SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número239Vida familiar e tecnologias de informação e comunicação num mundo globalizado.Proximidade e distância nas famílias transnacionais entre Angola e Portugal - o contributo das tecnologias de informa-ção e comunicação. índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Análise Social

versão impressa ISSN 0003-2573

Anál. Social  no.239 Lisboa jun. 2021  Epub 30-Jun-2021

https://doi.org/10.31447/as00032573.2021239.06 

Dossiê

O papel da família na utilização da Internet por portugueses de 50 e mais anos: uma análise de género.

The role of the family in the use of the Internet by Portuguese aged 50 and over: a gender analysis

1 Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, Universidade do Minho. Campus de Gualtar, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho - 4710-057 Braga, Portugal. patriciasilva@ics.uminho.pt, adelerue@ics.uminho.pt

2 Departamento de Psicologia Social, Universidad de Sevilla » Calle Camilo José Cela, s/n - 41018, Sevilla, Espanha. rmpecino@us.es


Resumo

A Internet tem ganhado importância social. Contudo, as pessoas mais velhas têm ficado à margem da “revolução digital”. Os estudos têm-se centrado nas características sociodemográficas, económicas e de saúde destes indivíduos, como determinantes da utilização da Internet, não considerando o papel das relações familiares. Este trabalho visa, precisamente, analisar o papel da família na utilização da Internet numa perspetiva de género e incide sobre uma amostra de 1657 indivíduos com 50 e mais anos, inquiridos no projeto SHARE. Os resultados evidenciam o distinto contributo da família para a utilização da Internet por homens e mulheres mais velhos/as e salientam a importância das políticas públicas na redução das desigualdades de género.

Palavras-chave: Família; Internet; género; adultos de 50+ anos

Abstract

The Internet has gained social importance. However, older people have been left out of the so-called “digital revolution”. Studies have focused on sociodemographic, economic, and health characteristics of these individuals as determinants of Internet use, without considering the role of family relationships. This work aims, precisely, to analyze the role of the family in Internet use, from a gender perspective with a sample of 1657 individuals aged 50 and over, interviewed in the SHARE project. Results show a different contribution of the family to Internet use by older men and women and underline the importance of public policies in reducing gender inequalities.

Keywords: family; Internet; gender; adults 50+

A Internet tem vindo a ganhar importância no desenvolvimento da vida social, transformando-se num dos principais meios de comunicação e interação. Contudo, alguns grupos, como o dos idosos, têm ficado à margem da revolução digital.

Os estudos sobre adultos mais velhos têm identificado um conjunto de características sociodemográficas, económicas e de saúde destes indivíduos, como determinantes da utilização da Internet. Além destas caraterísticas, as relações familiares podem afetar consideravelmente a utilização desta tecnologia particularmente em países com tradições familiaristas, tais como Portugal. Este trabalho visa, precisamente, analisar o papel da família na utilização da Internet por portugueses de 50 e mais anos, numa perspetiva de género.

O presente estudo incide sobre uma amostra de 1657 indivíduos (747 homens e 910 mulheres), inquiridos no âmbito do projeto SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe) e que representam a população portuguesa de 50 e mais anos.

Os resultados obtidos, através de análises de regressão logística binária, evidenciam o distinto contributo da família para a utilização da Internet por cada um dos géneros. Mais concretamente, constata-se que quanto maior o número de filhos, maior a frequência de contactos, assim como uma maior distância geográfica entre a residência dos indivíduos de 50 e mais anos e respetivos filhos está associada a maior probabilidade de utilização da Internet pelo género feminino. Mas nenhuma associação foi encontrada entre os referidos fatores e a probabilidade de utilização da Internet pelo género masculino. Por outro lado, foi ainda possível constatar que a probabilidade de as mulheres que residem com um cônjuge/companheiro(a) utilizarem a Internet é menor do que a das mulheres separadas, divorciadas ou viúvas. Estes resultados apontam para o papel distinto desempenhado pela família no que diz respeito à utilização da Internet por homens e mulheres de 50 e mais anos.

Os resultados deste estudo salientam a importância das políticas públicas na redução das desigualdades entre géneros relativamente à utilização da Internet e na promoção de uma sociedade mais inclusiva.

Introdução

O rápido desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) oferece aos indivíduos oportunidades sem precedentes, mas nem todos delas usufruem. Com efeito, a sociedade Pós-Moderna encerra novas desigualdades relacionadas com o acesso e utilização da tecnologia que têm justificado o aumento significativo da atenção prestada à divisão ou fratura digital e seus potenciais efeitos (Cruz-Jesus, Oliveira, & Bacao, 2012).

Os estudos identificam os adultos mais velhos, os jovens pouco escolarizados e as pessoas pertencentes ao quartil inferior de rendimentos como os grupos mais vulneráveis à exclusão digital (Bucy, 2000; Hüsing & Selhofer, 2004). Este fosso digital tem sido considerado muito preocupante no caso dos idosos, uma vez que constituem um grupo de importância numérica crescente.

De acordo com a teoria da Modernização, segundo a qual se propõe explicar a mudança que ocorreu no estatuto e papéis dos idosos em função do grau de industrialização (Dias, 2012), numa sociedade marcada pela mudança acelerada e pelo progresso tecnológico, os mais velhos são caracterizados como indivíduos resistentes à inovação e à utilização das tecnologias (Doll et al., 2007). Em Portugal, a utilização da Internet por este grupo da população continua a constituir um importante desafio dado o reduzido número de utilizadores que o integram (INE, 2017; Silva, Delerue Matos e Martinez-Pecino, 2017), pelo que é importante conhecer os fatores que afetam a utilização da Internet, de modo a evitar a marginalização dos adultos mais velhos. Com efeito, a tecnologia está cada vez mais associada à realização de tarefas inerentes ao quotidiano destas pessoas (Dias, 2012; Neves, Amaro e Fonseca, 2013), como comunicar, realizar compras, marcar consultas no Serviço Nacional de Saúde, realizar procedimentos administrativos, entre outras. A importância do conhecimento das determinantes da utilização da Internet pelos indivíduos mais velhos reside ainda no facto de a sua utilização na segunda metade da vida estar associada a uma maior qualidade de vida (QdV) (Silva, Delerue Matos e Martinez- Pecino, 2018), a sentimentos de maior bem-estar ( Antonucci, Ajrouch e Manalel, 2017; Chopik, 2016; Neves e Amaro, 2015; Russell, Campbell e Hughes, 2008) e de menor solidão (Silva, Delerue Matos e Martinez-Pecino, 2020).

