Introdução
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma emergência médica a nível mundial com impacto negativo na vida das pessoas e dos seus familiares (Middleton et al., 2015; Morotti et al., 2019; Sousa et al., 2019; Campbell & Khatri, 2020; ESO, 2021). Estudos publicados pela European Stroke Organisation (ESO) e American Heart Association / American Stroke Association (AHA/ASA) apontam para a necessidade dos serviços de saúde implementarem intervenções baseadas em evidência científica que minimizem os efeitos decorrentes do AVC e favoreçerem a qualidade dos cuidados prestados à pessoa com AVC agudo. Face a esta realidade, compete aos profissionais de saúde, nomeadamente aos Enfermeiros, a responsabilidade profissional e ética de basear a praxis clínica e especializada em evidência científica, alicerçando os processos de tomada de decisão e as intervenções em conhecimentos válidos, atuais, pertinentes e seguros (Regulamento nº 140/2019 da Ordem dos Enfermeiros, 2019).
Os dados relativos às intervenções de enfermagem implementadas no Serviço de Urgência à Pessoa vítima de Acidente Vascular Cerebral agudo encontram-se dispersos na literatura, o que dificulta o acesso ao conhecimento dos profissionais de saúde, em particular dos Enfermeiros. Uma pesquisa preliminar realizada na MEDLINE (via PubMed) e CINAHL (via EBSCO) revelou que não existe nenhuma Revisão Scoping ou Sistemática sobre a temática em estudo, na população e no contexto pretendido. A presente Revisão Scoping visa mapear as intervenções de enfermagem implementadas à pessoa vítima de AVC, no contexto de Serviço de Urgência antes da realização dos exames imagiológicos que permitem definir o diagnóstico final e o tratamento indicado.
1. Enquadramento teórico
O AVC é uma das principais causas de morte, incapacidade e invalidez em todo o mundo, com impacto na qualidade de vida da pessoa, família e cuidadores (Campbell et al., 2019; Katan & Luft, 2018; Knight-Greenfield et al., 2019; Sousa et al., 2019; Campbell & Khatri, 2020; ESO, 2021). Em Portugal, é a 4ª causa de morte, representando 9,8% dos óbitos motivados por doenças cerebrovasculares no ano de 2019 (INE, 2021). Estudos indicam que o AVC tem uma incidência crescente com o envelhecimento da população e em países em desenvolvimento (Katan & Luft, 2018). No entanto, começa, cada vez mais, a afetar o adulto jovem (Katan & Luft, 2018; Ekker et al., 2018), com um aumento até 40% na sua incidência entre os 18 e os 50 anos (Ekker et al., 2018; George, 2020).
O AVC é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006) como sendo um comprometimento súbito neurológico focal (ou global), de origem vascular, com a ocorrência de sintomas com duração igual ou superior a 24 horas e/ou morte. A AHA/ASA define, em 2013, o AVC como sendo um episódio de disfunção neurológica aguda presumivelmente causada por isquémia ou hemorragia, persistindo por um período superior ou igual a 24 horas ou até a morte, com base em evidências neuropatológicas, de neuro-imagem e/ou clínicas de lesão permanente (Sacco et al., 2013). A Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da OMS (2021) defende que o termo AVC requer “a presença de disfunção neurológica aguda” (Norrving et al., 2013, p. 3; OMS, 2021). Inclui na sua definição as seguintes hipóteses diagnósticas: AVC isquémico, hemorragia intracerebral, hemorragia subaracnoideia e AVC não conhecido (se isquémico ou se hemorrágico).
Embora o AVC isquémico seja o responsável pela maioria dos eventos cerebrovasculares, estudos indicam que o AVC hemorrágico é responsável por mais mortes e anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (Katan & Luft, 2018). Em qualquer uma das categorias, ocorre perda de fluxo sanguíneo, nutrientes e oxigénio para uma região do cérebro, resultando em danos neuronais e subsequente disfunção neurológica (Knight-Greenfield et al., 2019). O controlo inadequado dos fatores de risco vasculares modificáveis e de risco específicos de género são, também, causas da situação patológica descrita (Hathidara et al., 2019; George, 2020). Em qualquer pessoa com AVC, jovem ou idoso, a abordagem visa o tratamento agudo e sintomático (se possível), seguido por um processo de diagnóstico, com o intuito de encontrar a causa subjacente e prevenção secundária (Ekker et al., 2018).
Tem-se assistido, nos últimos anos, a um progresso acentuado da abordagem da pessoa vítima de AVC agudo com o surgimento das terapêuticas de fase aguda e de ações implementadas a nível Europeu, nos domínios da prevenção primária, organização dos serviços de saúde específicos para o tratamento do AVC, abordagem do AVC agudo, prevenção secundária, reabilitação e melhoria dos resultados e da qualidade (ESO, 2021).
O conceito Tempo é Cérebro significa que o tratamento do AVC deve ser considerado como uma emergência, e como tal, atrasos nos cuidados agudos devem ser evitados, minimizando danos irreversíveis que se traduzem em défices de gravidade, sofrimento e custos sociais importantes (ESO, 2008). Mais recentemente, as diretrizes da AHA/ASA refletem uma mudança de paradigma na gestão dos cuidados à pessoa vítima de AVC agudo, de Tempo é Cérebro para Imagem é Cérebro, assumindo a imagem multimodal um papel essencial na investigação diagnóstica, na tomada de decisão relativa ao tratamento e aos cuidados a implementar (Puig et al., 2020). Nas últimas décadas têm sido emitidas várias diretrizes sobre o tratamento e aspetos específicos dos cuidados à pessoa com AVC agudo. Com a emissão da Declaração de Helsingborg, de 2006, é dado enfoque aos padrões de cuidados no AVC e nas necessidades de investigação nesta área (Kjellstrom et al., 2007). Neste contexto, a AHA/ASA e a ESO, em colaboração com outras entidades internacionais e nacionais, têm reunido esforços para alcançar as metas estabelecidas pela OMS, no que à abordagem ao AVC diz respeito.
Estudos indicam que o benefício dos tratamentos implementados à pessoa com AVC agudo é fortemente dependente do tempo e da intervenção precoce para alcançar os melhores resultados (Lees et al., 2010). Os cuidados inerentes à pessoa com AVC agudo devem minimizar o tempo de avaliação e início do tratamento, antes que a lesão cerebral se torne irreversível (Norrving et al., 2018). A intervenção de uma equipa multidisciplinar especializada no cuidado à pessoa com AVC é a intervenção mais eficaz para o alcance de melhores resultados (ESO, 2021). Neste contexto a equipa de enfermagem tem um papel de relevo no cuidado e tratamento da pessoa vítima de AVC agudo, contribuindo para o alcance de resultados ideais, de elevada qualidade, e uma abordagem interativa e holística (Theofanidis & Gibbon, 2016).
Face à complexidade inerente da situação de saúde da pessoa vítima de AVC agudo e da evolução constante dos tratamentos dirigidos, é crucial a atualização e sistematização das intervenções de enfermagem a implementar, baseadas na evidência científica atual, que garantam a eficácia e qualidade dos cuidados na assistência inicial e antes da identificação, com recurso à imagiologia, da etiologia do AVC. É neste contexto que emergem as questões às quais se pretende dar resposta e que fundamentam a definição de boas práticas para a assistência de enfermagem em urgência/emergência. Assim, partimos das seguintes questões de investigação:
Quais as intervenções de Enfermagem implementadas no Serviço de Urgência à pessoa vítima de AVC agudo?
