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Toxicodependências
versão impressa ISSN 0874-4890
Toxicodependências v.16 n.2 Lisboa 2010
Algumas reflexões esparsas sobre temas actuais:
O discurso social sobre as drogas e as toxicodependências em Portugal não permite elaborar uma imagem consistente do que se passa de facto. Com efeito, dispomos de um conjunto de dados que têm sido publicados sobre a evolução do fenómeno no nosso país, graças fundamentalmente ao IDT; no entanto, talvez devido à sua restrita circulação, o discurso social não se baseia neles (ou em outros), sendo antes resultado de especulações gratuitas ou interessadas que exprimem um conjunto de apreciações da realidade contraditórias. É tempo de procurar intervir nesta situação, produzindo trabalhos que, de uma forma acessível e rigorosa, permitam a formação duma opinião pública mais esclarecida.
Uma organização viva e actuante, sempre em transformação para poder responder aos desafios da realidade e que vai envelhecendo como todas as organizações humanas, encontra-se muitas vezes exposta a riscos que podem e devem ser acautelados. A desejável renovação dos quadros tem que ser acompanhada de uma actividade formativa permanente, que tenha em conta o lastro positivo da instituição e as novas intervenções e desafios. Essa formação, feita de muitas formas, desde a formação ombro a ombro até à nossa revista, deveria ter também uma componente institucionalizada.
Em tempos não muito distantes, o então SPTT executou, durante 6 anos (1996-2002), o Programa de Formação Permanente em Prevenção das Toxicodependências. Mais de duas centenas de profissionais com vínculo ao Serviço concluíram com sucesso esse programa de formação de 375 horas, sendo 60 % de formação prática. Na hora actual, outros modelos programáticos seriam recomendáveis, que integrassem novos saberes – nomeadamente na área das Neurociências – e em parceria com Instituições Universitárias, rentabilizando as potencialidades da valorização curricular e da circulação do conhecimento científico que decorrem da implementação da estratégia europeia vertida na Declaração de Bolonha. O IDT deveria ter, nessa perspectiva, um papel preponderante para garantir rigor e coerência na intervenção dos seus profissionais na comunidade.
A investigação na área das toxicodependências tem-se desenvolvido consistentemente nos últimos anos, embora mais lentamente do que seria desejável. E só esse desenvolvimento tem permitido que Toxicodependências se mantenha. Refira-se, a este propósito, o que escreveram em 2009 (*) GONZALEZ-ALCAIDE, G. ET AL: “Apenas uma revista especializada no âmbito do Abuso de Substâncias (Toxicodependências) aglutina a maior parte da investigação nacional (41,14 % dos trabalhos)”.
Mas gostaríamos que o rigor destes trabalhos fosse cada vez maior e que pudessem existir locais diferentes dos congressos tradicionais, vocacionados para a discussão desses trabalhos, em que a crítica pudesse ser encarada como um contributo positivo para a melhoria da investigação.
(*) Gregorio Gonzalez-Alcaide et al. “A investigação sobre toxicodependências em Portugal: produtividade, colaboração científica, grupos de trabalho e âmbitos de investigação abordados”, Toxicodependências, 15, 2, 13-34.