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Análise Social
versão impressa ISSN 0003-2573
Anál. Social no.219 Lisboa jun. 2016
ARTIGO
Iniciativas de participação cidadã de idosos em Portugal: um estudo exploratório
Older citizen participation in Portugal: an exploratory study of local initiatives
Mariana ferreira de Almeida*
*Universidade de Lisboa, ICS-UL, Av. Professor Aníbal de Bettencourt, 9 1600-189 Lisboa, Portugal. E-mail: mariana.almeida@ics.ulisboa.pt
RESUMO
A perspetiva participativa tem ganho destaque na área do envelhecimento, impulsionada em parte pela divulgação da noção de envelhecimento ativo. Tal ênfase não foi contudo acompanhado por equivalente aprofundamento do conceito e das práticas, assistindo-se à perda de especificidade do termo, em particular na aceção de envolvimento cívico e político dos cidadãos idosos. Como se pode afinal definir participação cidadã sénior? Que tipo de atividades inclui? E o que se está concretamente a fazer em Portugal neste âmbito? Estas são questões a que o artigo procura responder, com base num estudo exploratório de levantamento de iniciativas locais de participação sénior.
PALAVRAS-CHAVE: participação; participação cidadã; pessoas idosas; envelhecimento.
ABSTRACT
Participation has been gaining prominence in discussions of ageing, partly a result of the widespread notion of active ageing. The emphasis has not, however, been followed up by parallel advances in conceptualization and practice, and the term has lost specificity and meaning, particularly in connection with civic and political engagement of older citizens. How can senior citizen participation be defined? What kind of activities does it encompass? And what is being done in Portugal in this area? These are the questions the paper addresses, with data from an exploratory study on local seniors participation initiatives.
KEYWORDS: participation; citizen participation; older adults; ageing.
INTRODUÇÃO1
A participação ativa dos cidadãos nas decisões que lhes dizem respeito tem vindo a ser crescentemente enfatizada em múltiplas arenas, partindo de diferentes óticas e com argumentos de natureza diversa.
Entendida como um
imperativo da sociedade contemporânea, a implicação direta dos cidadãos nas
políticas públicas foi aumentando nas últimas décadas e deverá continuar a
acentuar-se nas democracias (Roberts, 2004), ainda que impulsionada por
razões porventura diversas e até conflituais. Ferrão (2013, p. 261),
por exemplo, ao sistematizar o debate sobre a passagem de uma ótica de governo
a uma de governança, a nível territorial, identifica uma polarização em torno
de 3 visões-tipo: civilista, crítica e reformista.
Salienta deste modo que a valorização de processos de governança tem sido
entendida tanto como um aprofundamento democrático em resposta às
reivindicações da sociedade civil, como também enquanto recuo do Estado em
benefício nomeadamente de atores económicos, preconizado pelo paradigma
neoliberal, ou ainda como uma procura de melhor adequação dos processos de
decisão e da sua aceitação social. Fora e dentro do setor público, à
participação na ótica de cidadania têm-se ainda acrescentado (ou substituído)
abordagens centradas no consumidor ou utilizador, uma tendência que poderá
refletir o reconhecimento de vantagens instrumentais como também pressões
culturais e ideológicas (e. Mas para lá da relevância no âmbito da
administração pública e gestão, à participação é igualmente atribuído um valor
intrínseco que a justifica como um fim em si mesmo (e.g. Oakley e Kahssay, 1999), nomeadamente como fator de empowerment
individual e comunitário2 e, como tal, promotor de saúde, equidade, desenvolvimento e bem-estar.
Um entendimento que se reflete, por exemplo, nas sistemáticas referências que
merece nos documentos e políticas da Organização Mundial de Saúde (e.g. Almeida, 2009; Serapioni e Matos, 2013), desde a Declaração de
Alma-Ata sobre os cuidados de saúde primários e Saúde para Todos à política
Saúde 2020 (WHO-Europe, 2013), passando pelas conferências mundiais sobre
Promoção da Saúde ou pelas recomendações para a redução das desigualdades em
saúde (WHO-CSDH, 2008). Tão generalizada valorização não se tem, contudo,
traduzido em equivalente evolução do conhecimento, conceptualização e efetiva implementação. Admitidamente um tópico complexo e
controverso, a participação é igualmente reconhecida como um conceito
insuficientemente teorizado e plagued with definitional problems
(Roberts, 2004, p. 318), que pode assumir significados muito diversos e remeter
para variadas ações por diferentes atores (Cornwall, 2008). Assim, por exemplo,
ainda que frequentemente associada a direitos e a procedimentos formais no
quadro da administração pública, a ideia de participação pode também
estender-se ao envolvimento comunitário, cívico e político dos cidadãos, com
expressão em movimentos sociais e diversas formas de mobilização individual e
coletiva. A definição de Roberts (2004) de participação cidadã como sendo o
processo pelo qual membros de uma sociedade (aqueles que não têm cargos
públicos ou políticos no governo) partilham o poder com quem exerce funções
públicas no tomar de decisões substantivas e no empreender de ações
relacionadas com a comunidade (ibidem, p. 320, tradução própria)
ilustra uma tentativa de combinação dessas diferentes perspetivas. Face
a uma tal complexidade
de significados e diversidade de práticas, impõe-se, todavia, uma análise mais
detalhada, que explore as múltiplas variáveis relevantes para a teoria e o
exercício da participação, ajudando a densificar o conceito e a ultrapassar a
imprecisão e risco de retórica vazia que o ameaçam, em especial desde que
entrou no mainstream no final dos anos 70 (Cornwall, 2008). Poder-se-ão porventura distinguir duas linhas
principais na pesquisa de base empírica sobre participação: uma centrada no
plano individual, analisando por exemplo preditores da
participação com recurso a abordagens quantitativas (inquéritos) ou
qualitativas (e.g., entrevistas, focus groups); outra explorando políticas e
práticas de participação. Pontualmente encontram-se também trabalhos de
investigação e/ou conceptualização (Dekker e van Kempen, 2008), que integram
em simultâneo fatores relativos aos participantes e às
estruturas de oportunidade de participação existentes, quer a nível local quer
nacional/internacional. No domínio da participação da população idosa, as
tendências, argumentos e problemas na definição e teorização são, no essencial,
idênticos aos assinalados para a generalidade dos cidadãos, ainda que
porventura mais acentuados (Almeida, 2009, pp. 30-31, 134-135). Assim, a
perspetiva participativa está presente na generalidade dos atuais discursos
sobre envelhecimento (Raymond et al.,
2012), sendo em contrapartida possível encontrar referências aos idosos nas
diferentes linhas de bibliografia sobre envolvimento na decisão, seja na ótica
de consumerismo, de democracia e cidadania, ou de grupos de pressão, redes e
movimentos sociais (Cook e Klein, 2005). O conceito de envelhecimento ativo da
OMS, que a designa como um dos pilares para melhorar a qualidade de vida das
pessoas que envelhecem (WHO, 2002, p. 12, tradução própria), é paradigmático
quanto ao lugar fulcral que a participação assume na conceptualização, nas
práticas e nas políticas de envelhecimento ainda que neste contexto com um
significado amplo, que abarca a participação social, económica, cultural e
espiritual, além de cívica. O tema é tornado ainda mais premente pela
reconhecida vulnerabilidade e riscos adicionais de exclusão neste grupo
populacional em inúmeras esferas, incluindo a da participação no debate
político e em atividades passíveis de influenciar matérias relevantes para os
seus interesses (Buffel, Phillipson e Scharf, 2012; Carter e Beresford, 2000;
Postle, Wright e Beresford, 2005). Premência que, nas últimas décadas, tem
vindo a ser igualmente alimentada por uma exigência e prática de participação
política e social, porventura minoritária mas
crescente, protagonizada pelos próprios cidadãos mais velhos (Walker, 2014). E, tal como se observou para a participação em
geral, também na participação sénior se levantam dificuldades de definição e
consenso (Levasseur et al., 2010;
Raymond et al., 2015) e se encontram controvérsias e críticas.
Destaca-se nomeadamente a tendência para, por um lado, despolitizar as
questões da participação e, por outro, implícita ou explicitamente transformá--la numa expetativa normativa e, portanto, potencialmente
penalizadora em especial dos mais desfavorecidos (Minkler e Holstein, 2008), já
que, como a investigação demonstra, estes tendem a ser os mais excluídos da
participação cívica e sociopolítica, bem como das práticas de envelhecimento
ativo em geral (Cabral et al., 2011; 2013). A investigação internacional neste domínio
(dentro e fora da academia) tem procurado caracterizar modalidades de
participação, tradicionais ou emergentes, quer na perspetiva do envolvimento
observado na população sénior (Goerres, 2007) quer inventariando mecanismos
implementados em alguns países (Dewar, Jones e OMay,
2004; Vegeris et al., 2007). Aborda ainda fatores condicionantes,
benefícios e riscos da participação, entre outras características e implicações
dos processos adotados (Barnes, 2005; Barnes, Harrison e Murray, 2012; Buffel,
Phillipson a Scharf, 2012; Postle, Wright e Beresford, 2005; Scourfield e
Burch, 2010). A pesquisa é com frequência orientada para a prática, procurando
colmatar insuficiências no conhecimento quanto ao que serão modalidades
efetivas de participação sénior e dando origem a recomendações sobre o tema
(Carter e Beresford, 2000; Dewar, Jones e OMay, 2004;
IDeA, 2007; Petriwskyj, 2008), que se vêm somar a orientações técnico-políticas
em que a participação sénior é considerada central (WHO, 2007). Em Portugal, a participação cidadã da população
idosa tem recebido reduzida atenção. Um estudo coordenado por Cabral, com dados
de um inquérito aos residentes na cidade de Lisboa, revela que, de um modo
geral, entre os cidadãos mais velhos a participação cívica e política tende a
ser (ainda) menor que no conjunto da população (Cabral et
al., 2011; Almeida et al., 2012), um resultado consistente com os de
outros inquéritos realizados à escala nacional e internacional (Almeida,
2009). Por outro lado, essa análise destaca também que o nível de participação
sénior é variável consoante a modalidade de
participação considerada (voto, pertença a associações e outros grupos,
automobilização e outros indicadores de ativismo urbano). E, mais ainda, que
os fatores sociodemográficos serão importantes preditores destes
comportamentos, embora com diferenças na padronização social das várias formas
de cidadania, sugestivas de que as distintas modalidades podem ter adesão
diversa nos vários subgrupos de idosos (Cabral et
al., 2011; Almeida et al., 2012). Este tipo de dados
resultantes da pesquisa quantitativa e extensiva é essencial para conhecer
níveis de participação cidadã (pelo menos nas modalidades habitualmente
tipificadas), bem como para identificar preditores no plano individual (em
especial de natureza sociodemográfica). Pouco diz, em contrapartida, sobre as
circunstâncias e as estruturas de oportunidade em que a participação se
concretiza e que podem em parte considerar-se sua expressão (e.g. movimento associativo), mas também
fatores explicativos da sua ocorrência (Dekker e van Kempen, 2008). Contextos
cujo estudo será crucial também para aprofundar a compreensão dos processos
subjacentes e fundamentar eventuais recomendações ao nível das políticas
e práticas. Em Portugal, não se conhece investigação de espectro alargado que foque tais iniciativas e mecanismos de participação
cidadã específicos para os seniores, implementados nomeadamente a nível local
escala espacial que poderá ser especialmente relevante para a participação
direta, mais ainda tratando-se de população idosa (Barnes, Harrison e Murray,
2012; Dekker e van Kempen, 2008; Roberts, 2004). Alguma informação parcelar
e/ou indireta é contudo sugestiva de que são
reduzidas as oportunidades existentes, designadamente promovidas por ou em
articulação com organismos públicos (Almeida, 2009), como, de resto, serão
deficitárias para a população em geral, por exemplo em áreas como a saúde
(Serapioni e Sesma, 2011; Serapioni, Ferreira e Antunes, 2012), ou mesmo os
processos consultivos municipais no âmbito da Agenda 21 Local (Guerra, 2011). Com este artigo pretende-se dar um contributo
para o conhecimento da realidade nacional neste domínio e para o avanço na
conceptualização do tema, seguindo a sugestão de Cornwall (2008) de clareza
através da especificidade, que progressivamente permita detalhar o como, quem,
em quê e para quê daquilo que se designa por participação cidadã sénior. Os
resultados apresentados são parte de um estudo exploratório de
identificação e caracterização de iniciativas locais que, em
Portugal, promovam a participação ativa dos cidadãos mais velhos na definição
e implementação de políticas, serviços ou outras
iniciativas de âmbito local. O inquérito, realizado à escala nacional,
orientou-se para a captação de um espectro amplo de práticas,
abarcando estruturas e mecanismos tanto formais como informais, de
iniciativa institucional ou bottom-up. A análise das iniciativas
recolhidas é orientada por, e serve, em simultâneo, de apoio para propor e
refinar uma grelha analítica, a qual inclui uma definição de participação
cidadã e algumas dimensões e categorias de maior relevância para a descrição e
discussão das práticas identificadas. O artigo visa deste
modo esboçar pistas para o desejável prosseguimento de inventariação,
teorização e aprofundamento das práticas da participação cidadã sénior no
contexto nacional. METODOLOGIA Os dados apresentados no
presente artigo são parte dos obtidos através de um inquérito por questionário,
visando inventariar experiências locais de participação sénior em Portugal. A introdução do questionário definia o tipo de
iniciativas a contemplar: ações em que seniores ou pessoas idosas de 55 ou
65 e mais anos tenham um papel ativo na definição de necessidades e
prioridades locais, na planificação, na implementação
e/ou na avaliação de atividades, serviços, projetos ou políticas. Os promotores
dessas ações poderiam ser autarquias locais, organizações da sociedade civil,
grupos informais de cidadãos ou outras entidades ou parcerias. Clarificava-se
ainda que tais ações não tinham necessariamente de ser
boas práticas e poderiam estar em curso, ainda em preparação ou já
concluídas. O questionário, para preenchimento online,
com questões de resposta aberta e fechada, era composto por quatro secções: I informação
geral sobre todas as iniciativas de participação específicas para a população
mais velha em que a entidade inquirida estivesse envolvida; II informação
complementar, de maior detalhe, sobre uma ou duas das iniciativas incluídas em I
que a entidade entendesse destacar como exemplos mais relevantes; III informação
referenciando outro tipo de iniciativas (não específicas para seniores e/ou
promovidas por outras entidades); IV informação
sobre o respondente. A análise efetuada no presente artigo incide
somente sobre informação de caracterização de iniciativas específicas para
seniores em que a entidade respondente estivesse diretamente envolvida (isto é,
secções I e II do questionário), tendo a secção III sido utilizada durante o
processo de recolha de dados para identificar outros potenciais inquiridos. O apelo ao preenchimento foi disseminado por
múltiplas vias, conjugando-se: convite
direto, dirigido quer a listas extensivas de organizações (e.g., municípios em Portugal) quer a entidades específicas identificadas
como potenciais promotoras de ações relevantes (e.g.
associações de reformados e pensionistas; outras iniciativas assinaladas por
inquiridos, segundo a técnica de bola de neve); divulgação através de organismos de referência (e.g.,
FITI-Federação das Instituições de Terceira Idade), mailing-lists, websites
e redes sociais. O questionário esteve disponível para
preenchimento entre 29 de maio e 1 de julho de 2014. Foram recebidas 57 respostas, provenientes de 55
entidades (com respostas separadas de 2 departamentos
em 2 delas), sediadas em 46 concelhos das 7 regiões (NUTS II) de Portugal
continental, Açores e Madeira. A grande maioria das respostas (77%) é de
autarquias (40 questionários de 38 câmaras municipais e 4
de juntas de freguesia), 1 da administração central/regional, 7 de
IPSS/Misericórdias, 3 de outras associações/organizações não lucrativas e 2 de
grupos informais. Quase dois terços dos questionários recebidos (64,9%)
incluem, na secção II, informação mais detalhada sobre uma (29) ou duas (8)
iniciativas de participação sénior, traduzindo-se num total de 45 experiências
locais descritas. Dessas 45 iniciativas destacadas, 80% provêm de autarquias
(32 câmaras municipais, 4 juntas de freguesia), sendo
as restantes indicadas por IPSS/Misericórdias (4), outras associações (3) e
grupos informais (2). ANÁLISE DE RESULTADOS A apresentação e análise
dos resultados é feita distinguindo as duas vertentes
de mapeamento das práticas de participação sénior contempladas no estudo. Num
primeiro momento, para efeitos de enquadramento e ilações preliminares quanto
ao panorama global da realidade nacional, analisam-se dados de caracterização
extensiva do conjunto das práticas em que os respondentes estão envolvidos,
com base numa lista de opções pré-definidas (secção I do questionário). Tal
informação não permite contudo um aprofundamento da
natureza das práticas ou sequer o aferir do ajustamento da tipologia aí
utilizada à realidade das experiências e entendimento dos inquiridos sobre
participação sénior. A exploração desta segunda vertente é feita com base na
informação qualitativa, mais detalhada, relativa ao sub-universo
de iniciativas que os inquiridos optaram por destacar (secção II do
questionário). A análise e discussão destes dados servem então o duplo
propósito de concorrer para um conhecimento substantivo, mais rico, de
experiências de participação sénior implementadas em
Portugal, mas também de contribuir para a conceptualização deste domínio,
esboçando uma grelha analítica útil para a descrição, tipificação,
diferenciação e problematização das práticas no contexto nacional. PANORAMA GERAL DAS PRÁTICAS DE PARTICIPAÇÃO
SÉNIOR DOS INQUIRIDOS O que se está a fazer em
Portugal no domínio da participação sénior? Embora a natureza do estudo não
permita naturalmente uma resposta exaustiva e conclusiva atendendo à falta de
universalidade ou representatividade das respostas ao inquérito e também à
incerteza quanto ao entendimento dos inquiridos sobre o conceito os resultados
incluem, ainda assim, alguns elementos sugestivos quanto à ocorrência e peso
relativo de diversas modalidades de participação no território nacional.
Destacam-se as respostas a uma pergunta que instava os inquiridos a assinalar
numa lista pré-definida todos os tipos de atividades de participação
específicas para seniores em que estivessem envolvidos. As opções selecionadas,
reagrupadas e sintetizadas, constam do quadro 1. Torna-se assim patente que as atividades mais
frequentes entre as entidades/grupos respondentes são claramente modalidades de
recolha de informação (individual), através de questionários/entrevistas de
levantamento de necessidades ou equivalente (o único tipo implementado
pela maioria do inquiridos 67%) ou de avaliação (40%), com mais de um terço
(37%) a acusar também a receção e o registo de opiniões e sugestões noutros
formatos. Cerca de um quarto dos respondentes reporta modalidades de consulta
em grupo, sobretudo, mas não só, de caráter pontual. Relativamente frequentes
(32%) são também as situações em que grupos de idosos assumem alguma
responsabilidade na organização e/ou execução de ações. Mais esporádica é a implementação de mecanismos
formais de participação sénior, de tipo Conselho Municipal Sénior (ainda assim 5 casos registados), Orçamento Participativo Sénior (2
casos) e Comissão de Utentes (1 caso); é possível que aqui se possam enquadrar
igualmente parte das situações reportadas de consulta regular em grupo. De sublinhar ainda que 5% dos respondentes
admitem não ter qualquer atividade específica para seniores, enquanto outros
apontam iniciativas de natureza distinta das listadas (mas que, na sua maioria,
não parecem, pela descrição obtida, corresponder à definição de participação
cidadã subjacente ao estudo). NATUREZA DAS PRÁTICAS
DE PARTICIPAÇÃO SÉNIOR: UMA PROPOSTA ANALÍTICA E UMA DESCRIÇÃO DETALHADA Mas em que consistem
concretamente as atividades que estão a ser implementadas?
Em que medida refletem de facto um conceito de
participação cidadã sénior? E que vertentes se poderão destacar como mais
relevantes para descrever, delimitar e contrastar as práticas locais? A
informação mais detalhada e qualitativa recolhida sobre o subconjunto de 45
iniciativas que os respondentes entenderam destacar na secção II do
questionário serve de base para a exploração destas questões. A apresentação
inclui também o desenvolvimento e fundamentação da grelha analítica que,
simultaneamente, suporta e resulta da análise dos dados, num processo iterativo
em que os conceitos extraídos da bibliografia sobre o tema foram testados,
revistos e ajustados com base no material empírico recolhido. Assim, a
estrutura desta secção coincide com a proposta de modelo conceptual que é em si
mesma avançada como um resultado do estudo, integrando as seguintes
componentes, a partir do nível mais abstrato e abrangente para o mais concreto: 1) O primeiro passo envolve a delimitação do
conceito a partir de uma definição de participação cidadã sénior (PCS), que
servirá de base à triagem das práticas relevantes para a análise, bem como de
referente constante ao longo da discussão. 2) O passo seguinte avança no mapeamento do
campo da PCS a partir da identificação de duas dimensões que são propostas como
eixos centrais para o entendimento das práticas, traduzindo-se na diferenciação
de 4 quadrantes ou grandes tipos de participação. 3) Na etapa final faz-se um zoom sobre as
iniciativas concretas de PCS identificadas. Estas são classificadas em 8 modalidades de participação e analisadas também à luz dos
conceitos delineados nas componentes anteriores. DELIMITANDO O CONCEITO: DEFINIÇÃO DE
PARTICIPAÇÃO CIDADÃ Atendendo à
heterogeneidade de entendimentos sobre participação sénior que se antevê
subjazer às respostas dadas (alimentada, de resto, pela formulação do
questionário, que procurava captar um leque amplo de iniciativas), o primeiro
passo da análise envolve delimitar e selecionar as práticas que correspondem ao
objeto do estudo. Para tal propõe-se a seguinte definição de participação
cidadã (sénior): envolvimento direto dos cidadãos (seniores) visando
aumentar a sua influência em decisões e processos que afetam a sua vida e a sua
comunidade, ao nível coletivo, e em que assumem um papel ativo como agentes de
mudança social. A PCS definida deste modo pode ser enquadrada
como um subtipo de participação social, correspondendo aos níveis superiores
das taxonomias/tipologias de participação social de seniores propostas por
Levasseur, Raymond e colegas (Levasseur et
al., 2010; Raymond et al., 2012; Raymond et al., 2015).
Corresponde também, no essencial, ao que se tem designado como participação
comunitária, cívica e política (Almeida, 2009; WHO-Europe, 2002), enfatizando,
contudo, formas de participação direta dos cidadãos, por contraponto a formas
indiretas baseadas na eleição de representantes (Roberts, 2004). Numa primeira etapa
de análise das iniciativas recenseadas verifica-se que, em mais de metade dos
casos (27 dos 45), os elementos fornecidos nas descrições não permitem
enquadrá-las nesta definição. Tratar-se-á de projetos e atividades diversos em
que os seniores são participantes (ou simplesmente público-alvo/
beneficiários), sem que haja indicação de que tenham influência significativa
sobre os processos em causa e/ou de que estes visem a
mudança social. Relativamente às restantes 18 iniciativas (Quadro
2), a informação fornecida, embora sugerindo a
ocorrência de participação cidadã, não permite para muitas delas asseverar que
correspondam efetivamente aos critérios subjacentes a esta definição. Optou-se
ainda assim por incluí-las nas fases seguintes para diversificar o leque de
possíveis modalidades de PCS em análise. Sublinhe-se, por outro lado, que em
grande parte dos casos a prática em causa não tem este género de participação
com objeto principal, incluindo tão-somente algumas componentes que poderão
contribuir para uma influência dos seniores envolvidos em decisões ou processos
coletivos; são também só essas as vertentes das iniciativas que são
contempladas nas fases subsequentes da análise. AFINANDO O CONCEITO: DIMENSÕES E GRANDES TIPOS
DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ Um segundo passo na
conceptualização e análise envolve um mapeamento do campo da PCS que permita
distinguir e enquadrar grandes tipos de participação. Propõe-se como central
para a descrição e classificação das iniciativas de PCS a consideração das duas
seguintes dimensões ou eixos da participação cidadã: em que etapas da
decisão/implementação incide o envolvimento dos
seniores e quem lidera a iniciativa de participação. Dimensão
(1) Etapas do processo de mudança social O envolvimento dos
cidadãos pode ocorrer em uma ou mais fases do processo (seja ele de decisão
política, implementação de serviços e ações ou outro,
de mudança social), indo dos estádios iniciais de caracterização e análise da
situação à formulação e efetiva implementação e avaliação da ação. Na figura 1
esta dimensão foi representada no eixo vertical, de acordo não com a mais
habitual ordem cronológica, mas sim com o grau de fechamento da agenda,
localizando decisões e atividades progressivamente mais específicas de cima
para baixo, correspondendo o topo às etapas mais genéricas e de conceção
e a base às mais concretas e de atuação. Na bibliografia sobre participação esta questão
tem sido frequentemente abordada em termos das suas implicações: por exemplo,
vantagens/desvantagens da participação pública nas etapas iniciais vs.
em fases posteriores em que a agenda já está decidida; ou ainda das situações
em que se estende a várias etapas do processo, por oposição ao envolvimento num
só momento (Cornwall, 2008; Roberts, 2004). Na presente proposta, contudo,
esta dimensão (como a segunda) não envolve à partida
qualquer pressuposto normativo do que é boa ou má participação. Por outro
lado, dá-se um lugar explícito às componentes de atuação, frequentemente
ausentes ou subvalorizadas numa literatura muitas vezes centrada na
participação em processos consultivos deliberativos e de decisão, em detrimento
dos de implementação. Dimensão
(2) Relação entre cidadãos e as instituições As iniciativas de PCS
podem ser entendidas como variando entre dois polos, consoante são controladas
pelos cidadãos (à esquerda no eixo horizontal na figura 1 ou por instituições a
eles externas (à direita). Está em causa a distinção
entre abordagens de baixo para cima e de cima para baixo e, mais
especificamente na bibliografia sobre participação, a diferenciação entre user/citizen-led
e agency-led (Carter e Beresford, 2000) ou participação autónoma vs.
por convite (Cornwall, 2008). Esta dimensão é todavia aqui tomada mais como
contínua do que categorial, pressupondo graus intermédios determinados pelo
tipo de interação que se verifica entre os intervenientes. Assim, no lado esquerdo da figura 1 Participação
Autónoma temos formas de participação popular em que os cidadãos
(organizados ou não, em estruturas formais ou informais) tomam a iniciativa ou
lideram-na. Mantendo autonomia face às instituições, podem, ainda assim, com
elas interagir, conseguindo graus variáveis de reconhecimento da sua voz e
até um eventual lugar formal no processo de decisão e/ou recebendo apoios e
recursos para a atuação. As modalidades de Participação por Convite,
situadas no lado direito, são da iniciativa das instituições (públicas ou privadas)
que convidam os cidadãos a envolver-se no processo de decisão e/ou implementação de políticas ou serviços, atribuindo-lhes
graus também diversos de controlo e influência. O entendimento de PCS aqui proposto engloba pois, não só o âmbito mais tradicional da participação
pública, mas também o da automobilização em sentido lato, nas suas múltiplas
formas, que alguns autores têm apontado correr o risco de ser desconsiderado ou
mesmo equiparado a patologia social face à proliferação das oportunidades de
participação por convite (Cornwall, 2008; Matos, 2011). O espaço resultante do cruzamento destas duas
dimensões define quatro quadrantes ou grandes tipos de participação: 1) Influência (por convite, na conceção):
corresponde a situações em que os cidadãos são chamados a participar em uma ou
mais etapas de processos de decisão liderados por organizações públicas ou
privadas, podendo assim, por iniciativa destas, ter influência (de grau
variável) na definição das políticas, serviços ou atividades em causa. Enquadrar--se-ão
aqui as mais habituais modalidades de consulta ou participação pública ou ainda
mecanismos como os orçamentos participativos. 2) Colaboração (por convite, na atuação):
remete também para uma forma de participação por convite institucional,
centrando-se neste caso o envolvimento dos cidadãos na fase de implementação de
políticas, serviços ou atividades (previamente decididas) da responsabilidade
de organizações públicas ou privadas. Serão possíveis exemplos as comissões de utentes implicadas na gestão das atividades
ou as situações de participação direta na prestação de serviços em processos de
coprodução. 3) Expressão (autónoma, na conceção):
abarca iniciativas em que os cidadãos têm como objetivo influenciar processos
de decisão de interesse coletivo, fazendo-o, contudo, de um lugar autónomo,
exterior às instituições públicas ou privadas. As interações com estas
entidades poderão assumir formatos e naturezas diversas, desde o de
interlocutor formalmente reconhecido a várias práticas de tipo advocacy,
pressão ou mesmo contestação como pode suceder em movimentos sociais e de
protesto, associações de interesses (e.g., de doentes, residentes) e outras. 4) Ação (autónoma, na atuação):
corresponde a formas de ativismo em que os cidadãos se mobilizam para atuar
diretamente sobre fatores que os afetam de forma coletiva, promovendo a mudança
social através de iniciativas pelas quais são eles próprios responsáveis, e
podendo ou não contar com o beneplácito, apoio ou parceria de instituições
públicas ou privadas. Serão exemplos, atividades comunitárias lideradas por
moradores ou grupos de auto-ajuda. Sublinhe-se que os eixos e quadrantes assim
definidos não são mais do que coordenadas para ajudar a posicionar e analisar a
natureza das práticas de PCS, sem contudo preconizar
categorizações rígidas e exclusivas e pressupondo aliás que uma mesma
iniciativa pode estender-se a mais do que um quadrante (como sucederá, por
exemplo, quando organizações de cidadãos sejam convidadas a ter um lugar formal
em processos de consulta pública ou incluam no seu âmbito de atuação atividades
tanto de representação e lobbying como de prestação direta de serviços à
comunidade). ENQUADRANDO E CARACTERIZANDO AS PRÁTICAS
IDENTIFICADAS: MODALIDADES DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ As 18 iniciativas
selecionadas como possíveis experiências de participação cidadã são, nesta fase
final da análise, reagrupadas em várias modalidades,
correspondendo a uma taxonomia de base empírica, não exaustiva, que pretende
ser essencialmente descritiva do formato das atividades de PCS identificadas.
São igualmente situadas face aos quatro tipos de PCS delineados (coluna da
direita do quadro 2) com a representação gráfica
(Figura 2) a ilustrar nuances adicionais na localização das iniciativas. O exercício de descrição e de enquadramento dos
casos concretos nas várias modalidades e quadrantes torna patente a relevância
de considerar dimensões e critérios adicionais de caracterização/diferenciação
das práticas de participação. Embora o material empírico disponível não permita
a sua sistematização como parte integrante da grelha analítica, dado o limitado
número de casos e de informação existente sobre cada um, tais reflexões vão
sendo introduzidas, a título ilustrativo, a propósito de modalidades e iniciativas
em que se tornam mais salientes, sendo posteriormente retomadas na discussão
final. Identificam-se assim oito modalidades de PCS
(alíneas a h), organizadas em três grupos: recolha de informação junto de
seniores; estruturas de representação de seniores; atividades por seniores. Recolha
(pontual) de informação junto de seniores a) Recolha de Informação auscultação
junto de seniores (ID) Em um terço (6) das
iniciativas analisadas, a PCS cinge-se a práticas desta natureza. Têm em comum
o permitir conhecer perspetivas de seniores, com vista a contribuir para o delinear de serviços ou políticas que melhor correspondam
aos interesses e necessidades dessa população. São também de caráter pontual.
Podem, contudo, diferenciar-se em vários aspetos. Desde logo no promotor, que
será frequentemente a instituição que pretende desenvolver o serviço/política e
para tal procede à recolha de informação (P2 a P6 do
Quadro 2), mas pode também ser uma entidade sem qualquer controlo sobre os
processos que pretende influenciar (P1). As metodologias variam igualmente: a
aplicação individual de questionário ou equivalente técnica estruturada
individual surge com mais frequência, mas outras são também referidas focus
group, photovoice, workshop. Poderá ser pertinente distinguir submodalidades
com base na técnica usada, modo de interação e outros aspetos metodológicos
envolvidos, distinguindo, por exemplo, as modalidades de auscultação
individual vs. em grupo ou as de auscultação fechada vs. aberta. De facto,
da natureza das metodologias, mas também da sua aplicação, e dos propósitos e
contexto da atividade, podem resultar diferenciações das práticas que são
relevantes quer para a sua localização no espaço bidimensional proposto, quer
até, no limite, para excluir algumas delas como não sendo de efetiva
participação. Por exemplo, algumas auscultações serão flexíveis, permitindo aos
cidadãos amplitude na formulação de opiniões e até na escolha dos temas. Mas
outras (questionários com questões fechadas e objetivos delimitados) poderão,
em vez de auscultar, limitar-se a recolher dados sobre os seniores, que são nesse caso essencialmente o objeto de uma análise
efetuada pela instituição situação em que não fará então sentido falar de
real PCS (representada na Figura 2 por um símbolo parcialmente externo ao
espaço de PCS). Por outro lado, a forma de interação também tem implicações
diversas, nomeadamente em termos do tipo de competências que exige ou
desenvolve (e.g. o contexto de grupo
pode promover o debate, até a auto-organização; o individual pode ser a única
forma de chegar a pessoas com limitações de mobilidade ou comunicação). b) Recolha de Informação avaliação junto de utentes/participantes seniores (IU) Uma das iniciativas (P7)
ilustra outra prática de recolha de informação que permitirá obter opiniões dos
seniores, mas agora face a atividades já implementadas
e junto de participantes nas mesmas. Tal como se observou
para a auscultação, as metodologias empregues podem ser diversas, com
implicações, no limite, para o carácter de efetiva PCS. Assinale-se, por outro
lado, que só se justificará que uma avaliação seja considerada como
participação quando os resultados sejam tidos em conta para transformar a
intervenção. Estruturas
de representação de seniores c) Estrutura consultiva com
(representantes de) seniores (ECR) Ainda no quadrante da
Influência sobre o processo decisão de iniciativa institucional, encontram-se
exemplos de um tipo de mecanismo de carácter continuado e interativo: dois
Conselhos Municipais Sénior (P8, P9).3 Trata-se de órgãos com função consultiva, especificamente
criados por autarquias para participação dos seniores em decisões e políticas
do município relevantes para a população idosa. Além dos representantes
dos cidadãos, ambos integram também membros de outras instituições. Podem ou
não assumir adicionalmente algum poder decisional. Os exemplos ilustram ainda
diferenças quanto à natureza da representação e do processo de admissão dos
participantes. Em ambos a participação não é aberta a qualquer interessado,
fazendo-se através de representantes dos seniores selecionados. Contudo num dos
casos (P8) estes são residentes de 65 ou mais anos, escolhidos por um processo
de nomeação institucional, enquanto no outro (P9) não serão sequer cidadãos
sénior a integrar diretamente no Conselho, mas sim representantes o que pode
levar a questionar se se trata de uma efetiva situação de PCS. d) Representação de seniores (associação ou outra)
reconhecida em função consultiva (RSC) Encontramos um outro exemplo Fórum Sénior concelhio (P10) com
semelhanças com a ECR mas desta feita situado mais no campo da Expressão
(Figura 2), por estar em causa uma iniciativa independente, liderada por
cidadãos mas que, contudo, é reconhecida como interlocutor permanente, a
título consultivo, do município e outras entidades públicas e privadas locais.
No caso concreto em análise, trata-se de um grupo informal e aberto à
participação de qualquer cidadão (sem restrição etária) ou organização. e) Representação de seniores
(associação ou outra) (RS) Outras duas iniciativas
recolhidas (P11, P12) correspondem também a estruturas autónomas, lideradas por
cidadãos, visando representar a população idosa. Contudo, embora possam
igualmente pretender funcionar como interlocutores junto das instituições
responsáveis por políticas e serviços para idosos, não têm à data esse papel
reconhecido e assim situam-se exclusivamente na área da Expressão. Ambos os
exemplos são associações, mas com natureza algo diferente, já que num caso se
trata de uma associação de idosos (embora estes não sejam necessariamente os
únicos associados), enquanto no outro se destacam associados institucionais
(conquanto admitindo igualmente pessoas singulares). As duas visam sobretudo uma representação ao nível nacional ou mesmo
internacional, pelo que poderão não se enquadrar numa definição mais estrita de
iniciativas de participação local. Serviços/atividades
por seniores f) Atividades auto ou cogeridas por
seniores (AS) Enquanto as modalidades
até agora referidas se situam no essencial (ainda que não exclusivamente) nos
quadrantes da conceção, os restantes exemplos selecionados centram-se na
atuação direta. Uma das iniciativas (P13) corresponde à criação, gestão
e implementação quotidiana de uma atividade (convívio)
por um grupo informal de idosos que se organizou para esse fim. Embora neste
exemplo a atividade conte com significativos apoios institucionais, é da
responsabilidade dos seniores, pelo que se situa no quadrante da Ação. g) Atividades com colaboração de utentes/participantes seniores (AU) Encontram-se, por outro
lado, três exemplos de iniciativas (P14-16) em que os seniores têm também uma
participação ativa na concretização de atividades, as quais permanecem,
contudo, sob a responsabilidade de instituições (nos casos em análise,
Municípios e Junta de Freguesia), tendo sido, portanto, localizadas na área da
colaboração. Um dos exemplos é também um Centro de Convívio
(P14), com semelhanças pois com a ilustração da
modalidade anterior. Porém os dados, ainda que insuficientes, são sugestivos de
que aqui o envolvimento dos seniores-utentes não abrange idêntica amplitude de
funções e responsabilidades (e.g.,
não incluindo a obtenção e gestão de recursos financeiros), pelo que a extensão
vertical da sua representação na Figura 2 é comparativamente menor. Noutros
casos o envolvimento dos idosos parece cingir-se à execução de tarefas muito
delimitadas, levando inclusive a questionar se deverá considerar-se como
verdadeira PCS, que permite mudança e/ou se, nalgumas das situações, não será
mais adequadamente classificado como voluntariado, de acordo com a definição
seguinte. h) Voluntariado (V) A consideração como
efetiva PCS de iniciativas em que os seniores desempenham funções como
voluntários em atividades e serviços institucionais neste estudo pelo menos
os exemplos P17, P18, P16 e talvez P14 coloca algumas questões. Se, por um
lado, os cidadãos idosos têm aqui certamente um papel ativo, por outro, o facto
de se circunscreverem à execução de tarefas ou prestação de serviços em
atividades inteiramente definidas por terceiros não garante que possam ou
pretendam, por essa via, contribuir para uma significativa mudança social. E
pode inclusive ilustrar um tipo de participação meramente instrumental,
visando obter redução de custos, para que algumas tipologias de participação
alertam (Cornwall, 2008). Mais ainda se questiona a observância da dimensão
coletiva prevista na definição de PCS adotada em situações, como num dos
exemplos, em que os voluntários atuam prestando apoio individual lembrando-se
a esse propósito que a taxonomia de participação social de Levasseur e colegas
(2010) distingue o nível (5) de ajuda aos outros
(onde se inclui o voluntariado) do nível (6) contribuir para a sociedade, que
equacionamos com a PCS. Acresce que os serviços prestados podem ter como
beneficiários um grupo social claramente distinto do dos voluntários, levando a
duvidar se nesses casos se pode considerar que o poder acrescido eventualmente
resultante é-o de facto sobre processos que dizem respeito à sua vida e à sua
comunidade. Assim, sem pôr obviamente em causa o mérito e benefícios
potenciais do voluntariado, será importante distinguir quais as iniciativas
deste género que podem ser estritamente entendidas como de PCS. Por outro lado,
é de assinalar que a bibliografia sugere que o voluntariado pode ser um meio de
capacitar e motivar os idosos a envolverem-se noutro tipo de atividades,
incluindo de âmbito cívico (Morrow-Howell et
al., 2014), pelo que, mesmo quando não sejam estritamente PCS, tais
iniciativas podem ainda assim ser ponto de partida para a sua promoção. DISCUSSÃO Sendo este o primeiro
estudo de âmbito alargado sobre estruturas e mecanismos locais de participação
cidadã sénior de que se tem conhecimento em Portugal, a inventariação e análise
de iniciativas realizada pretende proporcionar uma primeira aproximação
exploratória à situação atual de PCS no país, ao mesmo tempo
que procura contribuir para uma reflexão e uma operacionalização do
conceito ajustada ao contexto nacional. PARTICIPAÇÃO CIDADÃ SÉNIOR EM PORTUGAL: CONTRIBUTOS
PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DO CONCEITO Uma primeira observação
de fundo decorrente do estudo é a de que em Portugal a PCS poderá ser um
conceito com significado pouco preciso entre os atores locais (autarquias, IPSS
e outros) situação compatível com um domínio de atuação que estará ainda em
estádios iniciais de desenvolvimento. Por outro lado, a dificuldade do próprio processo
de análise, constatada desde logo na triagem das iniciativas pertinentes,
confirma também a complexidade inerente ao conceito, de difícil circunscrição e
sem dúvida passível de interpretações e delimitações diversas. Como contributo para aprofundamentos futuros da
investigação e reflexão da temática, este artigo propõe elementos para uma
grelha analítica das iniciativas locais de participação cidadã sénior, desenvolvidos simultaneamente como resultante e suporte da
análise das práticas coligidas. Tal proposta vem esboçar uma primeira resposta,
no contexto nacional, aos apelos a uma explicitação, na investigação e prática,
do entendimento de participação subscrito (Raymond et
al., 2012), apostando na clarificação através da especificação do que está
concretamente em causa (Cornwall, 2008). Delineou-se assim uma definição de PCS
que, complementada com um espaço bidimensional de análise traduzindo-se em
quatro grandes tipos ou quadrantes de participação influência, expressão,
ação, colaboração , é proposta como de valor heurístico para um primeiro nível
de descrição e enquadramento do universo das práticas de participação cidadã.