Qual o papel do Enfermeiro na assistência imediata à pessoa vítima de AVC agudo a aguardar diagnóstico e respetivo tratamento dirigido no Serviço de Urgência?
A Revisão Scoping teve como objetivo mapear as intervenções de enfermagem implementadas nos serviços de urgência à pessoa vítima de AVC agudo.
2. Métodos
Atualmente a prática de enfermagem baseada em evidência científica é um campo em expansão (Peters et al., 2020). Existem diferentes formas de evidência científica, objetivos e questões de investivação que permitem o desenvolvimento de novas abordagens, projetadas para sintetizar as evidências de forma mais eficaz, rigorosa, transparente e confiável (Peters et al., 2020). A Revisão Scoping é considearada um destes tipos de abordagem (Peters et al., 2020). No presente estudo optou-se, especificamente, por realizar uma Revisão Scoping, que é uma metodologia de investigação com o objetivo de mapear evidências subjacentes a um campo de pesquisa, identificar os tipos de evidência científica disponíveis, as principais carateristicas, fatores relacionados a um conceito ou lacunas de conhecimento existente, e constituir um exercício preliminar que justifique a realização de uma revisão sistemática da literatura (Anderson et al., 2008; Tricco et al., 2016; Munn et al., 2018; Peters et al., 2020). A Revisão Scoping visa, apenas, mapear a evidência científica existente, e como tal, não exige a avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos (Peters et al., 2020).
A realização da Revisão Scoping seguiu a metodologia do Joanna Briggs Institute (Peters et al., 2015; Peters et al., 2020) e foi redigido seguindo a checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses for Scoping Reviews Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR) (McGowan et al., 2020). O protocolo da revisão foi realizado, seguido pelos autores, tendo sido publicado e registado na plataforma Open Science Framework, com o número de registo DOI 10.17605/OSF.IO/S2WB3. Se solicitado, o mesmo pode ser enviado mediante pedido.
Critérios de Inclusão
De acordo com a metodologia proposta, foram definidos os critérios de elegibilidade com base na População, Conceito e Contexto de revisão pretendido.
População
Foram considerados todos os estudos em pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, com enfoque em intervenções de enfermagem destinadas à pessoa vítima de AVC agudo.
Conceito
O AVC e intervenções de enfermagem foram os conceitos considerados para a Revisão Scoping. O AVC é definido como um episódio de disfunção neurológica, presumivelmente causada por isquemia ou hemorragia, que persiste por um período superior ou igual a 24 horas ou até a morte (Sacco et al., 2013). É caracterizado pelo início súbito de sinais e sintomas, nomeadamente a parésia facial, diminuição ou perda de força muscular, alteração da linguagem, alteração da sensibilidade, alteração do equilíbrio corporal, descoordenação motora, tontura, confusão, desorientação, cefaleia de causa desconhecida, náusea, vómito e alterações visuais (Hankey & Blacker, 2015; AHA/ASA, 2021).
Foram consideradas como intervenções de enfermagem todas as “intervenções autónomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no âmbito das suas qualificações profissionais” (Ordem dos Enfermeiros, 1996, p. 3), administradas e avaliadas como efetivas na abordagem à pessoa vítima de AVC agudo.
Contexto
Considerou-se todos os estudos que foquem as intervenções de enfermagem implementadas à pessoa vítima de AVC agudo em contexto de Serviço de Urgência. O departamento, serviço ou setor de urgência ou emergência é definido como sendo o local, num hospital ou unidade de cuidados primários, que presta a assistência inicial a pessoas com um largo espectro de doenças, algumas das quais ameaçadoras à vida, requerendo intervenção imediata (Kindermann et al., 2013). Em Portugal, o serviço de urgência é definido como sendo o serviço intra-hospitalar que dá reposta às situações de urgência e emergência, de acordo com o seu nível de diferenciação (Serviço de Urgência Básico, Serviço de Urgência Médico-Cirúrgico e Serviço de Urgência Polivalente) (Despacho n.º 10319/2014 do Ministério da Saúde, 2014). Considera-se urgências “todas as situações clínicas de instalação súbita, desde as não graves até às graves, com risco de estabelecimento de falência de funções vitais” e emergências “todas as situações clínicas de estabelecimento súbito, em que existe, estabelecido ou eminente, o compromisso de uma ou mais funções vitais” (DGS, 2001, p. 32). Foram incluídos na revisão serviços de urgência, departamentos de emergência e sala de emergência.
Critérios de Exclusão
Como critérios de exclusão considerou-se todos os estudos em pessoas com idade inferior a 18 anos, com enfoque em intervenções implementadas por outros profissionais de saúde, com exceção dos Enfermeiros; destinadas a pessoas vítimas de doença aguda, trauma ou situação de urgência/emergência, com exceção da pessoa vítima de AVC agudo, ou destinadas a grupos profissionais; no contexto de internamento, unidade de AVC, pré-hospitalar, cuidados continuados, domiciliários, lares ou unidades móveis; com data de publicação anterior ao ano 2011 e redigidos noutros idiomas para além dos definidos nos critérios de inclusão.
Tipo de fontes
A Revisão Scoping considerou estudos primários, quantitativos e qualitativos, e secundários, nomeadamente revisões sistemáticas, com pertinência e ajustados à informação que se pretende mapear. Os estudos quantitativos incluem todos os estudos experimentais, incluindo ensaios clínicos randomizados controlados, ensaios clínicos controlados não randomizados, estudos quasi-experimentais, com estudos antes e após; todos os estudos observacionais, incluindo estudos descritivos, estudos de coorte, estudos transversais, estudos de caso e de séries de casos. Os estudos qualitativos incluem: todos os estudos que se concentrem em dados qualitativos, incluindo, mas não limitados, a fenomenologia, teoria fundamentada, etnográfica e histórica. As revisões sistemáticas incluem revisões com ou sem meta-análise, meta-síntese, revisões sistemáticas abrangentes ou de métodos mistos. Foram considerados todos os estudos publicados desde 01 de janeiro de 2011 a 31 maio de 2021, inclusivé, em português, inglês, espanhol e francês. Na última década foram testemunhados enormes progressos no tratamento da pessoa vítima de AVC agudo, bem como, na definição de AVC defindo pela OMS, que tem sido alvo de revisão e atualização (Sacco et al., 2013; Hankey, 2017). Em 2010, o sistema de Classificação Internacional de Doenças (CID-10), divulgado pela OMS, padronizou a classificação diagnóstica incluindo novas atualizações sobre os distúrbios cerebrovasculares (Sacco et al., 2013).
Estratégias de pesquisa
A estratégia de pesquisa delineada procurou encontrar estudos publicados e não publicados. Para o efeito, foi realizada uma pesquisa eletrónica nas bases de dados PubMed (Tabela 1), Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews, CINAHL complete (via EBSCO), JBI Database of Systematic Reviews and implementation Reports, SciELO, LILACS e BDENF-Nursing. Para a pesquisa de estudos não publicados, recorreu-se aos Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP), Banco de teses da Capes e OpenGrey. A pesquisa foi desenvolvida em três etapas. Primeiramente, conduziu-se uma pesquisa limitada nas bases de dados MEDLINE (via PubMed) e CINAHL (via EBSCO), de modo a listar termos naturalistas comummente utilizados nos títulos e resumos de artigos desenvolvidos na área científica pretendida, assim como os termos de indexação, Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeSC).
