SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número187Construir uma nação: ideologias de modernidade da elite moçambicanaAutoridades tradicionais vaNdau de Moçambique: o regresso do indirect rule ou uma espécie de neo-indirect rule? índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  n.187 Lisboa abr. 2008

 

«Governem-se vocês mesmos!» democracia e carnificina no norte de Moçambique**

Harry G. West*

 

A linguagem de poder que os habitantes do planalto de Mueda falaram ao longo da transformação neoliberal da economia e política moçambicanas difere substancialmente da linguagem falada pelos reformadores democráticos, apesar dos pontos de convergência e das variações internas em ambas as linguagens. Na disjunção entre elas, os muedenses relacionaram-se criticamente com o processo de democratização em curso, articulando a sua própria visão acerca do funcionamento do poder no mundo que habitam. Equiparações à primeira vista paradoxais — como entre descentralização democrática e abandono por parte do Estado, entre liberdade individual e perigo colectivo de feitiçaria, ou entre democracia e carnificina — constituíram, afinal, formas em última instância democráticas de avaliação e de crítica às transformações ocorridas e às formas como o poder é exercido no novo contexto de capitalismo neoliberal.

Palavras-chave: democracia; linguagens de poder; liberalização; Mueda.

 

The language of power spoken by the inhabitants of the Mueda plateau in the course of the neoliberal transformation of Mozambican political and economic life is substantially different to the language spoken by democratic reformers, despite the commonalities and internal variations in both languages. In the rift between the languages, the Muedans adopt a critical stance towards the current process of democratization, articulating their own vision of how power operates in their world. Equivalences which are at first sight paradoxical — such as equating democratic decentralization with abandonment by the state, individual freedom with the collective danger of witchcraft, and democracy with carnage — were ultimately democratic ways of evaluating and criticizing the changes taking place and the ways in which power is used in the new context of neoliberal capitalism.

Keywords: democracy; language of power; liberalization; Mueda.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

BIBLIOGRAFIA

Africa Watch (1992), Conspicuous Destruction: War, Famine & the Reform Process in Mozambique, Nova Iorque, Human Rights Watch.        [ Links ]

African American Institute (1997), Relatório sobre Círculos de Trabalho e Discussão, Maputo, African American Institute.

Alden, C. (1995), «The UN and the resolution of conflict in Mozambique», in The Journal of Modern African Studies, 33 (1), pp. 103-128.

Alden, C. (2001), Mozambique and the Construction of the New African State: From Negotiations to Nation Building, Nova Iorque, Palgrave.

Alexander, J. (1997), «The local state in post-war Mozambique: political practice and ideas about authority», in Africa, 76 (1), pp. 1-26.

Alves, A. T., e Cossa, B. R. (1997), Guião das Autarquias Locais, Maputo, Ministério da Administração Estatal.

Berry, S. (2002), Debating the Land Question in Africa, pp. 638-668.

Bledsoe, C. (1980), Women and Marriage in Kpelle Society, Stanford.

Buur, L., e Kyed, H. M. (2003), Implementation of Decree 15/2000 in Mozambique: the Consequences of State Recognition of Traditional Authority in Sussundenga, Copenhaga, Centre for Development Research.

Chan, S., e Venâncio, M. (1998), War and Peace in Mozambique, Houndsmills, MacMillan Press, Ltd.

Clemens, D. (2002), Requiem for a Dream of Mozambique? Mozambican Journalist Carlos Cardoso's Suspected Killers on Trial, vol. 2005, Worldpress.org.

Clinton, W. J. (1998), transcrição de comunicação em Acra, Gana.

Constituição da República de Moçambique, 1990.

Cooper, F. (1979), «The problem of slavery in African societies», in Journal of African History, 20 (1), pp. 103-125.

Democratization Policy Institute (2001), Focus on Africa, vol. 2005.

Dias, A. J., e Dias, M. S. (1970), Os Macondes de Moçambique, vol. iii, Vida Social e Ritual, Lisboa, Centro de Estudos de Antropologia Cultural, Junta de Investigações do Ultramar.

