Introdução
A Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA) surgiu no cenário epidemiológico em Junho de 1981, em um contexto clínico que sugeria uma abrupta queda na normal condição imunológica, quando em 1983, isolou-se um retrovírus T-linfotrófico, denominado por Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) (Duro, 2016).
A identificação do VIH constitui um desafio para a comunidade científica global, pois sua transmissão tem corroborado para um problema de saúde pública, de grande magnitude e caráter endémico, que envolve diversos atores, atingindo os indivíduos sem distinção social, económica, racial, cultural ou política (Dantas, Abrão, Costa & Oliveira, 2015).
A transmissão do VIH continua a ser um grande problema de saúde global, pois já causou a morte de mais de 35 milhões de pessoas, desde a sua descoberta até os dias atuais (Bonfim, 2020), constituindo um dos principais desafios em saúde pública da região africana (OMS, 2018). Atualmente, os dados do VIH/SIDA em Angola vêm do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde de 2016, com indicação de que cerca de 223.350 adultos e 29.103 crianças vivem com o VIH/SIDA em Angola, cuja prevalência do VIH/SIDA em homens adultos (dos 15 aos 49 anos) é estimada em 1,2% e em mulheres, 2,6% (Instituto Nacional de Luta Contra a SIDA/INLS, 2018).
Cerca de 8% da população da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é seropositiva. A prevalência em adultos (15-49 anos) é mais alta em Moçambique, onde mais de 10% da população adulta vivem com o VIH. A Guiné-Equatorial e a Guiné-Bissau têm uma prevalência de VIH superior a 3%, enquanto a prevalência em adultos de Angola é estimada em cerca de 2%. Os demais países possuem valores de prevalência inferiores a 1% na população geral (Programa Conjunto das Nações Unidas Sobre o VIH/SIDA/ONUSIDA & Comunidade dos Países de Língua Portuguesa/CPLP, 2018).
Dados epidemiológicos sobre o VIH no Brasil revelam que, ao longo dos anos, o número de pessoas atingidas pelo vírus continua aumentando. Estima-se que havia aproximadamente 900 mil pessoas com VIH no país em 2018 (Oliveira, Santos, Silva, Araújo, Braga & Melo, 2021). Em 2020, Portugal notificou 778 novos casos de infeção por VIH (Direção-Geral da Saúde/Instituto Nacional de Saúde, 2020).
Moçambique vive um ambiente de severa epidemia do VIH/SIDA. Estima-se que 1,8 milhão de pessoas vivam com o VIH no país, dos quais 36% são homens e 53% são mulheres maiores de 15 anos. A epidemia de VIH na Guiné-Bissau é considerada generalizada, compreende cerca de 36 mil pessoas infetadas (Programa Conjunto das Nações Unidas Sobre o VIH/SIDA/ONUSIDA & Comunidade dos Países de Língua Portuguesa/CPLP, 2018).
Segundo Mateus (2014), em Angola, os principais fatores de disseminação do VIH/SIDA são as precárias condições socioeconómicas da população, assim como práticas sexuais de risco, com início precoce das relações sexuais, práticas sexuais transacionais, coocorrentes e intergerações, multiplicidade de parceiros, barreiras culturais e religiosas.
Neste cenário, os jovens estão especialmente vulneráveis, pelo envolvimento em comportamentos de risco, tais como sexo sem proteção, consumo de drogas e álcool, violência baseada no género, sobretudo a praticada contra adolescentes e mulheres, a incluir, nomeadamente, incesto, abuso sexual, casamento precoce, violência do parceiro íntimo, violação conjugal, exploração sexual e tráfico, os quais elevam os riscos de infeção pelo VIH (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental/CEDEAO, 2020).
Assim, diante da pertinência do presente tema para a comunidade jovem angolana, verifica-se escassez de dados na literatura sobre os fatores que podem estar na base do risco de transmissão do VIH/SIDA na população universitária de Angola, o que motivou a realização desse estudo, com o objetivo principal de descrever o conhecimento, as atitudes e práticas dos estudantes da Universidade Católica de Angola, em relação ao risco de transmissão do VIH/SIDA.