Considerou-se vários descritores pertinentes para a investigação, em português (acidente vascular cerebral; AVC isquêmico; AVC hemorrágico; infarto da artéria cerebral anterior; infarto da artéria cerebral média; infarto da artéria cerebral posterior; infarto cerebral; infarto encefálico; embolia e trombose intracraniana; embolia intracraniana; trombose intracraniana; transtornos cerebrovasculares; infartos do tronco encefálico; cuidados de enfermagem; planejamento de assistência ao paciente; avaliação em enfermagem; enfermagem em emergência; serviço hospitalar de emergência; serviços médicos de emergência), inglês (stroke; ischemic stroke; hemorrhagic stroke; infarction, anterior cerebral artery; infarction, middle cerebral artery; infarction, posterior cerebral artery; cerebral infarction; brain infarction; intracranial embolism and thrombosis; intracranial embolism; intracranial thrombosis; cerebrovascular disorders; brain stem infarctions; nursing care; patient care planning; nursing assessment; emergency nursing; emergency service, hospital; emergency medical services), e espanhol (accidente cerebrovascular; accidente cerebrovascular isquémico; accidente cerebrovascular hemorrágico; infarto de la arteria cerebral anterior; infarto de la arteria cerebral media; infarto de la arteria cerebral posterior; infarto cerebral; infarto encefálico; embolia y trombosis intracraneal; embolia intracraneal; trombosis intracraneal; trastornos cerebrovasculares; infartos del tronco encefálico; atención de enfermería; planificación de atención al paciente; evaluación en enfermería; enfermería de urgencia; servicio de urgencia en hospital; servicios médicos de urgencia).
Seguidamente, as palavras e termos incluídos foram combinados numa estratégia de pesquisa única adaptada de acordo com as especificidades de cada base/repositório utilizado na revisão, com recurso a operadores booleanos (AND, OR e truncatura *). No final, a lista de referências de cada estudo selecionado foi analisada de modo a incluir potenciais estudos.
Pesquisa | Questão de Pesquisa | Número de documentos obtidos |
---|---|---|
#1 | ((((((((((((((((((((((((((((stroke[MeSH Terms]) OR (ischemic stroke[MeSH Terms])) OR (hemorrhagic stroke[MeSH Terms])) OR (infarction, anterior cerebral artery[MeSH Terms])) OR (infarction, middle cerebral artery[MeSH Terms])) OR (infarction, posterior cerebral artery[MeSH Terms])) OR (cerebral infarction[MeSH Terms])) OR (brain infarction[MeSH Terms])) OR (intracranial embolism and thrombosis[MeSH Terms])) OR (intracranial embolism[MeSH Terms])) OR (intracranial thrombosis[MeSH Terms])) OR (cerebrovascular disorders[MeSH Terms])) OR (brain stem infarctions[MeSH Terms])) OR (cva[Title/Abstract])) OR (cerebrovascular accident[Title/Abstract])) OR (cerebrovascular accidents[Title/Abstract])) OR (acute cerebrovascular accident[Title/Abstract])) OR (acute stroke[Title/Abstract])) OR (wake-up stroke[Title/Abstract])) OR (cerebral infarct[Title/Abstract])) OR (vascular cerebral accident[Title/Abstract])) OR (cerebral vascular accident[Title/Abstract])) OR (intracerebral hemorrhage[Title/Abstract])) OR (brain vascular disorders[Title/Abstract])) OR (cerebrovascular diseases[Title/Abstract])) OR (cerebrovascular occlusion[Title/Abstract])) OR (cerebral thrombos?s[Title/Abstract])) OR (cerebral hemorrhage[Title/Abstract])) OR (brain hematoma[Title/Abstract]) | 402 509 |
#2 | ((((((((((((((((nursing care[MeSH Terms]) OR (patient care planning[MeSH Terms])) OR (nursing assessment[MeSH Terms])) OR (emergency nursing[MeSH Terms])) OR (nurse’s role[Title/Abstract])) OR (nursing care management[Title/Abstract])) OR (nursing care plan[Title/Abstract])) OR (nurs*[Title/Abstract])) OR (nursing practice[Title/Abstract])) OR (nursing interventions[Title/Abstract])) OR (nursing intervention[Title/Abstract])) OR (nursing actions[Title/Abstract])) OR (nursing action[Title/Abstract])) OR (nursing assistance[Title/Abstract])) OR (nursing-led[Title/Abstract])) OR (nursing role[Title/Abstract])) OR (emergency care nursing[Title/Abstract]) | 612 417 |
#3 | (((((((((((emergency service, hospital[MeSH Terms]) OR (emergency medical services[MeSH Terms])) OR (emergency hospital service[Title/Abstract])) OR (emergency, hospital services[Title/Abstract])) OR (emergency service[Title/Abstract])) OR (emergency department[Title/Abstract])) OR (emergency room, hospital[Title/Abstract])) OR (emergency room[Title/Abstract])) OR (emergency unit[Title/Abstract])) OR (emergency ward[Title/Abstract])) OR (urgency service[Title/Abstract])) OR (emergencies, hospital service[Title/Abstract]) | 215 604 |
#4 | #1 AND #2 AND #3 | 371 |
#5 | #1 AND #2 AND #3 Filters: from 2011 - 2021 | 212 |
#6 | #1 AND #2 AND #3 Filters: English, French, Portuguese, Spanish, from 2011 - 2021 | 208 |
Seleção dos estudos
A seleção dos estudos para a presente revisão foi realizada por dois investigadores (AF e IS) de acordo com os critérios de inclusão, de forma independente, com base nas informações do título e resumo.
Procedeu-se à análise das pesquisas que atenderam aos critérios de inclusão com leitura de texto integral e excluídas as que não atenderam aos critérios, bem como aquelas em que se verificou duplicação. A leitura do texto integral dos artigos para verificação de cumprimento de critérios de elegibilidade foi realizada por dois investigadores independentes (AF e IS). As divergências encontradas entre os investigadores foram resolvidas através de discussão, realizada em reunião de consenso, para tomada de decisão. Por último, seguiu-se a apresentação da evidência científica considerada mais pertinente e com maior contributo para dar resposta às questões de investigação. Os resultados da seleção dos estudos são relatados na íntegra e apresentados através do diagrama PRISMA Flow Diagram (Page et al., 2021) (Figura 1).
Extração de dados
Os dados foram extraídos por dois investigadores independentes (AF e IS) para uma grelha de colheita de dados construída especificamente para este efeito, alinhados com o objetivo e as questões de investigação. Os resultados são acompanhados por uma síntese narrativa, de acordo com os objetivos da revisão conduzida.
3. Resultados
A pesquisa de estudos publicados e não publicados foi realizada em dez bases de dados. Após as combinações possíveis para a pesquisa nos vários bancos de dados foram identificados no total 917 estudos. Destes, 117 foram excluídos por motivo de duplicação; dos restantes 800 estudos, 752 foram excluídos após análise do título e resumo. Dos 48 estudos considerados para análise de critérios de elegibilidade e leitura de texto integral, 3 não foram recuperados por inacessibilidade ao texto integral e 33 foram excluídos por não cumprirem os critérios de inclusão definidos. Apenas 12 artigos foram incluídos nesta Revisão Scoping. Os artigos incluídos nesta Revisão Scoping evidenciam intervenções de enfermagem implementadas à pessoa vítima de AVC agudo, em contexto de Serviço de Urgência.