A literatura científica tem posto em evidência algumas das determinantes da adoção e utilização da tecnologia (Neves e Amaro, 2015). Muitas pesquisas sobre grupos etários mais velhos têm apontado para o facto de as características sociodemográficas, económicas e de saúde destes indivíduos condicionarem a utilização da Internet (Carpentere Buday, 2007; Choi e Dinitto, 2013; Demoussis e Giannakopoulos, 2006; Dias, 2012; Eastman e Iyer, 2004; Friemel, 2014; Lee, Chen e Hewitt, 2011; Luijkx, Peek e Wouters, 2015; Rosenthal, 2008; Selwyn, Gorard e Furlong, 2003; Wilson, Wallin e Reiser, 2003). Tendo em consideração que as relações familiares são consideradas muito importantes para os indivíduos, autores como Van Biljon e Renaud (2008) recomendam que os modelos explicativos de acesso e utilização da Internet integrem variáveis relacionadas com este tipo de relações. Para os adultos mais velhos, em particular, a família assume grande importância (Bowling, 1995) por, entre outras funções, providenciar suporte e contribuir para a integração social dos indivíduos (Kohli, Künemund e Ludicke, 2005).

A utilização da internet por indivíduos de 50+ anos: o papel da família

Os estudos no âmbito da Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) têm enfatizado a importância de todos os elementos envolvidos nos processos de adoção e utilização da tecnologia, rejeitando o determinismo tecnológico (Madsen e Kræmmergaard, 2016; Xie, 2003) e salientando a capacidade de agência dos adultos mais velhos neste tipo de processos (Peine, 2019). Referenciais teóricos, como a teoria do Ator-Rede (TAR), destacam a importância das interações entre indivíduos nos processos de utilização da tecnologia (Latour, 2005), apontando para a relevância daquelas que são estabelecidas entre atores sociais influentes, como é o caso dos familiares próximos (Tatnall, 2014). Também Bakardjieva (2005) salientou a importância das redes sociais próximas nos processos de adoção e utilização da Internet, desenvolvendo o conceito de “warm expert”. De acordo com Bakardjieva (2005) os “warm expert” são pessoas com conhecimentos e competências informáticas (especialistas informais) que desempenham um papel muito importante no apoio à utilização das tecnologias de informação e comunicação por pessoas com conhecimentos tecnológicos reduzidos. De acordo com a mesma autora, estes atores sociais estabelecem uma mediação entre o universo tecnológico e a situação concreta do utilizador da tecnologia com quem mantêm um relacionamento pessoal próximo (Bakardjieva, 2005, p. 99).

Este papel é geralmente desempenhado pelos membros mais jovens da família (Taipale, 2019). Com efeito, as pesquisas sobre grupos etários mais velhos têm destacado a importância do papel desempenhado por familiares próximos (Lüders e Gjevjon, 2017; Olsson e Viscovi, 2018), tais como os filhos (Olsson e Viscovi, 2018).

Os adultos mais velhos preferem recorrer aos “warm expert” do que a profissionais formais no processo de adoção e integração da tecnologia no seu quotidiano (Olsson e Viscovi, 2018). Com efeito, num contexto em que a importância destes atores sociais tem aumentado, Taipale (2019) refere-se ao “Warm Expert 2.0” para representar estes especialistas informais que, cada vez mais, auxiliam os membros mais velhos da família na utilização e gestão da tecnologia (Taipale, 2019).

O papel da família na adoção e utilização da tecnologia pelos mais velhos tem também sido enfatizado por diversos outros estudos empíricos (Martinez-Pecino, Delerue Matos, e Silva, 2013; Neves, Franz, Munteanu e Baecker, 2018; Russell et al., 2008; Silva, 2019; Sanday Tsai et al., 2017; Van Biljon e Renaud, 2008).

No mesmo sentido, os diversos quadros teóricos na área do envelhecimento que remetem para a existência de uma restruturação das redes sociais à medida que as pessoas envelhecem (Antonucci, Ajrouch, e Birditt, 2014; Carstensen, 1995; Charles e Carstensen, 2010; Khan e Antonucci, 1980) destacam o papel crescente que a família assume sobre elas. Apesar de ser um processo de restruturação dinâmico, heterogéneo e fortemente relacionado com o percurso de vida (Cornwell, Laumann e Schumm, 2008), o processo de envelhecimento caracteriza-se, em geral, pelo reforço das relações familiares dos indivíduos (Mollenhorst, Volker e Flap, 2014; Shaw et al., 2007). Também os contextos de migração ou de distanciamento geográfico de familiares instigam os mais velhos a recorrer à Internet com o objetivo de assegurarem a comunicação e a preservação dos laços sociais (Antonucci et al., 2017; Neves et al., 2018). Neste âmbito, a Internet tem figurado, em Portugal, como uma tecnologia que permite estabelecer interações, mesmo que de forma indireta, entre os mais velhos e seus familiares (Neves e Amaro, 2015; Silva, 2019). De facto, as pesquisas científicas têm evidenciado o efeito de compensação da Internet, ou seja, a sua capacidade de atenuar alguns fatores geralmente associados à idade (Neves, 2015), como, por exemplo, a redução da dimensão das redes sociais por perda de alguns dos seus elementos. Simultaneamente, a Internet potencia o impacto positivo das redes sociais na qualidade de vida (QdV) dos portugueses de 50 e mais anos (Silva et al., 2018).

As relações familiares condicionam o acesso e uso da Internet. Com efeito, os cônjuges são frequentemente retratados como capazes de se influenciarem mutuamente de forma positiva, ainda que, com alguma frequência, os homens não apoiem as suas esposas na compra de equipamento tecnológico (Luijkx et al., 2015). Os países do Sul da Europa apresentam algumas especificidades nesta matéria, pois, contrariamente ao que acontece na maioria dos países europeus, a ausência de cônjuge é favorável à adoção e utilização da tecnologia (Peacock e Künemund, 2007).

Os filhos e os netos também têm sido considerados importantes agentes de motivação para a utilização da tecnologia (Lindsay, Smith e Bellaby, 2007; Luijkx et al., 2015; Martinez-Pecino et al., 2013; Neves e Amaro, 2012; Neves et al., 2018). Os netos têm-se destacado pelo papel positivo que desempenham no processo de familiarização dos avós com a tecnologia (Neves e Amaro, 2012, 2015; Delerue Matos e Neves, 2012). Já o papel assumido pelos filhos tende a ser mais limitado (Eynon e Helsper, 2015; Rebelo, 2015). Se alguns estudos sublinham o facto de estes incentivarem a utilização da tecnologia (Russell et al., 2008), outros acrescentam que não auxiliam posteriormente no processo de familiarização com o equipamento, o que desencadeia sentimentos de frustração nos mais velhos (Silva, 2019).

A literatura científica assinala a importância dos estudos sociológicos sobre a relação entre a família e a tecnologia (Barbosa e Casimiro, 2018). Em Portugal, a importância da família tem sido reforçada por diversos trabalhos relativos à utilização da Internet pelas pessoas mais velhas (Dias, 2012; Martinez-Pecino et al., 2013; Neves e Amaro, 2012, 2015; Silva et al., 2018). Contudo, permanece pouco explorada a importância que assumem, a este nível, membros específicos da família, tais como cônjuges e filhos. Por outro lado, é sobejamente conhecida a existência de diferenças de género nos papéis desempenhados pelos indivíduos no seio da família (Aboim, 2007; Aboim e Wall, 2002; Wall et al., 2010) e a importância do género enquanto preditor das trajetórias de vida dos adultos mais velhos, em Portugal (Wall e Aboim, 2015). Simultaneamente, tem sido também fortemente salientada a importância das questões de género nos processos de utilização da tecnologia (Bimber e Barbara, 2000; Dias, 2012; König et al., 2018; Silva, 2019). Contudo, faltam estudos que tenham simultaneamente em conta o impacto das relações familiares e do género na utilização da Internet, em Portugal. Este artigo visa precisamente analisar o papel da família na utilização da Internet por portugueses de 50 e mais anos, numa perspetiva de género.

Metodologia

Este estudo incidiu sobre 1657 indivíduos portugueses (747 homens e 910 mulheres), inquiridos no âmbito do projeto SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe) em 2015 (vaga 6) e que representam a população portuguesa, não-institucionalizada, com 50 e mais anos.

Os questionários em CAPI (Computer Assisted Personal Interviewing) foram aplicados presencialmente por entrevistadores devidamente formados. Informação adicional sobre a metodologia do estudo SHARE pode ser consultada nos manuais de metodologia do projeto (Malter e Börsch-Supan, 2013, 2017).

As análises estatísticas foram realizadas com o software SPSS, versão 25. Em primeiro lugar, realizaram-se análises descritivas. Para avaliar a interdependência entre duas variáveis qualitativas utilizou-se o teste do Qui-Quadrado. Procedeu-se também à comparação de médias através de testes t de Student para amostras independentes. Os resultados destes testes foram complementados com medidas de magnitude de efeito (Cohen’s d/Phi), pois, entre outros motivos relacionados com a potência do teste e com a probabilidade de erro tipo I, as amostras de grandes dimensões podem conduzir a resultados estatisticamente significativos mesmo que as diferenças entre os grupos sejam reduzidas (Marôco, 2014, p. 248). A interpretação dos resultados foi baseada em Cohen (1988).

Num segundo momento, realizou-se uma regressão logística binária (método Enter) para cada um dos géneros, de forma a analisar o papel da família na utilização da Internet por portugueses de 50 e mais anos. Com este objetivo, construiu-se um primeiro modelo que permite avaliar o contributo das características sociodemográficas e de saúde para a utilização da Internet. A este modelo foram posteriormente adicionadas as variáveis relacionadas com a família. Este segundo modelo permite estimar o contributo de algumas das características da estrutura e dinâmica familiares para a utilização da Internet.

Variáveis consideradas na análise

Variável relativa à utilização da Internet: variável dicotómica que permite distinguir os indivíduos que recorreram a esta tecnologia pelo menos uma vez nos últimos sete dias para enviar ou receber e-mails, procurar informações, fazer compras ou para qualquer outra finalidade (1) dos indivíduos que não a utilizam (0). Esta variável tem o estatuto de variável dependente na análise de regressão logística binária, sendo a resposta afirmativa (1) a categoria de referência.

Variáveis relacionadas com a família: situação conjugal: (1) “casado(a) ou em união de facto a residir com um cônjuge/companheira(o)” ou (0) “solteiro(a), viúvo(a), divorciado(a) ou casado(a) a viver separado(a) do(a) marido/esposa”; número de filhos; idade dos filhos; frequência média de contactos durante o último ano com os filhos (escala de (1) “nunca” a (7) “diariamente”); distância geográfica entre a residência do próprio e a residência dos filhos (escala de (1) “no mesmo alojamento/casa” a (8) “mais de 500 quilómetros de distância”).

Outras variáveis sociodemográficas e económicas: idade; anos de escolaridade, autoperceção de stress financeiro: (1) “grande dificuldade” ou “alguma dificuldade” em suportar as despesas mensais e (0) “facilidade” ou “muita facilidade” em fazer face às despesas mensais; participação em atividades sociais: (1) participação em pelo menos uma das seguintes atividades: realização de trabalho voluntário ou de caridade; frequência de um curso ou formação; frequência de uma associação desportiva, social ou de outro tipo; participação numa organização política ou relacionada com a comunidade; leitura de livros, revistas ou jornais; realização de jogos com palavras e números com palavras-cruzadas ou Sudoku; realização de jogos de cartas ou outros jogos como o xadrez, ou (0) sem participação nas atividades anteriores; utilização do computador no local de trabalho: (1) utilização do computador ou tablet no exercício da profissão atual ou anterior e (0) não utilização do computador em contexto profissional.

Variáveis de saúde: sintomas depressivos avaliados pela escala EURO-D, distinguindo-se (1) os indivíduos com sintomas significativos de depressão, ou seja, que obtiveram uma pontuação igual ou superior a 4 pontos na escala EURO-D de 12 itens (Prince et al., 1999) e (0) os indivíduos que obtiveram pontuações inferiores na mesma escala; limitações físicas: número de limitações na realização das dez atividades seguintes: caminhar 100 metros, estar sentado cerca de duas horas; levantar-se de uma cadeira depois de estar sentado durante algum tempo; subir vários lanços de escadas sem descansar; subir um lanço de escadas sem descansar; inclinar-se, ajoelhar-se ou agachar-se; colocar ou levantar os braços acima do nível dos ombros; puxar ou empurrar objetos grandes; levantar ou carregar pesos com mais de 5 quilos; apanhar uma moeda pequena que se encontra em cima de uma mesa. A pontuação final corresponde ao número de limitações físicas, mencionadas por cada indivíduo.

Resultados

Quem são os utilizadores da internet com 50+ anos, em portugal?

Em Portugal, apenas ¼ dos adultos de 50 e mais anos, aproximadamente, utiliza a Internet (27,2%). O recurso a esta tecnologia é mais frequente no género masculino (31,3%) do que no feminino (23,8%)1. Estas evidências reforçam as conclusões de outras pesquisas, que enfatizam a possibilidade dos papéis de género offline influenciarem o comportamento online (Dias, 2012) e, neste sentido, a utilização da Internet refletir a realidade prática das circunstâncias da vida quotidiana (Helsper, 2010).

No Quadro 1, podem observar-se as características dos utilizadores e não--utilizadores da Internet, de acordo com o género. Os homens e as mulheres que a utilizam são mais jovens do que os seus homólogos não-utilizadores e apresentam, em média, um número de anos de escolaridade superior. A maioria dos entrevistados declarou viver uma situação financeira negativa, mas os homens e as mulheres que utilizam a Internet encontram-se numa situação ligeiramente melhor, afirmando conseguir fazer face às despesas mensais com alguma facilidade.

No que diz respeito à saúde mental e física, as mulheres e os homens que não utilizam a Internet tendem a apresentar mais sintomas depressivos e mencionam claramente um número superior de limitações físicas.

A participação em pelo menos uma das atividades sociais descritas anteriormente caracteriza os utilizadores da Internet. No mesmo sentido, o uso de um computador em contexto laboral foi notoriamente mais frequente no grupo dos homens e mulheres que recorrem à Internet.

As mulheres que utilizam a Internet têm filhos com idades mais jovens e estão mais predispostas a manter contacto regular com eles, mas distinguem-se apenas marginalmente das que não utilizam a Internet no que diz respeito ao número de filhos, contando com 2,02 filhos, em média, enquanto as não-utilizadoras têm 2,26 filhos.

Também os utilizadores da Internet do género masculino se distinguem marginalmente dos não-utilizadores, no que diz respeito ao número de filhos, apresentando os primeiros um número de filhos (2,02 filhos, em média) ligeiramente inferior ao dos não-utilizadores (2,24 filhos, em média). No género masculino, não foram observadas diferenças significativas entre utilizadores e não-utilizadores da Internet no que diz respeito às restantes características relativas à família.

Por fim, residir com um cônjuge/companheiro(a) não distingue utilizadores de não-utilizadores da Internet, em qualquer dos géneros.

QUADRO 1 Características dos utilizadores e não-utilizadores da Internet de acordo com o género 

A importância dos cônjuges e filhos na utilização da internet por homens e mulheres de 50+ anos

Considerando apenas o impacto das variáveis sociodemográficas e de saúde na utilização da Internet (Quadro 2, modelo 1)2, conclui-se, à semelhança de outros estudos, que quanto maior a escolaridade maior a propensão para a utilização da Internet, enfatizando, assim, a importância da educação no acesso à Internet em idades mais avançadas (Carpenter e Buday, 2007; Friemel, 2014; Gilleard e Higgs, 2008; König et al., 2018; Neves et al., 2013; Peacock e Künemund, 2007; Selwyn et al., 2003; Silva et al., 2017; Yu et al., 2016). Idênticos resultados foram encontrados em pesquisas sobre populações-alvo pertencentes a outros grupos etários, em Portugal (De Almeida Alves, 2008).

Em Portugal, a baixa escolaridade tem contribuído para que a falta de competências digitais seja considerada, em alguns estudos, um dos principais motivos da reduzida utilização da Internet por indivíduos de idades mais avançadas (Martinez-Pecino et al., 2013), sendo mesmo reconhecida no Acordo de Parceria proposto por Portugal à Comissão Europeia (conhecido por Portugal 2020), como o principal entrave da adesão dos mais velhos à Internet.

Na esfera da saúde, a existência de sintomas depressivos não está associada à utilização da Internet mas as limitações físicas (por exemplo, ao nível da mobilidade e motricidade fina) constituem um obstáculo à sua utilização, tanto para os homens, como para as mulheres (Carpenter e Buday, 2007; König et al., 2018; Lissitsa e Chachashvili-bolotin, 2015). Este resultado põe em evidência a importância e a necessidade de desenvolvimento de tenologias com designs inovadores que as tornem acessíveis aos que possuem uma ou mais limitações físicas (Carpenter e Buday, 2007).

Os homens que participam em pelo menos uma das atividades sociais, mencionadas anteriormente, tais como trabalho voluntário, frequência de um curso de formação, etc. apresentam três vezes mais chances de utilizar a tecnologia (OR = 3,146; 95% IC 1,253 - 7,898) do que aqueles que não o fazem. Já no caso das mulheres, a participação neste tipo de atividades não está associada à utilização da tecnologia. Os padrões de socialização de cada um dos géneros e o papel atribuído aos homens na sociedade (Hess, 1979, 1982) poderão explicar que, em idades mais avançadas, estes estejam mais propensos do que as mulheres a participar em atividades sociais (Arpino e Bordone, 2017; Bukov et al., 2002; Mascherini et al., 2011), recebendo motivação para a utilização de tecnologia.

QUADRO 2 Determinantes da utilização da Internet de acordo com o género dos indivíduos de 50+ anos em Portugal 

O uso de um computador na atividade profissional figura também como uma importante determinante da utilização da Internet. Os homens que usam ou usaram um computador no exercício da sua profissão apresentam uma probabilidade 5 vezes maior de utilizar a Internet (OR = 5,302; 95% IC 2,74 - 10,26). As mulheres seguem a mesma tendência, com sete vezes mais chances de utilizar Internet quando fizeram uso da tecnologia na atividade profissional (OR = 7,689; 95% IC 3,572 - 16,551). Este resultado sublinha a importância deste contexto na adoção e aprendizagem das novas tecnologias (Dias, 2012; König et al., 2018).

Com a inclusão no modelo de algumas características da estrutura e dinâmica familiares (Quadro 2, modelo 2)3, a relação entre os fatores sociodemográficos, económicos e de saúde e a utilização da Internet mantém-se idêntica enquanto algumas das caraterísticas da família se revelam importantes para o uso desta tecnologia, mas apenas no género feminino. Com efeito, a corresidência com o cônjuge ou companheiro(a) demonstrou constituir um entrave à utilização da Internet pelas mulheres, com aquelas que vivem em casal a apresentarem menos 61,1% de probabilidades de utilizar a Internet do que as que se encontram noutra situação conjugal (OR = ,389; 95% IC: ,173 - ,874). Este resultado poderá estar relacionado com o facto, também evidenciado noutros estudos (Peacock e Künemund, 2007), de que os homens tendem a desincentivar as suas esposas/companheiras a adquirirem equipamento informático (Luijkx et al., 2015). Além disso, estes estudos sublinham o papel da mulher na família e o facto de as desigualdades de género tenderem a prevalecer em idades avançadas (Hank e Hendrik, 2007; Perista, 2016; Szinovacz, 2000; Wall et al., 2010; Wall e Aboim, 2015), colocando as mulheres numa situação desfavorável (Wall e Aboim, 2015).

Os laços intergeracionais, nomeadamente com os filhos, também influenciam a utilização da tecnologia pelas mulheres de 50 e mais anos. Mais concretamente, quanto maior o número de filhos, maior a probabilidade de as mulheres utilizarem a Internet (OR = 1,482; 95% IC; 1,113 - 1,973). Também a frequência de contacto com os descendentes está positivamente associada à utilização da tecnologia no género feminino (OR = 1,584; 95% IC; 1,007 - 2,491). Finalmente, quanto maior a distância geográfica entre as suas residências e as residências dos filhos, maior a probabilidade de as mulheres utilizarem a Internet (OR = 1,241; 95% IC; 1,019 - 1,512).

Embora o projeto SHARE não permita analisar em profundidade o papel dos filhos nesta matéria, os resultados obtidos apontam para o facto de as interações estabelecidas com estes constituírem um fator importante e positivo para a utilização da tecnologia, sublinhando resultados de estudos anteriores que identificam a manutenção e promoção das relações sociais com os filhos como um estímulo à utilização da tecnologia pelas mulheres (Casado-Muñoz et al., 2015). Os resultados desta pesquisa reforçam ainda a importância potencial da Internet como meio de comunicação entre os indivíduos, permitindo estabelecer e reforçar os seus laços (Chopik, 2016; Heo et al., 2015; Russell et al., 2008), sobretudo em contextos em que os indivíduos se encontram distantes geograficamente (Antonucci et al., 2017). Muito embora a Internet não elimine completamente os efeitos da distância geográfica que separa os indivíduos, possibilita a construção de campos sociais partilhados (Wilding, 2006), criando maiores oportunidades de demonstração de sentimentos e de preocupações com a família (Heo et al., 2015).

As diferenças de género encontradas neste trabalho, no que diz respeito à influência dos filhos e características desta relação na utilização da Internet, podem estar relacionadas com o facto de, em idades avançadas, as redes sociais das mulheres serem de maior dimensão (Cornwell, 2011; Hampton et al., 2009; Schwartz e Litwin, 2018) e integrarem mais familiares (Hampton et al., 2009; McPherson et al., 2006), especialmente filhos.

Os resultados apontam também para a hipótese de os filhos desempenharem o papel de “warm experts”, sobretudo com as mães. Esta hipótese tem ainda em conta o facto de as mulheres, mais do que os homens, tenderem a fomentar a interdependência entre os vários membros da família (Aboim, 2007). A utilização da Internet pelas mulheres parece ser, assim, mais dependente do papel dos “warm experts” do que a sua utilização pelos homens.

Os resultados anteriores corroboram as conclusões de outras pesquisas segundo as quais, em idades mais avançadas, as mulheres mencionam, mais do que os homens, fatores familiares como motivações para as alterações na utilização da Internet (Chiu e Liu, 2017). Reforçam, ainda, as evidências dos estudos da Sociologia da família que identificam a existência, em Portugal, de uma estrutura familiar muito pautada pela associação da mulher ao seu papel de mãe (Aboim, 2007).

Finalmente, sublinhe-se que, de acordo com os resultados deste estudo, a idade não explica a probabilidade de homens e mulheres utilizarem a Internet, contrariamente ao que acontece noutras pesquisas (Gilleard e Higgs, 2008; König et al., 2018; Morrell et al., 2000). Também a perceção financeira negativa, que a literatura relaciona, geralmente, com menor probabilidade de utilização da tecnologia (Carpenter e Buday, 2007; Choi e Dinitto, 2013; Friemel, 2014; Gilleard e Higgs, 2008; König et al., 2018; Silva et al., 2017) não constituiu uma determinante da utilização da mesma, quando se controlam as caraterísticas socioeconómicas, familiares e de saúde dos indivíduos.

Considerações finais

Este estudo concorre para a discussão sobre o papel dos cônjuges e dos filhos na utilização da Internet pelos mais velhos, concluindo que a família afeta de forma diferenciada a utilização da Internet por homens e mulheres de 50 e mais anos, em Portugal. Evidencia a importância dos papéis sociais de género e da familiarização precoce com a tecnologia durante o exercício da atividade profissional para a utilização da Internet em idades avançadas.

Esta pesquisa apresenta, no entanto, algumas limitações. A principal prende-se com a escassez de informação existente no projeto SHARE sobre a utilização da Internet. Com efeito, o projeto compreende apenas uma pergunta sobre a utilização versus não-utilização da Internet, o que impossibilita que se discriminem os diferentes usos desta tecnologia (König et al., 2018). Também a escassez de variáveis relativas à estrutura e dinâmica familiares impede uma análise mais aprofundada do papel da família na utilização da Internet pelos portugueses de 50+ anos. Recomenda-se, assim, a inclusão de novas questões sobre a utilização da tecnologia e a recolha de informação adicional sobre a família em projetos futuros.

Apesar destas limitações, este estudo permite apresentar também recomendações para as políticas públicas. A primeira prende-se com a necessidade de integrarem uma perspetiva de género, tendo em conta as iniquidades das mulheres face à tecnologia. A segunda recomendação aponta para a importância das medidas políticas adotarem uma perspetiva de percurso de vida, fomentando a aprendizagem ao longo da vida, de modo a evitar a marginalização digital em idades avançadas e a capacitar os indivíduos mais velhos para uma utilização adequada da tecnologia.

Referências bibliográficas

ABOIM, S. (2007), “Clivagens e continuidades de género face aos valores da vida familiar em Portugal e noutros países europeus”. In K. Wall, L. Amâncio (eds.), Família e Género em Portugal e na Europa, Lisboa, Imprensa das Ciências Sociais, pp. 35-92. [ Links ]

ABOIM, S., WALL, K. (2002), “Tipos de família em Portugal: interações, valores, contextos”. Análise Social, 163, 37(2), pp. 475-506. [ Links ]

ANTONUCCI, T. C., AJROUCH, K. J., BIRDITT, K. (2014), “The convoy model: explaining social relations from a multidisciplinary perspective”. Gerontologist, 54(1), pp. 82-92. [ Links ]

ANTONUCCI, T. C., AJROUCH, K. J., MANALEL, J. A. (2017), “Social relations and technology: continuity, context, and change”. Innovation in Aging, 1(3), pp. 1-9. [ Links ]

ARPINO, B., BORDONE, V. (2017), “Regular provision of grandchild care and participation in social activities”. Review of Economics of the Household, 15(1), pp. 135-174. [ Links ]

BAKARDJIEVA, M. (2005), Internet Society: The Internet in Everyday Life . In Internet Society: The Internet in Everyday Life, Londres, Sage. [ Links ]

BARBOSA, B., CASIMIRO, C. (eds.) (2018), Connecting Families? Information & Communication Technologies, Generations, and the Life Course, University of Bristol, Policy Press. [ Links ]

BIMBER, B., BARBARA, S. (2000), “Measuring the gender gap on the Internet”. Social Science Quarterly, 81(3), pp. 868-876. [ Links ]

BOWLING, A. (1995), “What things are important in people’s lives? A survey of the public’s judgements to inform scales of health related quality of life”. Social Science and Medicine, 41(10), pp. 1447-1462. [ Links ]

BUCY, E. (2000), “Social access to the Internet”. The Harvard International Journal of Press/Politics, 5(1), pp. 50-61. [ Links ]

BUKOV, A., MAAS, I., LAMPERT, T. (2002), “Social participation in very old age: cross-sectional and longitudinal findings from BASE”. Journal of Gerontology: Psychological Sciences, 57(6), pp. 510-517. [ Links ]

CARPENTER, B. D., BUDAY, S. (2007), “Computer use among older adults in a naturally occurring retirement community”. Computers in Human Behavior, 23(6), pp. 3012-3024. [ Links ]

CARSTENSEN, L. (1995), “Evidence for a life-span theory of socioemotional selectivity”. Current Directions in Psychological Science, 4(5), pp. 151-156. [ Links ]

CASADO-MUÑOZ, R., LEZCANO, F., RODRÍGUEZ-CONDE, J. (2015), “Active ageing and Access to Technology: An Evolving Empirical Study”. Comunicar, 45, pp. 37-46. [ Links ]

CHARLES, S., CARSTENSEN, L. (2010), “Social and emotional aging”. Annual Review of Psychology, 61, pp. 383-409. [ Links ]

CHIU, C. J., LIU, C. W. (2017), “Understanding older adult’s technology adoption and withdrawal for elderly care and education: Mixed method analysis from national survey”. Journal of Medical Internet Research, 19(11), pp. 1-11. [ Links ]

CHOI, N. G., DINITTO, D. M. (2013), “The digital divide among low-income homebound older adults: Internet use patterns, eHealth literacy, and attitudes toward computer/Internet use”. Journal of Medical Internet Research , 15(5), pp. 1-14. [ Links ]

CHOPIK, W. J. (2016), “The benefits of social technology use among older adults are mediated by reduced loneliness”. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 19(19), pp. 551-556. [ Links ]

COHEN, J. (1988), “The t test for means”. In Statistical Power Analysis for the Behavioral Sciences, Nova Iorque, Routledge, pp. 19-74. [ Links ]

CORNWELL, B. (2011) “Independence through social networks: bridging potential among older women and men”. Journals of Gerontology − Series B Psychological Sciences and Social Sciences, 66B(6), pp. 782-794. [ Links ]

CORNWELL, B., LAUMANN, E. O., SCHUMM, L. P. (2008), “The social connectedness of older adults: a national profile”. American Sociological Review, 73(2), pp. 185-203. [ Links ]

CRUZ-JESUS, F., OLIVEIRA, T., BACAO, F. (2012), “Digital divide across the European Union”. Information & Management, 49(6), pp. 278-291. [ Links ]

DE ALMEIDA ALVES, N. (2008), Perfis dos utilizadores da Internet em Portugal. Análise Social , 188, 43(3), pp. 603-625. [ Links ]

DELERUE MATOS, A., BORGES, R., (2012), “Understanding adolescent grandchildren’s influence on their grandparents. In S. Arber e V. Timonen (eds.), Contemporary Grandparenting. Changing Family Relationships in Global Contexts, Grã-Bretanha, Policy Press, pp. 203-224. [ Links ]

DEMOUSSIS, M., GIANNAKOPOULOS, N. (2006), “Facets of the digital divide in Europe: determination and extent of Internet use”. Economics of Innovation and New Technology, 15(3), pp. 235-246. [ Links ]

DIAS, I. (2012), “O uso das tecnologias digitais entre os seniores: Motivações e interesses”. Sociologia, Problemas e Práticas, 68, pp. 51-77. [ Links ]

DOLL, J. et al. (2007), “Atividade, desengajamento, modernização: teorias sociológicas clássicas sobre o envelhecimento”. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento,12, pp. 7-33. [ Links ]

EASTMAN, J. K., IYER, R. (2004), “The elderly’s uses and attitudes towards the Internet”. Journal of Consumer Marketing, 21(3), pp. 208-220. [ Links ]

EYNON, R., HELSPER, E. (2015), “Family dynamics and Internet use in Britain: what role do children play in adults’ engagement with the Internet?”. Information Communication and Society, 18(2), pp. 156-171. [ Links ]

FRIEMEL, T. N. (2014), “The digital divide has grown old: Determinants of a digital divide among seniors”. New Media & Society, 18(2), pp. 1-19. [ Links ]

GILLEARD, C., HIGGS, P. (2008), “Internet use and the digital divide in the English longitudinal study of ageing”. European Journal of Ageing, 5(3), pp. 233-239. [ Links ]

HAMPTON, K., RAINIE, L. (2009), “Social isolation and new technology how the Internet and mobile phones impact executive summary”. PEW Internet & American Life Project, Washington. [ Links ]

HANK, K., HENDRIK, J. (2007), “Gender and the division of household labor in older couples: a European perspective”. Journal of Family Issues, 28(3), pp. 399-421. [ Links ]

HELSPER, E. J. (2010), “Gendered Internet use across generations and life stages.” Communication Research, 37(3), pp. 352-374. [ Links ]

HEO, J. et al. (2015), “Internet use and well-being in older adults.” Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking , 18(5), pp. 268-272. [ Links ]

HESS, B. (1979), “Sex roles, friendship and the life course”. Research on Aging, 1, pp. 494-515. [ Links ]

HESS, B. (1982), “Aging, gender role, and friendship”. Educational Horizons, 60(4), pp. 155-160. [ Links ]

HÜSING, T., & SELHOFER, H. (2004), “DIDIX: a digital divide index for measuring inequality in IT diffusion”. IT & Society, 1, pp. 21-38. [ Links ]

INE (2017), Sociedade da Informação e do Conhecimento: Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação pelas Famílias em 2017. [ Links ]

KHAN, R., ANTONUCCI, T. C. (1980), “Convoys over the life course: Attachment, roles, and social support”. In B. Baltes, O. Brim (eds.), Life-Span Development and Behavior, Nova Iorque, Academic Press, pp. 253-286. [ Links ]

KOHLI, M., KÜNEMUND, H., LUDICKE, J. (2005), “Family structure, proximity and contact”. In A. Börsch-Supan et al. (eds.), Health, Ageing and Retirement in Europe, Mannheim, Research Institute for the Economics of Aging (MEA), pp. 163-171. [ Links ]

KÖNIG, R., SEIFERT, A., DOH, M. (2018), “Internet use among older Europeans: an analysis based on SHARE data”. Universal Access in the Information Society, 17, pp. 621-633. [ Links ]

LATOUR, B. (2005), Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory, Oxford, Oxford University Press. [ Links ]

LEE, B., CHEN, Y., HEWITT, L. (2011), “Age differences in constraints encountered by seniors in their use of computers and the Internet”. Computers in Human Behavior , 27(3), pp. 1231-1237. [ Links ]

LINDSAY, S., SMITH, S., BELLABY, P. (2007), “The impact of ICT on family: views from an older generation”. In Family and Communication Technology Workshop, Saldford, University of Saldford, pp. 44-47. [ Links ]

LISSITSA, S., CHACHASHVILI-BOLOTIN, S. (2015), “Does the wind of change blow in late adulthood? Adoption of ICT by senior citizens during the past decade”. Poetics, 52, pp. 44-63. [ Links ]

LÜDERS, M., GJEVJON, R. (2017), “Being old in an always-on culture: Older people’s perceptions and experiences of online communication”. The Information Society, 33(2), pp. 64-75. [ Links ]

LUIJKX, K., PEEK, S., WOUTERS, E. (2015), “Grandma, you should do it-it’s cool” older adults and the role of family members in their acceptance of technology”. International Journal of Environmental Research and Public Health, 12(12), pp. 15470-15485. [ Links ]

MADSEN, C. O., KRÆMMERGAARD, P. (2016), “Warm experts in the age of mandatory e-government: interaction among danish single parents regarding online application for public benefits”. Electronic Journal of E-Government, 14(1), pp. 87-98. [ Links ]

MALTER, F., BÖRSCH-SUPAN, A. (2013), Share Wave 4 Innovations & Methodology, + (MEA). [ Links ]

MALTER, F., BÖRSCH-SUPAN, A. (2017), SHARE Wave 6: Panel Innovations and collecting Dried Blood Spots, Munique, Munich Center for the Economics of Aging (MEA). [ Links ]

MARÔCO, J. (2014), Análise Estatística com o SPSS Statistics, Pêro Pinheiro, Report Number. [ Links ]

MARTINEZ-PECINO, R., DELERUE MATOS, A., SILVA, P. (2013), “Portuguese older people and the Internet: Interaction, uses, motivations, and obstacles”. The European Journal of Communication Research , 38, pp. 331-346. [ Links ]

MASCHERINI, M., VIDONI, D., MANCA, A. R. (2011), “Exploring the determinants of civil participation in 14 European countries: one-size-fits none”. European Sociological Review, 27(6), pp. 790-807. [ Links ]

MCPHERSON, M., SMITH-LOVIN, L., BRASHEARS, M. E. (2006), “Social isolation in america: changes in core discussion networks over two decades”. American Sociological Review , 71(3), pp. 353-375. [ Links ]

MOLLENHORST, G., VOLKER, B., FLAP, H. (2014), “Changes in personal relationships: how social contexts affect the emergence and discontinuation of relationships”. Social Networks, 37(1), pp. 65-80. [ Links ]

MORRELL, R. W., MAYHORN, C. B., BENNETT, J. (2000), “A survey of World Wide Web use in middle-aged and older adults”. Human Factors, 42(2), pp. 175-182. [ Links ]

NEVES, B. (2015), “Does the Internet matter for strong ties? Bonding social capital, Internet use, and age-based inequality”. International Review of Sociology, 6701, pp. 1-19. [ Links ]

NEVES, B., AMARO, F. (2012), “Too old for technology? How the elderly of Lisbon use and perceive ICT”. The Journal of Community Informatics, 8(1), pp. 1-22. [ Links ]

NEVES, B., AMARO, F. (2015), “A utilização da Internet pelas pessoas idosas: Uma perspetiva crítica”. In A. Pasqualotti, H. Gil, F. Amaro (eds.), Tecnologias de Informação no Processo de Envelhecimento Humano, Passo Fundo, UPF, pp. 193-220. [ Links ]

NEVES, B., AMARO, F., FONSECA, J. (2013), “Coming of (old) age in the digital age: ICT usage and non-usage among older adults”. Sociological Research Online, 18, pp. 22-35. [ Links ]

NEVES, B. et al. (2018), “Adoption and feasibility of a communication app to enhance social connectedness amongst frail institutionalized oldest old: an embedded case study”. Information Communication and Society , 21(11), pp. 1681-1699. [ Links ]

OLSSON, T., VISCOVI, D. (2018), “Warm experts for elderly users: who are they and what do they do?”. Human Technology, 14(3), pp. 324-342. [ Links ]

PEACOCK, S. E., KÜNEMUND, H. (2007), “Senior citizens and Internet technology: Reasons and correlates of access versus non-access in a European comparative perspective”. European Journal of Ageing , 4, pp. 191-200. [ Links ]

PEINE, A. (2019), “Technology and Ageing - Theoretical Propositions from Science and Technology Studies (STS)”. In B. Neves, F. Vetere (eds.), Ageing and Digital Technology: Designing and Evaluating Emerging Technologies for Older Adults, Singapura, Springer, pp. 51-63. [ Links ]

PERISTA, H. (coord.) (2016), Os Usos do Tempo e o Valor do Trabalho: Uma Questão de Género (Diagonalde), Lisboa, CESIS - Centro de Estudos para a Intervenção Social. [ Links ]

PRINCE, M. J. et al. (1999), “Development of the EURO-D scale − A European Union initiative to compare symptoms of depression in 14 European centres”. British Journal of Psychiatry, 174(APR.), pp. 330-338. [ Links ]

REBELO, C. (2015), “Utilização da Internet e do Facebook pelos mais velhos em Portugal: estudo exploratório”. Observatório, 9(3), pp. 129-153. [ Links ]

ROSENTHAL, R. L. (2008), “Older computer-literate women: their motivations, obstacles, and paths to success”. Educational Gerontology, 34(7), pp. 610-626. [ Links ]

RUSSELL, C., CAMPBELL, A., HUGHES, I. (2008), “Ageing, social capital and the Internet: Findings from an exploratory study of Australian “silver surfers””. Australasian Journal on Ageing, 27(2), pp. 78-82. [ Links ]

SANDAY TSAI, H. et al. (2017), “Getting grandma online: are tablets the answer for increasing digital inclusion for older adults in the U. S.?” Physiology & Behavior, 176(10), pp. 139--148. [ Links ]

SCHWARTZ, E., LITWIN, H. (2018), “Social network changes among older Europeans: the role of gender”. European Journal of Ageing , 15(4), pp. 359-367. [ Links ]

SELWYN, N., GORARD, S., FURLONG, J. (2003), “The information aged: older adults’ use of information and communications technology in everyday life”. Ageing and Society, 23(5), pp. 561-582. https://doi.org/10.1017/S0144686X03001302. [ Links ]

SHAW, B. A. et al. (2007), “Tracking changes in social relations: throughout late life”. Journal of Gerontology, 62(2), pp. S90-S99. [ Links ]

SILVA, P. (2019), Velhas Redes Sociais, Novos Meios de Comunicação: a Importância das Redes Sociais e da Utilização da Internet para a Qualidade de Vida de Indivíduos de 50 + anos. Tese de doutoramento, Braga, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho. [ Links ]

SILVA, P., DELERUE MATOS, A., MARTINEZ-PECINO, R. (2017), “E-inclusion: beyond individual socio- demographic characteristics”. Plos One, 12(9), pp. 1-10. [ Links ]

SILVA, P., DELERUE MATOS, A., MARTINEZ-PECINO, R. (2018), “Confidant network and quality of life of individuals aged 50+: the positive role of Internet use”. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking , 21(11), pp. 694-702. [ Links ]

SILVA, P., DELERUE MATOS, A., MARTINEZ-PECINO, R. (2020), “Can the internet reduce the loneliness of 50 + living alone?”. Information, Communication & Society, pp. 1-17. htttps://doi.org/10.1080/1369118X.2020.1760917. [ Links ]

SZINOVACZ, M. E. (2000), “Changes in housework after retirement: a panel analysis”. Journal of Marriage and Family, 62(1), pp. 78-92. [ Links ]

TAIPALE, S. (2019), “Warm Experts 2.0”. In S. Taipale (ed.), Intergenerational Connections in Digital Families, Finlândia, Springer, pp. 59-74. [ Links ]

TATNALL, A. (2014), “ICT, education and older people in Australia: a socio-technical analysis”. Education and Information Technologies, 19(3), pp. 549-564. [ Links ]

VAN BILJON, J., RENAUD, K. (2008), “A qualitative study of the applicability of technology acceptance models to senior mobile phone users”. In Song IY et al. (eds.), Advances in Conceptual Modeling - Challenges and Opportunities, Berlin, Heidelberg, pp. 228-237. [ Links ]

WALL, K., ABOIM, S. (2015), “Gender in ageing Portugal: following the lives of men and women”. In K. Komp, S. Johansson (eds.), Population Ageing from a Lifecourse Perspective: Critical and International Approaches, Bristol University Press, Policy Press, pp. 65-83. [ Links ]

WALL, K., ABOIM, S., CUNHA, V. (eds.) (2010), A Vida Familiar no Masculino: Negociando Velhas e Novas Masculinidades, Lisboa, Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego. [ Links ]

WILDING, R. (2006), ““Virtual” intimacies? Families communicating across transnational contexts”. Global Networks, 6(2), pp. 125-142. [ Links ]

WILSON, K., WALLIN, J., REISER, C. (2003), “Social stratification and the digital divide”. Social Science Computer Review, 21(2), pp. 133-143. [ Links ]

XIE, B. (2003), “Older adults, computers, and the Internet: future directions”. Gerontechnology, 2(4), pp. 289-305. [ Links ]

YU, R. P. et al. (2016), “Mapping the two levels of digital divide: Internet access and social network site adoption among older adults in the USA”. Information, Communication & Society , 19(10), pp. 1-20. [ Links ]

Notas

1 As diferenças de género são estatisticamente significativas: χ2 (1) = 11,584; p = ,001).

2 As variáveis consideradas neste modelo explicam 56,4% da variância da utilização da Internet pelos homens e 61,1% das mulheres de 50 e mais anos.

3 Este modelo explica 56,9 % da variância da utilização da Internet pelos homens e 65,7% pelas mulheres.

Recebido: 04 de Novembro de 2019; Aceito: 12 de Fevereiro de 2021

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons