Reporta-se o caso de uma doente de 54 anos, com história de toxicofilia a heroína, presentemente sob terapêutica com buprenorfina. Apresentava quadro de desconforto abdominal, obstipação e anorexia, com 3 semanas de evolução. Objectivamente apenas a destacar abdómen discretamente globoso e pétreo à palpação global. Realizou tomografia computorizada abdominal e pélvica (TC-AP) que revelou volumosa massa, ocupando praticamente toda a cavidade abdominal, medindo 27 x 12 x 23 cm, associado a alguns volumosos implantes irregulares, com conflito de espaço com o tubo digestivo, correspondendo a provável alteração neoformativa ovárica. Submetida com sucesso à excisão de massa com 5054 g, bem como a histerectomia e anexectomia, confirmando-se posteriormente o diagnóstico de cistoadenoma mucinoso de ovário (CMO), através de exame histopatológico. A doente teve alta ao fim de 5 dias, mantendo seguimento posterior em consulta de Oncologia Ginecológica, sem intercorrências.
O CMO representa cerca 15% de todos os tumores do ovário.1 Trata-se de uma neoplasia do tipo epitelial, que, em 80% dos casos, é benigno, 10% borderline e 10% maligno.2 As dimensões do CMO variam muito e dependem em grande parte do tempo de evolução de doença, sendo que o seu tamanho médio é de 10 cm no maior eixo.3 A idade mais comum para o seu surgimento situa-se entre os 20 e os 50 anos, mais raros na adolescência, no pós-menopausa ou durante a gravidez.4 Tal como referido neste caso clinico, em 95% dos diagnósticos, apenas é atingido um dos ovários.3 Tendo em conta o tamanho que podem atingir, bem como as suas características histológicas, a torção ovárica, hemorragia intra-abdominal e ruptura são as complicações mais frequentes deste tipo de neoplasia.4 Relativamente à sua abordagem terapêutica, está em muito relacionada com a história médica conhecida da doente, idade ao diagnóstico e dimensões, mas consiste na sua excisão cirúrgica - a recorrência desta neoplasia é muito rara.5