Os estudos incluídos na revisão foram publicados entre 2011 e 2021, dos quais oito provenientes dos Estados Unidos da América (EUA), dois da Austrália, um do Brasil e um de Portugal. Resultam de estudos quantitativos, qualitativos, revisões da literatura e declarações científicas baseadas em diretrizes. Os dados dos estudos relativos à identificação dos participantes, objetivos, desfechos clínicos, e outros dados pertinentes, de acordo com os critérios de inclusão, exclusão e questões de investigação, são apresentados na Tabela 2.
Autor/Ano/País/ Tipo de Estudo | Objetivo | População | Resultados | Pontos-Chave |
Ashcraft et al. (2021) / 2021 / EUA / Declaração Científica da AHA baseada em diretrizes | Facultar uma revisão abrangente das evidências científicas sobre o cuidado de enfermagem no contexto pré-hospitalar e de emergência, dotando os Enfermeiros com ferramentas clínicas importantes para prestar cuidados de elevada qualidade baseados em evidências. | - | - Atualização da Declaração Científica da AHA de 2009 sobre a visão geral abrangente dos cuidados de enfermagem e interdisciplinares a implementar à pessoa com AVC agudo no pré-hospitalar e no Serviço de Urgência. - No contexto do Serviço de Urgência é dado enfoque à triagem, aplicação de protocolos estruturados de ativação e atuação no AVC agudo, colaboração no tratamento do AVC isquémico agudo, colaboração no sistema de atendimento à distância e transição de cuidados, promoção de práticas de qualidade e segurança no seio das equipas. - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: triagem, avaliação da gravidade do AVC, avaliação inicial e procedimentos de enfermagem, administração de terapêutica prescrita para tratamento da pessoa com AVC Isquémico agudo, preparação para realização de procedimentos médicos invasivos, transferência/transição de cuidados do Serviço de Urgência, colaboração no sistema de atendimento à distância - Telestroke; e intervenções no domínio da melhoria da qualidade. | - Cuidados de enfermagem implementados à pessoa com AVC agudo no Serviço de Urgência, baseados em diretrizes atualizadas. - Papel do Enfermeiro na liderança e gestão da melhoria da qualidade dos cuidados implementados à pessoa com AVC agudo, no Serviço de Urgência. |
Costa et al. (2020) / 2020 / Portugal / Estudo quantitativo, descritivo e transversal | Analisar as dificuldades dos Enfermeiros na realização da triagem e ativação da Via Verde do AVC. | Vinte e um Enfermeiros do Serviço de Urgência (n = 21) | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: acolhimento, avaliação inicial, triagem, ativação da Via Verde AVC (Code Stroke). - Barreiras identificadas pelos Enfermeiros na implementação da triagem e ativação da Via Verde AVC. | - Papel do Enfermeiro na triagem e avaliação inicial da pessoa com AVC na admissão ao Serviço de Urgência: Via Verde AVC. |
Middleton et al. (2019) / Estudo conduzido entre julho de 2013 e setembro de 2016 / Austrália / Ensaio clínico controlado randomizado, pragmático, cego, multicêntrico, grupo paralelo e cluster | Avaliar a eficácia de uma intervenção, iniciada por Enfermeiros, para melhorar a triagem, o tratamento e a transferência para a pessoa com AVC agudo admitidos no Serviço de Urgência. | Vinte e seis Serviços de Urgência (n = 26), dos quais 13 de intervenção e 13 de controlo; e utentes com AVC (n = 2.242), dos quais 645 pré-intervenção e 1.597 pós-intervenção | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: foco na triagem, tratamento no Serviço de Urgência e transferência imediata para uma unidade de AVC agudo. | - Estudos implementados no Serviço de Urgência são uma prioridade para cuidados de saúde eficientes, seguros e com boa relação custo-benefício. |
Heiberger et al. (2019) / Dados colhidos entre 1 de janeiro de 2017 e 1 de março de 2019 / EUA / Estudo quantitativo retrospetivo | Avaliar o efeito da equipe de triagem da pessoa vítima de AVC liderada por Enfermeiros | Utentes com AVC isquémico agudo elegíveis (n = 95) - Duas coortes constituída por 26 utentes de grupo controlo (n = 26) e 69 casos experimentais (n = 69) - Médias de idade de 72,82 anos | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: liderança na implementação da equipa de AVC, de protocolo de tratamento, triagem rápida e NIHSS. - Verificadas melhorias significativamente diferentes nas métricas, entre o tempo (em minutos) de chegada para o início da TAC (p = 0,001), avaliação do médico da sala de emergência para iniciar a TAC (p = 0,008), contato com neurologistas para iniciar a TAC (p = 0,001) e entre o contacto com o neurologista e início do tratamento (tPA) para os casos elegíveis após a avaliação da equipe de triagem (p = 0,05). - Para outras métricas (como exemplo início de tratamento com tPA, punção de virilha, tempo de permanência do utente), as diferenças observadas foram insignificantes. - A implementação da equipa de AVC liderada por Enfermeiros melhorou as métricas sensíveis ao tempo (em minutos) de cuidados com a pessoa vítima de AVC e aumentou a conformidade institucional com as diretrizes recomendadas. - O programa liderado por Enfermeiros especializados no tratamento da pessoa com AVC melhorou os tempos de porta à agulha de 67,62 minutos para 48,11 minutos. Contudo, a diferença de tempo não foi estatisticamente significativa (p = 0,227). | - Contributo do papel do Enfermeiro na equipa de AVC do Serviço de Urgência, na redução dos tempos porta-agulha e porta-TAC. - Prática de enfermagem baseada em diretrizes. |
Alexandrov et al. (2018) / 2018 / EUA / Estudo piloto observacional multicêntrico | Avaliar a conformidade da implementação das diretrizes americanas (AHA/ASA) para controle da glicémia capilar e temperatura; e a associação com os resultados obtido na pessoa com AVC agudo admitida em 5 centros abrangentes de AVC. | Utentes com AVC agudo (n = 235), dos quais 87% com o diagnóstico de AVC isquémico e 13% com AVC hemorrágico | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: controlo de temperatura corporal e glicémia capilar. - O controlo da glicémia capilar e da temperatura corporal pode ser negligenciado na fase aguda, diagnóstico e tratamento do AVC. - Os Enfermeiros estão bem posicionados para assumir a liderança da monitorização e tratamento de glicémia capilar e temperatura corporal, da pessoa com AVC. | - Monitorização de glicémia capilar e temperatura corporal, suportada por diretrizes dirigidas à prática de enfermagem. |
Hage et al. (2018) / Estudo conduzido desde 1 de janeiro de 2015 a 30 / EUA / Estudo quantitativo retrospetivo | Determinar a eficácia do uso de um protocolo de triagem de oclusão de grandes vasos (ELVO), no Serviço de Urgência pela equipa de enfermagem para melhorar a identificação de utentes elegíveis em comparação com a prática atual, melhorando o tendo para tratamento endovascular. | Amostra de conveniência, setenta e seis utentes com AVC (n = 76), dos quais 36 utentes apresentados nos 4 meses antes da intervenção (n = 36) e 40 utentes apresentados nos 4 meses após a intervenção (n = 40) | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: triagem com recurso a avaliação Stroke VAN. - A implementação da ferramenta de triagem VAN para avaliar os utentes com oclusão de grandes vasos (ELVO) foi associada a tempos reduzidos de angiografia por TAC e a rapidez na identificação de utentes com AVC isquémico elegíveis para tratamento endovascular. - Os tempos médios porta-angiografia por TAC foram reduzidos de 119 para 49 minutos (p < 0,0001) para todas as pessoas e reduzidos de 77 para 27 minutos num subconjunto de pessoas VAN-positivos. | - O uso de um protocolo de triagem para a pessoa com oclusão de grandes vasos, baseado em evidência científica, aplicado pela equipa de enfermagem no Serviço de Urgência melhorou a identificação de utentes elegíveis para tratamento endovascular. |
