SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número116Genealogia eólica Argentina (1990-2020).Por uma geografia dos espaços vividos índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Finisterra - Revista Portuguesa de Geografia

versão impressa ISSN 0430-5027

Finisterra  no.116 Lisboa abr. 2021  Epub 30-Abr-2021

https://doi.org/10.18055/finis21087 

Artigo

América Latina e a nova relação centro-periferia com a China. A reestruturação da economia mundial.

Latin America and the new core-periphery relationship with China. The restructuring of the world economy.

L’amérique Latine et la nouvelle relation centre-périphérie avec la Chine. La restructuration de l’économie mondiale.

América Latina y la nueva relación centro-periferia con China. La reestructuración de la economía mundial.

1 Investigador, Instituto de Estudios Internacionales (INTE), Universidad Arturo Prat, Santiago, Chile. E-mail: rbernal@unap.cl

2 Professor Titular, Facultad de Ciencias Humanas, Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires, Pinto 399, Tandil, Provincia de Buenos Aires, Argentina.


Resumo

O artigo analisa as relações económicas entre a China e a América Latina da perspectiva da economia política capitalista mundial, aplicando a interpretação de Polanyi sobre a grande transformação da história mundial. A evolução contemporânea do capitalismo tem sido caracterizada pelo extraordinário e rápido crescimento económico da China, cujas relações económicas com a região são caracterizadas por uma troca paradoxalmente harmoniosa, porque cada parte exporta para a outra os produtos em que se especializou (bens de tecnologia intensiva versus bens e mercadorias primárias). Esta relação resultou numa estrutura económica de centro-periferia e levou a América Latina a uma nova fase de especialização na produção primária-exportação. Depois de demonstrar a existência desta relação centro-periferia, baseada em análises de dados estatísticos e pesquisas recentes, o texto oferece uma explicação e interpretação desta morfologia centro-periferia e apresenta um diagnóstico da evolução e perspectivas destas relações bilaterais, apresentando sete argumentos que descrevem um cenário económico complexo e difícil para a América Latina.

Palavras-chave: China; América Latina; economia capitalista mundial; centro-periferia.

Abstract

The article analyses the economic relations between China and Latin America from the perspective of the world capitalist political economy, applying Polanyi’s interpretation of the great transformation in world history. The contemporary evolution of capitalism has been characterized by the extraordinary and rapid economic growth of China, whose economic relations with the region are characterized by a paradoxically harmonious exchange, as each part exports to the other those products in which it has specialized (technology intensive goods versus primary goods and commodities). This relationship has resulted in a core-periphery economic structure and has led Latin America to a new stage of productive specialization in primary exports. After demonstrating the existence of this core-periphery relationship, based on the analysis of statistical data and recent research, the text offers an explanation and interpretation of this core-periphery morphology and presents a diagnosis on the evolution and perspectives of these bilateral relations, presenting seven arguments that describe a complex and difficult economic scenario for Latin America.

Keywords: China; Latin America; world capitalist economy; core-periphery.

Résumé

L’article analyse les relations économiques entre la Chine et l’Amérique Latine dans la perspective de l’économie politique capitaliste mondiale, en appliquant l’interprétation de Polanyi sur la grande transformation de l’histoire du monde. L’évolution contemporaine du capitalisme a été caractérisée par l’extraordinaire et rapide croissance économique de la Chine, dont les relations économiques avec la région sont caractérisées par un échange paradoxalement harmonieux, car chaque partie exporte vers l’autre les produits dans lesquels elle s’est spécialisée (biens à forte intensité technologique par opposition aux biens primaires). Cette relation a donné naissance à une structure économique centre-périphérie et a conduit l’Amérique Latine à une nouvelle étape de spécialisation de la production primaire et de l’exportation. Après avoir démontré l’existence de cette relation centre-périphérie, sur la base d’analyses de données statistiques et de recherches récentes, le texte propose une explication et une interprétation de cette morphologie centre-périphérie et présente un diagnostic de l’évolution et des perspectives de ces relations bilatérales, en présentant sept arguments qui décrivent un scénario économique complexe et difficile pour l’Amérique latine.