Metodologia
Foi realizado um estudo do tipo transversal e descritivo, com a população de estudantes da Universidade Católica de Angola. A amostra foi extraída de uma população de 2.650 estudantes, com N-amostral de 275 indivíduos, matriculados nos cursos de licenciatura e pós-graduação, num intervalo de confiança de 95% (IC), com a probabilidade de erro de 5% e uma frequência esperada de 27,57% (Alwafi et al., 2018). A seleção dos indivíduos foi não probabilística, intencional, pela abordagem direta dos investigadores aos inquiridos. O projeto foi aprovado pelo Comité de Ética em Investigação em Seres Humanos da Universidade Católica de Angola, sob o protocolo n.18, aos 02 de junho de 2019, tendo a recolha dos dados sido realizada nos meses de junho e julho de 2019, através da aplicação de um questionário. A participação na pesquisa foi voluntária, após a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido, como sinal de aceitação.
Resultados
No presente trabalho, a idade dos participantes variou de 17 a 66 anos, resultando em maior número de participantes das idades dos 17 aos 26 anos, representando 84,36% da amostra, com predominância de estudantes do sexo feminino (57,45%), com participação de 50 estudantes de cada Faculdade, nomeadamente a Faculdade de Direito, de Economia e Gestão, de Ciências Humanas, de Engenharia, do Instituto Superior de Ciências da Saúde, e de 25 estudantes da Faculdade de Teologia pelo facto da mesma conter um número reduzido de estudantes, estando a maioria dos inquiridos a frequentar o terceiro (3º) ano académico (26,90%) (Tabela 1).
Variáveis | Frequência | (%) | |
---|---|---|---|
Idade | |||
17 aos 26 | 232 | 84,36 | |
27 aos 36 | 29 | 1054 | |
37 aos 66 | 14 | 5,09 | |
Sexo | |||
Masculino | 116 | 42,18 | |
Feminino | 159 | 57,82 | |
Curso de Graduação | |||
Direito | 50 | 18,18 | |
Economia e Gestão | 50 | 18,18 | |
Ciências Humanas | 50 | 18,18 | |
Engenharia | 50 | 18,18 | |
Instituto de Saúde | 50 | 18,18 | |
Teologia | 25 | 9,09 | |
Ano Curricular | |||
1.º | 35 | 12,72 | |
2.º | 60 | 21,81 | |
3.º | 74 | 26,9 | |
4.º | 54 | 19,63 | |
5.º | 52 | 18,9 |
Acerca do conhecimento da transmissão do VIH/SIDA, com base na menor tendência de respostas, a minoria dos estudantes afirmou que o VIH é a doença e a SIDA é o vírus (3,27%), que vírus pode ser transmitido pelo beijo (4%), que não há transmissão quanto a transmissão do VIH da mãe infetada para feto ou recém- nascido (12,36%), que há transmissão pela picada do mosquito (0,72%), que se transmite pela partilha de talheres (2,18%), que não há transmissão nas relações sexuais sem uso de preservativo (4%), não acreditam que haja transmissão pela partilha de objetos cortantes (11,64%), que a transfusão sanguínea não transmite o vírus (8,73%), que se transmite pelo abraço (0,36%), que pode haver transmissão no uso de casas de banho (1,45%), que a mordida de animais de estimação pode transmitir o vírus (4,36%), que tosse/espirro podem transmitir (1,09%) e que o vírus pode ser transmitido por feitiço (0,36%) (Tabela 2).