Santos (2017) / Estudo conduzido entre os meses de maio e junho de 2016 / Brasil / Estudo qualitativo, exploratório e descritivo | Conhecer a atuação dos Enfermeiros no Acolhimento com Classificação de Risco à Pessoa idosa com suspeita de AVC | Dezasseis Enfermeiros do serviço de emergência (n = 16) | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: avaliação inicial e aplicação de protocolos implementados para tratamento do AVC. - Conhecimento do papel do Enfermeiro triador no acolhimento com classificação de risco da pessoa idosa com suspeita de AVC - Aplicação de etapas do processo assistencial que abrange: história de enfermagem, aplicação da Cincinatti Prehospital Stroke Scale e de protocolos específicos para avaliação e intervenção de doenças cerebrovasculares. | - Sinaliza para a importância de uma gestão do cuidado de enfermagem que valoriza questões além dos aspetos biológicos. - Gestão e otimização dos cuidados de enfermagem atempados e com rapidez, norteados por protocolos e diretrizes. |
Hargis et al. (2015) / Estudo conduzido durante 1 mês, de 24 de abril de 2014 a 24 de maio de 2014 / EUA / Estudo qualitativo, exploratório e descritivo | Avaliar potenciais barreiras e atrasos com relação a trombólise para utentes com AVC agudo no Serviço de Urgência | Participantes da Conferência da AHA/ASA Trinta e sete questionários preenchidos de centros de AVC (n = 37) | - Intervenções de Enfermagem evidenciadas: avaliação inicial e estabilização; determinação de peso; execução de procedimentos invasivos; administração de tPA dentro da janela de tempo; requisito de consentimento informado. - Barreiras na administração do tratamento trombolítico intravenoso à pessoa com AVC isquémico agudo no Serviço de Urgência. | - Práticas de enfermagem na administração do tratamento trombolítico intravenoso e fatores condicionantes. |
Middleton et al. (2015) / 2015 / Austrália / Revisão da literatura | Destacar o contributo da equipa de enfermagem para a implementação de cuidados à pessoa com AVC agudo de acordo com as recomendações baseadas em evidência científica para a prática e modelos de enfermagem, durante as primeiras 72 horas desde a admissão ao Serviço de Urgência até transferência para a Unidade de AVC. | - | - Intervenções de enfermagem evidenciadas: triagem, rápida gestão da pessoa com AVC agudo, monitorização e tratamento. - A avaliação e gestão rápida dos cuidados à pessoa com AVC, baseada em evidências, são fundamentais para reduzir a mortalidade e incapacidade. - Papel fundamental para facilitar modelos de cuidados multidisciplinares e melhorar os cuidados de enfermagem baseados em evidência científica. | - Papel do Enfermeiro na implementação de cuidados à pessoa com AVC agudo, no Serviço de Urgência. |
Bergman et al. (2012) / 2012 / EUA / Revisão da literatura | - | - | - Intervenções de enfermagem implementadas: avaliação inicial, aplicação de escalas de avaliação, e abordagem à pessoa com AVC isquémico e hemorrágico. | - Enfermeiros de emergência são membros-chave da equipa de AVC. |
Johnson et al. (2011) / 2011 / EUA / Estudo qualitativo exploratório | Descrever as perceções dos Enfermeiros de emergência sobre as barreiras e facilitadores específicos para o cuidado da pessoa com AVC no Serviço de Urgência. | Amostra de conveniência, Enfermeiros do Serviço de Urgência (n= 10) | - Intervenções de enfermagem evidenciadas: avaliação da pessoa vítima de AVC agudo e implementação de protocolo de AVC. - Evidencia a importância da prestação de cuidados atempada e de alta qualidade dirigidos à pessoa com AVC. - Identificaram-se condicionantes à implementação dos cuidados de enfermagem à pessoa com AVC agudo no Serviço de Urgência: fatores facilitadores e dificultadores agrupados em três categorias. | - Enfermeiros de emergência estão na linha da frente no atendimento da pessoa com AVC. |
Barnard (2011) / 2011 / EUA / Revisão da literatura | - | - | - Intervenções de enfermagem evidenciadas: prevenção de complicações associadas à disfagia da pessoa com AVC agudo e implementação de escala de triagem de disfagia neste contexto. | - Evidencia o papel do Enfermeiro na prevenção de complicações da pessoa com AVC agudo no serviço de Urgência. |
Os estudos incluídos evidenciam as intervenções de enfermagem implementadas no Serviço de Urgência à pessoa vítima de AVC agudo. De forma a sistematizar a informação extraída e facilitar a consulta da mesma foram elaboradas as tabelas seguintes (Tabela 3, 4, 5, 6, 7 e 8), que reúnem a síntese das evidências.
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
Triagem1, 2, 3, 6, 7, 8, 9, 10 | - Avaliação rápida da presença de sinais e sintomas de AVC1 - Aplicação de instrumentos de triagem rápida: Los Angeles Prehospital Stroke Screen 9 , Cincinnati Prehospital Stroke Scale (avalia a assimetria da face, ausência ou diminuição de força muscular e dificuldade na fala)7, 10, do acrónimo FAST (Face, Arm, Speech, Time)8, 9, 10 ou Recognition of Stroke in the Emergency Room Scale 9 - Deteção de sinais e sintomas corticais de AVC por oclusão de grandes vasos (emergent large vessel occlusion - ELVO)6, com recurso à aplicação de instrumento de triagem Stroke VAN (Visão, Afasia, Negligência)6 , que inclui: Presença de fraqueza muscular nos membros superiores durante 10 segundos (“estende os braços com as palmas da mão viradas para cima durante 10 segundos?”) Se não (VAN negativo) e terminado exame Se sim (VAN positivo), avaliar VAN (Visão, Afasia, Negligência) VAN negativo: nenhuma fraqueza ou evidência de V, A ou N VAN positivo: fraqueza mais um ou todos os V, A ou N (Visão, Afasia, Negligência) - Triagem com recurso ao Sistema de Triagem de Manchester2, 7, Emergency Severity Index (ESI)1, Canadian Triage Scoring System 1 e a Australasian Triage Scale (ATS) 1, 3 |
Avaliação da gravidade do AVC1, 7, 8, 9, 10, 11 | - Avaliação da gravidade do AVC realizada com aplicação de escalas: National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS) 1, 7, 8, 9, 10, 11, que contempla a avaliação de 11 itens, nomeadamente o Nível de Consciência, Melhor Olhar Conjugado, Campos visuais, Parésia Facial, Membros Superiores, Membros Inferiores, Ataxia de membros, Sensibilidade, Melhor linguagem, Disartria, Extinção e Desatenção. |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021); 2Costa et al. (2020); 3Middleton et al. (2019); 6Hage et al. (2018); 7Santos (2017); 8Hargis et al. (2015); 9Middleton et al. (2015); 10Bergman et al. (2012); 11Johnson et al. (2011).
