CASO CLÍNICO
Doente do sexo feminino, com 75 anos de idade, sem antecedentes pessoais relevantes, recorreu à consulta por lesão cutânea dolorosa localizada à face plantar do retropé esquerdo, com 3 anos de evolução e crescimento progressivo. Negava história prévia de traumatismo ou infeção. Ao exame objetivo apresentava placa hiperqueratósica aderente, com 12x7 mm, que após ser destacada evidenciava tecido friável rosado (Fig. 1).
Procedeu-se a biopsia excisional da lesão, cujo estudo histopatológico evidenciou, sob uma epiderme acantósica e hiperqueratósica, uma lesão nodular na derme profunda, bem circunscrita, constituída por células eosinófilas com citoplasma vacuolizado e núcleos alongados de extremidade troncada, que constituíam feixes ou nódulos circundando numerosos vasos capilares. No seio desta proliferação fusocelular observava-se extensa calcificação com focos de eliminação epidérmica (Fig.s 2 e 3).
Após a exérese da lesão verificou-se uma resolução das queixas álgicas e ausência de recidiva clínica, até à data atual.
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Figura 2 H&E x 20. Lesão nodular circunscrita localizada na derme profunda. Área intensamente basófila de contornos espiculados traduzindo extensa calcificação com eliminação epidérmica.
DISCUSSÃO
Os angioleiomiomas cutâneos são neoplasias benignas com origem perivascular que se apresentam tipicamente como lesões solitárias dolorosas localizadas nos membros inferiores de mulheres.1 A dor está presente em mais de 50% dos casos, podendo estar relacionada com isquémia vascular ou compressão nervosa.2
O angioleiomioma acral calcificado é uma variante rara do angioleiomioma, com menos de 30 casos descritos na literatura. Nesta variante, ocorre calcificação no seio da neoplasia, que parece estar associada a um processo degenerativo relacionado com traumatismos minor repetitivos. Clinicamente a principal diferença é a predileção pelas localizações acrais, nomeadamente o pé, área que o angioleiomioma clássico tende a poupar.3
A biópsia excisional é o método estandardizado para o diagnóstico e tratamento. Após a excisão é recomendada uma avaliação periódica.
Em caso de recorrência, deve ser realizada re-excisão com revisão histológica de forma a excluir a ocorrência de leiomiossarcoma ou angioleiomiossarcoma.4