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Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia

versão impressa ISSN 0430-5027

Finisterra  no.100 Lisboa dez. 2015

https://doi.org/10.18055/Finis7865 

NOTA


 

Três conversas de espaço

 

 

António Nóvoa1 André Nóvoa2 i

1 Reitor Honorário da Universidade de Lisboa. Foi reitor da Universidade entre 2006 e 2013. Doutor em Ciências da educação (Universidade de Genebra) e Doutor em História (Universidade de Paris IV - Sorbonne), é Professor Catedrático do instituto de educação. A sua obra publicada contém mais de 200 títulos sobre temas de educação e de história. E-mail: novoa@reitoria.ulisboa.pt  

2 Research fellow em Geografia na Northeastern University, Boston, e investigador colaborador do Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa. E-mail: novoa.andre@gmail.com  

 

 

O melhor é voltar atrás, ao começo de tudo. Há mil anos (ou mais), alguém repara atentamente numa garrafa cheia de água e descobre a primeira objectiva. Lá está a imagem da realidade, quando os raios solares passam através da água.

Carlos de Oliveira

 

 

Em Finisterra. Paisagem e Povoamento , Carlos de Oliveira descobre a imagem da realidade nos raios que passam pela água, mas não deixa de acrescentar, um pouco mais à frente, quando fala de fumos e fogos: “isto não é real… não se pode fotografar” (1979: 164).

À partida, tudo nos inclinava para falar sobre o espaço num sentido metafórico – o espaço cultural, social, político. Mas acabá mos por escolher outro caminho, mais arriscado, interrogando-nos sobre o espaço visível e invisível, conhecido e desconhecido.

Uma das personagens de Camilo Castelo Branco, nas Noites de insónia, oferecidas a quem não pode dormir, propõe-se falar com tempo: “se a tua impaciência consente, conversaremos de espaço”. Também nós deixaremos três conversas, de espaço, que são mesmo três conversas, curtas, diferentes, mas que talvez se entrelacem entre si.

A primeira é sobre os espaços infinitos, a necessidade de ir além da superfície horizontal do espaço e estudar o infinitamente pequeno e o infinitamente grande.

A segunda é sobre a proximidade e a distância, com o espaço a ser definido como distância até à época contempor ânea, assistindo-se, nos tempos actuais, à emergência de novas lógicas, físicas e virtuais, de “estar próximo ” e de “estar distante”.

A terceira é sobre o espaço no tempo, sobre a necessidade de pensar o espaço na sua rela ção com o tempo, e vice-versa, abrindo para uma compreensão dos espaços que existem no tempo e dos tempos que existem no espa ço.

 

I. ESPAÇOS INFINITOS

Todo este mundo visível não é sen ão um traço imperceptível no amplo seio da natureza.

Pascal

 

É possí vel argumentar que vivemos, pelo menos desde meados do século XX, num mundo inteiramente cartografado. Toda a superfície terrestre foi observada, percorrida, lida e apreendida. Claro que há sempre novos aspectos a desvendar e que novas interpretações surgem daquilo que é conhecido. Já em 1947, num dos textos fundadores da Geografia cultural, afirmava John K. Wright:

“Actualmente, os geógrafos raramente ou nunca têm a oportunidade de entrar em alguma das terræ incognitæ literais – um território totalmente inexplorado (...). Se a terra incognita for concebida em sentido absoluto, como uma área na qual prevalece a total ignorância humana, nenhuma terra incognita existe hoje na superfície do planeta” (2014: 7).

Dito de outro modo: hoje, não seria possível um Livingstone, um Amundsen, um Cousteau. Ironia da história, talvez o último grande explorador tenha sido Neil Armstrong, que pisou a Lua, na falta de terra na terra.

No nosso século, qualquer pessoa pode ter acesso à cartografia terrestre, através de um simples clique. No Google Earth estão todas as montanhas, rios, estepes, planícies, desertos e florestas do mundo. E as cidades, também. A terra inteira está em nossa casa, pelo menos na superfície, naquilo que é visível. Curiosamente, quando se abre o Google Earth, também se anunciam imagens de Marte e de terrenos subaquáticos.

O espaço tem sido pensado sobretudo na sua horizontalidade, um espa ço estendido, esticado, plano, que vai da imagem da nossa casa à imagem da terra. São estes os limites do espaço? e se pusé ssemos, como possibilidade, que as terræ incognitæ se encontram hoje fora da esfera do visível? Para as conhecer, seria necess ário mudar de escala, passar à tridimensionalidade, conferir verticalidade ao espaço.

É preciso abrir o espaço a outras escalas, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, do átomo ao cosmos. A sugestão tem sido avançada por diversos autores. Stefan Helmreich (2008) fez “viagens antropológicas em mares microbianos”, que o levaram a repensar o conceito de vida. Dois anos antes, Hughes Martiny et al. (2006) propuseram-se “colocar os micróbios no mapa”, fundando um novo campo do saber chamado biogeografia microbiana. Paul Rabinow e Nikolas Rose (2006) redefiniram o conceito de “biopoder”, considerando uma paisagem composta não s ó por populações e indivíduos, mas também por moléculas, genes, células e genomas. Na outra ponta da escala, h á quem tenha sugerido os planetas e o próprio cosmos como novos objectos de estudo das Humanidades do século XXI. Basta recordar as propostas de Peter Dickens e James Ormrod (2007) sobre a criação de uma “sociologia do Universo”, ou as Geografias de Marte de Maria D. Lane (2011).

As áreas de conhecimento mais dinâmicas estabelecem interpretações entre extremos, entre escalas micro e macro, que vão para além do olho humano, das frequências do visível, do audível, do palpável. O grande mistério da física contemporânea passa precisamente por estabelecer nexos causais entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, entre a teoria da relatividade e a física quântica, e ainda está por compreender por que razão a matéria se comporta de forma diferente em escalas atómicas e em escalas cósmicas.

Há muito que este movimento tinha sido percebido na arte e na literatura. Veja-se o desdobramento de imagens até ao infinito ou o Livro de areia de Jorge Luís Borges. Aqui, a linha é formada por um número infinito de pontos, o plano por um número infinito de linhas, o volume por um número infinito de planos, o hipervolume por um número infinito de volumes… O Livro de areia não tem princípio, nem fim, não tem primeira página, nem última, o espaço e o tempo são infinitos. Por isso, não é fácil para alguém desfazer-se deste objecto, como explica o seu autor: “Pensei no fogo mas temi que a combustão de um livro infinito também fosse infinita e capaz de sufocar com fumo o planeta” (1983: 138).

Não nos basta o espaço que vemos. Precisamos de o abrir, de o multiplicar até ao infinito, de compreender o que está no espaço infinitamente pequeno e no espaço infinitamente grande. Estas são as nossas terras ainda inc ógnitas.

 

II. PROXIMIDADE E DISTÂNCIA

Os longes e os pertos da pintura todos tê m a mesma distância.

Padre António Vieira

Até à época contempor ânea, o espaço definia-se sobretudo pelas distâncias, longínquas, intransponíveis, impossíveis de percorrer e de navegar. A cronologia ocidental reflecte uma leitura do espaço, marcando bem os períodos em que as distâncias se encurtam. As transi ções historicamente consagradas estão relacionadas com proximidades. Como se a História fosse um caminho que dissolve a separa ção.

Dois exemplos. Por um lado, a passagem da época medieval para a época moderna, que assinala um conjunto de mudan ças culturais, mas também o desenvolvimento de inovações tecnológicas, sobretudo ao nível da navegação, que conduziram à “primeira globalização” (Hopkins, 2002). Por outro lado, a passagem da época moderna para a é poca contemporânea, marcada pelo iluminismo e pela revolução francesa, mas também pelas máquinas da revolução industrial, o motor a vapor e os comboios. Uma vez mais, o mundo encurtou. E a cronologia oficial firma-se neste encurtamento.

Entre os séculos XiX e XX dá-se um momento de viragem na concepção do espaço. O mundo começa a definir-se mais pelas proximidades do que pelas distâncias, torna-se pequeno demais para tanta gente. As guerras mundiais do século XX acontecem num mundo onde se esbatem as fronteiras recortadas pelo mar, pelas cordilheiras ou pelos desertos. O que conta são as “fronteiras imaginadas”, como escreve Benedict Anderson (1983).

A ideia de um mundo limitado, próximo, contíguo, ecoa nos grandes debates das Humanidades, sobretudo quando os processos de globalização se aceleram no último quartel do século XX. Na antropologia, discute-se hibridismo, cosmopolitismo, multiculturalismo. Na sociologia, redes e transnacionalismo. Na Geografia, mobilidade, migrações, com o conceito de espaço a ser lido e interpretado como fluxo e movimento. Discutem-se as formas e os modos de habitar um mundo cada vez mais pequeno. Um mundo da proximidade. Um mundo da vizinhança. Como se os longes e os pertos estivessem todos à mesma distância.

Em poucos anos, dá-se novo salto, por via das tecnologias. Fabricam-se outros espaços, potencialmente infinitos. O espaço virtual, sem limites, surge numa altura em que o espaço físico parece diminuto, limitado. O espaço virtual é infinito, por oposição à finitude da terra. Pensar o espaço no século XXi obriga a compreender a proximidade e a distância, as fronteiras onde os lugares se encontram, as zonas de convergência e de continuidade.