A triagem é evidenciada nos estudos como sendo uma das intervenções de enfermagem implementadas no Serviço de Urgência (Bergman et al., 2012; Middleton et al., 2015; Hargis et al., 2015; Santos, 2017; Hage et al., 2018; Middleton et al., 2019; Costa et al., 2020; Ashcraft et al., 2021). Os Enfermeiros desempenham um papel fundamental na rápida identificação e triagem da pessoa vítima de AVC agudo na admissão ao Serviço de Urgência, contribuindo para a redução da sua mortalidade e incapacidade (Middleton et al., 2015; Hage et al., 2018; Costa et al., 2020; Ashcraft et al., 2021). Podem ser os primeiros elementos da equipa multidisciplinar a iniciar e mobilizar a equipa de reposta de AVC (Ashcraft et al., 2021).
Os instrumentos de avaliação rápida e de triagem aplicáveis à pessoa com AVC agudo, utilizados por Enfermeiros, neste contexto, revelaram-se válidos e eficazes na prática de cuidados, na redução dos tempos de realização de MCDT’s, na identificação correta de pessoas vítimas de AVC elegíveis para a assistência e tratamento adequado (Bergman et al., 2012; Hargis et al., 2015; Middleton et al., 2015; Santos et al., 2017; Hage et al., 2018; Ashcraft et al., 2021). A Classificação de Risco de AVC tem sido, cada vez mais, uma intervenção implementada essencial e com aplicabilidade no contexto da prática de enfermagem (Johnson et al., 2011; Bergman et al., 2012; Middleton et al., 2015; Hargis et al., 2015; Santos, 2017; Ashcraft et al., 2021). Para este efeito, os estudos fazem referência à National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS) que fornece uma avaliação mais abrangente dos sinais e sintomas de AVC em comparação com a Escala de Coma de Glasgow (Bergman et al., 2012; Hargis et al., 2015; Middleton et al., 2015; Santos, 2017; Ashcraft et al., 2021). Os Enfermeiros certificados na aplicação da NIHSS podem realizar a avaliação inicial e rastrear défices específicos no caso da pessoa com AVC agudo e elegível para tratamento trombolítico (Ashcraft et al., 2021).
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
Ativação do Sistema de Resposta Rápida de AVC (Code Stroke) 1, 2, 7, 9, 11 | - Ativação da equipa de AVC1,7, 11 - Ativação da Via Verde AVC2 - Ativação de sistema de alerta de AVC9 |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021); 2Costa et al. (2020); 7Santos (2017); 9Middleton et al. (2015); 11Johnson et al. (2011).
Os estudos evidenciam a importância das intervenções de enfermagem seguindo protocolos de Ativação de Reposta Rápida de AVC (Johnson et al., 2011; Middleton et al., 2015; Santos, 2017; Costa et al., 2020; Ashcraft et al., 2021). A prática de enfermagem dirigida à pessoa com AVC agudo com recurso a protocolos de atuação padronizados permitem minimizar o tempo de espera e facilitar a identificação precoce da pessoa com défices neurológicos, beneficiando a oportunidade terapêutica (Santos, 2017). A principal responsabilidade da equipa de enfermagem em contexto de Serviço de Urgência é de coordenação do Sistema de Ativação de Reposta Rápida de AVC (Code Stroke) (Ashcraft et al., 2021).
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
Acolhimento e Avaliação inicial1, 2, 3, 4, 7, 10 | - Entrevista de enfermagem7 - Cuidado holístico7 - Estabelecimento de relação terapêutica7 - Colheita de dados sobre o tempo de início dos sintomas de AVC1, 4, 10 - Colheita de dados sobre a história de início de sintomas, antecedentes pessoais e de saúde e status de saúde atual, alergias e lista de medicação habitual1, 7, 10 - Realização de exame neurológico rápido, com aplicação da escala NIHSS1 - Colheita de dados sobre pontuação NIHSS, avaliação de oclusão de grandes casos, contraindicações de tPA4 - Assistência no acolhimento do utente e admissão direta à TAC4 |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021); 2Costa et al. (2020); 3Middleton et al. (2019); 4Heiberger et al. (2019); 7Santos (2017); 10Bergman et al. (2012).
A evidência científica aponta para a relevância do acolhimento e da avaliação inicial da pessoa com AVC agudo, em contexto de Serviço de Urgência (Bergman et al., 2012; Santos, 2017; Heiberger et al., 2019; Middleton et al., 2019; Costa et al., 2020; Ashcraft et al., 2021). Apesar da necessidade de identificação rápida e precoce, que a situação patológica aguda exige, Santos (2017) ressalva a importância do cuidado holístico no acolhimento da pessoa com AVC agudo. A qualidade do atendimento deve transpor para além da identificação e intervenção relacionadas à dimensão biológica, uma vez que a pessoa é um ser humano e multidimensional (Santos, 2017). Durante a avaliação inicial o Enfermeiro realiza a entrevista para identificação do status de saúde atual, o início dos sintomas, fatores de risco de AVC - modificáveis e não modificáveis -, sinais de alerta e de possíveis complicações e contra-indicações (Bergman et al., 2012; Santos, 2017; Heiberger et al., 2019). A avaliação neurológica e o reconhecimento precoce de sinais e sintomas de AVC são fundamentais, permitindo o acesso ao tratamento adequado e em tempo útil (Bergman et al., 2012).
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
Estabilização1,8 e Procedimentos de enfermagem1, 3, 5, 9, 12 | - Avaliação rápida da permeabilidade da via aérea, ventilação e circulação (Abordagem ABC)1 - Avaliação do estado de consciência7 - Monitorização da pressão arterial1, 9 - Monitorização da glicémia capilar1, 3, 5, 9 - Monitorização da temperatura e controlo de hipertermia3, 5, 9 - Monitorização de SpO2, para valores alvo9 - Monitorização do traçado cardíaco (pelo menos nas primeiras 24 horas)9 - Preparação para realização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT’s), como exemplo a tomografia axial computorizada (TAC) e angiografia1 - Acompanhamento do utente até à TAC e durante o tempo de duração do exame4 - Inserção de 2 acessos venosos1 e 4 - Colheita de análises laboratoriais 1 e 4 - Avaliação para elegibilidade para tPA3 - Determinação do peso corporal para tPA: 8 - Avaliação da deglutição (triagem da deglutição ou a sua avaliação dentro de 24horas após admissão, antes de iniciar a ingestão de alimentos, líquidos ou terapêutica oral)3, 9, 12 - Dieta zero por via oral3 - Inserção de cateter urinário8 - Inserção de sonda nasogástrica8 - Vigilância de sinais febris5 - Monitorização do equilíbrio hidroeletrolitico9 - Cuidados preventivos minimizando ocorrência de quaisquer complicações associadas a disfagia, infeções e síndrome de reposta inflamatória sistémica3, 5, 11, 12 - Avaliação abrangente de cuidados de enfermagem: necessidades nutricionais, hidratação, posicionamento, mobilização, controlo urinário, risco de úlcera por pressão, capacidade cognitiva e de linguagem, necessidades auditivas e visuais, necessidades da família / cuidador9 |
Colaboração no tratamento da pessoa com AVC agudo1, 3, 9 | - Administração de tPA intravenoso para utentes elegíveis1, 3, 9 Administração de terapêutica para a pessoa com AVC isquémico agudo1: Administração de ativador do plasminogénio tecidular humano recombinante (tPA), mais propriamente alteplase, nas primeiras 3 horas do início dos sintomas (derivado do ensaio original, experimental e colaborativo do National Institute of Neurologival Disorders and Stroke, aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) desde 1996)1 - Dose de alteplase é de 0,9mg/kg, máximo de 90 mg administrado durante 60 minutos, com administração inicial de 10% da dose total em bólus ao longo de 1 minuto1 - Reconstituição, preparação e administração do farmaco1 - Monitorização de ritmo de perfusão1 |
Preparação para realização de procedimentos médicos invasivos1 | - Preparação, coordenação e transferência da pessoa para realização de trombectomia mecânica1 |
Transferência do Serviço de Urgência1, 3 | - Transferência para unidade de AVC e/ou Cuidados intensivos1 e 3 - Transição de cuidados entre equipas1 |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021); 3Middleton et al. (2019); 4Heiberger et al. (2019); 5Alexandrov et al. (2018); 8Hargis et al. (2015); 9Middleton et al. (2015); 11Johnson et al. (2011); 12Barnard (2011).