Egerö, B. (1987), Mozambique: a Dream Undone: the Political Economy of Democracy, 1975-84, Uppsala, Scandinavian Institute of African Studies.

Englund, H. (2002), From War to Peace on the Mozambique-Malawi Borderland, Edimburgo, Edinburgh University Press for the International African Institute London.

Fauvet, P. (2000), «Mozambique: growth with poverty: a difficult transition from prolonged war to peace and development», in Africa Recovery, 14 (3), p. 12.

Finnegan, W. (1992), A Complicated War: the Harrowing of Mozambique, Berkeley, University of California Press.

Fry, P. (1997), Final Evaluation of the Decentralization/Traditional Authority Component of the African American Institute's Project «Democratic Development in Mozambique» (Cooperative Agreement #656-A-00-4029-00), Maputo, USAID.

Geffray, C. (1990), La cause des armes au Mozambique: anthropologie d'une guerre civile, Paris, Karthala.

Geschiere, P. (1997), The Modernity of Witchcraft: Politics and the Occult in Postcolonial Africa, Charlottesville, University Press of Virginia.

Guyer, J. (1995), «Wealth in people as wealth in knowledge: accumulation and composition in equatorial Africa», in Journal of African History, 36, pp. 91-120.

Hall, M. (1990), «The Mozambican National Resistence Movement (RENAMO): a study in the destruction of an African country», in Africa, 60 (1), pp. 39-68.

Hanlon, J. (1990), Mozambique: the Revolution under Fire, Londres, Zed Books.

Hanlon, J. (1991), Mozambique: Who Calls the Shots?, Londres, James Currey.

Hanlon, J. (1994), Report of AWEPA's observation of the Mozambique Electoral Process 1992-1994, AWEPA.

Hanlon, J. (2000), New Decree Recognises «Traditional Chiefs», AWEPA.

Hanlon, J. (2004), How Northern Donors Promote Corruption: Tales From Mozambique, Oldham, The Corner House.

Harrison, G. (1999), «Corruption as `boundary politics': the state, democratisation, and Mozambique's unstable liberalisation», in Third World Quarterly, 20 (3), pp. 537-550.

Henriksen, T. H. (1983), Revolution and Counter-Revolution: Mozambique's War of Independence, 1964-1974, Westport, Connecticut, Greenwood Press.

Hume, C. (1994), Ending Mozambique's War, Washington, D. C., United States Institute of Peace.

Institutions for Natural Resource Management (n. d.), Implementing CBNRM in M'punga, Brighton, University of Sussex.

Israel, P. (2002-2003), The `war of the lions': lion-killings and witch hunts in muidumbe (Mozambique)», in Journal of Southern African Studies (no prelo).

Limbombo, O. (2003), «Leões de Muidumbe», in Questão de Fundo, Pemba, Radio Moçambique.

Lubkemann, S. (2001), «Rebuilding local capacities in Mozambique: the national health system and civil society», in I. Smillie (ed.), Patronage or Partnership: Local Capacity Building in Humanitarian Crises, Bloomfield, CT., Kumarian Press, Inc., pp. 77-106.

Lundin, I. B. (1995), «A pesquisa piloto sobre a autoridade/poder tradicional em Moçambique — um somatório comentado e analisado», in I. B. Lundin e F. J. Machava (eds.), Autoridade e Poder Tradicional, vol. i, Maputo, Ministério da Administração Estatal/Núcleo de Desenvolvimento Administrativo, pp. 7-32.

Machel, S. (1978), Produzir é Aprender. Aprender para Produzir e Lutar Melhor, Maputo, FRELIMO.

Manning, C. (2001), «Competition and accomodation in post-conflict democracy: the case of Mozambique», in Democratization, 8 (2), pp. 140-168.

Manning, C. (2002), The Politics of Peace in Mozambique: Post-Conflict Democratization, 1992-2000, Westport, CT, Praeger Publishers.

Mazula, B. (1995), Moçambique: Eleições, Democracia e Desenvolvimento, Maputo, Embaixada da Holanda.