Mot clés: Chine; Amérique Latine; économie capitaliste mondiale; centre-périphérie.

Resumen

El artículo analiza las relaciones económicas entre China y América Latina desde la perspectiva de la economía política capitalista mundial, aplicando la interpretación de Polanyi sobre la gran transformación en la historia mundial. La evolución contemporánea del capitalismo se ha caracterizado por el extraordinario y rápido crecimiento económico de China, cuyas relaciones económicas con la región se caracterizan por un intercambio paradójicamente armonioso, porque cada parte exporta a la otra aquellos productos en los cuales se ha especializado (bienes intensivos en tecnología versus bienes primarios y commodities). Esta relación ha derivado en una estructura económica centro-periferia y ha conducido a América Latina a una nueva etapa de especialización productiva primario-exportadora. Después de demostrar la existencia de esa relación centro-periferia, a partir de análisis de datos estadísticos e investigaciones recientes, el texto ofrece una explicación e interpretación sobre esta morfología centro-periferia y presenta un diagnóstico sobre la evolución y perspectivas de estas relaciones bilaterales, presentando siete argumentos que describen un escenario económico complejo y difícil para América Latina.

Palavras clave: China; América Latina; economía capitalista mundial; centro-periferia.

I. Introdução

As relações econômicas entre a China e a América Latina se desenvolvem no contexto da economia capitalista mundial na etapa que Karl Polanyi (1944) chamou de “a grande transformação na história mundial”: o surgimento do capitalismo de mercado como uma variação do próprio capitalismo. Dentro das variedades do capitalismo que não sejam os modelos anglo-saxão, renan e japonês (Becker, 2013), a China representaria o modelo mais bem-sucedido, enquanto outros exemplos, como o Brasil, que já havia feito progressos significativos no desenvolvimento econômico-industrial e tecnológico até o início da década de 2010, seria o único caso latino-americano que fazia parte do grupo de países com novos modelos de capitalismo (Becker, 2013) mas não continuou com o mesmo nível de dinamismo. Na década seguinte, o Brasil transitou para uma situação de paralisação da ascensão econômica, industrial e tecnológica, interrompendo a sua espiral de desenvolvimento, mantendo-se em uma condição semi-periférica dentro da economia mundial, mas de periferia em relação à China se se considerar a natureza do comércio interindustrial bilateral (Bernal-Meza, 2019a, 2019b). Tal fato é muito importante para compreender o impacto da presença da China na integração sul-americana e a gradual perda de poder de atração do Brasil como eixo e líder de uma sub-região. O poder econômico, comercial e financeiro é transformado em poder político.

II. A economia política das relações China-América Latina

Li e Shaw (2013) aplicaram a interpretação de Polanyi à análise das relações entre a China e África para explicar o processo de construção de uma relação centro-periferia e apontaram que havia uma interpretação dessas relações como imperialista o que não ocorre no caso latino-americano. Essa interpretação de centro-periferia ajuda a compreender a relação entre a China e a América Latina, uma vez que esta região também é parte, hoje, da periferia chinesa.

O processo de periferização, ou seja, o retorno a um estágio de desenvolvimento abandonado graças ao desenvolvimento da industrialização e a re-periferização, isto é, o fortalecimento ou reafirmação do caráter primário da economia, que sofrem os países da América do Sul como consequência dos efeitos da economia política internacional, causados pelo desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico chinês em apenas trinta anos, motivou a análise em distintas publicações (Bernal-Meza & Li, 2020; Comissão Económica para a América Latina e o Caribe [CEPAL], 2015, 2018; Dussel, 2016; Ellis, 2009; Guelar, 2013; Moneta & Cesarín, 2016; Pastrana & Gehring, 2017; Sevares, 2015).

