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Análise Social
versão impressa ISSN 0003-2573
Anál. Social no.229 Lisboa dez. 2018
https://doi.org/10.31447/as00032573.2018229.03
ARTIGOS
Radicalização nas redes sociais: comentários no Facebook durante a disputa presidencial em 2014 no Brasil
Radicalization on social network sites: comments on Facebook during the Brazilian presidential elections in 2014
Fernanda Cavassana de Carvalho*, Michele Goulart Massuchin**, Isabele Batista Mitozo***
* Universidade Federal do Paraná. Campus Reitoria, Rua XV de Novembro, 1299, Ed. Dom Pedro I, Centro - cep 80060000 Curitiba, PR, Brasil.
** Universidade Federal do Paraná. Campus Reitoria, Rua XV de Novembro, 1299, Ed. Dom Pedro I, Centro - cep 80060000 Curitiba, PR, Brasil.
*** Universidade Federal do Paraná. Campus Reitoria, Rua XV de Novembro, 1299, Ed. Dom Pedro I, Centro - cep 80060000 Curitiba, PR, Brasil.
RESUMO
Radicalização nas redes sociais: comentários no Facebook durante a disputa presidencial em 2014 no Brasil. Este artigo discute o fenómeno da radicalização nas conversações online que ocorrem por meio de redes sociais. Analisam-se comentários postados pelo público nas fan pages do Facebook de jornais impressos brasileiros. Foram codificados 628 057 comentários publicados que mencionavam os principais presidenciáveis durante todo o período eleitoral de 2014, no Brasil. Discutem-se aspetos da radicalização através de duas variáveis específicas: reflexividade e formato dos comentários. Os resultados indicam que as redes sociais, embora permitam espaço para o diálogo, dão lugar a um debate em que os participantes priorizam criticar ou elogiar os candidatos e que serve, basicamente, para persuasão e radicalização. Além disso, verifica-se que a radicalização se distancia da polarização da disputa, pois concentra-se apenas na candidata à reeleição.Palavras-chave: radicalização; debate público; Facebook; eleições.
ABSTRACT
This paper discusses the phenomenon of radicalization into online conversation, especially through social network sites. Then, we analyze comments posted by Facebook users on Brazilian newspapers’ fan pages on that social medium. 628,057 comments mentioning at least one of the main candidates during the campaign were classified. The article discusses some aspects of radicalization, so it analyzes two specific variables: reflexivity and form of comments. Results show that social media, even though they open a space for dialog, give place to debates in which participants prioritize criticism or praise for candidates, and they basically lead to persuasion and radicalization.
Keywords: radicalization; public debate; Facebook; elections.
Introdução
O debate político configura-se como uma das principais linhas de investigação em internet e política, principalmente com enfoque nas redes sociais digitais (doravante, RSD) (Sweetser e Lariscy, 2008; Penteado e Avanzi, 2013; Adams e Mccorkindale, 2013; Valenzuela, Kim e Zúñiga, 2012; Bor, 2014; Mitozo, Massuchin e Carvalho, 2015; Maia e Rezende, 2015). Entre as subáreas, a pesquisa[1] originária deste artigo estuda o debate que ocorre entre os leitores de veículos de comunicação convencionais quando adentram as RSD, com atenção especial a um momento específico: as disputas eleitorais.
No caso dos jornais, ocorre uma mudança no modo como os leitores interagem com o veículo. A participação antes limitada à “carta do leitor” agora ganha destaque por intermédio das ferramentas online, especialmente as RSD. Nesse espaço, há interação entre o periódico e os seus leitores e também entre os próprios leitores de modo mais dinâmico e rápido, o que se relaciona com o que a literatura tem identificado como affordances da ferramenta (Halpern e Gibbs, 2013), isto é, os recursos próprios do ambiente em que há interação ou comunicação e que estimulam determinadas ações, moldando o comportamento e a interação nesse ambiente (Gibson, 1986).
Por meio dos comentários, os veículos convencionais abrem espaço para receber feedback dos seus leitores, o que lhes permite expressarem-se sobre determinado tema, por meio da reação a um conteúdo jornalístico produzido (Silva, 2013). Estudos como o de Sampaio e Barros (2010), Cervi (2013), Strandberg e Berg (2013) e Mitozo, Massuchin e Carvalho (2015) também analisam a relação entre periódicos e webleitores, e observam que estes últimos não são, necessariamente, o público leitor do jornal impresso. Os jornais possuem um número muito maior de seguidores - que podem ser de distintos perfis e lugares - do que de assinantes das versões impressas.[2]
Por outro lado, ainda que haja um espaço a proporcionar diálogo nas RSD, o modo de utilização distancia-se do modelo normativo idealizado (Dahlgren, 2005), principalmente porque há um fenómeno que se ampliou nessas redes: a radicalização (Amossy, 2011). Mesmo que não seja algo próprio da internet, alguns contextos - tal como o das campanhas eleitorais em contextos polarizados e de disputas acirradas - levam ao que alguns autores chamam de radicalização militante (Lattman-Weltman, 2015; Amossy, 2011; Brugnago e Chaia, 2015). A radicalização é uma das possibilidades dentro daquilo que a literatura denomina como reflexividade, que é uma das variáveis comumente presentes nas pesquisas sobre debate público. Segundo Sampaio, Barros e Morais (2012, p. 480) tal conceito pode ser “entendido como a consideração da perspetiva alheia ao formular as próprias argumentações e o estabelecimento de posição nas discussões, ou seja, incorporar os argumentos dos outros”. No caso da radicalização, de modo específico, a categoria restringe-se aos comentários e falas de participantes que reagem de forma negativa a outra postagem, com um tom sempre ofensivo (Janssen e Kies, 2004).
Este artigo, portanto, pretende analisar como é que esse fenómeno que permeia os espaços de debate online aparece nos comentários de veículos jornalísticos no Facebook durante as eleições de 2014, no Brasil. De entre as principais contribuições do texto, devemos considerar a análise empírica a tratar especificamente da radicalização, num cenário em que o tema ainda tem sido tratado do ponto de vista teórico e as demais análises empíricas são mais focadas nos aspetos deliberativos, de modo mais amplo.Trabalhámos sobretudo com o Facebook por ser esta a RSD de maior acesso no Brasil, segundo a atual Pesquisa Brasileira de Mídia (Brasil, 2016).
Conduz-se a análise pela observação das seguintes variáveis: (1) formato dos comentários (críticas, elogios, outros) e (2) reflexividade, segundo a proposta teórica e metodológica de Janssen e Kies (2004), que se divide em: ausência de reflexividade, persuasão, progresso e radicalização. O corpus empírico é constituído por 628 057[3] comentários de webleitores nas fanpages de 12 jornais brasileiros[4] de 1 de julho a 31 de outubro de 2014.[5] A hipótese que norteia o trabalho é de que, nos comentários feitos aos posts de campanha, destaca-se a radicalização do debate e há, ainda, uma relação diferente entre essa característica e cada candidato mencionado nos comentários.
Para testar essa hipótese, o artigo é desenvolvido da seguinte forma: a primeira secção traz uma reflexão teórica acerca do debate público desenvolvido na internet, especialmente, por meio das RSD. Num segundo momento, o artigo concentra-se na discussão do ponto específico de análise: a questão da radicalização, com observação da polarização e acirramento na disputa presidencial no Brasil, em 2014. A terceira secção apresenta brevemente as estratégias metodológicas adotadas para a investigação e, por fim, faz-se a análise dos dados, seguida de considerações finais acerca da problemática investigada na pesquisa.