Meneses, M. P., Fumo, J., Mbilana, G., e Gomes, C. (2003), «As autoridades tradicionais no contexto do pluralismo jurídico», in B. de Sousa Santos e J. C. Trindade (eds.), Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique, vol. ii, Porto, Edições Afrontamento, pp. 341-420.

Miers, S., e Kopytoff, I. (1977), Slavery in Africa: Historical and Anthropological Perspectives, Madison.

Miller, J. (1988), Way of Death: Merchant Capitalism and the Angolan Slave Trade, 1730-1830, Madison.

Minter, W. (1994), Apartheid's Contras, Londres, Zed Books.

Monteiro, J. O. (1989), Power and Democracy, Maputo, People's Assembly.

Munslow, B. (1983), Mozambique: The Revolution and it's Origins, Londres, Longman.

Myers, G. (1994), «Competitive rights, competitive claims: land access in post-war Mozambique», in Journal of Southern African Studies, 20 (4), pp. 603-632.

Negrão, J. G. (1984), A Produção e o Comércio nas Antigas Zonas Libertadas, Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique.

Orvis, S. (2001), «Civil society in Africa or African civil society?», in S. N. Ndegwa (ed.), A Decade of Democracy in Africa, Leiden, Brill, pp. 17-38.

Pitcher, M. A. (2002), Transforming Mozambique: the Politics of Privatization, 1975-2000, Cambridge, Cambridge University Press.

Santos, B. de S. (2003), «O Estado heterogéneo e o pluralismo jurídico», in B. de Sousa Santos e J. C. Trindade (eds.), Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique, vol. i, Porto, Edições Afrontamento, pp. 47-95

Simpson, C., e Mark, A. (1993), «Mozambique: a delicate peace», in The Journal of Modern African Studies, 31 (1), pp. 109-130.

The Carter Center (2005), Postelection Statement on Mozambique Elections, vol. 2005.

Vansina, J. (1988), Paths in the Rainforest: toward a History of Political Tradition in Equatorial Africa, Madison.

Vines, A. (1991), RENAMO: Terrorism in Mozambique, Londres, James Currey.

Weimer, B., e Fandrych, S. (1999), «Mozambique: administrative reform — a contribution to peace and democracy?», in P. S. Reddy (ed.), Local Government Democratisation and Decentralisation: a Review of the Southern African Region, Kenwyn, África do Sul, Juta and Co., Ltd., pp. 151-177

West, H. G. (2005), Kupilikula: Governance and the Invisible Realm in Mozambique, Chicago, The University of Chicago Press.

West, H. G., e Kloeck-Jenson, S. (1999), «Betwixt and between: `traditional authority' and democratic decentralization in post-war Mozambique», in African Affairs, 98 (393), pp. 455-484.

West, H. G., e Myers, G. W. (1996), «A piece of land in a land of peace? State farm divestiture in Mozambique», in Journal of Modern African Studies, 34 (1), pp. 27-51.

 

* SOAS — University of London, Department of Anthropology.

** Este artigo baseia-se num trabalho de campo conduzido no planalto de Mueda entre 1993 e 2004. Marcos Agostinho Mandumbwe, Eusébio Tissa Kairo e Felista Elias Mkaima participaram em várias fases da pesquisa. O financiamento foi fornecido pelo Fulbright-Hays Program, pelo United States Institute of Peace, pela Wenner-Gren Foundation, pelo Economic and Social Research Council of the United Kingdom e pela British Academy. O ensaio foi inicialmente apresentado no seminário avançado da School of American Research (actualmente School for Advanced Research) «Toward an anthropology of democracy», de 5 a 10 de Março de 2005, em Santa Fé, onde David Nugent o enriqueceu com perspicazes comentários. Foi depois apresentado no Seminário de Antropologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa em 15 de Abril de 2005. Esta versão abreviada e traduzida é publicada com autorização de Toward an Anthropology of Democracy, editado por Julia Paley, copyright da School for Advanced Research, Santa Fé, onde será brevemente publicada a versão completa do artigo.

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons