A informação fóssil mostra que a diversidade em espécies aumentou paulatinamente desde a emergência da vida há cerca de 3.500 milhões de anos. O número de espécies de plantas terrestres progrediu num crescendo inexorável, pontualmente interrompido por catástrofes naturais, desde a sua evolução, algures nas margens de um curso de água doce no Carbónico Superior/Ordovícico inferior. Nunca coexistiram tantas espécies de seres vivos e de plantas no planeta Terra como no Holocénico (últimos 11.500 anos). Quer isto dizer que, em média, a taxa de especiação foi naturalmente superior à taxa de extinção, ainda que permeada por eventos catastróficos.
Em ciência, os conceitos são mais ou menos consistentes, e as teorias e as hipóteses corroboradas (confirmadas) ou refutadas (eliminadas) com base na evidência observacional e/ou experimental. Cientistas e não cientistas são livres de propor explicações alternativas, porém, em ciência, ninguém escapa à tirania dos factos: quem desafia uma hipótese ou uma teoria tem de provar que os dados que as sustentam estão errados ou propor explanações alternativas plausíveis, que compreendam toda a evidência disponível. A rejeição em definitivo de uma teoria depende do escrupuloso cumprimento de uma destas duas condições. Numa época de relativização da evidência e da ciência e, em particular, da ciência da biodiversidade, é crucial ter presente que o formidável corpo de observações acumulado na última década mostra, de forma perentória, que o biota terrestre enfrenta uma nova extinção em massa, desta vez mediada por uma espécie invulgarmente sucedida: o homem.
Hoje, a taxa de extinção de espécies por causas antrópicas ultrapassa largamente a taxa de especiação e, tudo indica, que esta tendência perenizou. Além de um valor intrínseco, a diversidade biológica tem um papel fundamental na manutenção de condições propícias à subsistência da espécie humana. Um mundo severamente depauperado em diversidade biológica poderá não ser habitável. O nosso destino como espécie está indelevelmente ligado ao futuro da diversidade biológica.
A distribuição da biodiversidade e das ameaças que sobre ela pendem é desigual à escala planetária. Em 1988, Norman Meyers propôs o conceito de hotspot de biodiversidade numa tentativa de operacionalizar a identificação das regiões do globo onde deve ser concentrada a atenção dos cientistas da biodiversidade, e o investimento em conservação.
Os hotspots são caracterizados por níveis excepcionais de endemismo e por perdas massivas de habitat. Atualmente são aceites 35 hotspots de biodiversidade. Também relevante do ponto de vista político é o facto de muitos países de expressão portuguesa terem uma parte significativa, ou a totalidade do seu território integralmente abrangido por estes hotspots de diversidade. É o caso do Cerrado e da Floresta Atlântica no Brasil, das florestas costeiras de Moçambique, das florestas do sudoeste da Guiné-Bissau, da parte de macrobioclima mediterrânico de Portugal Continental e do arquipélago da Madeira, ou de Timor, que integra uma unidade biogeográfica designada por Wallacea. Ainda no âmbito do espaço da CPLP, ocorrem centros de origem de importantes géneros de plantas como o género Aloe em Angola, ou de plantas cultivadas como a mandioca, o amendoim ou a abóbora-menina (Cucurbita maxima) no Brasil, ou da melancia na região da Guiné. A biodiversidade do espaço da CPLP, nas suas múltiplas dimensões, tem uma relevância global.
Este volume da revista RILP celebra a diversidade biológica no espaço da CPLP e, simultaneamente, é um alerta para a necessidade de investir no seu estudo e conservação. Os artigos agora reunidos, e o curriculum dos seus autores, provam que existem competências que falam português para esta tarefa existencial. E o planeta Terra, e a vastidão dos seus ocupantes, agradecem toda a atenção que se lhe possa dispensar.