Variável | Frequência | (%) | |
---|---|---|---|
O que é correto afirmar: | |||
VIH é o virus e a SIDA é a doença | 266 | 92,00 | |
VIH é a doença e a SIDA é o virus | 9 | 3,27 | |
Como se transmite o VIH? | |||
Pelo beijo? | |||
Sim | 11 | 4 | |
Não | 264 | 96 | |
Da mãe infetada para o feto/recém-nascido? | |||
Sim | 241 | 87,64 | |
Não | 34 | 12,36 | |
Pela picada de mosquito? | |||
Sim | 2 | 0,73 | |
Não | 273 | 99,27 | |
Pela partilha de talheres? | |||
Sim | 6 | 2,18 | |
Não | 269 | 97,82 | |
Sexo sem preservativo? | |||
Sim | 264 | 96 | |
Não | 11 | 4 | |
Partilha de objetos cortantes? | |||
Sim | 243 | 88,36 | |
Não | 32 | 11,64 | |
Transfusão Sanguínea? | |||
Sim | 251 | 91,27 | |
Não | 24 | 8,73 | |
Abraço? | |||
Sim | 1 | 0,36 | |
Não | 274 | 99,64 | |
Uso do mesmo banheiro? | |||
Sim | 4 | 1,45 | |
Não | 271 | 98,55 | |
Por mordida de animais de estimação? | |||
Sim | 12 | 4,36 | |
Não | 263 | 95,64 | |
Por tosse/espirro? | |||
Sim | 3 | 1,09 | |
Não | 272 | 98,91 | |
Por feitiço? | |||
Sim | 1 | 0,36 | |
Não | 274 | 99,64 |
Quanto às atitudes dos estudantes, 153 (55,64%) já haviam feito a testagem para o VIH, 198 (72%) não aceitariam ter um parceiro seropositivo; se diante de uma testagem positiva contariam a alguém, 244 (88,73%) responderam que sim, 31 (11,27%) guardariam para si, 11 (4%) pensariam em suicídio e 264 (96%) responderam que a vida seguiria seu curso normal; caso testassem positividade para o VIH, 34 (12,36%) dos inquiridos buscariam a cura por uso de medicamentos, 10 (3,64%) buscariam a cura por práticas religiosas, 4 (1,45%) procurariam a cura por uso de medicamentos e por práticas religiosas e 1 (0,36%) buscaria a cura por outra prática; 258 (93,82%) disseram que a atividade sexual homossexual pode transmitir o VIH, 271 (98,55%) responderam que ter mais de um parceiro aumenta o risco de transmissão; 242 (88%) ainda disseram que entrariam em uma piscina com um seropositivo e 116 (42,18%) responderam que não aceitariam viver com um seropositivo no mesmo espaço (Tabela 3).
Variáveis | Frequência | (%) | |
---|---|---|---|
Já alguma vez fez o teste do VIH? | |||
Sim | 153 | 55,64 | |
Não | 122 | 44,36 | |
Se testasses VIH positivo, o que faria? | |||
Contarias a alguém? | 244 | 88,73 | |
Guardarias para si? | 31 | 11,27 | |
Pensarias que há solução após esse resultado | 264 | 96,00 | |
Pensarias em suicídio? | 11 | 4,00 | |
Se testasses VIH positivo, buscarias cura por algum meio? | |||
Uso de medicamento | 34 | 12,36 | |
Práticas religiosas | 10 | 3,64 | |
Ambas as opções | 4 | 1,45 | |
Outra | 1 | 0,36 | |
Não há cura | 226 | 82,18 | |
Aceitarias ter um parceiro seropositivo? | |||
Sim | 77 | 28 | |
Não | 198 | 72 | |
Ter mais de um parceiro aumenta o risco de contrair o VIH? | |||
Sim | 271 | 98,55 | |
Não | 4 | 1,45 | |
Relações sexuais com pessoas do mesmo sexo podem transmitir o VIH? | |||
Sim | 258 | 93,82 | |
Não | 17 | 6,18 | |
Entrarias na mesma piscina de um seropositivo? | |||
Sim | 242 | 88 | |
Não | 33 | 12 | |
Aceitarias conviver com alguém seropositivo? | |||
Sim | 159 | 57,82 | |
Não | 116 | 42,18 |
Em relação às práticas dos estudantes, 16 (5,82%) relataram ter sofrido abuso sexual, 1 (0,36%) estudante admitiu que faz o uso de drogas ilícitas, 71 (25,82%) disseram cuidar das unhas em locais onde os instrumentos não são esterilizados e 10 (3,64%) relataram frequentar casas de prostituição (Tabela 4).
Variáveis | Frequência | (%) | |
---|---|---|---|
Já sofreu abuso sexual? | |||
Sim | 16 | 5,82 | |
Não | 259 | 94,18 | |
Faz uso de drogas injetáveis? | |||
Sim | 1 | 0,36 | |
Não | 274 | 99,64 | |
Já tratou as unhas em pedicures ou manicures ambulantes, com instrumentos não esterilizados? | |||
Sim | 71 | 25,82 | |
Não | 204 | 74,18 | |
Já frequentou casa de prostituição? | |||
Sim | 10 | 3,64 | |
Não | 265 | 96,36 |
Houve associação estatística significativa entre o nível de escolaridade e as variáveis ‘‘fez o teste de VIH’’ (p=0,001), ‘‘convive com alguém com VIH/SIDA’’ (p=0,01) e ‘‘não aceitaria ter um parceiro VIH positivo’’ (p=0,02) (Tabela 5).