Ainda que abarcando diferenciações destacadas noutras tipologias e trabalhos por exemplo a oposição entre iniciativas institucionais/top
down e de base cidadã/bottom-up ou entre mecanismos consultivos e
deliberativos esta quadripartição do campo da PCS é todavia avançada enquanto
sistema de coordenadas de referência e não tanto como classificação rígida. De
facto, os dados empíricos analisados sugerem uma realidade de fronteiras
fluídas e nem sempre diferenciáveis, constatação de resto partilhada com
Cornwall (2008) que salienta que a prática da participação tenderá precisamente
a diluir muitas das distinções apresentadas como claras nas tipologias
teóricas. O passo final no modelo analítico traçado envolve a identificação de
oito modalidades de PCS, que funcionam como descrição sumária do formato das 18
práticas analisadas e incluem recolhas de informação, para auscultação ou
avaliação, envolvimento em atividades/serviços e estruturas de representação de
seniores. É de salientar que, enquanto os elementos analíticos anteriores
(definição e quadrantes de PCS) são avançados como coordenadas para a
totalidade do campo conceptual em exploração Por outro lado, a grelha de análise delineada não
esgota os aspetos distintivos relevantes para o entendimento das práticas de
PCS. O exame das experiências locais coligidas ilustra e sugere a pertinência
de dimensões descritivas adicionais das práticas de participação, abordadas
também na bibliografia internacional. Se bem que o material disponível não
tenha possibilitado a sua adequada exploração e sistematização, leva ainda
assim a assinalar que, para distinguir diferentes tipos de iniciativas e afinar
critérios de inclusão, delimitando o que é ou não PCS, poderá ser nomeadamente
de considerar: a) O domínio: grandes temáticas focadas (e.g., ambiente social, ambiente físico, etc.) ou áreas mais específicas
(e.g., cuidados de saúde e sociais, mobilidade e transportes, habitação,
rendimento, atividades educacionais, culturais e recreativas, etc.); b) O âmbito geográfico: escala internacional,
nacional, municipal, de bairro, etc.; c) A natureza das instituições envolvidas (e.g. administração pública, central ou local; prestadores de serviços,
públicos e privados, lucrativos ou não lucrativos; associações, de seniores ou
outras; universidades; etc.); d) A natureza das relações entre instituições e
cidadãos: para além da questão da liderança, tomada como central na presente
análise, pode-se atender a aspetos como o enquadramento legal, o grau de
formalização, os papéis e poder dos vários intervenientes (incluindo, mas não
se esgotando, na distinção entre consulta, codecisão, decisão), entre outros; e) Os objetivos da iniciativa: verificar se
permite mudança social significativa; se a PCS é objetivo central ou
subsidiário; quais os objetivos e interesses implícitos (e.g. legitimação, eficiência, sustentabilidade,
empoderamento4); f) A duração da iniciativa (e.g. pontual, repetida, permanente); g) Que cidadãos sénior podem participar: quais
os potenciais envolvidos (e.g., residentes, utentes, grupo etário X, etc.), se participam a título
de representante ou em nome próprio, processo de escolha, caso exista; h) O tipo de interação: presencial ou não (e.g., por escrito ou online); individual ou em grupo (e dimensão
deste); grupo só de seniores ou misto (cidadãos seniores e de outras idades ou
cidadãos e técnicos/decisores); i) A metodologia e técnicas específicas para a
interação: sejam genéricas (e.g. entrevista, focus group, reunião, etc), ou métodos
especializados de participação (e.g. júri de cidadãos). Em contrapartida, há dimensões que não se
evidenciaram na análise do material recolhido, mas que a bibliografia aponta
como relevantes. Salientam--se, pela sua especial importância para viabilizar o
envolvimento efetivo da população idosa, os apoios à participação
explicitamente proporcionados pela iniciativa (suporte prático em aspetos como
transporte, despesas; medidas que promovam competências, confiança,
assertividade, expectativas; atenção às barreiras à participação, incluindo o
assegurar condições de acessibilidade física, comunicacional e outras) (Carter
e Beresford, 2000; Dewar, Jones e OMay, 2004; Postle,
Wright e Beresford, 2005; Scourfield e Burch, 2010). Não sendo possível avaliar
em que medida a ausência destas vertentes no material reflete características
das próprias práticas ou resulta de limitações do inquérito,
coloca-se em qualquer caso a hipótese de ser tema a merecer averiguação
mais dirigida em investigações futuras. Finalmente é de assinalar que a perspetiva
adotada no presente estudo, centrado numa abordagem descritiva exploratória da
PCS, não esgota evidentemente o campo de reflexão sobre o tema. Fora do âmbito
deste tipo de análise ficaram nomeadamente questões relativas à implementação e avaliação das práticas de participação.
Exemplos de tópicos relevantes no acompanhamento das iniciativas poderão ser:
quem foi realmente envolvido (e quem ficou de fora); quais os resultados,
positivos e negativos, nas instituições promotoras e nos próprios
participantes; que recursos foram necessários; quais os facilitadores e
obstáculos à implementação, incluindo as motivações
que subjazem à participação (Barnes, Harrison e Murray, 2012; Carter e
Beresford, 2000; Cornwall, 2008; Petriwskyj, 2011; Postle, Wright e Beresford,
2005; Scourfield e Burch, 2010). Entre os aspetos a discutir numa ótica de
avaliação das práticas, e simplificando um tema incontornavelmente complexo,
podem-se destacar designadamente a eficácia da participação (i.e., o aumento efetivo do grau de influência e controlo dos cidadãos
idosos e contribuição para mudança social), a representatividade e inclusividade
ou, ainda, o seu efeito capacitador e multiplicador (Almeida, 2009; Minkler e
Holstein, 2008; Roberts, 2004; Serapioni e Matos, 2013). Estes últimos são, saliente-se, elementos particularmente relevantes no caso da
população idosa face à sua enorme heterogeneidade, aos riscos acrescidos de
exclusão de certos subgrupos e a percursos pessoais e geracionais
potencialmente pouco favoráveis à participação cívica e política (Cabral et
al., 2011). PARTICIPAÇÃO CIDADÃ SÉNIOR EM PORTUGAL: UM
CAMPO DE PRÁTICAS AINDA INCIPIENTE A segunda grande linha de
análise do estudo efetuado refere-se ao estado das práticas de participação
sénior implementadas em Portugal. O reduzido número de
iniciativas locais reportadas que se enquadram na definição de participação
cidadã sénior e, mais raramente ainda, nas modalidades que noutros países têm
vindo a ser descritas como mecanismos de PCS mais relevantes, bem como a origem
muito recente das poucas experiências dessa natureza identificadas, indiciam
que esta é uma área de atuação ainda pouco desenvolvida, embora possivelmente a
registar interesse crescente em anos recentes. O alcance das observações nesta vertente da
análise está obviamente fortemente limitado pela não universalidade e
representatividade das iniciativas identificadas. Ainda assim, e tanto mais que
é plausível supor um viés no sentido da sobrerrepresentação dos respondentes
com mais interesse e atividades neste âmbito, face ao universo total de
inquiridos, os dados são sugestivos de um panorama de iniciativas de
participação cidadã pouco diversificadas e, em especial, com raro recurso a
modalidades mais complexas de envolvimento dos cidadãos. Tal como acontecerá a
nível internacional, parecem predominar as práticas que se restringem às
recolhas de informação/consulta (Dewar, Jones e OMay,
2004; Vegeris et al., 2007), individuais mais do que coletivas, e mesmo
essas com ocorrência inferior à observada noutros países (90% das autarquias do
Reino Unido que responderam ao inquérito da equipa de Vegeris reporta o
recurso a User feedback surveys). Entre as experiências registadas
parece assumir também com um peso relativo importante o envolvimento ou
corresponsabilização (porventura sobretudo informal)
dos seniores em ações concretas, talvez sobretudo na fase de execução.
Modalidades de participação mais formalizadas, com recurso a técnicas
específicas mais sofisticadas e/ou envolvendo poder decisório dos seniores
aparentam ser, em Portugal, casos pontuais e, de resto, recentes (das
iniciativas de PCS destacadas pelos inquiridos, a mais antiga das estruturas de
representação reportada é de 2010), elemento que atesta a favor do caráter
emergente deste domínio de atuação no país. Sobressai ainda no panorama
nacional, por contraste com dados internacionais, a aparente inexistência de
certos mecanismos, como os Painéis de Cidadãos ou Utentes, ou a relativa
raridade de modalidades frequentes noutros contextos, como os
Fórum Sénior ou as Comissões de Utentes de serviços (Carter e Beresford,
2000; Dewar, Jones e OMay, 2004; Vegeris et al., 2007). Finalmente, a
própria justaposição dos exemplos encontrados com o espaço conceptual proposto
para a análise da participação cidadã é sugestiva de lacunas e áreas de
desenvolvimento possível para novas e diversas práticas de PCS: por exemplo,
iniciativas institucionais que envolvam os cidadãos e utentes nas fases
centrais de decisão propriamente dita, ou em múltiplas ou todas as etapas do
processo; ou ainda quanto à (co-)responsabilidade de
grupos seniores em ações que não sejam só conviviais, recreativas ou
educacionais. Em contrapartida, face à aparente inovação que
representarão em Portugal, os poucos exemplos concretos de mecanismos
específicos de participação sénior identificados no inquérito realizado poderão
ser proveitoso objeto de estudo futuro, aprofundando características,
resultados e condições de implementação com vista,
nomeadamente, a avaliar o interesse e potencial de transferibilidade destas
práticas. Quanto ao tipo de promotores das iniciativas de
PCS, os dados sugerem que as autarquias podem estar na linha da frente das
experiências a este nível, embora seja mesmo assim reduzida a proporção das
respondentes com práticas específicas neste domínio e de maior raridade ainda a
implementação de modalidades mais complexas e
institucionalizadas, como Conselhos Municipais Sénior ou Orçamentos
Participativos Sénior. Em contrapartida, outro tipo de entidades com vasta
implantação nacional, como as IPSS com valências de idosos, ou os próprios
serviços de saúde, aparecem ainda menos representados nas experiências
inventariadas. Embora seja de ter em conta que a divulgação do estudo teve
possivelmente mais dificuldade em chegar até organismos desta natureza,
contribuindo para a sua sub-representação nas iniciativas recolhidas, será
relevante avaliar em novas pesquisas se tal refletirá de facto um escasso
desenvolvimento da participação cidadã sénior nestas organizações, uma
tendência que, a confirmar-se, seria distinta da que se observa noutros países.
Observações idênticas aplicam-se também às iniciativas lideradas pelos próprios
cidadãos seniores, largamente minoritárias, neste estudo, face às ações por
convite institucional. CONCLUSÃO A investigação sobre a
participação sénior numa ótica individual tem revelado, em Portugal, défices
acentuados no envolvimento cívico e sociopolítico dos grupos etários mais
velhos (Almeida et al., 2012; Cabral et
al., 2011). A implementação de um reportório adequado e diversificado de
estruturas e mecanismos locais de participação poderá ser um elemento-chave
nesta situação quer para conseguir assegurar maior ajustamento ao contexto e
consequente eficácia das ações, quer porque a combinação de múltiplas
estratégias tem sido apontada como essencial para chegar aos heterogéneos
subgrupos da população sénior, incluindo os mais difíceis de alcançar (Barnes,
2005; IDeA, 2007; Vegeris et al., 2007). O estudo realizado vem, pela primeira vez,
abordar a participação cidadã sénior em Portugal a partir da identificação e
caracterização das iniciativas que a nível local criam oportunidades, e
simultaneamente, expressam a vitalidade, das práticas de envolvimento da
população idosa nas decisões e processos de interesse coletivo. Ainda que de
caráter exploratório, traz assim um contributo preliminar para a caracterização
da realidade portuguesa neste domínio, sinalizando algumas experiências
inovadoras no território nacional e formulando hipóteses quanto a possíveis
tendências e lacunas nas oportunidades locais de PCS que constituem outras
tantas pistas para mais sistemática e aprofundada averiguação empírica futura.
Assinala, por outro lado, uma provável descaracterização e diluição da noção de
PCS entre os atores locais, situação que acentua a importância de esforços
acrescidos na delimitação e operacionalização do conceito ajustadas ao contexto
português. O presente artigo avança um contributo também nesse âmbito,
delineando uma definição e grelha analítica de PCS. Tais propostas poderão
servir como referência a validar e complementar em investigação adicional.
Poderão igualmente alimentar a discussão e reflexão alargada
sobre o tema que se considera oportuno promover: um debate que deverá
envolver a academia, mas também os poderes políticos, os profissionais e os
próprios cidadãos, aprofundando o entendimento do que é a efetiva participação
cidadã sénior e incentivando a experimentação, a avaliação e a disseminação das
práticas existentes em Portugal. REFERÊNCIAS
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Older People. [ Links ] Recebido a 11-12-2014. Aceite para publicação a
04-05-2016. NOTAS 1O estudo que serve de base
empírica para o presente artigo foi desenvolvido no ICS Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa, por Mariana F. Almeida com colaboração de
Roberto Falanga e supervisão de João Ferrão, enquadrando-se na iniciativa
Cidadania Activa 65+: experiências locais de participação em Portugal,
envolvendo uma parceria com a Câmara Municipal de Odivelas e Instituto do
Envelhecimento. Agradece-se a todas as pessoas e entidades que colaboraram na
realização do inquérito e responderam ao questionário. Um agradecimento
especial da autora ao Prof. João Ferrão pela orientação e revisão da versão
inicial do artigo. Investigação financiada através de bolsa da Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (SFRH/BPD/89091/2012). 2No Glossário de Promoção da
Saúde da OMS, o empoderamento (em saúde) é definido como o processo através
do qual as pessoas ganham maior controle sobre as decisões e ações que afetam a
sua saúde e descrito como um processo social, cultural, psicológico ou
político através do qual indivíduos e grupos sociais
podem expressar as suas necessidades, apresentar as suas preocupações, traçar
estratégias para o envolvimento na tomada de decisão e conseguir ação política,
social e cultural para responder a essas necessidades (Nutbeam, 1998, p. 6,
tradução própria). 3Relembra-se que a
informação aqui analisada corresponde a um subgrupo de iniciativas que os
respondentes entenderam selecionar, enquanto os dados da secção anterior se
reportam a todas as atividades participativas dos inquiridos razão pela qual,
por exemplo, o número de conselhos municipais sénior aí contabilizado é
superior (5) e constam por exemplo mecanismos de
orçamento participativo que não foram incluídos nas iniciativas detalhadas. 4Estes são exemplos de
algumas das possibilidades, na ótica da instituição promotora, sugeridas pela
tipologia de White apud Cornwall (2008).
O grande número de iniciativas reportadas pelos participantes no estudo em que
não se encontram elementos que as permitam enquadrar na definição adotada de
PCS apoia a conjetura de que, tal como tem sido observado na bibliografia
internacional (Cornwall, 2008; Levasseur et
al., 2010; Minkler e Holstein, 2008), o significado de participação, e em
particular de participação cidadã, se encontrará muito descaracterizado e
difuso tendendo provavelmente a ser cooptado pelo de participação social ou
participação ativa com o sentido amplo que lhe é dado no quadro de noções como
a de envelhecimento ativo, e assim esvaziado do conteúdo que lhe é próprio.
requerendo, bem entendido, validação da sua aplicabilidade e utilidade num
universo maior e mais representativo , a listagem de modalidades proposta não
se pretende nem exaustiva nem sequer representativa do amplo espectro de
potenciais oportunidades de participação cidadã, cingindo-se estritamente aos
casos inventariados.