É nesse sentido que Michel Serres se refere aos espaços topológicos, quando explica a realidade dos novos jovens que somos chamados a educar: “Graças ao telemóvel, acedem a todas as pessoas; graças ao GPS, a todos os lugares; graças à teia, a todo o conhecimento: habitam um espaço topológico de vizinhanças enquanto nós vivíamos num espaço métrico marcado por distâncias” (2012: 13). E o filósofo francês explica mesmo que deixou de haver coordenadas cartesianas. Já ninguém distingue os três pontos do plano em que se situa, esteja onde estiver: “as redes fundem-se num curto-circuito geral. O nosso habitat torna-se topol ógico: de qualquer ponto a qualquer outro, já não há distância mensurável” (2001: 260).

No início do século XX, Georg Simmel já havia identificado a importância da relação entre proximidade e distância, dando conta de como o forasteiro, ou o estranho, tem obrigatoriamente de interagir com quem lhe está fisicamente próximo, mas socialmente distante (cf. Wolff, 1950). A sua análise merece ser hoje aprofundada, através de uma reflexão sobre as razões que, muitas vezes, nos fazem mais próximos de alguém que se encontra longe, e que podemos mesmo nunca ter encontrado, do que do vizinho do lado, formando rela ções que apagam e dissolvem as distâncias. O espaço físico encolheu, encurtou, estreitou. E, neste processo, abriram-se espaços virtuais, trazendo novas proximidades e novas distâncias.

 

III. O ESPAÇO NO TEMPO

Na criativa distância espacitempo (…) somos a paisagem da paisagem.

Carlos Drummond de Andrade

A artista plástica Ana Freitas propôs-se fotografar o tempo. O físico Mário Novello explicou-lhe que não seria possível, mas propôs-se reflectir com ela sobre a seguinte frase: “a matéria curva o espa ço-tempo em um processo eterno”. O diálogo deu origem a textos e exposições, de arteciência, que procuram pensar o espaço no tempo.

Somos convidados a olhar para um espaço, que não é limitado apenas pelas suas margens físicas, vis íveis, que se liberta dos mapas físicos da mesma forma que o tempo se liberta dos relógios e dos calendários.

Esta reconceptualização é problemática, porque implica uma ruptura com concepções sensoriais de espaço e de tempo, como “coisas” que podem ser vistas e tocadas:

“A principal lição da teoria da relatividade de Einstein é que, quando pensamos nestes temas, não podemos confiar nos sentidos. Tanto Picasso como Einstein acreditavam que a arte e a ciência eram meios para explorar os mundos para além das percepções, para além das aparências” (Miller, 2001: 4).

Por isso, é importante proceder a um duplo trabalho: de desmultiplicação dos espaços, de compreensão das diferentes camadas espaciais, vis íveis e invisíveis, do infinitamente pequeno ao infinitamente grande; e de desdobramento dos tempos, de compreensão de todos os “ tempos” que existem num determinado período de tempo. É no cruzamento de distintas espacialidades e temporalidades que se encontram novas possibilidades de conhecimento.

Refira-se, por exemplo, o trabalho em que Tim Cresswell demonstra como “a mobilidade de alguns significa a imobilidade de muitos outros” (2006: 255), como no mesmo espaço e no mesmo tempo coabitam indivíduos que se movimentam e se regem por diferentes temporalidades. No aeroporto de Schiphol, convivem executivos e trabalhadores da limpeza. Para uns, vive-se num tempo rápido, da globaliza ção, cosmopolita, moderno, um tempo em que é possível jantar em Nova Iorque, dormir nos céus e acordar em Singapura. Para outros, que tornam possível a mobilidade dos primeiros, o tempo é lento, de uma vida trabalhadora, rotineira, comum. É o tempo de um dia, com oito horas ou mais de trabalho, ora regulado por normas bem precisas, ora desregulado numa exploração sem limites.

Numa outra perspectiva, é útil prolongar a reflexão feita por Doreen Massey, nos anos noventa, sobre a política e o espaço-tempo. Em vez de uma concepção de tempo como processo linear e de uma perspectiva do espaço como superfície plana, é necessário sublinhar as quatro dimensões (melhor dizendo, as n-dimensões) das coisas. De acordo com a sua análise, o espaço não é estático, e o tempo não existe sem espaço. É certo que a espacialidade e a temporalidade são diferentes, mas uma n ão pode ser conceptualizada na ausência da outra:

“Uma forma de pensar é dizer que o espacial é parte integrante da produção da história, e, por isso mesmo, da possibilidade da política, do mesmo modo que o temporal é decisivo para a Geografia. Outra forma, é insistir na inseparabilidade do tempo e do espaço, na sua constituição conjunta atrav és das inter-relações entre fenómenos, isto é, insistir na importância de pensar o espaço-tempo” (1992: 84).

Estes exemplos destinam-se a sublinhar a necessidade de olhar para os vários espaços que existem em cada tempo e para os vá rios tempos que habitam cada espaço. Abre-se, assim, um mundo de novas interpretações, permitindo que o espaço não fique prisioneiro de uma visão “fixista” e que o tempo se liberte dos calendários e dos relógios. Deste modo, criam-se as condi ções para compreender a “criativa distância espacitempo”, para compreender relações que contêm sempre uma dimensão espacial e uma dimensão temporal, como verso e reverso da mesma realidade.

 

* * *

É corrente a ideia de que o século XIX ficou marcado pelo “tempo” e o século XX pelo “espaço”. Mas Edward Soja (1989) escreve que, no momento em que o moderno cedeu perante o pós-moderno, o espaço passou a ser entendido como uma met áfora, e Yi-Fu Tuan (1977) diz mesmo que se transformou numa abstracção.

Neste contexto, vários autores insistem na “ irrelevância do espaço” (Bauman, 2000) ou na “morte da distância” (Cairncross, 1997). A vida e a realidade social passaram a ser metaforizadas como estando num estado líquido, gasoso, disforme, como explica Zygmunt Bauman:

“A mudança em questão é a nova irrelevância do espaço, mascarada como aniquilação do tempo. Num universo virtual, o espaço pode ser atravessado, literalmente, em ‘tempo nenhum’; a diferença entre o ‘longe’ e o ‘perto’ anula-se. Por isso, o espa ço conta pouco, ou não conta nada” (2000: 177).

E, no entanto, como procurámos demonstrar nestas três pequenas conversas, continua a ser importante pensar o espaço, não como metáfora ou abstracção, mas abrindo novas formas de o pensar e de o problematizar.

Em primeiro lugar, pensar para além das frequências do visível, do audível e do palpável. Conferir verticalidade ao espaço. Entender as relações entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno. Um átomo é quase integralmente feito de espaço. A distância que vai do núcleo a um electrão é cerca de 10 000 vezes superior ao raio do próprio núcleo. Entender as profundidades cósmicas e quânticas abre caminho a novas interpretações sobre a vida, a condição humana e o nosso lugar no espaço. Ainda existem muitas terrae incognitae por explorar. Apenas não conseguimos vê-las ou não temos olhos que as alcancem.

Em segundo lugar, repensar proximidades e distâncias. Reconhecer que o mundo j á foi feito de distâncias intransponíveis (até ao século XIX) e de proximidades sufocantes (século XX), e que, agora, se abrem espaços virtuais, potencialmente infinitos. Ao estudarmos como muitos vivem longe, ainda que aqui ao lado, e outros vivem perto, ainda que tão distantes, perceberemos as novas instâncias de espaço da condição humana do século XXI, um mundo feito de novas dinâmicas de proximidade e de distância.

Em terceiro lugar, perguntar ao espaço quantos tempos o espaço tem. Einstein e Picasso habitam a mesma época. As ciências, mas também a arte e a literatura, descobriram, no início do século XX, a relatividade do espaço e do tempo. Precisamos de trazer esta mesma ruptura para as ciências sociais e humanas, não nos limitando a reproduzir concepções sensoriais de espaço e de tempo, e abrindo para uma infinidade de novas interpretações.

E assim concluímos as nossas três conversas. É impossível ter respostas definitivas para os problemas do nosso século. Mas isso não nos deve impedir de construir respostas provisórias, que nos permitam abrir novas possibilidades de pensar e de agir. Mesmo quando os temas são difíceis, podemos sempre conversar sobre eles. De espaço.

 

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Recebido: Março 2015. Aceite: Junho 2015.

 

 

NOTAS

 

iAntónio Nóvoa é reitor Honorário da Universidade de Lisboa. Foi reitor da Universidade entre 2006 e 2013. Doutor em Ciências da educação (Universidade de Genebra) e Doutor em História (Universidade de Paris IV - Sorbonne), é Professor Catedrático do instituto de educação. A sua obra publicada contém mais de 200 títulos sobre temas de educação e de história. André Nóvoa é research fellow em Geografia na Northeastern University, Boston, e investigador colaborador do Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa. Doutorou-se em Geografia pelo Royal Holloway, University of London, com uma tese orientada por Tim Cresswell. Licenciado em História pela Universidade nova de Lisboa e mestre em antropologia pelo instituto de Ciências sociais, Universidade de Lisboa. Os seus interesses de investigação centram-se em temáticas relacionadas com mobilidade humana e identidades contemporâneas. A sua obra está publicada em revistas como Mobilities e Environment and Planning A.

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