Discussão
No presente estudo, a maioria dos participantes era do sexo feminino, mostrando o mesmo perfil com estudos realizados ao norte do Malawi e no sudoeste da Nigéria, onde foram encontrados resultados semelhantes, pelo fato das mulheres estarem mais dispostas a falar sobre seus desafios no âmbito da saúde (Farotimi, Nwozichi & Ojediran, 2015; Mwale & Muula, 2018).
A maioria demonstrou ter conhecimento dos fatores que levam à transmissão do VIH, que combinam a transmissão sanguínea, via uso de drogas injetáveis ou transfusão sanguínea; a transmissão sexual; e a transmissão vertical, via gestação, parto ou amamentação (Oliveira, 2021). Todavia, 4% deles afirmaram ser possível a transmissão por meio do beijo, fato não restrito somente ao nível do conhecimento dos jovens angolanos, mas demonstrado em outros continentes, por exemplo, entre jovens portugueses, em que 31,7% dos entrevistados acreditavam nessa via de transmissão (Cunha, 2010).
Em outro estudo, acerca do conhecimento sobre as formas de transmissão do VIH/SIDA, 34,2% dos participantes responderam opções incorretas de transmissão do VIH através do mosquito e beijo na boca (Silva, Rocha, Pereira, Martins, Cardoso & Guisande, 2020). No que diz respeito à prevenção da transmissão vertical de mãe para filho, 52% das mulheres e 50% dos homens sabem que o VIH pode ser transmitido de mãe para filho (Matola, 2021).
O maior número de participantes acreditava que o VIH é transmitido pelo beijo (29,1%) enquanto um terço dos participantes acreditava na sua propagação por espirros/ tosse pertencia ao primeiro ano (31,5%). Além disso, mais da metade dos participantes sabia que existia diferença entre VIH e a SIDA, igualmente representada por ambos os grupos (60,4%) (Betra, Momon, Ochani, Awan, Bhimani, Siddiqui, Mohiuddin & Farooqi, 2020).
Também não constitui um fato isolado, a afirmação de 2 estudantes, de que a picada do mosquito pode transmitir o VIH, enquanto nos Emirados Árabes há estudantes que também partilham da mesma crença (Haroun, Saleh, Wood, Mechli & Marzouqi, 2016). Também não surpreende um respondedor do estudo acreditar no feitiço como meio de transmissão, como parte do arcabouço de crenças e vivências socioculturais muito característicos em África (Maloa, 2014), por ocasião do estudo identificado em Angola, em que a doença pode estar associada à culpa, pela alegação de ter sido provocada por alguém. No caso do VIH-SIDA, transgredir uma lei social, que seria, por exemplo, o doente ter cometido um adultério e, como tal, teria originado a infeção, ou porque houve um feitiço, feito por alguém, e, por isso, o indivíduo se infetou com o vírus.
Dos entrevistados, 70,1% sabiam que o VIH/SIDA não pode ser transmitido pela picada de mosquito, 73,8% sabiam que o VIH/SIDA não pode ser transmitido por feitiçaria, enquanto que 60,5% sabiam que não pode ser transmitido usando o mesmo banheiro. Notavelmente, apenas uma pequena maioria (59,2%) sabia que o VIH/SIDA não tem cura (Dzah, Tarkang & Lutala, 2019). Ainda quanto à cura da SIDA, verificou-se que pouco mais da metade dos participantes acreditava que não havia cura para a doença (58%) (Wozniak et al. 2020). Em outro estudo 87,2% dos participantes discordaram da ideia de que se pode contrair o HIV por feitiçaria (Estifanos, Hui, Tesafi, Teklu, Ghebrehiwet, Embaye & Andegiorgish, 2021).