PERSPETIVAS TEÓRICAS DO DEBATE NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS
As formas de participação política evoluíram e o advento das RSD pode ser considerado um fator importante nesse processo. Primeiramente, porque se deve pensar que, ao adentrá-las, os indivíduos passam a estar expostos, mesmo que acidentalmente, a conteúdos variados, dentre eles, a política. Como consequência dessa exposição, os cidadãos podem aprender mais sobre o campo político, o que se confirma na pesquisa de Valeriani e Vaccari (2016). Ao considerar as características dessas RSD, pode-se percebê-las como mecanismos que abrem ao público espaços mais abrangentes para o debate político, oferecendo novos rumos aos modelos de democracia participativo e deliberativo. Os comentários, especificamente, constituem-se como a maior inovação e o grande ponto de abertura que essas ferramentas proporcionam, pois, a partir deles, pode-se dialogar com outros usuários e trocar conteúdos de forma rápida.
A literatura acerca da relação entre internet e democracia tem analisado de forma crescente a discussão das RSD como espaços de debate público e deliberação (Sweetser e Lariscy, 2008; Penteado e Avanzi, 2013; Adams e McCorkindale, 2013; Valenzuela, Kim e Zúñiga, 2012; Bor, 2014; Mitozo, Massuchin e Carvalho, 2015; Maia e Rezende, 2015), os seus ganhos e desafios como uma extensão da esfera pública, tal como enunciada por Habermas (Dahlberg, 2001). Esses estudos, todavia, apresentam resultados diferentes, pois fatores como contexto, espaço utilizado, tema etc., exercem grande influência sobre o debate em si. Uma das diferenças cruciais é o espaço utilizado, como estrutura comunicativa, conforme se pode depreender de estudos como o de Janssen e Kies (2004). Ao contrário de uma página de periódico, um espaço voltado para a discussão de temas específicos apresenta melhores níveis de debate entre os participantes (Bragatto, Sampaio e Nicolás, 2015).
Desse modo, algo que dá outra perspetiva aos estudos é pensar que, assim como os cidadãos, as instituições também participam de forma crescente nas RSD a fim de ampliar o contacto com a sua audiência e, consequentemente, como uma forma de se legitimarem perante esses indivíduos, como é o caso das instituições políticas (Braga, Mitozo e Tadra, 2016), ou alcançá-los num ambiente em que já estão devido à maior escassez de acesso direto aos seus materiais não-digitais, como parece ser o caso do jornalismo.[6] No caso dos jornais, a sua entrada nas RSD resulta na reunião de seguidores distintos que, maioritariamente, não têm proximidade com a política ou possuem diferentes vertentes ideológicas. É diferente, por exemplo, do perfil da maioria dos seguidores e apoiantes em websites de candidatos e partidos, que tendem a ser mais afinados ideologicamente. Logo, o debate que pode ser fomentado por meio das suas páginas possui características particulares, pois a mudança de espaço e perfil dos comentadores também muda a maneira como ocorre o debate.
Do mesmo modo, deve-se pensar que a audiência se amplia ainda mais pela possibilidade de o conteúdo alcançar mesmo quem não segue a página do jornal. Isso ocorre, no caso da rede Facebook devido aos logaritmos da ferramenta, que levam aos “amigos” os “gostos”, os comentários, ou as partilhas dos elementos da sua rede. Assim, os cidadãos são acidentalmente expostos a notícias, especialmente políticas, interesse desta pesquisa, o que pode trazer implicações positivas à participação política, especialmente em relação ao desenvolvimento de melhor capacidade de se expressarem quanto a factos políticos devido à interação social proporcionada pelas redes (Valeriani e Vaccari, 2016).
De acordo com as características desse debate, a partir de análises baseadas em variáveis deliberativas, as discussões desenvolvidas em ambiente digital podem ser respeitosas, argumentativas e justificadas (Sampaio, Maia e Marques, 2011). O que é necessário é indicar que, embora haja espaços com debate de mais qualidade, também se podem encontrar resultados muito diferentes que indicam uma rutura da proposta de esfera pública e debate dialógico (Dahlgren, 2005). Um dos fatores que mais pode contribuir para essa rutura é a temática debatida, o que põe a política entre os pontos mais polémicos de discussão, devido às ideologias assumidas pelos internautas.
De entre os problemas que a impossibilidade de afastar-se das paixões políticas causa ao debate público por meio das redes digitais encontra-se, por exemplo, a radicalização. Além dela, muitas vezes os espaços de debate online possuem outras limitações. Se a radicalização ocorre em espaços mais heterogéneos, tampouco há debate efetivo em espaços tão homogéneos (Massuchin e Campos-Domínguez, 2015).
Ao pressupor que a internet pode contribuir com a expansão da esfera pública do debate ou, ao menos, materializar parte desse debate, Dahlberg (2001) aponta que, para haver diálogo, é necessária a existência de posições antagónicas. Da mesma maneira que a radicalização, a fragmentação, i. e., a reunião de pessoas em grupos que pensam de forma semelhante acerca de determinado assunto, não é um fenómeno típico da internet; todavia, intensificou-se nesse espaço.
No trabalho de Berrocal, Redondo e Campos-Domínguez (2014), por exemplo, a análise dos comentários aos vídeos conclui que esses são muito breves e apenas reafirmam a mensagem da maioria dos comentadores, que as autoras consideram prossumers, espécie de colaboradores da produção de conteúdo nas RSD. O mesmo é evidenciado na pesquisa de Maia e Rezende (2015), que identificaram, na discussão no Facebook, que as pessoas tendem a reafirmar as suas próprias preferências, enquanto evitam discutir com posições antagónicas. As autoras também analisaram outras plataformas, como Youtube e blogs, e constataram que a própria estrutura da plataforma gera especificidades no comportamento dos comentadores.
O que se conclui, portanto, a partir das investigações sobre debate na Internet, é que há fatores que interferem nas características do debate. Alguns espaços, como fóruns ou páginas feitas para discutir temas específicos, oferecem um debate mais qualitativo, enquanto em outros a performance dos comentadores se restringe a pouca argumentação e diálogo. A contribuição dos espaços das redes online nesse debate, contudo, ainda é pouco explorada pela literatura, sobretudo em relação à interação que fanpages de jornais podem fomentar e o tipo de discussão que pode ser desenvolvida por meio delas, uma vez que abrangem todo tipo de leitor e, assim, oferecem heterogeneidade de posições políticas, o que marca e dá formas ao debate desenvolvido acerca do conteúdo publicado.
A PERSPETIVA DA RADICALIZAÇÃO DA DISCUSSÃO POLÍTICA ONLINEOs estudos de Cervi (2013) e Strandberg e Berg (2013) já indicaram que os debates desenvolvidos no âmbito dos espaços digitais de veículos jornalísticos convencionais não seguem exatamente os critérios de argumentação e reciprocidade que aparecem na literatura como ideais. Isso acontece porque, em sua maioria, as fanpages agregam leitores e seguidores muito distintos ideologicamente, algo que transparece quando se trata do debate político, especialmente, em período eleitoral. Nesse contexto, um dos problemas principais que aparecem - quando se trata de um espaço mais heterogéneo ou de uma temática mais conflitiva - é a radicalização do debate (Amossy, 2011).