A estabilização, monitorização de parâmetros vitais, a implementação de procedimentos invasivos, administração do tratamento prescrito e prevenção de complicações são intervenções de enfermagem evidenciadas nos estudos incluídos (Barnard et al., 2011; Middleton et al., 2015; Hargis et al., 2015; Alexandrov et al., 2018; Heiberger et al., 2019; Middleton et al., 2019; Ashcraft et al., 2021). Na abordagem da pessoa vítima de AVC agudo, no Serviço de Urgência, o Enfermeiro deve realizar uma avaliação rápida da permeabilidade da via aérea, ventilação e circulação, segundo metodologia ABC, avaliar o estado de consciência, monitorizar os sinais vitais e o traçado eletrocardiográfico, a temperatura corporal, a glicémia capilar e o peso corporal (Middleton et al., 2015; Santos, 2017; Alexandrov et al., 2018; Middleton et al., 2019; Ashcraft et al., 2021). A prevenção de complicações imediatas associadas à hiperglicemia, hipertermia e disfagia, nomeadamente a pneumonia por aspiração, é uma intervenção fundamental neste contexto e do domínio da esfera de ação dos Enfermeiros (Barnard, 2011; Middleton et al., 2015; Alexandrov et al., 2018; Middleton et al., 2019). A realização de procedimentos invasivos, como o cateterismo vesical e a entubação nasogástrica, são executados antes da administração do tratamento com tPA, quando indicado (Ashcraft et al., 2021; Heiberger et al., 2019; Hargis et al., 2015).
Considerada pelos autores a “era de reperfusão”, onde o tempo é considerado uma métrica de especial importância, é evidenciada a liderança e cooperação dos Enfermeiros na implementação célere dos cuidados à pessoa vítima de AVC. Estudos corroboram o contributo do papel do Enfermeiro na equipa de AVC do Serviço de Urgência, na redução dos tempos porta-TAC e porta-agulha, embora a diferença de tempo não seja estatisticamente significativa (p = 0,227) (Heiberger et al., 2019). A administração de tratamento trombolítico intravenoso (tPA) para utentes elegíveis, mais propriamente Alteplase®, deve seguir as recomendações e posologia conforme aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) (Ashcraft et al., 2021).
A preparação, coordenação, transferência e acompanhamento da pessoa vítima de AVC agudo para e durante a realização de MCDT (como exemplo TAC e angiografia) e tratamentos (como exemplo, a trombectomia mecânica) está, também, evidenciado nos estudos (Heiberger et al., 2019; Ashcraft et al., 2021). A transferência e transição de cuidados é considerada como um momento de maior vulnerabilidade. Promover transições de cuidados bem-sucedidas, garantindo a continuidade dos cuidados e a coordenação das equipas, a transferência segura, a melhoria da qualidade do atendimento e a redução dos riscos inerentes, é foco da intervenção da equipa de enfermagem dirigida à pessoa vítima de AVC agudo, no Serviço de Urgência (Ashcraft et al., 2021).
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
- Colaboração no sistema de atendimento à distância (Telestroke) 1 | - Comunicação eficaz com a pessoa, família e equipa de AVC1 - Otimização da comunicação1 - Contato inicial com a pessoa suspeita e/ou vítima de AVC agudo e o teleneurologista1 - Esclarecimento de dúvidas sobre como se processa o procedimento e em que formato (como exemplo: via videoconferência)1 - Promove interação terapêutica entre o médico e a pessoa vítima de AVC agudo1 - Otimização do ambiente físico da sala, posicionamento do corpo da pessoa vítima de AVC agudo em relação à camara1 - Colaboração na avaliação neurológica e colheita de dados à distância, via videoconferência1 |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021).
As intervenções do âmbito comunicacionais com a pessoa vítima de AVC agudo, com a família/acompanhante e com a equipa multidisciplinar são mencionada como uma intervenção essencial e facilitadora do acesso aos cuidados à pessoa vítima de AVC (Ashcraft et al.2021). É dado destaque às novas estratégias de atendimento e comunicação - sistemas de atendimento à distância (telestroke) - como parte integrante dos cuidados à pessoa vítima de AVC agudo (Ashcraft et al., 2021). Nesta modalidade o Enfermeiro desempenha um papel fundamental na colheita de dados via videoconferência, interação terapêutica, mitigação de eventuais atrasos causados por falha inerentes aos serviços informáticos, contribuindo para o acesso aos cuidados equitativo e redução da taxa de mortalidade e morbilidade da pessoa com AVC (Ashcraft et al., 2021). O envolvimento do familiar é, também, importante para a avaliação, história clinica e tomada de decisão relativa ao tratamento a implementar (Ashcraft et al., 2021).
Intervenções de Enfermagem | Caraterísticas das Intervenções de Enfermagem |
- Intervenções no domínio da melhoria da qualidade1, 3, 4, 5, 6, 7, 9,12 | - Participação ativa na formação contínua e treino de competências avançadas1 - Conceção de projetos de melhoria da qualidade com vista a melhorias mensuráveis na saúde da pessoa vítima de AVC agudo e do atendimento dos serviços de saúde1 - Otimização do processo de notificação e comunicação multidisciplinar pré-hospitalar e intra-hospitalar 2, 11 - Práticas de enfermagem baseadas em evidência cientifica1, 4, 5, 6, 9, 12 - Implementação de protocolos de triagem rápida, NIHSS, monitorização, vigilância, tratamento e transferência3, 4, 7 - Aplicação de escalas validadas1, 6, 7, 8, 9, 10, 11 - Realização de estudos de investigação no Serviço de Urgência3 |
Fonte: 1Ashcraft et al. (2021); 3Middleton et al. (2019); 4Heiberger et al. (2019); 5Alexandrov et al. (2018); 6Hage et al. (2018); 7Santos (2017); 8Hargis et al. (2015); 9Middleton et al. (2015); 10Bergman et al. (2012); 11Johnson et al. (2011); 12Barnard (2011).
O cuidado à pessoa com AVC agudo é cada vez mais complexo, exigindo dos Enfermeiros intervenções especializadas no domínio da qualidade (Ashcraft et al., 2021). A prática de enfermagem suportada por evidência científica atual; a participação ativa na formação contínua; a otimização do processo de notificação e comunicação multidisciplinar pré e intra-hospitalar; a implementação de protocolos e escalas validadas; a realização de estudos de investigação e de projetos de melhoria da qualidade, são mencionados como intervenções implementadas pelos Enfermeiros promotoras da melhoria da qualidade e segurança dos cuidados à pessoa vítima de AVC agudo, do atendimento no Serviço de Urgência (Barnard, 2011; Middleton et al., 2015; Santos, 2017; Hage et al., 2018; Alexandrov et al., 2018; Heiberger et al., 2019; Middleton et al., 2019; Ashcraft et al., 2021).
