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GE-Portuguese Journal of Gastroenterology
versão impressa ISSN 2341-4545versão On-line ISSN 2387-1954
Resumo
MAIA, Susana; FALCAO, Daniela; SILVA, Joana e PEDROTO, Isabel. O impacto clínico dos scores de Rockall e Glasgow-Blatchford na hemorragia digestiva alta não hipertensiva. GE Port J Gastroenterol [online]. 2021, vol.28, n.4, pp.243-252. Epub 28-Fev-2022. ISSN 2341-4545. https://doi.org/10.1159/000511809.
Introdução:
A gestão adequada de doentes com hemorragia digestiva alta não hipertensiva requer uma estratificação do risco apropriada, sendo o score de Rockall (RS; pré-endoscópico e completo) e o score de Glasgow-Blatchford (GBS) frequentemente usados. Um dos objetivos deste estudo é avaliar o seu valor prognóstico e identificar possíveis pontos de corte que identifiquem doentes de alto e baixo risco. Também se pretende analisar se as transferências de doentes para o nosso hospital são adequadas, uma vez que é nesta instituição que decorre a urgência regional noturna de Gastroenterologia. Métodos: Realizada análise retrospetiva dos doentes admitidos no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP) com hemorragia digestiva alta não hipertensiva desde janeiro de 2016 a dezembro de 2018. A análise foi baseada nas curvas de característica de operação do recetor (ROC) e respetivas áreas (AUC). O grupo de doentes transferidos de outros hospitais para o CHUP foi comparado com o grupo de doentes diretamente admitidos. Resultados: De um total de 420 doentes, 23 (5.9%) morreram, 34 (8.4%) tiveram recidiva hemorrágica, 217 (51.7%) receberam transfusão de sangue, 153 (36.3%) foram tratados endoscopicamente, 22 (5.7%) foram submetidos a cirurgia e 171 (42.3%) ficaram hospitalizados na Unidade de Cuidados Intermédios ou Intensivos. Tanto o RS completo (AUC 0.756, p < 0.001) como o pré-endoscópico (AUC 0.711, p = 0.001) conseguiram prever a mortalidade. Apenas o RS completo (AUC 0.735, p < 0.001) mostrou bom desempenho na previsão da recidiva. O GBS teve bom desempenho na previsão de transfusão (AUC 0.785, p < 0.001). Nenhum dos scores mostrou capacidade de prever outras necessidades. Os doentes transferidos apresentaram RS pré-endoscópico (3.41 vs. 3.34, p = 0.692) e GBS (13.29 vs. 12.29, p = 0.056) semelhantes aos diretamente admitidos. Apenas doentes com GBS ≥6 foram transferidos. Não existe registo de qualquer evento adverso com GBS ≤3. Discussão/Conclusão: O RS completo e pré-endoscópico são eficazes a prever a mortalidade, mas apenas o RS completo consegue prever recidiva hemorrágica. O GBS consegue prever necessidade de transfusão. O nosso estudo sugere que, perante um doente com GBS de 3 ou inferior, a transferência poderá ser reconsiderada, no entanto, as recomendações atuais apenas sugerem gestão em ambulatório quando o GBS é 0 ou 1. As transferências feitas para o CHUP revelaram-se necessárias, pois os doentes apresentaram GBS altos e taxas de eventos adversos significativas.
Palavras-chave : Hemorragia digestiva alta não hipertensiva; Endoscopia urgente; Endoscopia.