Embora não seja uma característica intrinsecamente atrelada à Internet, determinados contextos políticos permitem a presença de uma radicalização militante (Lattman-Weltman, 2015). A radicalização, segundo esse autor, se destaca nesse ambiente porque, se antes os “diferentes” estavam em espaços distintos e isolados, com a Internet eles podem conversar entre si. Apesar das referências que apontam para o diálogo na Internet a partir de consensos, também faz-se necessário observar o que se considera como fenômeno oposto: quando o dialogo está impossibilitado pela distinção entre amigos e inimigos (Lattman-Weltman, 2015).
Algumas pesquisas destacam a presença significativa de comentários do público ao pôr em foco os flames (Amossy, 2011), despreocupados, portanto, quanto à argumentação e ao respeito. O trabalho dessa autora foca-se nos comentários de um periódico francês, em que muitos comentários se caracterizaram por flames, com violência verbalizada (Cunha, 2013). A conversação sobre temas polémicos não é um problema, pelo contrário, seria saudável do ponto de vista democrático e da discussão política entre visões distintas. A questão problemática é o confronto que deixa de ser apenas polémico para se transformar em ofensivo.
De acordo com Amossy (2011), há dois pontos negativos básicos: a) os pseudónimos utilizados na internet, que facilitam esse comportamento; e b) a heterogeneidade dos jornais, já mencionada acima, quando se trata da diferença dos espaços. A autora assinala que nem todos os comentários se apresentam como radicais, mas o tom agressivo aparece e se direciona, inclusive, aos ausentes no debate, como os candidatos. O debate com flames resultantes de paixões políticas coexiste com o debate argumentado.
Para tentar compreender tal fenómeno, Carvalho (2016) utiliza o conceito de banalidade do mal, de Hannah Arendt, ao levantar o aspeto da intolerância e da naturalização desse comportamento por meio dos comentários. Apesar de, aqui, discutir-se a radicalização no contexto da política eleitoral, o autor levanta diversos exemplos dessa intolerância, que transparece na violência simbólica, como em discussões sobre racismo e homossexualidade, mas, na rede, essa característica acaba por encontrar um espaço propício no âmbito dos comentários.
Silva (2013) apresenta outro fator como definidor do debate: os tipos de moderação que podem ser feitos, que evitam a presença de postagens a expressar radicalização e violência verbalizada (Cunha, 2013). No entanto, a pesquisa que resultou este artigo indica que, no caso das fanpages estudadas, não parecia haver nenhum tipo de moderação, dadas as características de muitos comentários que contavam com termos, inclusive, inapropriados e que demonstravam formas de preconceito, violência etc.
Vale ressaltar, entretanto, que o comportamento dos comentadores não segue essa lógica em todas as fanpages de jornais. O caso analisado por Strandberg e Berg (2013), p. ex., indica que, ainda que não fosse o debate ideal, não houve falta de respeito ou incivilidade. No trabalho de Silva (2013), que analisava comentários sobre eleições brasileiras em websites de jornais portugueses, havia, inclusive, alto percentual de diálogo entre os comentadores e complemento de informação entre eles, algo pouco encontrado nas pesquisas com corpus semelhante - seja em websites ou RSD - que estudam veículos brasileiros (Mitozo, Massuchin e Carvalho, 2015). Apesar de Silva (2013) ter encontrado casos de não polidez, eles não tiveram número tão expressivo.
Assim, existem fatores que levam a um contexto em que os comentadores exprimem mais opiniões radicais. No caso do cenário analisado, Brugnago e Chaia (2015) chamam a atenção para a polarização e a radicalização fora da internet, ou seja, no contexto geral das eleições de 2014. Desse modo, o espaço de debate dos comentários foi ocupado por webleitores que replicaram aspetos já existentes no comportamento da sociedade. Logo, o contexto eleitoral mais polarizado e acirrado é uma variável explicativa relevante para a radicalização que aparece entre leitores e/ou eleitores (Silva, 2013).
Segundo Brugnago e Chaia (2015), o Facebook e o debate entre os participantes da ágora digital foi influenciado também pelos candidatos com discursos conservadores e radicais, principalmente por parte de candidatos aos cargos do legislativo que discutiam retrocessos nos campos dos direitos das minorias. Adiciona-se a isso, a campanha negativa, que se trata de uma estratégia voltada para o ataque dos oponentes, também bastante central na disputa de 2014, tanto em websites (Massuchin, 2015) quanto no Horário Gratuito Político Eleitoral[7] (hgpe) dos candidatos (Borba, 2015). Dessa forma, não é a Internet que torna o debate entre leitores radical ou polarizado, mas trata-se da uma migração de um contexto político-eleitoral aliado às características do espaço estudado (o Facebook dos jornais convencionais), que, conforme mencionado, tem um público diversificado.
Santos (2014) indica que alguns perfis do Facebook são caracterizados exatamente por um movimento reacionário e conservador, inclusive com discurso radical e tom agressivo, o que mostra que não é só o debate entre o público que incorporou essas características no cenário eleitoral, mas os próprios agentes políticos ou colaboradores da campanha também usam o artifício da radicalização. Desta maneira, trata-se de um fenómeno que não se limita aos comentários e que aparece noutros espaços e sob outros formatos também. Santos (2014) identifica uma forte rede anti-petista, basicamente alinhada com a extrema direita, o que vai ao encontro do que afirmam Boutyline e Willer (2015), sobre o facto de a direita se apresentar como mais homogénea e, portanto, criar essas redes de proximidade.
Assim, o contexto político-eleitoral de 2014 apresentou cenário propício para o estudo dessa característica justamente devido ao forte acirramento observado durante as campanhas, especialmente no segundo turno do pleito, dado que estas características são evidenciadas pelos autores citados como relevantes para a ocorrência de um debate mais radical nas RSD. O acirramento resultou em uma vitória apertada da incumbente, Dilma Rousseff (PT), sobre o representante da principal força de oposição nas últimas seis eleições presidenciais, Aécio Neves (PSDB), com uma diferença de pouco mais de 3% de votos. Então, uma eleição que prometia fugir de um cenário previsível de disputa, com Eduardo Campos e Marina Silva (PSB) a protagonizar vários momentos, culminou em forte embate social jamais visto no país. Esse contexto serve de mote, portanto, para a investigação, cujos métodos são apresentados abaixo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
A metodologia utilizada neste artigo foi desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a partir da Análise de Conteúdo (AC), com base nos modelos de Dahlberg (2004), Jensen (2003) e Jenssen e Kies (2004). Os dados foram extraídos do Facebook semanalmente, por meio do aplicativo Netvizz. Já o processo de codificação do banco foi realizado pela equipa de investigadores do referido grupo, após treinamentos conjuntos a partir do livro de códigos criado para a pesquisa.[8] Este arquivo de codificação continha todas as características a serem analisadas dos comentários, as quais eram denominadas como variáveis que continham distintas categorias para enquadrar o conteúdo.
O corpus empírico é composto por todos os comentários que mencionavam diretamente ao menos um dos três principais candidatos (Dilma Rousseff, Marina Silva e Acácio Neves). Esses comentários restringem-se aos posts que também mencionavam os referidos candidatos. O recorte totaliza 2 597 posts[9], que tiveram 628 057 comentários. Os dados referem-se aos 12 jornais apresentados na introdução deste texto - regionais e nacionais. Justifica-se a escolha pelos comentários feitos às postagens jornalísticas, por se considerar que o perfil de um jornal no Facebook se caracteriza como menos homogéneo para o debate, espaço, portanto, mais apropriado para observar se, de facto, o fenómeno da radicalização permeia o período eleitoral no Brasil. Essas páginas são diferentes daquelas de candidatos (Massuchin e Campos-Domínguez, 2015) ou em que se reúnem grupos específicos ou interessados por política, como fóruns de discussão temáticos (Bragatto, Sampaio e Nicolás, 2015).
A observação foi voltada para todo o período eleitoral, de 1 de julho a 31 de outubro de 2014. Na secção seguinte, apresenta-se a análise dos dados, com foco na radicalização da conversação nas RSD, a partir das variáveis formato e reflexividade. O formato, primeira variável apresentada na análise, sintetiza o conteúdo explícito no comentário, especificando, inicialmente se é uma crítica ou um elogio. Dentro da crítica ou elogio, ambos podem ser direcionados para o conteúdo do post, ao próprio jornal, a outros leitores, aos candidatos ou até mesmo ao governo. Quando não continha crítica nem elogio, categorizou-se o comentário como “formato indefinido”. Sendo assim, a variável possui 11 categorias: cinco relativas a elogios, 5 para críticas e uma para casos que não se encaixam nos anteriores.
Já a reflexividade diz respeito à forma como o comentador se posiciona diante dos demais para participar no debate. A partir de Jenssen e Kies (2004), foram definidas três categorias para a pesquisa além de uma quarta para casos que não se enquadravam nas já existentes. A primeira categoria é a persuasão, que pode ser definida pela tentativa de um participante persuadir outro, sendo que no caso das eleições isso pode ocorrer quando o comentador tenta convencer outro eleitor a votar no seu candidato, por exemplo. A categoria progresso, por outro lado, enquadra os comentários que apenas agregam novas informações e nos quais é possível perceber que há o intuito de levar adiante a discussão, sendo que há respeito mútuo e consideração pelos conteúdos adicionados ao processo de debate. Já no caso da radicalização, categoria importante na análise de dados proposta, percebe-se que o comentador demonstra explicitamente uma reação negativa à postagem ou ao comentário e passa a questionar a posição do debatedor anterior, ou mesmo a ofendê-lo, causando rutura no dialógo entre os participantes. Em muitos casos, nota-se desrespeito e a utilização de termos ofensivos, seja para referir os candidatos, seja em relação ao comentador ou a qualquer pessoa ou instituição.
Há, por fim, a categoria “sem reflexividade”, em que foram classificados os comentários que não apresentavam os tipos anteriores de reflexividade ao debate, e que geralmente não passavam de monólogos. Normalmente, tratava-se de comentários curtos, com risos, marcação de outros seguidores da página ou, até mesmo, que apenas demarcavam uma posição política, mas em que não havia qualquer indício de diálogo. É importante destacar que, na perspetiva de Janssen e Kies (2004), a persuasão e o progresso são características positivas para o debate, enquanto a radicalização seria negativa ao andamento do diálogo entre os participantes.
Na análise proposta neste artigo, o objetivo é identificar como ocorre o processo de radicalização, portanto a análise trabalha nesta direção, priorizando as características relativas a este conceito. Os dados são apresentados, primeiramente, de modo agregado, com todos os jornais analisados, sem identificar diferenças entre eles no que diz respeito aos formatos e à reflexividade. Posteriormente, dado que o debate se concentra nos veículos nacionais, opta-se por observar como ambas as características aparecem na Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo. Assim, percebe-se como os comentadores de cada jornal se posicionam e se há diferença entre eles. A partir deste comportamento opta-se por utilizar um deles como exemplo desse processo de radicalização e, então, relacionam-se as críticas e a radicalização com cada um dos candidatos, o que permite perceber a proximidade de uns e outros com o comportamento mais ou menos radical de cada comentador.
RADICALIZAÇÃO E POLARIZAÇÃO DURANTE AS ELEIÇÕES NO BRASIL
Esta secção apresenta a análise empírica em três partes. Primeiro, apresenta-se uma breve análise descritiva dos dados; na sequência, discutem-se o formato e a reflexividade a partir dos periódicos nacionais, por agregarem a maior parte do corpus; e, por fim, concentra-se na análise da radicalização e dos formatos a partir do caso dos comentários às postagens de O Estado de S. Paulo, em que o debate do público se mostra particular em comparação com os demais jornais.
ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS
Nesta primeira parte da análise, apresentam-se os dados gerais dos periódicos que tiveram as suas fanpages incluídas na investigação, assim como as frequências da reflexividade e também do formato, as duas variáveis que podem, juntas, indicar o nível de radicalização dos comentários. Primeiramente, a tabela abaixo indica a quantidade de comentários distribuídos entre os 10 periódicos analisados. A primeira informação oferecida é de que há expressiva concentração de comentários na Folha de S. Paulo: 66,5 % do total. Isso significa que pelo menos seis em cada dez comentários categorizados foram feitos em posts da página desse jornal. Em segundo lugar, está O Estado de S.Paulo, com 17,9 % do total e O Globo, com 12,9 %.
De um modo geral, há concentração de comentários nos jornais nacionais. Os demais, locais e regionais, apresentam dados menos significativos. Portanto, a discussão sobre as eleições presidenciais por meio de redes sociais digitais concentra-se nas fanpages dos grandes periódicos e não dos menores.[10] Aqui a explicação pode estar no âmbito da disputa, que acaba centralizada na eleição presidencial, e o próprio recorte considerava apenas os candidatos à presidência.
Este número reduzido não significa, portanto, que não há debate político e eleitoral nas fanpages de jornais regionais. É importante lembrar que, simultaneamente às eleições presidenciais, estavam em andamento as campanhas para os cargos de governador, senador e deputado em todos os estados brasileiros. Era esperado, portanto, que a tematização do debate público mediado pelas postagens jornalísticas, refletisse a abrangência dos veículos e, nos regionais, haveria maiores chances de postagens e diálogos referentes a essas outras disputas. Ademais, existem diferenças também entre os três veículos nacionais, com preponderância da Folha de S. Paulo, conforme já mencionado.
Em relação aos primeiros dados das variáveis qualitativas da análise, observa-se no quadro 2, a seguir, a primeira característica evidente sobre o debate político no Facebook, de modo geral. Quando se observam os dados de distribuição da reflexividade, i. e., da disponibilidade do comentador para o debate, também se observam diferenças muito significativas nos dados, inclusive que se distanciam do modelo pensado por Dahlgren (2005).
Percebe-se uma quantidade muito significativa de comentários (58,2 %) que não apresentavam reflexividade, o que já indica que o diálogo não ocorre notadamente como se pressupunha na literatura sobre deliberação, ou que, pelo menos, este espaço se difere de outros, tais como os fóruns estudados por Bragatto, Sampaio e Nicolás (2015), evidenciando a colocação de Janssen e Kies (2004) sobre a diferença entre os ambientes, o que interfere nas características do debate. Uma boa parte dos comentários não é contemplada pelas categorias presentes na literatura. Na sua maioria, eram comentários que apenas ressaltavam apoio e reforço de voto nos presidenciáveis, sem indicar intenção por parte dos comentadores em persuadir, progredir ou radicalizar o debate, em comentários que se mostravam uma quase-oralidade (Silva, 2013), com formas menos convencionais de argumentação. Na investigação de Silva (2013) e naquela de Massuchin e Campos-Domínguez (2015), observa-se uma ampla presença de comentários com essa função.
Massuchin e Campos-Domínguez (2015), ao identificarem a deficiência nas categorias já presentes na literatura sobre deliberação para analisar o comportamento de comentadores em espaços digitais, criaram uma categoria chamada “reforço de posição”, que engloba boa parte desses comentários que aqui aparecem sem serem enquadrados em nenhum modelo pré-definido por Jensen (2003). Trata-se de interações em que o objetivo é reafirmar o posicionamento e o apoio a um candidato e menos de dialogar no sentido de persuadir ou progredir no debate. Os dados dessa pesquisa, somados àqueles de Massuchin e Campos-Domínguez (2015), já mostram as limitações da categorização de Jensen (2003) e Janssen e Kies (2004), ao indicar necessidade de atualização para a sua utilização em determinados espaços, tais como o Facebook.
Por outro lado, entre as três categorias criadas previamente, a que mais apareceu foi persuasão (24,8 %), quando comentadores tentavam convencer outros sobre a sua posição, ou a votarem no seu candidato, por exemplo. Em segundo lugar, estão os comentários que enfatizam a radicalização (11,4 %), muitas vezes com palavras agressivas que não contribuíam com o debate, seja contra o jornal, outros leitores, ou, principalmente, os candidatos. Ainda que pareça pouco perto do total de comentários, há um comentário que radicaliza o debate a cada dez, o que também representa o dobro dos comentários que demonstram progresso da conversação; teoricamente, a melhor demonstração do processo deliberativo, a partir das colocações de Jensen (2003). Janssen e Kies (2004) também concordam que a persuasão e o progresso seriam os modelos positivos para a deliberação, ao contrário da radicalização. Ademais, a presença da radicalização rompe com a proposta de Dahlgren (2005), principalmente em relação ao respeito.
Estes dados vão ao encontro de considerações já feitas na literatura, como assinalou Lattman-Weltman (2015), ao indicar que há uma presença de radicalização militante na internet e que os candidatos são, mioritariamente, o alvo dos ataques, o que também foi destacado por Amossy (2011). Esses pouco mais de 10 % de flames levam a polémica a um grau avançado de agressividade no diálogo, o que indica que já se pode confirmar ao menos parte da hipótese inicial, quanto à presença de radicalização no debate eleitoral na Internet, portanto, distante do debate ideal.
Como expressou Dahlgren (2001), a presença de radicalização não contribui para o debate público. Este resultado para o caso brasileiro torna-se bastante distinto daquele encontrado por Strandberg e Berg (2013) e Silva (2013), em espaços de comentários de veículos convencionais na rede. No cenário eleitoral, fica mais evidente a falta de tolerância (Carvalho, 2016) e a violência verbal (Cunha, 2013). Ainda que o trabalho de Silva (2013) investigasse comentários sobre a eleição de 2010 no Brasil em jornais portugueses, os comentadores e o próprio veículo não estavam inseridos na disputa diretamente, ao apresentar comentários menos inflados e polarizados ideologicamente, distantes do acirramento da disputa. No caso dos veículos estudados, estes estavam diretamente relacionados com as disputas e, por vezes, são entendidos, inclusive, como atores políticos do processo eleitoral.
O progresso seria o formato de comentários com mais argumentação e adição de informação política, i. e., o mais avançado em termos de reflexividade e disposição a participar do debate. No entanto, apenas 5,6 % do total se enquadrou nessa categoria. Os dados reforçam a evidência já avançada por Maia e Rezende (2015) e Sunstein (2003) ao demonstrarem que o público no Facebook tende a evitar o diálogo com aqueles que possuem opiniões distintas. Neste caso tem-se um cenário totalmente distinto daquele estudado por Massuchin e Campos-Domínguez (2016). Porém, os resultados das autoras não demonstraram tantos ganhos porque era exatamente o oposto: um espaço muito homogéneo, o que também não seria de todo eficaz para o debate.
De um modo geral, o mais importante é indicar com estes dados iniciais que há uma mistura entre o conteúdo que radicaliza o debate com persuasão e progresso, em que nem sempre se segue a lógica do debate idealizado na esfera pública, conforme propõe Dahlberg (2001). Além disso, há a necessidade de criar novas categorias para sistematizar os quase 60 % de comentários que destoam da categorização presente na literatura, que tem sido usada até então em diversas pesquisas (Bragatto, Sampaio e Nicolás, 2015; Jensen, 2003; Sampaio e Barros, 2010).
Enquanto na variável reflexividade se pode identificar apenas o radicalismo, sem saber se se direciona aos candidatos, a variável formato permite observar de modo mais claro a ênfase do conteúdo do comentário. Os formatos, como mostra o quadro 3, classificam-se em diferentes tipos de críticas e elogios, além do formato indefinido.
Entre críticas e elogios agrupados, não há muitas diferenças: 44 % de elogios e 42,3 % de críticas. Os formatos que não são baseados em críticas ou elogios representam apenas 13,7 % do total. Deve-se destacar que, na sua maioria, os elogios e as críticas são evidentes e pouco baseados em conteúdos mais contextuais. Restringem-se, unicamente, a criticar ou promover o candidato, o governo ou o jornal de notícias. Isso aproxima-se do modelo encontrado por Berrocal, Redondo e Campos-Domínguez (2014), pois as autoras também perceberam conteúdos muito curtos e com pouca informação.
Outro dado relevante que, inclusive, reitera a afirmação de Amossy (2011) em relação aos comentários direcionados aos candidatos, ausentes do debate, é que 77,8 % tratam de críticas ou elogios a eles dirigidos (Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves) e não aos periódicos, aos internautas ou ao autor da notícia ou do comentário anterior. Ao observar apenas esse dado, percebe-se que há mais elogios que críticas, com uma diferença de 7,2 pontos percentuais, o que evidencia apoio aos candidatos em disputa, algo que representa reforço de posição, apontado por Massuchin e Campos-Domínguez (2015). No tocante às críticas, elas são mais distribuídas, mas também com poucos percentuais para o governo, internauta e portais. Isso demonstra, de modo complementar, um afastamento das postagens como ressalta Cervi (2013), pois a preocupação maior está nos atores ausentes do debate.
A junção dos dados apresentados até aqui de modo descritivo, mostra uma concentração de comentários nas fanpages de periódicos nacionais, o que já era esperado atendendo a que, em 2014, os jornais regionais também destinaram a sua agenda política à cobertura das eleições estaduais, com menos espaço para a cobertura da disputa presidencial. A radicalização, por sua vez, segue em segundo lugar entre as categorias de reflexividade mais presentes - com maior representação que o progresso - e predominam os formatos de crítica e elogio aos candidatos.
Deve-se ressaltar, antes de passar à discussão mais aprofundada dos dados, que não se reconhecem críticas e elogios como conteúdos negativos ao debate. Pelo contrário, reconhece-se que as críticas fazem parte da discussão de temas polémicos, como é o caso da política, em especial, as eleições. O problema, por outro lado, constitui-se quando as críticas se tornam seletivas - direcionadas a candidatos específicos - e quando aparecem relacionadas com a radicalização, evidência de que elas não são construtivas, mas antes marcadas por violência e desrespeito, ou seja, flames (Amossy, 2011). Tais interesses e problematizações conduzem à secção seguinte, que observa, especificamente, a radicalização do debate com foco na análise dos três principais periódicos brasileiros.[11]
FORMATO E REFLEXIVIDADE NOS PERIÓDICOS NACIONAIS
Ao observar de modo específico o debate que ocorre nos três periódicos nacionais - Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo - e relacionar com os diferentes tipos de reflexividade, é possível notar se alguns comentadores de determinados periódicos tendem a ser mais ou menos radicais. A relação, exposta na tabela abaixo, é significativa, com qui-quadrado de 1 318,408 (Sig. 0,000), o que indica que há uma relação de dependência entre as variáveis e que as categorias se distribuem distintamente pelos três periódicos. No teste de resíduos padronizados[12], o valor mais alto é de 16,4, o que sugere tendência a aparecer mais radicalização em O Estado de S. Paulo. Por outro lado, a persuasão está mais próxima do periódico Folha de S. Paulo, com resíduo de 11,8. O progresso, ao contrário, concentra-se nos comentários de O Globo.
Os dados acima indicam que os comentadores do jornal O Estado de S. Paulo são os mais radicais e os que menos contribuem com o debate, que objetivaram predominantemente ofender, ao se apresentarem de maneira agressiva. Assim, torna-se necessário também pontuar que, apesar de haver radicalização em comentários de todos os jornais analisados, em alguns ela destaca-se mais, com presença de participantes menos dispostos ao debate, e que se aproximam mais do modelo do militante radical proposto por Lattman-Weltman (2015). Conforme apontado na parte introdutória do artigo, há uma diluição da audiência dos veículos de imprensa quando eles adentram espaços digitais como redes sociais, e não é possível aferir correspondência ou causalidade da qualidade do debate no Facebook às características do público leitor do jornal impresso.
De modo complementar, observa-se o formato dos comentários nos três veículos, comparativamente. De novo pode-se perceber que a distribuição dos formatos ocorre de modo diferenciado entre os três veículos aqui considerados. Esta afirmação é destacada pelo qui-quadrado significativo de 5 943,751 (Sig. 0,000). Na Folha de S. Paulo, concentram-se os comentários com elogios ao governo e críticas ao jornal. O que demonstra que, em alguns casos, por mais que a disputa eleitoral esteja em evidência, a crítica do leitor nas redes sociais se volta para a própria imprensa. Por outro lado, os elogios direcionados aos candidatos - da mesma forma que a crítica ao autor, crítica ao candidato ou crítica ao governo - aparecem mais em O Estado de S. Paulo. A crítica ao candidato também sobressai em O Globo. De entre os resíduos padronizados mais altos, o que chama mais a atenção é o valor de 24,7 das críticas aos candidatos que se concentram acima do que se esperava, novamente, no periódico O Estado de S. Paulo. Aparentemente, tem-se aqui um ambiente mais propício e com comentadores mais dispostos tanto a criticar quanto a radicalizar o debate, distanciando-se ainda mais do modelo de um debate respeitoso, argumentado e com posições justificadas (Sampaio, Maia e Marques, 2011).
Assim, novamente O Estado de S. Paulo é o periódico que se apresenta de modo particular, com destaque à presença de críticas ao candidato, ao governo, ao autor, além da já evidenciada radicalização enquanto tipo de reflexividade predominante. Deste modo, o que se supõe com estes dados é que a característica de radicalização pode estar concentrada no momento em que os webleitores fazem as suas críticas aos candidatos, que passam a estar baseadas em flames (Amossy, 2011) e na diferenciação entre amigos e inimigos (Lattman-Weltman, 2015). Com o objetivo de verificar se as críticas estão relacionadas com o radicalismo dos participantes do debate, a próxima secção mostra a relação entre formato e reflexividade, ao passo que relaciona, também, essa característica com os candidatos.
A RADICALIZAÇÃO DO DEBATE: O EXEMPLO DE O ESTADO DE S. PAULO
Os dados que se apresentam a partir de agora indicam a distribuição da reflexividade e do formato entre os candidatos citados em O Estado de S. Paulo, o que permite observar se a distribuição da junção de radicalização e crítica é diferente entre eles. Nesta secção a análise restringe-se apenas a este jornal pois, como se verificou, ele apresenta maior quantidade de comentários com indícios de radicalização e crítica aos candidatos. Como o objetivo do artigo é entender como se dá a radicalização no Facebook, buscou-se o espaço em que este fenómeno mais aparece, i. e., o seu ápice. Ainda que seja um veículo específico, é o caso mais representativo para aquilo que se pretende analisar. Além disso, importa destacar que se trata de um estudo exploratório no Brasil, a relacionar a temática eleições a radicalização e RSD, com recorte mais específico.
No quadro seguinte, observa-se como acontece a distribuição dos três aspetos de reflexividade entre os comentários que citam cada um dos candidatos. O resultado é significativo, com qui-quadrado de 4 228,271 (Sig. 0,000), o que permite, na sequência, observar os resíduos padronizados para cada cruzamento entre as categorias.
Os resíduos indicam que a radicalização caracteriza muito mais os comentários que citam Dilma Rousseff em relação aos demais candidatos, que se aproximam muito mais da persuasão (Aécio Neves) ou do progresso (Marina Silva). Inclusive, é o resíduo padronizado mais alto, de 33,3. Este dado indica que os comentários que citam Rouseff são os mais radicais. No entanto, como a radicalização pode ocorrer em relação a comentadores, jornal ou governo, não se pode garantir, apenas por estes dados, que são direcionadas à candidata. Obviamente, comprova-se uma radicalização por parte dos comentadores que citam Dilma Rousseff, todavia não se sabe exatamente se a radicalização ocorre em relação à candidata. Isto porque a análise da variável reflexividade limita-se a indicar o comportamento do comentador perante o debate, seguindo a proposta de Janssen e Kies (2004). Um comentário pode, por exemplo, representar apoio à candidata, mas a partir de um comentário radical perante os demais comentadores.
Justamente por isso, passa-se a considerar, aqui, a segunda variável qualitativa, que traz os formatos dos comentários. Na sequência, para complementar, pois, a discussão, também é observado se as críticas ou os elogios são mais direcionados a um ou outro candidato. O quadro 7, a seguir, indica que a relação é significativa (Sig 0,000) entre os candidatos citados no comentário e o formato deste, com distribuições diferentes das características de formato entre os pleiteantes, o que é ilustrado por meio dos resíduos padronizados. Aqui foram isolados os formatos de elogio e crítica ao candidato e todos os demais formatos foram agregados numa terceira categoria, mas pode-se perceber que estes dois modelos de comentários eram maioritários, evidenciando um modelo de conversação na RSD.
Em relação à presença de elogios, os mesmos concentram-se quando os comentários citam Aécio Neves. O resíduo de 46,1 indica a força da relação positiva entre elogio ao candidato e Neves. Por outro lado, as críticas ao candidato concentram-se onde aparece a candidata Dilma Rousseff, o que apresenta resíduo alto positivo (37). Os demais formatos aparecem mais próximos dos comentários que citam Marina Silva. Desse modo, o que se percebe, evidencialmente, a partir dos dados é que Rousseff sofre mais críticas que os demais candidatos, assim como é mais citada quando há radicalização no debate. Ainda que as críticas possam ser construtivas, ela tende a ser alvo dos comentadores de modo distinto quanto aos demais candidatos. O que ainda não se comprova é se as críticas tendem a serem radicais.
A partir disso, apresenta-se, a seguir, uma análise de correspondência múltipla entre todas as categorias dessas variáveis consideradas até aqui - reflexividade, formato e menção ao candidato. O objetivo é identificar como se distribuem a reflexividade e os formatos dos comentários entre cada um dos candidatos mencionados, a partir do pressuposto de que, quando há crítica somada a radicalização, a crítica não é construtiva, baseada no dialogo e na argumentação: elas são associadas, por exemplo, à violência verbalizada, conforme termos de Cunha (2013) e representam uma ação de um comentário típico do radicalismo militante, trazido por Lattman-Weltman (2015), composto de intolerância (Carvalho, 2016).
Primeiramente, observa-se no quadro 8 o resumo dos dados estatísticos dessa análise. A partir da média do alfa de Cronbach, é possível afimar que o modelo da análise de correspondência múltipla, ilustrada pelo gráfico adiante, explica 43 % da variância conjunta das três variáveis, categóricas e independentes entre si. O resumo informa, ainda, que a dimensão 1 é mais informativa (α = 0,549), com força de explicação superior à dimensão 2 (α = 0,283). Logo, as informações mais relevantes são, no plano do gráfico 1, os pontos que mais se aproximam e se distanciam horizontalmente, no eixo x.
Ressalta-se que a figura 1 permite a visualização de relações já identificadas anteriormente por meio dos resíduos padronizados, porém agora com a variação conjunta das categorias das três variáveis. Mas, o interesse principal, aqui, é a relação de crítica ao candidato e a radicalização a partir dos nomes dos presidenciáveis, visível na figura 1, a seguir. Nele, há distribuição das categorias em duas dimensões, em que, quanto menor a distância horizontal dos pontos, maior a relação entre eles.
Na figura 1, verifica-se que a persuasão aproxima-se do ponto centroide por ser a categoria de reflexividade mais recorrente. Ainda assim, sua posição direciona-a para um dos principais grupos encontrados. É visível que há a formação de um conjunto de categorias no quadrante superior à direita do gráfico, que reúne elogio ao candidato, citação apenas de Aécio Neves e a persuasão como tipo de reflexividade do comentário. Por outro lado, há outro conjunto facilmente identificável no quadrante superior esquerdo, que reúne e demonstra a proximidade entre as categorias radicalização, crítica ao candidato e a citação somente de Dilma Rousseff no comentário.
A figura 1 permite visualizar, ainda, que a reflexividade do tipo progresso tende a não ter relação com o formato do comentário, tampouco com um dos candidatos citados exclusivamente no comentário, isolada das demais categorias. Em relação à citação de Campos/Silva pelo comentador, observa-se que o ponto posiciona-se a uma distância equilibrada das categorias de formato e não é possível relacioná-la com a crítica ou com o elogio ao candidato. Por fim, destaca-se que a categoria radicalização se encontra nos extremos das dimensões representadas, positivamente no eixo Y e negativamente no eixo X, distante principalmente da citação de Neves e de elogio ao candidato. Como já foi afirmado acima, isola-se no quadrante superior esquerdo juntamente com as categorias de crítica ao candidato e à citação de Rousseff.
A análise de correspondência múltipla contribui para a confirmação da hipótese deste trabalho, de que há diferenças de radicalização no debate a partir dos candidatos. Observa-se que a presença da radicalização - que também engloba ataques e agressões verbais - no debate sobre as eleições de 2014 esteve diretamente relacionada com a citação e a crítica a Rousseff. Há um percentual muito grande de comentários cuja reflexividade é de radicalização, o formato é de crítica ao candidato e a única presidenciável mencionada é a incumbente. Por outro lado, não há relações de proximidade entre menções aos demais candidatos com o formato de crítica, tampouco com a radicalização enquanto reflexividade. Por exemplo, nota-se que a categoria radicalização se distancia, principalmente, da menção ao principal candidato da oposição, Aécio Neves, bem como do formato elogio ao candidato.
Isso também demonstra que o debate crítico, no nível de radicalização, esteve concentrado na figura da candidata à reeleição, Dilma Rousseff, exemplificado por ataques diretos à candidata, categoria elencada por Cunha (2013) para identificar violência verbalizada às personagens que, por vezes, não são atores nem participantes do debate, mas “recetores” da desqualificação associada às ofensas. Nestes casos, as críticas repletas de ofensas e intolerância mais voltadas a Rousseff, não são apenas um comentário, uma observação ou uma ponderação negativa à candidata. Classificam-se como uma arguição pejorativa que radicaliza o debate e impossibilita o diálogo entre os participantes, e o progresso ou a persuasão com base em argumentos.[13] Segundo Carvalho (2016, p. 14), são comentários que “ilustram como preconceito, intolerância, hieraquia de género, ódio e outras manifestações depreciativas são indícios claros de que a banalidade do mal é um fenómeno político, com matrizes culturais e comportamentais”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve por objetivo identificar as características do debate público nas redes sociais, especificamente em fanpages de jornais brasileiros no Facebook durante as eleições de 2014, com foco na radicalização num caso específico - o jornal O Estado de S. Paulo - para entender a dinâmica deste processo. Os resultados indicam que o debate apresenta uma parte considerável de comentários que priorizam criticar ou elogiar os candidatos e que servem, basicamente, para a persuasão e a radicalização. A presença da radicalização como uma característica principal do debate eleitoral chama a atenção, mas ao invés de refletir a polarização da disputa em questão, com críticas radicais aos dois lados, indica que ela esteve relacionada consideravelmente apenas à candidata à reeleição, Dilma Rousseff.
Por mais que fossem considerados comentários em fanpages de 12 jornais do Brasil, nove deles de abrangência regional, verificou-se que o interesse do público em debater as eleições presidenciais no Facebook se concentrou nas publicações dos quality papers, os três principais veículos brasileiros de imprensa. Em relação aos jornais nacionais, então, nos comentários aos posts de O Estado de S. Paulo, em comparação com a Folha de S. Paulo e O Globo, verificou-se uma concentração tanto da radicalização do debate, a evidenciar a presença de intolerância e violência verbalizada, conforme apontam Carvalho (2016) e Cunha (2013), como também a presença de crítica aos candidatos. De todos os veículos, O Estado de S. Paulo é aquele que apresenta maior concentração dessas características, o que indica um debate caracterizado por polarização (Brugnago e Chaia, 2015) e radicalismo militante (Lattman-Weltman, 2015).
Nesse contexto, a análise mais avançada sobre o debate nos comentários de postagens de O Estado de S. Paulo, a tensionar a hipótese apresentada inicialmente, apontou que formato e reflexividade estão condicionados pela menção de um candidato específico. Isso confirma a hipótese inicial e direciona a constatação de que o debate não é radical na sua homogeneidade, mas depende do candidato mencionado. A análise permite afirmar que houve presença constante da radicalização em comentários críticos a Dilma Rousseff, enquanto a persuasão era o tipo recorrente de reflexividade aos comentários que elogiaram Aécio Neves, por exemplo, durante todo o período eleitoral de 2014, na página de Facebook de O Estado de S. Paulo.
É claro que, por estar no cargo enquanto disputava a reeleição, Dilma Rousseff estava propensa a receber mais críticas, não só enquanto candidata, mas enquanto presidente na época. O seu governo, especialmente o final do primeiro mandato em 2014, enfrentou forte oposição política e social, além das crises de gestão económica e dos escândalos de corrupção. Além disso, a imagem desgastada do Partido dos Trabalhadores (PT) contribuiu para o aumento das críticas à incumbente. No entanto, não são apenas esses factos os responsáveis por isso, uma vez que críticas, especialmente oriundas da imprensa, direcionaram-se a todos os governos, atores e partidos políticos na história brasileira. Há que considerar que o excesso de críticas e radicalização em relação à candidata petista, no Facebook, está intimamente ligado a mudanças no comportamento dos brasileiros, marcado por uma crescente intolerância política, enquanto aumentam também os canais para difusão das opiniões - muitas vezes sob a proteção do anonimato e de perfis falsos. Isto também se configura como affordances das redes sociais digitais que acabam por servir a um debate radical e agressivo (Halpern e Gibbs, 2013).
O que se conclui é que, ao menos nos comentários no Facebook dos jornais estudados, há indícios claros da presença da radicalização em contraposição a um debate baseado em argumentação ou progresso, típico de um processo deliberativo. Isto relaciona-se com a heterogeneidade do debate e com o fenómeno geral de radicalização política que não é, necessariamente, oriunda da internet, mas que passa a ganhar evidência em ambientes online, especialmente em determinados contextos políticos, como o período eleitoral. Ganham destaque, para contextualizar o radicalismo na rede, as características da ferramenta, a sua informalidade, o tema polítito-eleitoral, a polarização e o acirramento da disputa.
Esta pesquisa, como já apontado, entende que há espaços digitais que também propiciam o debate, porém dadas as características acima, o que houve foi a propagação do contrário daquilo que Dahlgren (2005) propõe como normativa. Isto permite-nos concluir que nem todos os espaços propícios a conversação se caracterizam como deliberativos ou possuem características que podem levar à deliberação. O caso dos perfis de jornais, pelo menos em períodos eleitorais, é um deles. Como aponta Carvalho (2016), a internet pode ser contraditória, tanto por dar espaço ao exercício da pluralidade e do reconhecimento das diferenças, como ao oposto, que seria a disseminação do ódio por meio da violência verbalizada.
A pesquisa contribui, de modo mais efetivo, par sanar lacunas das duas linhas de pesquisa, sendo a primeira a dos estudos sobre o debate público e as suas características e, a segunda, que trata do processo de radicalização na discussão política, especialmente quando esta ocorre em ambiente digital. Sendo assim, para a discussão sobre o debate, este trabalho traz dados atualizados sobre como o Facebook e, especificamente, as páginas de veículos de comunicação, podem apresentar características distintas, e que mostram elementos que se afastam de um ideal normativo do debate em espaços digitais. Para os estudos sobre radicalização política, o artigo mostra como a relação entre representantes e representadas nem sempre é pautada pela satisfação, mas, pelo contrário, é carregada de ataques, críticas e, principalmente, de ofensas, quando observado um espaço digital, como o Facebook.
Vale mencionar, também, que a pesquisa não explora todas as possibilidades e ainda deixa questões para estudos futuros, no que concerne, por exemplo, a observar o debate político fora do período eleitoral, relacionando com outros subtemas. Por outro lado, é interessante observar essa dinâmica também no âmbito local das eleições, observando se a radicalização da política também se estende para os momentos decisórios dos municípios. É possível também estudar de que forma os elementos, tais como o anonimato, a necessidade de cadastro e o controlo de comentários, podem interferir nas características do debate. Outro ponto importante é que esta pesquisa indicou que Dilma tende a receber mais críticas radicais, porém não há um estudo sobre o teor dos referidos comentários, para saber o conteúdo das críticas. Isso permite um estudo sequencial para entender as perceções do machismo, da intolerância e de outros preconceitos que podem estar presentes nesses espaços de debates.
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VALERIANI, A., Vaccari, C. (2016), “Accidental exposure to politics on social media as online participation equalizer in Germany, Italy, and the United Kingdom”. New Media and Society, 18(9), pp. 1857-1874.
Recebido a 17-01-2017.
Aceite para publicação a 29-12-2017.
[1] Intitulada “Opinião pública e debate político na web”, desenvolvida pelo grupo cpop/ufpr desde 2014. As autoras agradecem aos alunos de graduação e pós-graduação que integram o grupo e trabalharam durante sete meses na codificação de dados.
[2] É importante salientar que, diferentemente das páginas, que podem ser “fechadas” para não assinantes, o que não permite comentários de qualquer indivíduo, nas RSD não há esse controlo. Portanto, não estamos a falar do público do jornal impresso, mas, sim, dos seguidores nas redes sociais.
[3] Na seção metodológica, explica-se detalhadamente como foram selecionados os comentários.
[4] Os 12 jornais considerados na investigação são: Folha de S. Paulo (SP), O Estado de S. Paulo (SP) e O Globo (RJ) - nacionais; e A Tarde (BA), Correio Braziliense (DF), Correio do Estado (MS), Diário do Pará (PA), Gazeta do Povo (PR), Jornal da Manhã (PR), O Estado de Minas (MG) O Povo (CE), Zero Hora (RS), regionais.
[5] No final, foi acrescentada uma semana após o resultado do segundo turno, para que houvesse tempo de o público fazer seus comentários.
[6] Conforme pesquisa da Associação Nacional de Jornais (2015), as assinaturas digitais dos veículos jornalísticos aumentaram 118 % entre 2013 e 2014. Cf http://www.anj.org.br/cenario-2/ . Consultado em 22-10-2015.
[7] No Brasil, os candidatos a cargos legislativos ou executivos não podem comprar espaço comercial nos meios de comunicação, mas os partidos políticos possuem um espaço gratuito disponível nas emissoras, o qual é conhecido como Horário Gratuito Político Eleitoral, o HGPE. Como é um espaço destinado aos partidos políticos, estes distribuem o tempo entre os seus candidatos. O total de tempo a que cada partido tem direito é calculado conforme a sua representação na Câmara dos Deputados. A exibição é obrigatória pelas emissoras no período prévio de campanha, mecanismo regulamentado ainda em 1962. Com a nova lei eleitoral de 2015 (Lei n.º 13 165/2015) o período de exibição caiu de 45 para 35 dias antes das eleições.
[8] A codificação dos dados foi realizada “manualmente” por uma equipa de 17 pesquisadores, treinados de acordo com um livro de códigos elaborado e discutido pelo grupo, a partir das variáveis apresentadas pela literatura. Assim, foi realizada a leitura de todos os comentários e, por conseguinte, a atribuição das categorias analíticas em cada um deles. Inicialmente, foi feita uma coleta teste para saber se todos os coletadores possuíam um entendimento único a respeito do conteúdo que se enquadra em cada uma das categorias. Detetados os problemas, um novo treinamento foi feito entre os codificadores, a fim de discutir as falhas e inconsistências. Esta técnica de coleta de dados é utilizada pelo Grupo de Pesquisa desde 2002, quando se analisavam jornais impressos e conteúdo televisivo.
[9] Nesta investigação não se analisam os posts, mas apenas os comentários, por isso não há detalhamento sobre o conteúdo publicado pelos veículos. Outros trabalhos do cpop discutem conteúdo e características das postagens que originaram os comentários.
[10] Nota-se, por exemplo, que a maioria dos jornais regionais não atinge nem 1 % do total de comentários. Com dados insignificantes perante o banco, o Jornal da Manhã foi coletado também por ser do interior do Paraná e por os seus dados atenderem a interesses do próprio projeto de pesquisa, que engloba outros objetivos particulares, não exclusivamente os deste artigo.
[11] Analisam-se apenas os nacionais por eles concentrarem predominantemente o debate sobre eleições.
[12] Este teste estatístico tem por finalidade identificar em que pares há uma concentração de casos, i. e., quais categorías de variáveis estão mais próximas ou distantes. Os resíduos padronizados são estatisticamente significativos quando estão acima de |1,96|, positiva ou negativamente.
[13] São exemplos: “Dilma rala vadia”; “Xô satanás fora Dilma fora PT se ferrou do começo ao fim política suja mentiras calúnias: adios PTralhas”; “Essa dilma é uma mentirosa desgraçada”.