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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia
versão impressa ISSN 0430-5027
Finisterra no.99 Lisboa jun. 2015
NOTÍCIA
O professor Fernando Rebelo (1943-2014), colega e amigo
Suzanne Daveau1
1Professora Catedrática de Geografia (aposentada), antiga investigadora do Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa. E-mail: sdaveau@clix.pt
Em 2008 o Professor Fernando rebelo dedicou um livro de homenagem à Geografia Física de Portugal na Vida e Obra de Quatro Professores Universitários, expressando assim, deste modo discreto e generoso que lhe era habitual, tanto a sua profunda ligação à parte básica da geografia, este soco natural que condiciona tantos aspectos das implantações humanas, como a sua sólida radicação na Universidade de Coimbra, desde aluno até reitor e, ainda, a sua constante e proveitosa ligação ao núcleo dos geógrafos lisboetas. Com efeito, os quatros Professores evocados foram Amorim Girão, Orlando Ribeiro, Fernandes Martins e Pereira de Oliveira.
Contou nesse livro como em 1962 veio de propósito a Lisboa, para uma conferência de Orlando Ribeiro: “tinha 19 anos e estudava geografia em Coimbra quando pela primeira vez viajei até Lisboa. O motivo foi ouvir Orlando Ribeiro”. Mas será em 1967 que as suas relações se estreitariam quando, sendo sujeito a um serviço militar que ia durar “três anos e três meses”, e verificando que grande parte decorreria em Lisboa, entabulou relações com o Centro de estudos geográficos lisboeta. Orlando Ribeiro “acolheu-me com uma bolsa que considerou simbólica, mas que, para mim, naquele momento, se revelou muito importante”. E foi assim que o jovem Fernando Rebelo se tornou um dos eficazes colaboradores, sob a direcção do Professor Ilídio do Amaral, da preparação do volume Ii da preciosa Bibliografia Geográfica de Portugal, que íamos conseguir apenas publicar em 1982.
Durante várias décadas, as relações entre os dois Centros de investigação continuaram muito vivas. Fernando Rebelo, a seguir ao seu primeiro estudo sobre o traçado do rio Dueça, consagrou a tese de doutoramento, em 1975, às Serras de Valongo franqueadas pelo rio Douro, um outro problema difícil de traçado fluvial. Tive o prazer de o acompanhar mais de uma vez no seu terreno de investigação, mas foi sobretudo a dois passos de Coimbra, na região da Lousã, “este autêntico laboratório avançado, igualmente aberto a todos os que estavam interessados em aprender algo de novo” que, nos anos 70, se multiplicaram os encontros de campo entre os geógrafos lisboetas, que tentavam desembrulhar o nó de problemas ali equacionados por Pierre Birot e Orlando Ribeiro nos anos 1937-38, e o entusiasta grupo de jovens e atléticos geomorfólogos de Coimbra, liderados por um professor um pouco mais velho, Fernando Rebelo.
Em breve, ele ia tornar-se num organizador eficaz e generoso, não hesitando em sacrificar as próprias investigações para ajudar a formação e as realizações de numerosos discípulos, tanto em Coimbra como nos centros universitários que se iam multiplicando na parte norte do país. A sua discrição natural fez com que pouca gente soubesse quanto a sua actuação foi útil para incentivar, dirigir, promover, publicar os estudos de numerosos jovens. Como vice-reitor de 1986 a 1996 e na qualidade de reitor entre 1998 e 2002, teve importantes responsabilidades organizativas. e não hesitava em sacrificar algumas semanas estivais para ir visitando universidades estrangeiras à procura de sugestões de desenvolvimento e modernização.
Notável foi também o seu papel na promoção de instrumentos de difusão dos resultados das investigações, primeiro pela sua importante participação na concepção e publicação dos Cadernos de Geografia que substituíram, a partir de 1983, o venerável Boletim do Centro de Estudos Geográficos de Coimbra (1950-1967), como, sobretudo, na criação da Territorium, Revista de Geografia Física Aplicada no Ordenamento do Território e Gestão de Riscos Naturais, cujo título expressa claramente o ramo da ciência geográfica que praticou com predilecção. O primeiro número saiu em 1994, o 16º em 2009.
Em 1984, a Universidade de Coimbra teve a tocante ideia de fazer Orlando Ribeiro Doutor Honoris Causa, lembrando-se que, além da sua obra ímpar e da sua projecção internacional, ele era pessoa da casa, por ter ensinado em Coimbra durante dois anos, de 1941 a 1943. E, em 1998, sendo Reitor o Professor Fernando Rebelo, fui eu que tive a comovente surpresa de receber a mesma honra, na companhia do nosso querido amigo Angel Cabo Alonso, Professor da Universidade de Salamanca. Quando evoco os felizes e numerosos anos em que participei activamente na vida universitária portuguesa, são talvez os encontros no campo com a “malta coimbrã”, sempre tão proveitosos e amigáveis, que ressaltam como momentos particularmente valiosos.