Tendo em conta as atitudes, um total de 56,36% estudantes já fizeram o rastreio preventivo do VIH, frequência superior à da população de Angola, em que 47% das mulheres e 32% dos homens alguma vez fizeram um teste diagnóstico de VIH (Instituto Nacional de Estatística, 2017). Caso fosse confirmada seropositividade, 11,27% não contariam a alguém e 4% pensariam em suicídio, demonstrando em ambos os dados a necessidade do acompanhamento psicológico, não somente ao receber o diagnóstico, mas também ajudar na rede de apoio junto da partilha do diagnóstico com algum familiar, assim como na construção de relações afetivas no futuro. Um total de 51,1% dos participantes relatou ter feito o teste de VIH em algum momento antes da pesquisa e foram incluídos em nossa análise (Mugabe, Bhatt, Carlucci, Gudo, Sidat & Moon, 2019).
Em um estudo feito em Portugal, a maioria dos participantes reportou alguma vez ter realizado o teste ao VIH (57,9%) (Martins, Chaves, Carvalho & Pereira, 2018). Estudo de Alhasawi et al. (2019) demonstrou que 52,6% acham que uma pessoa infetada pelo VIH não precisa de isolamento em um hospital e pode ficar fora do mesmo.
O diagnóstico positivo de VIH também induziria 3,64% dos inquiridos a buscar cura por práticas religiosas, demonstrando a importância dos processos clínicos não negligenciarem o contexto social em que os indivíduos estão inseridos, através da cooperação entre profissionais de saúde e líderes religiosos, no enfrentamento à SIDA, para que haja maior adesão ao tratamento oficial preconizado pelas autoridades sanitárias do país.
Em Angola, o acesso à terapia antirretroviral (TARV) é universal, e todo o esforço tem sido realizado para que o tratamento inicie desde o diagnóstico da doença, sem interrupção, ao esclarecer os benefícios e riscos, respeitando-se a autonomia do indivíduo, cuja assistência ao paciente seropositivo encontra-se integrado aos diferentes serviços de saúde (Ministério da Saúde/MINSA, 2015).
Em relação às atitudes, 12% dos participantes não entrariam na mesma piscina que um indivíduo seropositivo, e outros 42,18% não aceitariam conviver com um seropositivo, demonstrando a necessidade de ampliar a discussão a respeito de viver a seropositividade, como medida educativa, pois dados recolhidos na população angolana demonstram que a redução do preconceito é duas vezes mais baixo entre indivíduos com nível secundário ou superior (52%), em relação a indivíduos sem escolaridade (21%) (Instituto Nacional de Estatística/INE, 2017).
Tendo em conta as respostas dos estudantes, quanto ao conhecimento sobre a transmissão do vírus e atitudes, verificou-se que não garantem que os jovens tenham comportamentos seguros, conforme expresso por Dzah, Tarkang e Lutala, (2019), pois as respostas destes, em relação às práticas, podem confluir para a transmissão do VIH, como é o caso de 74,18% dos estudantes que relataram ter cuidado das unhas em serviços ambulantes, com instrumentos não esterilizados, por serem de menor custo, mas com risco de contrair doenças de veiculação sanguínea, incluindo a SIDA.
Finalmente, verificou-se que quanto maior o nível de escolaridade, maior é a probabilidade do indivíduo fazer o teste do VIH (p=0,001), ser mais tolerante para aceitar conviver com alguém seropositivo (p=0,01), mas que não aceita ter um parceiro seropositivo (p=0,02). Esta última associação não poderia ser analisada isoladamente, apenas como um fator relacionado à escolaridade, mas sugere-se a realização de outros estudos futuros, a fim de analisar a questão sob outros aspetos, nomeadamente, os sociológicos e psicológicos, dentre outros, na compreensão da rejeição ao parceiro seropositivo.
Conclusão
Neste estudo, observou-se que a maioria dos estudantes demonstrou ter um conhecimento adequado sobre a transmissão do VIH/SIDA, mas que há atitudes e práticas do cotidiano, as quais podem induzir comportamentos de risco, ou constituírem desafios para o controle e tratamento da doença. Que ter o conhecimento aceitável sobre a transmissão do VIH/SIDA não é determinante para garantir atitudes e práticas seguras, havendo necessidade da realização de outros estudos capazes de identificar fatores com potencial de sobrepor-se ao conhecimento adquirido, especialmente concernente aos fatores socioculturais.