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Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.237 Lisboa dez. 2020  Epub 31-Dez-2020

https://doi.org/10.31447/as00032573.2020237.02 

Artigos

A revista de Guimarães no contexto da industrialização têxtil (1880-1913).

Revista de Guimarães in the context of textile industrialization (1880-1913).

1Centro de Física da Universidade de Coimbra. Departamento de Física, Universidade de Coimbra - 3004-516 Coimbra, Portugal, ramosnogueira@uc.pt decio@uc.pt tcarlos@teor.fis.uc.pt

2Escola Superior de Design - Instituto Politécnico do Cávado e do Ave. Campus do ipca, Vila Frescaínha S. Martinho - 4750-810 Barcelos, Portugal, gsantos@ipca.pt


Resumo

A Revista de Guimarães, órgão científico da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, foi lançada em 1884 e ainda hoje é publicada. Até às primeiras décadas do século xx a sua linha editorial ligou-se ao movimento transformador, desencadeado por aquela instituição filantrópica. Teve como intuito envolver a comunidade local em torno da afirmação de Guimarães como cidade industrial de relevância nacional. Neste artigo analisa-se o impacto da revista na transformação da cidade, destacando-se os artigos publicados sobre a ciência, o ensino e a indústria, até à primeira suspensão da publicação em 1913.

Palavras-chave: Revista de Guimarães; periodismo científico; indústria; história industrial.

Abstract

The Revista de Guimarães, a scientific publication of Sociedade Martins Sarmento, in Guimarães, North Portugal, started in 1884 and keeps being published. Until the first decades of the twentieth century its editorial line is associated to the transformative process unleashed by the philanthropic institution. It mobilized the local community towards the affirmation of Guimarães as an industrial city of national relevance. This article analyzes the impact of the magazine in the transformation of the city, highlighting the articles published on science, education and industry, until the first suspension of publication in 1913.

Keywords: Revista de Guimarães; scientific journalism; industry; industrial history.

Introdução

A popularização da ciência, assim como a sua relação com a prosperidade económica, é uma prática que os ingleses souberam explorar plenamente no decurso da Revolução Industrial (Bassala, 2001), nas exposições universais (Plum, 1979; Souto, 2011), e mais tarde, em finais do século xx, no apelo ao dever ético dos cientistas e dos investigadores na divulgação do seu trabalho, numa perspetiva de interação e proximidade com a sociedade.1

A relação entre ciência, tecnologia e desenvolvimento económico, que tem atraído a atenção dos historiadores nas últimas décadas, está documentada nos meios de comunicação científica (revistas e boletins) publicados por escolas de ensino superior e sociedades científicas nos séculos xix e xx.

Trata-se de publicações que descrevem os movimentos académicos, científicos e cívicos que antecederam a ligação entre as dimensões científica, tecnológica e económica, que hoje damos como inevitável. Constituem, por isso, fonte obrigatória quando nos propomos analisar os contributos da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento industrial em Portugal.

Diferentes abordagens ao papel das revistas científicas contemplam aspetos como o incentivo à investigação científica (Ferreira, 2011), a criação de ambientes culturalmente favoráveis à incorporação de novos conhecimentos e o fomento da ligação entre cientistas e industriais (Nunes, 2004; Matos, 2000), convergindo todas elas para o desenvolvimento económico das regiões ou dos países.

A imprensa periódica científica expandiu-se em Portugal no período da Regeneração, após 1851, como resultado de uma vaga de novas instituições científicas que encaravam a divulgação científica e a popularização da ciência como indispensáveis a uma intervenção social (Nunes, 2004). Os temas da ciência e da tecnologia, deixaram de estar restritos aos círculos académicos e começaram a espalhar-se pela esfera pública (Nunes, 2004a), influenciando a sociedade, sobretudo os homens da indústria e da política (Matos, 2000).

Já era esse o sentido estratégico da Sociedade Promotora da Indústria Nacional (spin), fundada em 1822, em Lisboa, por um grupo de liberais. A spin integrava portugueses ligados, entre outros, à indústria e ao comércio, mas também estrangeiros com negócios em Lisboa, como Diogo Ratton ou André Durrieu (Matos, 1996; Martinho, 2006). Aproximar diferentes grupos sociais e promover o desenvolvimento económico português ao fundir conhecimentos de uns e de outros foi um dos propósitos desta sociedade que, para tal, dispôs de uma publicação periódica dedicada a temas tecnológicos e científicos (Matos, 2000).

A reforma da instrução primária de 18702 promoveu a instalação de bibliotecas populares e desafiou a constituição de sociedades protectoras de instrucção primaria. Estas propunham-se assumir um papel dinamizador de leituras que incluíam textos que abordavam temas técnicos e profissionais. O público interessado ganhou expressão na década seguinte em resultado da dinâmica da expansão de sociedades científicas e das publicações de divulgação de ciência (Matos, 2000).

Portugal assistiu, na segunda metade do século xix, ao estabelecimento de uma rede de instituições, sociedades e associações de natureza científica, industrial e filantrópica, que teve expressão num conjunto de periódicos culturais e científicos, cuja publicação regular contribuiu para a sociabilidade científica, isto é, para a transmissão de conhecimentos e para a popularização da ciência (Nunes, 2004).

Inscrevem-se nesse espírito publicações como O Instituto, da instituição com o mesmo nome, fundada em 1852 na Universidade de Coimbra, e que contribuíram para a afirmação da comunidade científica portuguesa e para o incremento de relações internacionais (Leonardo et al., 2013). A retórica ­científica também ajudou à legitimação das políticas republicanas que vingaram em 1910 (Leonardo et al., 2012; 2013; Nunes, 2004a; 2014).

Em Guimarães, a constituição da Sociedade Martins Sarmento (sms) não está dissociada desse movimento intelectual, cultural e científico. A instituição nasce por iniciativa de um grupo de homens formados na Universidade de Coimbra, contemporâneos dos fundadores e colaboradores de O Instituto, e cujos círculos intelectuais e culturais frequentaram estabelecendo laços de afinidade e proximidade ideológica e política. À fundação da sms relacionaram as missões de homenagem do arqueólogo Martins Sarmento, patrono e financiador da instituição, a promoção da instrução popular3 (Neves 2009; Santos, 2006), e a criação da Biblioteca Municipal de Guimarães4 (Figura 1), que funcionou nas instalações da instituição e cujo fundo geral foi distribuído pela biblioteca pública5 e pela biblioteca popular6 (Santos, 2006).

Figura 1 Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, 1907 (?) e 1911. 

A Revista de Guimarães (rg)7 surgiu nesse contexto, em 1884, por iniciativa da sms, num cenário transformador da cidade. Será particularmente efetiva a ação da Sociedade até ao ano de 1913, altura em que a publicação da rg é suspensa.

O primeiro número da rg antecedeu a chegada do comboio e a realização da Exposição Industrial Concelhia de Guimarães. Estes eventos serviram para pressionar o governo e reclamar a instalação da escola industrial ­prometida desde 1864, mas ainda por concretizar naquela altura. A economia local, baseada em processos artesanais e rudimentares, enfrentava então sérias ­dificuldades. O analfabetismo da população, em linha com a realidade nacional (Mónica, 1977), constituía um entrave ao desenvolvimento industrial e ao progresso social (Reis, 1984).

Preparado durante o ano de 18838, o primeiro número da rg foi lançado em1884.9 Veio conceder dimensão nacional e internacional à Sociedade, afirmar-se como âncora do seu prestígio e dos fundadores, acrescentando-lhes reputação e disponibilizar à comunidade conhecimentos de diferentes áreas. Embora se trate de uma das mais antigas publicações periódicas portuguesas em atividade e uma referência na cultura nacional, em nenhum dos estudos sobre periodismo científico português encontramos alusão à rg. Assumindo--se editorialmente como órgão de uma sociedade filantrópica de província, a rg declara a sua autonomia dos circuitos científicos e culturais da época, centrados em Coimbra, Lisboa e Porto, procurando afirmar Guimarães através de estudos económicos10, históricos11 e culturais, documentando esse capital de conhecimento nas suas páginas.

A rg acompanhava editorialmente a dinâmica de transformação social e económica que se vivia na Europa e também se reclamava para Guimarães. Para além da permuta com revistas, boletins e jornais científicos de instituições europeias, muitos dos seus artigos foram partilhados pela imprensa local, sobretudo aqueles que respeitavam às indústrias e à instrução popular. Os artigos submetidos para publicação eram sujeitos a revisão por pares. O corpo editorial privilegiava estudos sobre Guimarães, embora procurando impacto nacional e internacional, o que explica muitas colaborações de estudiosos, académicos e investigadores sobretudo nacionais, mas também estrangeiros.

Entre 1913 e 1921 a sms atravessou um período de dificuldade, que resultou na suspensão desta publicação.12 A Revista de Guimarães foi retomada, mas evidenciando uma preocupação temática mais centrada em assuntos da história, da arqueologia e da etnografia. Procurando compreender a influência da rg na fase de industrialização de Guimarães, a defesa da instrução popular, e o empenho dos fundadores da sms em concederem projeção nacional e internacional à instituição e ao seu órgão científico, procedemos à análise das edições publicadas entre 1884 e 1913. Centramos a análise na primeira fase editorial da Revista porque coincide com uma estratégia de envolvimento dos industriais de Guimarães em torno do progresso tecnológico, ainda por realizar localmente, mas que já era prática implementada nas indústrias de regiões concorrentes como o Porto.

Uma revista científica local à conquista de relevância nacional e internacional

Foi o Congresso de Antropologia e de Arqueologia Pré-Histórica, realizado em Lisboa em 1880 e a visita que a comitiva de congressistas estrangeiros fez ao Minho, com passagem pela estação arqueológica de Briteiros (Citânia de Briteiros), em Guimarães, que inspirou a constituição da sms.

Francisco Martins Sarmento, o arqueólogo de Guimarães13 que surpreendeu os congressistas pelas suas descobertas e pela sua abordagem exploratória à citânia, espantou particularmente Henri Martin14 pela qualidade e riqueza da estação e pela envergadura cultural e científica do “sábio profundo”.15 Pouco depois (1880), ele seria distinguido pelo governo francês com a ordem de Cavaleiro da Legião de Honra.16

Em Guimarães, os amigos mais próximos entendiam que a melhor maneira de homenagear Sarmento seria através da criação de uma instituição filantrópica. Avelino Germano, José Bento Agra, Avelino da Silva Guimarães e Manoel Freitas de Aguiar refletiram sobre o modelo a adotar e envolveram--se na criação de uma sociedade vocacionada para a instrução em ­Guimarães. Deixaram-se inspirar pelos compatrícios brasileiros que, naquela época, eram os principais financiadores da instalação de escolas primárias no Minho, e também nos exemplos que chegavam de fora: “Pensou-se em que como nos Estados-Unidos, como na Inglaterra, como na França, como na Allemanha, como n’outras terras do paiz, se tinham fundado instituições d’instrucção devidas unicamente ao duplo sentimento de patriotismo e philantropia dos fundadores” (Guimarães, 1884, p. 3). Nascia assim a Sociedade, apadrinhada por Martins Sarmento, e à qual a cidade correspondeu totalmente.17

Na origem da sms e na sua direção estão homens de Guimarães, de envergadura intelectual e científica reconhecida, muitos deles com negócios familiares na agricultura e também na indústria local, interessados no progresso e no desenvolvimento económico assente na instrução popular. Aplicavam o conhecimento e o saber adquiridos ao serviço de uma estratégia de cidade, pelo que a revista surgiu como “o desenho ambicioso de suas vastas esperanças”.18

Eram, na sua maioria, jovens burgueses que se formaram bacharéis ou doutores em Direito, Filosofia e Teologia, e que tinham em comum a sua passagem pela Universidade de Coimbra. Martins Sarmento e Alberto Sampaio, as duas figuras de referência, eram amigos íntimos de Camilo Castelo Branco e de Antero de Quental, e mantinham laços de amizade com Bernardino Machado, Sousa Viterbo19 e Teófilo Braga.

Alimentavam uma proveitosa rede de contactos que se expandia de Guimarães ao Porto, a Coimbra e a Lisboa, envolvendo homens da cultura, da ciência e da política, que contribuíram para a notoriedade da rg (na qual muitos colaboraram), e que, no caso daqueles com responsabilidades governativas, foram muito úteis às causas de Guimarães e às suas representações.

Uma revista centrada na instrução popular e nos temas industriais

A rg surgiu com o objetivo de “(…) e estudar a fundo as condições da vida local”20 porque “(…) para conhecer um povo é necessario estudá-lo nas manifestações da sua vida material e moral e no seu meio physico”21, defender “[os] interesses legitimos do professorado” e chamar à atenção para os problemas da instrução popular.22

A direção assumiu, desde o início, que a rg não seria “(…) uma publicação destinada a tratar das grandes questões da philosophia, de sciencia ou arte, feita em Guimarães”, mas teria espaço para “(…) apresentar trabalhos de primeira mão d’algum dos nossos homens mais distinctos”.23

Quando se retomou a publicação da rg, após um interregno forçado entre 1913 e 1921, o espírito editorial foi reafirmado: “É realmente uma revista de Guimarães, que nós fazemos, é pela sua prosperidade que nos dedicamos, são as suas condições de vitalidade que vamos estudar e documentar, é Guimarães que procuraremos fazer conhecida e estimada pelo resto do paiz” (Meira, 1921, pp. 5-12).

O Inquérito Industrial de 1881 não fora rigoroso a apresentar as indústrias de Guimarães.24 O sentimento de preocupação pairava sobre a dinâmica económica local, ameaçada pelo desprezo de Lisboa e pela leitura enviesada que, na capital, se persistia fazer da realidade da província. Daí a insistência quanto às prioridades temáticas da revista:

[…] serão, por ventura, differentes das nossas as condições economicas do resto do paiz, de fórma que o estudal-as em Guimarães não tenha prestimo senão aqui? o regimen industrial e as condições technicas de progresso de cada industria, o regimen legal da propriedade não estão ahi reclamando a attenção de todos os interessados? e os interessados não somos nós todos? (…) “Na vida social d’um povo todas as cousas se ligam umas a outras por fórma indissoluvel. A sorte da instrucção popular do municipio está intimamente ligada á da sua administração e da sua política. Por isso estes importantes factores da prosperidade ou decadencia publica merecerão todo o nosso desvelo [In “Introdução”, Revista de Guimarães, p. vii, 1884].

No primeiro número da rg (Figura 2), Alberto Sampaio assinou o artigo que questionava a pertinência da promoção de uma Exposição Industrial concelhia.25 Esta realizar-se-ia em junho de 1884 e seria um sucesso, não só por reunir mais de 170 industriais e dar origem a um relatório industrial (concelhio) minucioso, mas porque a instalação da tão ambicionada escola industrial foi, finalmente, decidida.

Figura 2 Revista de Guimarães, n.º 1, vol. I - 1884. S.M.S. 

Até ao final daquele ano publicaram-se mais três números da rg, destacando-se a crónica de Avelino Germano sobre a questão da escola industrial, as indústrias locais, a inauguração do caminho de ferro e a exposição industrial, dois artigos de Francisco Martins Sarmento sobre mitologia dos lusitanos e prospeções arqueológicas, um artigo sobre ciência de Adolfo Salazar e um outro artigo de Alberto Sampaio que abordava os seus estudos económicos (que seriam mais tarde reunidos em livro como testemunho científico da realidade económica regional).

Foi ainda publicada a lista dos primeiros alunos premiados pela Sociedade Martins Sarmento - prémio que ainda hoje é atribuído pela instituição a 9 de março e que tem como objetivo distinguir o mérito escolar individual nos diferentes graus de ensino.

Na sua primeira fase editorial, a Revista de Guimarães foi publicada em fascículos trimestrais, compondo uma edição anual, que incluía o Boletim, balancetes e listas atualizadas de sócios admitidos, onde se apresentavam, entre outros, o movimento da biblioteca e ainda uma relação anual das doações, permutas e ofertas. Entre 1894 e 1895 publicou-se, mensalmente, o Boletim, suspendendo-se até 1990, ano em que foi retomada a publicação com periodicidade trimestral e em regime de complementaridade com a revista.26

O detalhe colocado no Boletim permite identificar as publicações estrangeiras que chegavam a Guimarães e os exemplares que partiam de Guimarães com destino, entre outros, a instituições científicas, culturais e filantrópicas de França, Alemanha e Espanha. Quando a sms retomou a publicação da rg em 1921, João de Meira assinou um artigo introdutório no qual afirmou ter-se cumprido a missão da revista27, “dando conta minuciosa” da vida social, cultural, escolar e económica de Guimarães, nunca perdendo a “feição local que sempre se procurou salientar na publicação”, nem “a qualidade das pessoas que foram os seus principais e mais assíduos colaboradores durante os trinta anos da sua existência”.28

Fases editoriais e temas dominantes

Embora a rg não se enquadre no estrito quadro do periodismo científico é, contudo, inegável o seu valor e o interesse histórico, sobretudo no campo da arqueologia e da história.

Podemos distinguir quatro fases editoriais da rg: “implementação” (1884--1913), em que se destacam os temas da indústria, exposições, mecanização e instrução popular; “reativação” (1921-1926) mais dedicada à história, política, administração e à literatura; “normalização” (1926-1974), mantendo em destaque a história, a arqueologia e a linguística; e “pluralismo” (1974 até ao presente), com predomínio da arqueologia e história, mas reforçada por estudos diversos em ciências sociais e humanidades (Quadro 1).

Quadro 1 Principais temas abordados pela Revista de Guimarães nas suas diferentes fases 

Fontes: Revista de Guimarães, coleção da Sociedade Martins Sarmento.

Estudiosos locais, autores nacionais e investigadores estrangeiros colaboraram com a rg que rapidamente alcançou notoriedade e estatuto no país e além fronteiras. São particularmente relevantes os contributos do núcleo fundador nas primeiras décadas - Martins Sarmento, Alberto Sampaio e o irmão José Sampaio, Domingos Leite de Castro, Avelino da Silva Guimarães, Abade de Tagilde, Avelino Germano, José de Freitas Costa e João de Meira.29 Entre 1899 e 1912 as mortes de Martins Sarmento, José Sampaio, Avelino Guimarães e Abade Tagilde conduziram a uma crise diretiva da SMS, descontinuada por Eduardo Almeida, que assumiu a direção da Sociedade em 1921 e retomou a publicação da rg no mesmo ano.

Juntaram-se aos sábios de Guimarães vultos das artes, ciências e letras nacionais como Raul Brandão, Teófilo Braga, Trindade Coelho, Sousa Viterbo, Bernardino Machado e Francisco Adolfo Coelho. Estes homens, muito próximos do movimento ideológico que procurava fazer vingar na Europa o interesse pelas ciências sociais, o progresso baseado na ciência, o republicanismo, a liberdade, a democracia e o socialismo, promoveram as Conferências do Casino (1871) e defenderam no Manifesto que lhes deu origem a necessidade de colocar Portugal no caminho da modernidade, agitar consciências e refletir sobre a mudança política e social que defendiam como indispensável. Muitos dos autores eram destacados militantes republicanos, outros estavam ligados às atividades industriais ou exerciam funções de elevada importância no poder central.30

Dois presidentes da República - Bernardino Machado31 e Teófilo Braga32 -, amigos próximos de Martins Sarmento, colaboraram com a Sociedade e com a rg.33

A lista de colaboradores da rg também inclui notáveis da ciência alemã, francesa e espanhola, médicos, arqueólogos, historiadores e políticos (liberais, socialistas ou republicanos) como Emil Hübner, Rudolf Virchow34, Adolf Schulten35, Gordon Childe36, Émile Cartaillac37, Pere Bosch i Gimpera38, ­Fermín Bouza Brey39, Florentino López Cuevillas e Julio Caro Baroja.

Temas e artigos que marcam a Revista e transformaram a cidade

Em 1890, a taxa de analfabetismo local ultrapassava os 85% (Quadro 2) e a instrução popular era um dos objetivos cimeiros para a sms, que colocava a instalação da escola industrial como prioridade na sua agenda. A rg destinava-se à leitura das elites locais e disseminava-se, estrategicamente e em regime de permuta, por instituições e bibliotecas do país e estrangeiro.

Quadro 2 Taxa de analfabetismo de acordo com o Censos de 1890 

Fonte: Boletim da Sociedade Martins Sarmento, 16(4), 1899, p.166.

Entre 1884 e 1911 publicaram-se na rg numerosos artigos que, estrategicamente, discutiram as políticas de instrução popular (ou a sua ausência e ineficácia) e a necessidade de combater o analfabetismo nacional fundamentados com dados estatísticos da realidade local. Destacam-se as “crónicas” de Avelino Germano (1884), que aludem ao sinuoso processo de adiamento por 20 anos da instalação da escola industrial em Guimarães40 e a série “­Instrução ­popular, legislação portuguesa”, escrita por Avelino da Silva Guimarães41 (1890), publicada no seguimento da criação do ministério de instrução com o intuito de “avivar o interesse” dos leitores da rg pelo tema. Assina ainda os artigos “Caridade social e cristã pela instrução popular” (1885) e “O ensino público e popular. A reforma alemã. Método intuitivo” (1900 e 1901), nos quais defendeu a mobilização das classes privilegiadas no combate à ignorância dos mais pobres e a valorização do método de ensino de João de Deus e a “revolução no ensino de línguas” iniciado na Alemanha.42

Seguiram-se outros trabalhos43, “Instrução primária” (1903), de ­António Hermano, e “A Instrução popular no concelho de Guimarães” (1908) de Eduardo de Almeida que arrasa o poder político da época com um “estudo synthetico do atraso e desordem da instrucção do paiz, manifestando a evidencia do mais poderoso factor intellectual e moral e também physico da anormalidade portuguesa”.44 Analisando as 80 freguesias do concelho de Guimarães denunciou que em 38 daquelas não funcionava qualquer escola oficial e que “entre serviçais, domesticas, lavradeiras e operarias, sobretudo nas freguesias não urbanas, 90 por cento não sabem ler”.45

Apesar do empenho da sms a favor da instrução pública o analfabetismo não reduzia. A instalação do instituto, do curso de desenho, da escola ­militar, de cursos em regime noturno, da escola industrial, o financiamento de estudos aos alunos pobres, a instituição dos prémios de desempenho escolar, a escola móvel, as conferências, a publicação da rg e do boletim, resultaram num esforço que se esboroava nas estatísticas. Na questão do analfabetismo, ­Guimarães saía mal na comparação com o país, com o Norte, com o Minho, com os concelhos vizinhos e até com as pequenas vilas de Fafe e Vieira do Minho. Perdia também na comparação com Braga, algo demolidor para o orgulho da cidade industrial.46

O défice de instrução penalizava gravemente a indústria local. Alberto Sampaio, que estudou o Inquérito Industrial de 1881, concluiu que era impossível competir com os ingleses e franceses47 baseando a economia numa indústria têxtil rudimentar e sem mecanização. Desenvolveu esta ideia em “Resposta a uma pergunta: convirá promover uma exposição em Guimarães?” onde denuncia a adoção de hábitos “dos povos ricos e industriaes” (Sampaio, 1884, p. 30) e critica o país por manter-se cativo do défice e do consumo e não procurar uma mudança que o enriquecesse verdadeiramente.

Sampaio - que tinha visitado a Exposição Universal de Paris em 1867 na companhia do seu amigo Antero de Quental -, defendeu nas páginas da rg a realização de uma exposição industrial (da qual foi diretor executivo) para conceder visibilidade e expressão às indústrias de Guimarães, mais promissoras e numerosas do que o indicado pelo inquérito industrial. Partilhou ainda a “idéa nova” da “necessidade da creação d’uma industria nacional” e de uma dinâmica que implicaria instrução popular e técnica, mecanização e desenvolvimento.48

[…] forçoso é reconhecer que na sua máxima parte se tratou ali do que mais interessava à cidade e concelho de Guimarães. Da sua arqueologia, da sua história, dos problemas da sua agricultura, das suas instituições e monumentos, da sua instrução, das suas indústrias, da sua higiene, de tudo isso houve quem particularmente se ocupasse. [Meira, Revista de Guimarães, 1921, p. 7]

Editorialmente, a rg insistirá, por três décadas, numa linha temática que privilegiará a ciência, a tecnologia, a indústria e o ensino. Adolfo Salazar assina dois desses artigos - “A ciência e a arte” (1884), “As artes mecânicas” (1885) -, João Gomes Guimarães (1886) escreve “Tinturaria”. Matos Chaves dedicará três artigos à “Química industrial, Galvanoplastia” (1890 e 1891).

Avelino da Silva Guimarães é o autor com mais artigos publicados na rg alusivos à indústria, 21 no total. Os seus estudos intitulados “Subsídios para a história das indústrias vimaranenses. Excesso de reforma liberal em detrimento da agrícola e industrial” relatam a história de alguns mesteres e indústrias tradicionais e neles analisa, criticamente, o que se passa em Portugal e Guimarães:

Nos paizes, onde houve maior descuido, onde se deixou a população trabalhadora emancipada e livre sem o amparo que demandava o seu novo estado, a industria declinou, desordenadas as classes e impotentes para luctar contra os progressos previdentemente consolidados pelos povos que viram na instrucção geral e desenvolvida o único segredo da sua supremacia. Assim succedeu com Portugal. O estado decadente das classes industriaes de Guimarães é um exemplo, serve de prova viva d’esse facto de imprevidencia censuravel a governos, a parlamentos, a camaras, aos cidadãos mais responsaveis na sustentação da prosperidade nacional, da nossa opulencia fabril. O estado de ignorancia crassa, litteraria e technica, em que o inquerito de 1881 (…) encontrou algumas classes industriaes do districto do Porto (facto que pode affirmar-se de todo o paiz), evidencia a obnoxia incuria com que se tem tratado d’este assumpto, e a loucura com que saudamos, com hymnos e foguetes, as apparencias de progresso constituidas pelas estradas e corrupções eleitoraes! [Avelino da Silva Guimarães, Revista de Guimarães, 1892, pp. 20-50]

No último artigo que publica na rg (1899) alertou para a necessidade de “salvar do esquecimento” a informação sobre a evolução histórica das indústrias, trabalho ao qual se dedicou, censura a inércia do poder central, que responsabiliza pelo atraso português, referindo como exemplo disso a Escola Industrial de Guimarães, que, 15 anos após a sua instalação, permanecia incompleta, sem oficinas a funcionar e com edifícios e maquinaria desaproveitadas e deterioradas.

As preocupações do autor eram as justas preocupações de um sócio da Companhia de Fiação e Tecidos de Guimarães. A regularidade da sua colaboração com a Revista de Guimarães e a persistência que colocou na abordagem aos temas industriais vem confirmar a estratégia industrialista que envolvia os fundadores e a própria Sociedade Martins Sarmento. Avelino da Silva ­Guimarães integrou o elenco fundador da sociedade anónima (inicialmente composta por 167 acionistas), mas também exerceu funções diretivas naquela fábrica.49

Convocamos, para completar esta reflexão, o artigo “Guimarães nas exposições nacionais e internacionais”, publicado no período de restabelecimento da rg (1926 até 1974), da série Curiosidades de Guimarães, por Alberto Vieira Braga (1953), porque nesse estudo documentam-se as participações das indústrias de Guimarães nas exposições portuguesas (1844-1953) e nas exposições universais e internacionais (1855-1929), que não só evidenciavam a vitalidade económica e cultural do concelho, mas também a expansão industrial que se foi verificando ao longo de décadas.50

Um exemplo histórico da relação entre cultura científica e indústria

A longevidade e o alcance da sms e da rg devem-se, sobretudo, à imponência cultural, científica e política do seu núcleo fundador e à conjugação feliz de intenções e objetivos que reunia, numa única missão, homens formados em Coimbra e industriais reconhecidos em Guimarães.

A Revista de Guimarães surgiu em boa hora e nos melhores fastos do tempo, apareceu numa ocasião excepcional de ventura, em que nesta terra brilhavam os mais fulgurantes talentos, presos do romantismo da época, mas superiores no culto duma educação forte de princípios, feita a par do melhor estudo das várias modalidades da Ciência [Alberto Vieira Braga, Revista de Guimarães, 1950, p. 10].

Um aspeto determinante nesta sintonia é o envolvimento dos industriais na vida da Sociedade e dos seus diretores na vida das indústrias. Na constituição dos órgãos sociais da sms encontram-se muitos nomes ligados às indústrias, assim como na lista de sócios. António da Costa Guimarães, fundador da Fábrica do Castanheiro, a primeira fábrica têxtil mecânica de Guimarães, contribuiu financeiramente para a Sociedade, durante muitos anos. Os seus filhos, Álvaro Costa, José Miguel e Simão Costa, integraram os corpos sociais, assinaram artigos no Boletim, elaboraram pequenos relatórios e balancetes. Simão Costa chegou a apadrinhar e financiar um prémio escolar. Bernardino Jordão, que no início do século xx adquiriu a massa falida da companhia inglesa de eletricidade, e passou a explorar o serviço em Guimarães - sendo por isso apelidado de “senhor eletricidade” - foi admitido como sócio da sms em 1896. Outro exemplo é Francisco Inácio da Cunha Guimarães, fundador da Fábrica do Moinho do Buraco, admitido como sócio em 1900 por recomendação de Francisco Jacome, um fotógrafo de origem francesa instalado em Guimarães que também contribuía para a sms.

Também Alberto Sampaio, ligado à fundação da sms e ao lançamento da RG, foi um elemento imprescindível, quer à instituição, quer às indústrias. Desempenhou funções de diretor da Exposição Industrial de Guimarães, foi guarda livros do Banco de Guimarães e exerceu funções como consultor jurídico na Companhia de Fiação e Tecidos de Guimarães.

Garantido o apoio e influência dos principais industriais da cidade, cujo financiamento assegurava, por exemplo, a publicação ininterrupta da rg e sem qualquer benefício do Estado, estava facilitada a propagação dos ideais do progresso industrial. Politicamente, a dinâmica ideológica do movimento pró-republicano penetrava nas indústrias, na Sociedade e nos textos publicados na rg.

Conseguiu que se melhorassem as condições técnicas e industriais dos nossos primeiros estabelecimentos de ensino, propagou a primeira e maior exposição industrial de 1884, colaborou eloquentemente na segunda exposição de 1923 e reclamou todas as iniciativas e progressos dos nossos principais factores de prosperidade [Alberto Vieira Braga, Revista de Guimarães, 1950, p. 15]

Os novos sócios eram estrategicamente incorporados na Sociedade e as recomendações cuidadosamente aprovadas. António José Arroyo (engenheiro e inspetor das Escolas Industriais da Circunscrição do Norte) foi indicado sócio da sms numa altura em que a Sociedade lutava pela instalação das oficinas. Bernardino Machado, ainda professor na Universidade de Coimbra e antes de assumir a pasta de ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, colaborou com a sms e com a rg, tendo representado a Sociedade em congressos internacionais - Paris, Madrid e em Lisboa -, onde se debateram as questões da instrução popular e do ensino. Tornou-se sócio honorário da sms antes de assumir a presidência da República.

Estes e outros exemplos contribuem para clarificar o papel da rg, sobretudo na primeira fase editorial, efetivamente voltada para questões relacionadas com o progresso tecnológico da indústria e a instrução. Explica, ainda, a longevidade da rg, à qual não faltou apoio financeiro, a diversidade e pluralismo temático, sempre em sintonia com as causas da cidade e do concelho (a mecanização para as indústrias, o ensino industrial, a República, a liberdade e a democracia).

Consequentemente, seria uma publicação influente e determinante para a mudança de paradigma de Guimarães: “Dentro do campo social [a Revista] teve uma desenvolvida capacidade de acção no agitar de grandes problemas, que trouxeram, pela sua realização, proveitos muitos à colectividade vimaranense” (Braga, 1940, p. 15).

Notas sobre a relação entre a revista de Guimarães e o Instituto de Coimbra

A publicação de uma revista com características científicas fora da geografia de poder académico representada pelo eixo Lisboa, Coimbra e Porto, radica na proximidade dos fundadores da Sociedade à Universidade de Coimbra. Essa confinidade com a universidade e os seus vultos intelectuais atingiu O Instituto, a revista científica e literária51 que lhes terá servido de inspiração (­Leonardo, 2011). Reconhecemos o modelo, o alinhamento e a intercolaboração regular que se estabeleceu entre as duas publicações (Revista de Guimarães e O Instituto), analisando as edições trimestrais do Boletim e os artigos publicados na rg.

Aliás, no discurso de homenagem a Martins Sarmento, por ocasião das celebrações do centenário do seu nascimento, o então diretor do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra e presidente de O Instituto, ­Francisco Costa Lobo, alude a essa relação mútua e recorda o “sábio incansável” de Guimarães e colaborador da revista: “[O Instituto] teve a distinção de possuir entre os seus membros honorários o sábio Martins Sarmento, que enriqueceu a Revista do Instituto com preciosos artigos” (Lobo, 1933, p. 79).

Enquanto a rg nasce com o propósito de estudar a realidade local numa perspetiva científica, a sua economia, indústrias e instrução popular, procurando conhecer o movimento social da cidade e do concelho, O Instituto surge para fomentar o diálogo, debater ideias entre intelectuais de diferentes áreas do saber e publicar trabalho científico e literário, assumindo-se como órgão de divulgação da atividade científica da universidade (Ferreira, 2011; Leonardo et al., 2013).

Estamos perante duas publicações longevas (Quadro 3), com vantagem para a continuidade da rg, que têm em comum alguns colaboradores notáveis (Sousa Viterbo, Teófilo Braga, Bernardino Machado, Martins Sarmento), que alinharam com o espírito de uma nova geração liberal, mas que representaram, nas suas cidades de origem, objetivos muito distintos. Estas revistas também se diferenciam no impacto das publicações: em Guimarães produz-se uma mudança industrial e social na região, em Coimbra a publicação circunscreve--se à disseminação científica de conteúdos.

Quadro 3 Comparativo entre as publicações O Instituto e a Revista de Guimarães 

Fontes: O Instituto de Coimbra e a Ciência na Universidade de Coimbra (Leonardo et al. (2013), e Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento (Guimarães)

Seguindo a prática da época, as duas revistas permutavam edições entre si e com outras publicações - na biblioteca da sms existe uma coleção d’O Instituto - e ambas publicavam um Boletim - destinado a atas, notícias e informações. O Instituto valorizava artigos científicos de diferentes áreas do saber, das artes e letras, enquanto a rg privilegiava temas da história, arqueologia, economia e educação, que refletiam a realidade local e nacional.

Considerações finais

Os iniciadores da Sociedade Martins Sarmento (sms) constituíram-se como grupo de excelência intelectual, cujo talento e eloquência, associados a uma consciência crítica e mundividência, permitiram a consolidação de uma instituição vocacionada para a defesa da instrução popular, firmemente apoiada na defesa dos interesses da economia local e das suas indústrias.

A Revista de Guimarães (rg), órgão científico da Sociedade, distinguiu-se pela sua longevidade e pela capacidade de gerar mudança. Ancorados em estudos estatísticos e demonstrações factuais os artigos publicados na rg depressa conquistaram o respeito de notáveis académicos e também a preocupação dos políticos. Os estudos sobre Guimarães não só concediam visibilidade e dimensão à cidade e ao concelho, como, não raras vezes, desmentiam a ­narrativa dos governos. Indiretamente, a revista conseguiu mudanças e decisões ambicionadas - a instalação da escola industrial por exemplo -, impulsionou a mecanização e expansão das indústrias têxteis locais, propagou e divulgou a primeira exposição industrial concelhia realizada em Portugal, contribuiu para o progresso de Guimarães.

Não foi alheia a esta dinâmica a relação dos fundadores da sms com a Universidade de Coimbra, onde se formaram, nem com O Instituto, no qual se inspiraram e com o qual estabeleceram colaboração.

A rede de contactos privilegiados entre os sábios de Guimarães e as figuras de relevo nas artes, cultura, ciência e política também contribuiu para os resultados obtidos, uma vez que muita da estratégia de cidade passava pelo recurso, e apoio, a essas personalidades, sobretudo junto de homens que assumiram responsabilidades governativas ou funções no Estado e que pertenciam ao círculo de amizades de Martins Sarmento e Alberto Sampaio.

Localmente também contaram com o apoio dos industriais e capitalistas, ávidos de progresso, desenvolvimento e riqueza, que procuravam, tal como a sms, uma instrução popular e técnica que impulsionasse as suas fábricas e os seus negócios. Esses industriais, na sua maioria com instrução, não só dispunham do capital necessário para auxiliar e financiar a instituição e as suas atividades, como do poder político, pois dirigiam associações ou tinham assento na Câmara Municipal. Todos eles foram sócios e alguns integraram os corpos sociais da sms.

A rg ganhou notoriedade e rapidamente tornou-se numa referência científica e cultural, em Portugal e no estrangeiro, beneficiando, por um lado, da projeção de Martins Sarmento e dos seus pares, e, por outro lado, pela cooperação que estabeleceu com a investigação científica portuguesa da época. Contribuiu, assim, para a expansão cultural e para o intercâmbio profícuo com instituições similares estrangeiras, ganhando presença e citação em inúmeras obras.

No entanto, o destaque mais importante que se pode fazer ao trabalho empreendido em 1883, e lançado em 1884, quer com a instituição da sms, quer com a publicação da rg, é que estamos perante uma estratégia bem definida para a cidade e para o concelho de Guimarães, que assenta naquilo que hoje designamos por interface ciência-indústria.

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2Diário do Governo n.º194, Decreto do Ministério da Instrução Pública, de 16 de agosto de 1870, pp. 476-486.

3De acordo com o Censos de 1878 a taxa de analfabetismo no distrito de Braga era de 81,1%, incluindo nestas contas o concelho de Guimarães. Em 1890, estimava-se que 85,2% da população de Guimarães fosse analfabeta (Boletim da Sociedade Martins Sarmento (1899), 16 (4), p. 166 e Censos de 1890). Até 1911 a taxa de analfabetismo baixou até aos 76%, alinhada pela média nacional (Censos, 1878 a 1911, ine).

4O Regulamento da Biblioteca foi deliberado em outubro de 1882, após a constituição e regulamentação de funcionamento da Sociedade Martins Sarmento (em agosto do mesmo ano).

5A biblioteca pública contemplava coleções, livros raros e manuscritos, produção literária, científica e artística que, segundo o regulamento “não tenham aplicação ao ensino popular” (Regulamento da Biblioteca Municipal, artigo 2.º, sms 1882).

6A biblioteca popular abrangia duas classes - geral (livros de religião, história, direito, política, literatura, recreação entre outros) e especial (revistas, catálogos, livros técnicos, manuais industriais, agrícolas, comerciais e de desenho). Os utentes podiam efetuar leitura na sala pública ou requisitar para leitura no domicílio (Regulamento da Biblioteca Municipal, artigos 3.º, 11.º e 111.º, sms, 1882).

7Para consultar a coleção da Revista de Guimarães (1884 a 2009) basta aceder à plataforma da Casa de Sarmento, onde é possível obter informação detalhada sobre a publicação e o Boletim, e consultar artigos por temas, autores e anos. Disponível em: https://www.csarmento.uminho.pt/revista-de-guimaraes/.

8A proposta para a criação da rg foi apresentada pela direção da Sociedade em 27 de janeiro de 1883 e aprovada em assembleia geral no dia 7 de Fevereiro de 1883. Pretendiam os seus subscritores lançar um “órgão da Sociedade Martins Sarmento, promotora da Instrução popular no Concelho de Guimarães”.

9O ano de 1884 é um marco na história de Guimarães, devido a uma série de acontecimentos que geraram uma profunda mudança social, económica e cultural. Nesse ano a cidade viu chegar o comboio, organizou a primeira Exposição Industrial concelhia, a sms. lançou a rg e foi decretada a instalação da Escola Industrial Francisco de Holanda. Foi também em 1884 que começaram a funcionar os primeiros teares mecânicos da Fábrica do Castanheiro, importados de Manchester e montados por um operário vimaranense. A este propósito ver: “Fábrica do Castanheiro: o motor da cidade industrial - Estudos sobre o fundo histórico da firma António Costa Guimarães, Filho & C.ª (1844-1926)”. Boletim Trabalhos Históricos, série iii, vol. vi, pp. 10-57.

10Recordemos o exemplo de Alberto Sampaio, o primeiro historiador de economia em Portugal (Mendes, 1992) que publica na Revista de Guimarães os seus primeiros artigos - “As vilas do Norte de Portugal” e os seus “Estudos de Economia Rural” - e que também vai dispersar pelas edições da Revista de Sciências Naturaes e Sociaes (Porto, 1895), Revista de Portugal (Porto, 1892) e revista Portugália (Porto, vol. 1899/1903).

11Também Martins Sarmento, o insigne arqueológo português vai publicar na rg alguns dos artigos de referência clássica da arqueologia em Portugal. Razões que explicam, plenamente, a importância desta revista e a coragem que ela representa num contexto sociopolítico muito fragilizado e concentrado nos velhos poderes de afirmação centralista, de que as elites culturais, políticas e científicas de Lisboa e Coimbra - sobretudo estas - aprenderam a respeitar.

12 A crise que se abateu sobre a Sociedade Martins Sarmento em 1913 interrompeu 30 anos de próspero prestígio que a direção da SMS entendeu ser não uma crise de crescimento “mas tributo que teve de pagar por lhe ter faltado o apoio da notável geração que lhe deu vida”. (Prefácio aos índices da Revista, Direção da Sociedade Martins Sarmento. Revista de Guimarães, n.º 101, 1991, p. 9). Entre 1899 e 1913 o escol fundador da Sociedade desapareceu: Martins Sarmento (1899), José Sampaio morreu um mês depois (1899), Avelino da Silva Guimarães (dois anos depois), Alberto Sampaio faleceu em 1908 e o Abade de Tagilde em 1912. Domingos Leite de Castro - que foi o autor da proposta de criação da Revista de Guimarães - previu que, completado o primeiro ciclo, a rg seria suspensa, o que efetivamente sucedeu. A publicação foi retomada por iniciativa da direção presidida por Eduardo Almeida (Meira, Joaquim José de (1921), “Revista de Guimarães”. Revista de Guimarães, 31(1-2), p. 11).

13 Singular e notável cidadão de Guimarães, Francisco Martins Sarmento nasceu em 9 de março de 1833 e faleceu em 9 de agosto de 1899. Estudou Direito na Universidade de Coimbra. Filho de uma família abastada, dedicou-se à arqueologia e à fotografia científica, documentando os seus achados e explorações. Em 1882 foi homenageado com a fundação de uma instituição filantrópica, a Sociedade Martins Sarmento, vocacionada para a instrução popular, que apadrinhou e à qual doou todos os seus bens. Sobre Martins Sarmento ver: Cardozo, Mário (1956), “Francisco Martins Sarmento: esboço da sua vida e obra científica”, Guimarães: Sociedade Martins Sarmento.

14 Henri Martin (1810-1883), historiador francês e autor de Histoire de France, foi um dos vários intelectuais estrangeiros que integrou a comitiva de participantes no Congresso de Antropologia e de Arqueologia Pré-Histórica que, em 1 de outubro de 1880, visitou a citânia de Briteiros, em Guimarães. Todos se renderam à excelência do trabalho Os Lusitanos apresentado por Martins Sarmento naquele congresso internacional e posteriormente publicado na RG.

15 Guimarães, Avelino da Silva (1884), “Razão de ordem para o futuro boletim”. Revista de Guimarães, 1(1), 1884, p.3.

16 Cardoso, Mário (1961), “Francisco Martins Sarmento, esboço da sua vida e obra científica”.

17“É creada n’esta cidade de Guimarães uma sociedade promotora da instrucção popular intitulada - Sociedade Martins Sarmento - tendo por fins principais: (1) Promover por todos os meus legaes a creação de escólas e institutos de instrucção popular quer primaria, quer secundaria, quer profissional; (2) Promover o adiantamento dos alumnos, distribuindo premios aos que tiverem maior aproveitamento, e aos professores que mostrarem maior solicitude no ensino”. Estatutos da Sociedade Martins Sarmento, disponível em linha: http://www.csarmento.uminho.pt/sms_1_estatutos.asp.

18Em “Introdução” (1884), Revista de Guimarães, 1(1), p. i.

19Francisco Marques de Sousa Viterbo (1845-1910), natural do Porto, foi jornalista, historiador, arqueólogo, poeta e médico. A ele se devem, entre outros trabalhos de referência, a “História das artes industriais portuguesas” (1892) e o artigo “Arqueologia industrial portuguesa. Os moinhos” (Archeologo Português, vol. ii, n.os 8 e 9, 1896, pp. 193-204; reeditado pela Muralha - Associação de Guimarães para a Defesa do Património, 1986, pp. 6-8) em que usou pela primeira vez a expressão “arqueologia industrial” (Mendes, José Amado - A Arqueologia Industrial: uma Nova Vertente de Conservação do Património Cultural. Seminário sobre Património e Desenvolvimento Regional, promovido pelo Centro de Estudos de Formação Autárquica, cef A e pela Delegação Regional Centro da Secretaria de Estado da Cultura, o qual teve lugar em Coimbra, de 19 a 21 de Abril de 1990 http://www4.crb.ucp.pt/Biblioteca/GestaoDesenv/GD9/ gestaodesenvolvimento9_197.pdf (27-05-2010). Publicará na Revista de Guimarães os artigos “Artistas e artífices de Guimarães. Noticiário documental” (Viterbo, Sousa (1896), Revista de Guimarães, 13(4), pp. 169-189) e “A poesia e a arqueologia” (Viterbo, Sousa, Revista de Guimarães, volume especial, 1900, pp. 80-81).

20Introdução pela direção da SMS, in Revista de Guimarães, 1(1), 1884, pp. i-vii.

21Idem.

22Ibidem.

23Idem, ibidem.

24No inquérito de 1881 são referidas três fábricas de tecidos de linho e algodão em ­Guimarães e vagamente o número de operários. No relatório da Exposição Industrial são referidas 38 atividades que empregavam, em fábricas e oficinas, um total de 5 484 pessoas, sendo a indústria têxtil dominante (81% da mão de obra), seguida pelas indústrias de curtumes, cutelarias e calçado (19%).

25Sampaio, Alberto (1884), “Resposta a uma pergunta: Convirá promover uma exposição industrial em Guimarães?”. Revista de Guimarães 1(1) , pp. 25-34.

26Prefácio aos índices da Revista, Direção da Sociedade Martins Sarmento. Revista de Guimarães, n.º 101, 1991, pp. 9-13.

27“Quem compulsar as suas páginas, durante os trinta anos em que ela foi ininterruptamente publicada (1884 a 1913), verá como se cumpriu o programa anunciado. Embora por vezes outros interessantes assuntos nela fossem versados, forçoso é reconhecer que na sua máxima parte se tratou ali do que mais interessava à cidade e concelho de Guimarães. Da sua arqueologia, da sua história, dos problemas da sua agricultura, das suas instituições e monumentos, da sua instrução, das suas indústrias, da sua higiene, de tudo isso houve quem particularmente ali se ocupasse” (Meira, Joaquim José de (1921), Revista de Guimarães, 31(1-2), p. 7).

28Idem, ibidem.

29Destacam-se ainda os contributos de Mário Cardozo, Alberto Vieira Braga, António de Azevedo, A. L. Carvalho ou João Lopes de Faria, autores de monografias de impacto nacional.

30Como é o caso de António José Arroyo, engenheiro e inspetor das escolas industriais do Norte, e de João Franco, eleito deputado às Cortes em 1884 pelo círculo eleitoral de Guimarães, apoiou a causa da cidade no conflito com Braga o que lhe valeu a atenção do país e a simpatia dos vimaranenses.

31Bernardino Luís Machado Guimarães (1851-1944), natural do Rio de Janeiro, matemático, professor na Universidade de Coimbra, diretor do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa e, em 1894, presidiu ao Instituto de Coimbra (1896-1908). Exerceu por duas vezes a presidência da República Portuguesa (1915-1917 e 1925-1926). Contemporâneo em Coimbra e amigo pessoal de Martins Sarmento e dos irmãos Alberto e José Sampaio. Foi sócio honorário da Sociedade Martins Sarmento. Representou a sms (de que era sócio honorário) no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano realizado em Madrid em 1892 e no congresso de instrução popular, realizado em Paris em 1889, na Exposição Universal, no seguimento de convite enviado à sms pela Ligue Française de l’Enseignement, atestando a boa fama de que a Sociedade beneficiava nos círculos instruídos da Europa. Já como ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, foi instado pela direção da SMS a desbloquear o estabelecimento das oficinas da escola industrial, cujo equipamento permanecia guardado em caixotes aguardando a conclusão de obras cujo atraso implicava atrasos que Guimarães não aceitava mais: “Entre as officinas, que, segundo o último plano de escolas industriaes, devem ser estabelecidas como parte integrante da escola Francisco de Hollanda, inclue-se a de tecelagem; e se, em relação a todas é evidente a urgência, avulta, em relação à de tecelagem, por estar concluido o respectivo edificio, adquirido o machinismo que está a deteriorar-se, e a residir n’esta cidade, vencendo ordenado contratado, o habil director belga, e por ser a tecelagem de linho e algodão uma das mais vulgarisadas e productivas industrias d’esta cidade e concelho. (…) Agora pede o estabelecimento das officinas decretadas, ou, pelo menos, e como urgentissimo, a de tecelagem, para que não só se acuda á industria mas se evite a perda d’um valioso capital: a machina a vapor, os numerosos theares aperfeiçoados e outros machinismos e utensilios, que a ferrugem já corroe!”, in Boletim, Revista de Guimarães, 10 (1), 1893, pp. 49-71.

32Joaquim Teófilo Fernandes Braga, (1843-1924), natural de Ponta Delgada, sociólogo, filósofo, ensaísta e político, autor de História da Universidade de Coimbra (1891) e colaborador de O Instituto. Presidente do Governo Provisório (1910-1911) e Presidente da República (entre maio e outubro de 1915). Em carta enviada ao ex-colega João Monteiro de Meira, aquando da receção do livro O Concelho de Guimarães (1907), Teófilo Braga refere-se à “obra, scientificamente fundamentada e bem pensada” do autor, assim como às “phases constitutivas dessa povoação, resistente, altiva e industrial, que sendo um centro de elaboração nacional se incorporou na nacionalidade, conservando ainda todos os seus caracteres ethnicos primitivos. Muito aprendi nesse capitulo estudado nas fontes puras das mais authenticas documentações” (Revista de Guimarães, 31(3) Jul.-Set. 1921, pp. 202-204).

33Em homenagem prestada a Martins Sarmento, e publicada em 1900, após a sua morte, ­Teófilo Braga escreveu que o amigo “honrou a sua época pondo Portugal a par do concurso mental europeu” (Braga, Teófilo “Martins Sarmento, erudito”. Revista de Guimarães, volume especial, 1900, p. 35).

34Professor da Universidade de Berlim, patologista e político liberal alemão considerou ­Martins Sarmento como o Heinrich Schliemann português.

35Publicou quatro artigos na RG entre 1940 e 1949: “Os tirsenos em Portugal”, “Os tirsenos na hispânia”, “Irmãs latinas” e “A Germânia de Tácito”.

36Escreveu “Algumas analogias das cerâmicas pré-históricas britânicas com as portuguesas”, publicado na Revista de Guimarães, 60(1-2), 1950, pp. 5-16.

37O seu artigo “As citânias e as cidades fortificadas do Minho” foi publicado na Revista de Guimarães, 5(3), 1888, pp. 123-135.

38Publica dois artigos: “Infiltrações germânicas entre os celtas peninsulares. Revista de Guimarães, 60(3-4), 1950, pp. 339-349; e “Cultura megalítica portuguesa y culturas españolas”. Revista de Guimarães, 76(3-4), 1966, pp. 249-306.

39O seu primeiro artigo publicado na rg é em co-autoria com Lopez Cuevillas (1928). Manteve uma duradoura colaboração publicando entre 1942 e 1962.

40“(…) continuemos todos com igual ardor na propaganda da instrucção; vamos dando aos nossos artistas as primeiras noções de desenho, despertando n’elles o amor e a necessidade d’estudo; procuremos fazer-lhes empregar as suas horas de folga nas leituras da bibliotheca, onde se instruam e moralisem; desviando-os dos logares onde se embrutecem e percertem. Lancemos mãos das conferencias, das leituras publicas sobre assumptos que prendam com os trabalhos proprios de cada um; procuremos espalhar com mãos largas a instrucção, porque sí por ella se póde levantar o nivel moral da nação, só por ella poderemos impôr-nos à consideração propria e d’estranhos.” Germano, Avelino (1884), “Crónica”. Revista de Guimarães, 1(4), pp. 216-220.

41Avelino Guimarães, advogado formado pela Universidade de Coimbra onde foi condiscípulo de Eça de Queiroz e Antero de Quental, colaborou na organização da Exposição Industrial. As suas conferências foram publicadas na rg, em dois volumes, um dedicado à indústria e outro à instrução popular. O desenvolvimento industrial, o bem estar das classes trabalhadoras e operárias, o progresso de Guimarães e a democracia foram as causas que abraçou.

42Guimarães, Avelino da Silva (1900), “O Ensino público e popular. A reforma alemã. Método intuitivo”, Revista de Guimarães, 17(1-2), pp. 18-21.

43Em “Apontamentos para a história da instrução primária no concelho de Guimarães”, publicados em 1911 na rg, o então inspetor escolar, Justino Ferreira, apresentou dados estatísticos relativos à pouco animadora evolução da instrução primária no concelho entre 1907 e 1911.

44Almeida, Eduardo de (1908), “A Instrução popular no concelho de Guimarães”. Revista de Guimarães, 25(2), pp. 57-74; 25(3-4), pp. 99-112.

45Idem.

46Sugere-se, a este respeito, a leitura do discurso de Domingos Sousa Junior, diretor da biblioteca da sms, proferido em 9 de março de 1899 e publicado no Boletim 16(4), pp. 161-195.

47Em carta a Oliveira Martins, datada de 1883, Antero de Quental escreve: «O Alberto [­Sampaio] já partiu. Foi pelo Porto, e com tenções de o procurar. Nos seus estudos sobre o Inquérito Industrial [de 1881], encontrou ele este facto sugestivo: que o trapo português, entre todos os trapos do mundo, é considerado o pior, por ser o mais remendado! O conhecimento deste facto, só por si, vale os 50 contos que o Inquérito custou”. In Obras Completas de Antero de Quental, vii, Cartas, vol. ii, pp. 1881-1891, organização, introdução e notas de Ana Maria Almeida ­Martins, Lisboa, Universidade dos Açores/Ed. Comunicação, 1989, p. 707.

48Em Revista de Guimarães 1(1),1884, pp. 25-34.

49Jornal O Comércio de Guimarães, 26-05-1890, vii Ano, n.º 560.

50Braga, Alberto Vieira (1953), “Curiosidades de Guimarães. xv Guimarães nas Exposições Nacionais e Internacionais”.Revista de Guimarães, 63 (3-4), pp. 307-460.

51O Instituto, revista científica e literária da Universidade de Coimbra, publicou-se durante 130 anos (1851-1981) e na segunda metade do século xix foi o principal órgão de divulgação da atividade científica da Universidade de Coimbra. Surgiu num contexto muito particular de estagnação da investigação científica coimbrã, que antecedeu a Regeneração e que resultou de uma posição de blindagem dos lentes de Coimbra face ao aparecimento de novas instituições de formação superior - as escolas politécnicas de Lisboa e Porto - que atraíam os estudantes pelo seu pragmatismo e pela resposta que eram capazes de fornecer ao tecido económico da época.

Recebido: 02 de Novembro de 2018; Aceito: 07 de Fevereiro de 2020

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