaspar de Matos1 & Equipa Aventura Social
1 Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Motricidade Humana
RESUMO
O estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC) é desenvolvido em colaboração com a Organização Mundial de Saúde (OMS), e procura compreender os comportamentos de saúde dos adolescentes em idade escolar, os seus estilos de vida e os seus contextos sociais (http://www.hbsc.org; http://www.aventurasocial.com).
Este estudo foi iniciado em 1982 por investigadores da Finlândia, Noruega e Inglaterra, tendo sido adotado pouco tempo depois pela OMS, sendo que neste momento, conta com a participação de 44 países, incluindo Portugal, membro associado desde 1998.
Os estudos da rede internacional HBSC são realizados de 4 em 4 anos, com alunos de escolas públicas do ensino regular. Portugal conta já com quatro estudos, realizados em 1998, 2002, 2006 e 2010 pela equipa do projecto Aventura Social (http://www.aventurasocial.com), coordenado pela Profª. Dr.ª Margarida Gaspar de Matos na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, numa parceria com o Centro da Malária e outras Doenças Tropicais da Universidade Nova de Lisboa (Laboratório Associado da Fundação para a Ciência e Tecnologia, LA-FCT/MCES). Desde 1996, foram já inquiridos cerca de 25000 adolescentes, se incluirmos o estudo específico de 2005, realizado em áreas desprivilegiadas na periferia de Lisboa, e o estudo piloto realizado em 1996.
O questionário utilizado no estudo HBSC inclui questões demográficas (idade, género, estatuto socioeconómico) e questões relativas aos comportamentos de saúde dos adolescentes e os seus contextos de vida, de acordo com o protocolo internacional.
O estudo HBSC criou e mantém uma rede internacional dinâmica nesta área, o que permite a cada um dos países membros contribuir e adquirir conhecimento através da colaboração e troca de experiências com os outros países e intervir directa e ativamente nas políticas públicas de Educação e da Saúde.
Esta comunicação pretende abordar a temática do bullying, procurando não só apresentar os dados mais recentes mas também uma comparação com os dados dos últimos estudos nesta área. Assim, de uma forma geral, verifica-se que a maioria dos adolescentes refere não ter sido provocado na escola nos últimos dois meses, tendo sido 2002 o ano de maior envolvimento dos adolescentes em provocações enquanto vítimas. Desde esse ano tem vindo a aumentar o número de adolescentes que afirma que nunca foi provocado na escola.
Quanto a ser provocado duas vezes ou mais por semana nos últimos dois meses, este comportamento diminuiu de 2006 para 2010. Desde 1998 o número de adolescentes que afirma nunca provocar os colegas na escola tem vindo a aumentar, sendo 2010 o ano em que os adolescentes mais frequentemente referem nunca ter provocado nenhum colega na escola.
Questionados sobre se assistiram a situações de provocação na escola, mais de metade declarou ter assistido e referem que na escola os casos de provocação ocorrem mais frequentemente no recreio. Como já vem sido reportado, as situações menos estruturadas da escola tendem a ser aquelas onde a provocação é maior, embora depois a continuidade da ocorrência possa vir a perturbar as aulas. A organização do espaço dos recreios, do ponto de vista arquitectónico, da ocupação pró-social do tempo de lazer, e da possibilidade de aí se usufruir de um bem-estar psicológico parece assim uma excelente estratégia de prevenção da provocação na escola.
Dos alunos que assistiram a casos de provocação na escola, a maioria afastou-se e não interveio, tornando-se assim importante estabelecer com os alunos, a nível de toda a escola, um conjunto de decisões partilhadas sobre o que se pode fazer quando se assiste a um ato de provocação na escola.
Por outro lado, o acesso fácil à Internet ou outras tecnologias traz consigo mais um canal no conjunto de possibilidades de ocorrência de violência interpessoal e, efectivamente, 15,9% dos jovens reporta já ter sido ator de episódios de provocação com utilização de novas tecnologias, principalmente através do Messenger e SMS/MMS.
Estas situações urgem de uma acção eficaz e célere, facilitando nos jovens um aumento das suas competências pessoais, na sua defesa não só face a estes novos meios mas também contra si próprio.