4. Discussão
Os Enfermeiros do Serviço de Urgência desempenham um papel vital e de destaque no atendimento da pessoa com AVC agudo (Johnson et al., 2011; Ashcraft et al., 2021). São fundamentais no acolhimento, identificação, triagem, ativação de protocolos de reposta rápida ao quadro clínico do AVC, avaliação inicial, avaliação de risco de AVC, estabilização hemodinâmica, monitorização, execução de procedimentos invasivos (como exemplo, cateterismo venoso periférico, cateterismo vesical, entubação nasogástrica), administração de fármacos por via intravenosa, preparação para realização de procedimentos médicos invasivos (como exemplo, trombectomia mecânica), prevenção e deteção precoce de complicações e/ou eventos adversos, transferência, colaboração no serviço de atendimento à distância à pessoa com AVC agudo, bem como na implementação de intervenções no domínio da qualidade (Barnard, 2011; Johnson et al., 2011; Bergman et al., 2012; Hargis et al., 2015; Middleton et al., 2015; Santos, 2017; Alexandrov et al., 2018; Hage et al., 2018; Heiberger et al., 2019; Middleton et al., 2019; Costa et al., 2020; Ashcraft et al., 2021).
As intervenções implementadas pela equipa de enfermagem no Serviço de Urgência são de extrema relevância, podendo influenciar os ganhos em saúde e o desfecho final, relativamente ao acesso atempado aos cuidados, mortalidade, funcionalidade e qualidade de vida da pessoa vítima de AVC agudo (Costa et al., 2020, Hage et al., 2018). Considerando a gravidade clínica da pessoa vítima de AVC agudo e as suas especificidades, é importante que o Enfermeiro valorize o cuidado holístico e seja capaz de, além de restabelecer a saúde física, acolher o utente e estabelecer um vínculo que possibilite a construção de uma relação terapêutica eficaz (Santos, 2017).
Os Enfermeiros realizam a colheita de dados dos elementos-chave da histórica clínica do utente, incluindo a última hora em que este se encontrava sem sinais/sintomas, antecedentes de saúde com descrição dos fatores de risco modificáveis e não modificáveis, status de saúde atual, sinais vitais, alergias e medicação habitual (Santos, 2017; Bergman et al., 2012; Ashcraft et al., 2021). Na triagem desempenham um papel fundamental na avaliação, priorização do atendimento, identificação e encaminhamento dos utentes (Costa et al., 2020). A experiência profissional pode contribuir para a melhoria da tomada de decisão no momento da triagem (Costa et al., 2020).
O reconhecimento precoce de sinais e sintomas de AVC é essencial para providenciar a assistência necessária e o tratamento rápido e oportuno, que é baseada no fator tempo, ou seja, no tempo em que os sinais e sintomas de AVC se iniciaram (Bergman et al., 2012; Costa et al., 2020). Atuam com rapidez, competência e com elevado nível de conhecimentos baseados em evidência científica, diretrizes, protocolos de atuação e de condutas norteadoras, garantindo e melhorando a identificação dos utentes elegíveis para o tratamento adequado, a implementação do tratamento apropriado dentro do período janela recomendado, a redução dos tempos porta-TAC e porta-agulha, colaborando na otimização de processos terapêuticos complexos (Hage et al., 2018; Heiberger et al.; 2019; Ashcraft et al., 2021).
As primeiras horas após o início dos sinais e sintomas são essenciais para a eficácia do tratamento, e consequentemente, da sobrevivência da pessoa vítima de AVC. Atualmente a AHA/ASA recomenda uma avaliação inicial da pessoa mais rápida (dentro da janela temporal de 30 minutos); realização de TAC de crânio obtida em 20 minutos após a chegada da pessoa ao Serviço de Urgência; a administração de tPA intravenoso à pessoa vítima de AVC isquémico agudo iniciado dentro de 60 minutos da chegada ao Serviço de Urgência; e trombectomia mecânica para a pessoa vítima de AVC agudo dentro de 6 horas após o início dos sintomas (Powers, et al., 2018; Turc et al., 2019; Ashcraft et al., 2021).
A formação contínua dirigida, a implementação de protocolos de atuação baseados nas diretrizes científicas atualizadas e de estudos de investigação devem ser uma prioridade para os Enfermeiros que prestam cuidados nos Serviços de Urgência, contribuindo para uma melhor prática. A certificação e especialização de competências de enfermagem avançadas é, cada vez mais, essencial atendendo à complexidade do cuidado à pessoa com AVC agudo.
Sugere-se a realização de estudos primários que evidenciem a implementação de intervenções autónomas de enfermagem implementadas no Serviço de Urgência à pessoa vítima de AVC e sua família, o seu impacto na melhoria da qualidade dos cuidados (outcomes) e ganhos em saúde.
Conclusão
Os Enfermeiros do Serviço de Urgência desempenham um papel imprescindível no atendimento da pessoa vítima de AVC agudo e da sua família, contribuindo para a melhoria da excelência dos cuidados. Posicionam-se na vanguarda dos cuidados de saúde assumindo cada vez mais um papel de liderança, coordenação e gestão de protocolos e de procedimentos terapêuticos complexos.
A revisão Scoping permitiu identificar e mapear intervenções de enfermagem efetivas implementadas no Serviço de Urgência à pessoa vítima de AVC agudo. Constatou-se a existência de evidências científicas que suportam as intervenções de enfermagem autónomas e interdependentes. O acolhimento, a triagem, ativação de protocolos de reposta rápida de AVC, avaliação inicial, avaliação de risco de AVC, a aplicação de escalas, a estabilização, monitorização de sinais vitais, execução de procedimentos de enfermagem invasivos, a administração de tratamento intravenoso, preparação e acompanhamento para realização de MCDT, preparação para realização de procedimentos médicos invasivos, avaliação da disfagia, deteção precoce de complicações, transferência/transição de cuidados, colaboração no serviço de atendimento à distância, bem como a implementação de intervenções no domínio da qualidade, são práticas de enfermagem implementadas no Serviço de Urgência à pessoa vítima de AVC agudo antes da realização do exame imagiológico que determinará, primeiro, o diagnóstico e, segundo, o tratamento recomendado. A formação contínua e o treino de competências especializadas são essenciais para garantir a qualidade dos cuidados de enfermagem à pessoa vítima de AVC agudo no Serviço de Urgência.
Como contributo desta investigação, assume-se -se que a evidência científica incluída na revisão Scoping seja uma mais-valia para que os profissionais de saúde, em particular os Enfermeiros, possam refletir sobre as intervenções de enfermagem implementadas à pessoa vítima de AVC agudo, atualizar o conhecimento e as práticas de cuidados efetivas e seguras, bem como, identificar lacunas passíveis de melhoria.
Espera-se que a revisão Scoping realizada suporte o desenvolvimento de procedimentos de enfermagem para aplicação nos contextos da prática, que garantam a eficiência, qualidade e segurança dos cuidados à pessoa vítima de AVC agudo; bem como a formulação de questões de investigação de estudos, primários ou secundários, futuros.