A periferização é o retrocesso às condições primárias em relação a outros centros do sistema-mundo e também em relação a outros países graças ao seu desenvolvimento industrial como Brasil e Argentina. A re-periferização corresponde à situação daquelas economias que haviam realizado alguns progressos no processo de industrialização primária ou primeira etapa da industrialização destinada à exportação (alimentos, roupas, sapatos, brinquedos e outros produtos de madeira, etc.) mas que regressaram ao estado de atraso anterior, como consequência do retorno à especialização produtiva primária. Ambas situações, postas contra o pano de fundo do desenvolvimento econômico e exportador da China, evidenciam o contraste entre o alto desenvolvimento econômico desta potência e as dificuldades dos países latino-americanos em reduzirem a sua dependência por seu profundo atraso tecnológico.

No comércio exterior latino-americano, embora tenha havido um crescimento moderado das exportações de origem industrial para o mundo, no caso do intercâmbio com a China essas exportações caíram consideravelmente. Segundo a CEPAL (2018, p. 41):

A cesta de exportações da América Latina e do Caribe à China é muito menos sofisticada do que as suas exportações para o resto do mundo. De fato, em 2016, os produtos primários representaram 72% do valor das exportações da região para a China, face a 27% no caso das exportações para o resto do mundo. Ao contrário, as indústrias de baixa, média e alta tecnologia representaram somente 8% das exportações desta região para a China, face a 57% para o resto do mundo. O contrário ocorre no caso das importações: enquanto as indústrias de baixa, média e alta tecnologia representaram, em 2016, 91% do valor das compras regionais da China, sua participação nas importações do resto do mundo, ainda que também elevada, foi substancialmente menor (68%). Em outras palavras, o comércio entre a América Latina e o Caribe e a China continua sendo essencialmente interindustrial: matérias-primas por indústrias.

O quadro I apresenta os principais produtos exportados pela América Latina e Caribe para a China.

A China tornou-se um ator chave na economia mundial e consolidou uma relação de dominação econômica com a região porque o seu modelo de produção estimulou o crescimento do resto das economias do mundo através da criação de um circuito virtuoso de investimento, produção e mercado. No contexto da economia-mundo capitalista, a América Latina foi arrastada por esse centro dinâmico (Oviedo, 2014) e transformou-se em uma região economicamente indispensável para a China.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil, Chile, Venezuela, Peru, Uruguai e Argentina (desde setembro 2019), segundo parceiro comercial da Colômbia, e o principal exportador para o Paraguai e Bolívia. Alcançou esta posição em menos de trinta anos, como o centro de uma estrutura centro-periferia, especializando a nossa região como exportadora de produtos primários, commodities e importadora de seus bens industriais, equipamentos, tecnologias, investimentos e empréstimos.

O aumento dessa presença econômica acelerou-se a partir da metade da década de 90. Foi o resultado a que Oviedo (2012a, 2012b) chamou de “a luta pela modernização”: a confrontação entre o modelo de desenvolvimento chinês - industrialização orientada à exportação - e o modelo latino-americano de modernização de industrialização por substituição de importações. Nesse processo, a China construiu com a América Latina uma estrutura econômica que evoluiu sob o clássico formato interpretado por Prebisch (1949, 1951) para explicar a relação de dependência econômico-comercial que sofre a América Latina na sua inserção no comércio mundial. A teoria da “deterioração dos termos de troca” explica as atuais relações entre a China e a América Latina; colocando em evidência um acelerado processo de re-primarização e primarização do intercâmbio comercial, com o desenvolvimento de uma nova etapa de dependência, que reproduz os ciclos de subordinação econômica - com as suas implicações políticas - que a nossa região viveu anteriormente com outras potências industriais hegemónicas no passado.

Quadro I América Latina e Caribe: 20 principais produtos exportados para a China em 2016 (milhões de US$ e %). 

*SHDCM - Sistema Harmonizado de Descrição e Codificação de Mercadorias.

Fonte: CEPAL, com base em informações do Banco de Dados Estatísticos das Nações Unidas sobre Comércio de Mercadorias (COMTRADE; CEPAL, 2018)

Como argumentou Bernal-Meza (2017a), o pensamento chinês, através dos textos de Jiāng Shíxué, um dos principais especialistas chineses na América Latina, tentou negar a teoria da “deterioração dos termos de troca”, dado que a crítica latino-americana à estrutura de relações econômicas sino-latino-americanas sustenta que esta reproduz o padrão básico centro-periferia. Jiāng (2006), defendendo a posição da China, afirmou que aquela relação comercial se baseava em uma cooperação win-win, graças a que a demanda chinesa de commodities havia provocado um aumento dos seus preços internacionais, enquanto a exportação de seus produtos industriais, cuja produção era mais barata que os similares exportados por outras economias industrializadas, fazia com que estes bens chegassem mais baratos aos mercados latino-americanos. Portanto, a balança comercial resultaria favorável para os países latino-americanos, o que nega a tese de Prebisch.

As características da estrutura de comércio sino-latino-americano poderiam ter-se ajustado ao sinalizado por Jiāng até 2008, quando a China não alcançava ainda a posição de primazia que mais tarde conseguiria. O que ocorreu a partir de 2008 - e o caso argentino passou a ser o exemplo mais evidente (Oviedo, 2016; Sevares, 2015) - foi que a demanda chinesa de commodities latino-americanas começou a diminuir; retornando à tendência decrescente de seus preços internacionais, enquanto começava a aumentar o valor das importações de bens industriais chineses, reafirmando a vigência da tese de Prebisch sobre a volatilidade das exportações e dos preços destas commodities. A realidade da crise internacional de 2012 se refletiu em uma baixa nos preços destas, com a consecutiva deterioração do setor exportador primário que marcaria o fim do ciclo de ouro das matérias-primas (2001-2013). Com a exceção do Chile, Brasil, Venezuela e do Peru, a balança comercial bilateral com a China passou a ser deficitária, com um enorme peso devido ao impacto da balança comercial do México com Pequim, cujo deficit comercial é responsável por dois terços do deficit de todos os países da região em seu intercâmbio com Pequim (CEPAL, 2018).

Como aconteceu em outras épocas, a China foi a locomotora do crescimento econômico latino-americano pela via da demanda de exportações primárias. Mas a partir de 2014 elas caíram muito mais que as exportações ao mundo e, desde então, continuam caindo. Para a CEPAL (2015, p. 35), “a queda das exportações regionais à China em 2014 foi generalizada e obedece a uma redução da demanda de matérias-primas nesse país”. Porém, aumentaram cada vez mais as importações industriais procedentes da China e cresceram os empréstimos e investimentos chineses (Oviedo, 2016, 2017b; Sevares, 2016). Em uma análise recente a CEPAL (2018, p. 39) afirma que “a queda do valor das exportações da região à China entre 2013 e 2016 também foi de 25% e equivale a mais do dobro da contração registrada pelas importações regionais desde esse país (11%). Isso se explica, em grande medida, pelo fim do denominado “super ciclo” das matérias-primas. A relação comercial com a China é persistentemente deficitária para a região e o deficit projetado para 2017 era próximo aos 67 bilhões de dólares”. A figura 1 apresenta o comércio total, importações e exportações bilaterais.

Fonte: Banco de Dados Estatísticos das Nações Unidas sobre Comércio de Mercadorias (COMTRADE), em CEPAL (2018).

Fig. 1 América Latina e Caribe: comércio de bens com a China, 2000-2017 (bilhões de US$). Figura a cores disponível online. Nota: os valores de 2017 são projeções. 

Os analistas se referem às relações entre China e América Latina como relações Sul-Sul ou Este-Sul e/ou como relações entre semi-periferia e periferia, assim como entre semi-periferia e semi-periferia (Li & Christensen, 2012b; Pieterse, 2017).

Bernal-Meza e Li (2020), CEPAL (2015, 2018), Guelar (2013), Li (2010, 2012b), Li e Christensen (2012a), Medeiros e Cintra (2015), Pastrana e Gehring (2017), Prieto et al. (2017), Oviedo (2012a, 2014, 2017b), Sevares (2012) e Vadell et al. (2014), e coincidem em que, entre ambas as partes, se desenvolveu uma estrutura econômica que fez da região latino-americana a parte dependente e subordinada de uma relação que, para a América Latina, se tornou imprescindível. Paradoxalmente, também complementária e harmoniosa, porque cada parte da relação exporta à outra aquilo que constitui a sua cesta especializada de produção para a exportação.

Politicamente, a China não demonstra interesse em apoiar a autonomia da região no âmbito das relações hemisféricas e não é uma alternativa às relações com os Estados Unidos. Apesar de participar de distintos organismos e esquemas de regionalismo - observador da Organização dos Estados Americanos, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Associação Latino-Americana de Integração e Aliança do Pacífico e ser o parceiro do fórum da Comunidade de Estados da América Latina e das Caraíbas com a China -, ela tem preferência por relações bilaterais, principalmente econômicas e numa perspectiva capitalista, privilegiando umas relações mais que outras (Defelipe, 2017; Ferrando, 2016; Legler et al., 2020; Tzili Apango, 2017; Velosa, 2017), e o fórum não representa ameaça aos princípios organizadores das organizações latino-americanas e hemisféricas (Tzili Apango, 2017).

Mas a China se transformou no principal destruidor dos processos de integração sul-americanos e em particular do Mercosul (Bekerman & Moncaut, 2016; Bernal-Meza, 2012; Hiratura, 2016; Oviedo, 2016). Esta situação se concretizou complementando duas vias: os efeitos da deterioração dos termos de troca e o efeito da primarização e a re-primarização das economias latino-americanas, já que a especialização primária impede a modernização produtiva e reduz drasticamente o potencial exportador industrial. Um dos efeitos deste processo foi o deslocamento do Brasil como o eixo dinâmico dos processos de integração econômica (Mercosul) - o Brasil não é mais o principal parceiro comercial da Argentina e Uruguai- e política (UNASUL), desde que os principais países da América do Sul, incluindo o Brasil, deixaram essa organização em 2019.

III. Evolução e interpretação do processo de relacionamento bilateral

Três elementos sustentam a relação centro-periferia entre a China e a nossa região: 1) a harmonia assimétrica do comércio interindustrial entre as exportações primárias latino-americanas e a importação de bens de capital e manufaturas chinesas; 2) a complementaridade comercial e financeira, derivada de uma interdependência comercial assimétrica e uma dependência das fontes chinesas de provisão financeira; 3) a transformação da região em uma função de desenvolvimento econômico chinês (no sentido do papel que desempenham estas relações dentro do desenvolvimento capitalista chinês), graças à complementaridade e harmonia de interesses econômicos e comerciais (Bernal-Meza, 2012, 2019a; Oviedo, 2014, 2016).

Em um esforço de incrementar o potencial que evidenciava este comércio, no princípio do século XXI, os países latino-americanos, começando pelo Chile, foram respaldando os objetivos chineses no contexto do comércio internacional. Ocorreram benefícios políticos para a China na medida em que os países latino-americanos foram apoiando a agenda internacional de interesses chineses: a política de uma China única (Taiwan); o não questionamento à ocupação do Tibete, o não questionamento à prática de violação dos direitos humanos por parte do poder político chinês e nem da aceitação da China como uma economia de mercado e o apoio ao seu ingresso à Organização Mundial do Comércio (Bartesagui, 2015; Bernal-Meza, 2012, 2017a).

O apoio que a região concedeu à China para sua adesão à OMC tornou-se um fator negativo. Desde que a China ingressou na OMC até o ano anterior à crise financeira internacional (2008), as exportações chinesas à região aumentaram em 34%. A China substituiu fornecedores nacionais na região (Bernal-Meza, 2012, 2016; Dussel, 2016; Medeiros & Cintra, 2015) afetando os objetivos do Brasil em se tornar o centro de um subsistema produtivo-industrial sub-regional. Introduziu um fator de profundo desequilíbrio ao se transformar em um ator chave da economia política internacional da América do Sul, deslocando o Brasil dessa posição. O Brasil perdeu posições entre os principais parceiros comerciais da América Latina, incluindo seu principal parceiro: Argentinai. Os anos de 2000 a 2010 coincidem com o crescimento das exportações da China para a América Latina com a tendência decrescente das exportações brasileiras para a região. Esse período correspondeu ao estágio de maior ativismo político do Brasil na América do Sul, sob os governos de Lula da Silva. O quadro II indica a evolução das exportações.

Quadro II Exportações brasileiras para a América do Sul. 

Fonte: SECEX/MDIC - Brasil

Como defende Li (2019), a sinergia dos fatores internos (relações estado-mercado-sociedade) e fatores externos (geopolíticos, relações geoeconômicas em um contexto sistêmico) chegou a configurar as estratégias do desenvolvimento chinês e da América Latina em diferentes direções. O sucesso chinês permitiu articular o seu desenvolvimento e economia com o mercado global (competição, cadeias de produção e cadeias de valor). Ao mesmo tempo, esse sucesso expôs o fracasso das políticas de modernização e industrialização implementadas pela região.

A razão desta relação “dependentemente harmoniosa” e cada vez mais importante entre a nossa região e a China, foi o extraordinário crescimento econômico chinês e a diferença no nível de desenvolvimento científico e tecnológico favorável à China. Este fator a transformou em um país cada vez mais relevante para as relações econômicas internacionais de exportação e importação e às ofertas de investimento. Graças a esta diferença nos níveis de desenvolvimento científico e tecnológico no setor industrial, o avanço das exportações primárias latino-americanas à China coincidiu com o aumento das exportações industriais chinesas à América Latina. A economia do Brasil normalmente havia sido maior que a da China até ser superada por ela em 1990. Há trinta anos, o Brasil tinha uma maior inserção econômica na economia mundial medida em porcentagem e em dólares e as exportações industriais brasileiras superavam de longe as exportações industriais chinesas. A realidade atual é justamente o contrário.

A confrontação de modelos de modernização socioeconômica entre os exemplos chinês e latino-americano, principalmente desde a recuperação da democracia na América do Sul, é a outra cara da moeda do êxito da inserção econômica internacional chinesa e também do fracasso latino-americano. As respectivas democracias não conseguiram transformar as estruturas produtivas dos países. Não diversificaram as exportações, não diminuíram a pobreza, nem reduziram a profunda desigualdade na distribuição da riqueza interna dos países. Os governos populares ou de esquerda também não souberam aproveitar o boom das exportações de commodities para promover uma restruturação dinâmica das suas estruturas produtivas e industriais. Procuraram tirar vantagem das receitas das exportações destinando esses recursos a objetivos de políticas públicas que não promoveram a modernização produtiva (De Gori et al., 2017; Oviedo, 2012b).

A situação entre a China e os países latino-americanos aprofundou a heterogeneidade estrutural de nossas economias em termos de produtividade, devido a diferenças no valor agregado da produção e a especialização produtiva destinada à exportação para os mercados chineses. A essa situação foi adicionada a importação de mercadorias chinesas, que impactaram negativamente o intercâmbio comercial e a integração intra latinoamericano que complementariam as economias nacionais. Este fenômeno está relacionado também com a heterogeneidade das estratégias comerciais aplicadas pela China em relação a cada parceiro latino-americano. Como consequência das diferenças entre os países da região no seu comércio com a China, seus respectivos perfis de especialização e seus ganhos relativos, existe uma diversidade de posições e percepções entre os países latino-americanos sobre o que a China representa para as suas respectivas condições de desenvolvimento econômico (Bernal-Meza, 2014), além do desafio que sua presença econômica representa, num curto e médio prazo, para as suas próprias políticas de modernização industrial, diversificação produtiva e de exportações ( Moneta & Cesarín, 2016; Pastrana & Gehring, 2017).

IV. Uma explicação estrutural para a nova etapa de dependência da América Latina

A presença econômica da China se acelerou a partir de meados da década de 90 e se estendeu amplamente a princípios de 2000, como resultado da confrontação entre o modelo de desenvolvimento chinês - industrialização orientada para a exportação - e o modelo latino-americano de modernização - industrialização por substituição de importações, destinado a satisfazer a demanda dos mercados internos . Entretanto, esta luta foi acompanhada, mais tarde, pelo fracasso do modelo de inserção pela via da desregulação, do desmantelamento das indústrias estatais, das privatizações dos bens públicos e da abertura comercial unilateral que foram promovidas pelas políticas neoliberais aplicadas pela maioria dos países sul-americanos, com exceção do Chile, que tinha iniciado ditas políticas em 1975, e pelo México a partir dos anos 90.

Ao analisar a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) das vinte principais economias do mundo, entre 1980 e 2000, é possível observar como a China e também a Índia e a Coreia do Sul crescem no ranking mundial, enquanto países como o Brasil, México e Argentina retrocedem. O sucesso da modernização chinesa, sob um sistema político autoritário, pôs em evidência o fracasso dos líderes latino-americanos para promover, sob sistemas políticos democráticos, exitosas modernizações econômicas. O quadro III mostra a evolução das principais economias mundiais, incluindo Brasil, México e Argentina e a figura 2 apresenta a evolução do PIB dos principais países do mundo desde 1980.

Quadro III Evolução do PIB em alguns países entre 1971 e 2018 (biliões US$). 

Fonte: http://www.mexicomaxico.org/Voto/PIBMund.htm

Fonte: Idealista/News (2015, setembro)

Fig. 2 Evolução do PIB nos principais países do mundo, 1980-2009. 

A relação complementar e harmoniosa se desenvolveu sob uma estrutura econômica centro-periferia graças ao êxito do modelo de industrialização aplicado pela China e ao fracasso do modelo de desenvolvimento e modernização da região latino-americana. A estrutura é o resultado de uma relação econômica sustentada em variáveis de progresso econômico-industrial e científico-tecnológico muito diferentes, e seria difícil provar que fora o resultado de um objetivo político chinês. Os governos da nossa região tampouco foram capazes de tirar vantagem do ciclo de bonança da demanda importadora chinesa (De Gori et al., 2017) e a crítica ao neoliberalismo - ao qual recorreram os governos progressistas durante as décadas de 2000 e 2010 - não veio acompanhada de novas ideias. Foi o “giro à esquerda” que se expressou em países cujas experiências industriais haviam sucumbido diante da competição derivada das cadeias globais de valor articuladas pelo Nordeste Asiático, mas principalmente pela China.

1. Brasil e Argentina na frente da China

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgados pela Agenciabrasil.ebc, a China continuou sendo o principal destino das exportações brasileiras em 2018. Graças a este comércio, o Brasil obteve um excedente global de US$ 58,7 bilhões em transações comerciais no exterior naquele ano. A FGV informou que o aumento da participação chinesa entre 2017 e 2018 - de 21,8% para 26,8% - foi impulsionado pelas três principais commodities exportadas para esse país: soja em grão, petróleo e minério de ferro. Juntos, esses produtos representam 82% das exportações brasileiras para a China. A natureza interindustrial do comércio bilateral é observada ao analisar a cesta de importações daquele país. O quadro IV apresenta as exportações brasileiras para a China.

Quadro IV Exportações brasileiras para a China (milhares de US$). 

Fonte: World Integrated Trade Solutions (WITS, 2018)

No âmbito multilateral, a relação entre o Brasil e a China no contexto do grupo de países do BRICS (Brasil, Rússia, China e África do Sul) também reproduziu as características da relação centro-periferia. Esta situação tem debilitado não só os BRICS, uma vez que reproduz internamente uma relação norte-sul e centro-periferia que o mesmo grupo questiona ao nível da economia política internacional, mas também deteriora o objetivo de multilateralismo da política exterior brasileira (Bernal-Meza, 2019b).

Como destacam Becard, Barros-Platiau e Lessa, uma segunda macro tendência na ascensão da China no BRICS é a do país ser responsável por mais de 75% do PIB da coalizão. O seu surgimento como parceiro comercial bilateral pode levar a graves desagregações. Em outras palavras, Pequim é tão poderosa, que Brasília está cada vez mais preocupada com a dependência do Brasil em relação ao comércio e investimentos chineses. Uma terceira tendência é que o Brasil também é mais dependente do BRICS e espera melhorar as relações comerciais com a Índia e a Rússia num curto prazo. Nesse sentido, a saída não é uma opção. Ao mesmo tempo, o país está perdendo sua voz nos BRICS e no Novo Banco de Desenvolvimento. Então, a pergunta para o futuro é: a lealdade aumentará nesse caminho de crescente dependência brasileira? (Becard et al., 2019, p. 144)

Como argumentou Bernal-Meza (2019a, p. 125), “Brasil entrou nos BRICS em busca de uma aliança estratégica com a China no campo da política e economia internacionais, mas isso não aconteceu”. E a razão fundamental tem sido a relação centro-periferia que se desenvolveu entre a China e o Brasil.

Argentina e China representam também dois exemplos opostos de desenvolvimento capitalista: o bem-sucedido modelo de orientação externa chinês e o fracassado modelo argentino de desenvolvimento pela substituição das importações (Li, 2019; Oviedo, 2012a, 2012b). Tal como todos os processos similares da região, a Argentina não conseguiu inserir-se eficiente e dinamicamente em uma economia mundial dominada pelo desenvolvimento científico-tecnológico, na qual o papel da China é cada vez mais importante (Bekerman & Moncaut, 2016; Dussel, 2016; Moneta, 2016; Sevares, 2015). A figura 3 indica a cesta principal das exportações argentinas para a China, enquanto o quadro V compara importações e exportações da Argentina e China por setor.

Fonte: El Cronista (2017, mayo)

Fig. 3 Tipo de produtos exportados da Argentina para a China. 

O choque das modernizações, o atraso tecnológico e a especialização confluíram para conduzir a Argentina ao que Oviedo (2016) denominou de “o paradoxo dos alimentos”. Ele questiona o porquê da Argentina, sendo um país produtor de matérias-primas alimentícias beneficiado pelo aumento do preço mundial das commodities agrícolas, transferir, entre 2008 e 2014, mais de US$ 24 bilhões mediante um deficit comercial com a China, um país com crescente necessidade de importação de alimentos. Ou seja, a lógica não parece funcionar no comércio sino-argentino.

Como argumentou Moneta (2016), a Argentina, o MERCOSUL e o resto da América Latina enfrentam situações complexas em relação ao desenvolvimento e à inserção internacional. Os problemas são percebidos como de difícil solução nas suas relações econômicas e financeiras com a China, e as assimetrias - com esta potência e outras economias dinâmicas da região Ásia-Pacífico - se multiplicarão dramaticamente durante as próximas décadas.

Quadro V Comparativo das importações e exportações da Argentina para a China por setor, em 2016 (milhões de US$). 

Fonte: Adaptado de El Cronista (mayo, 2017)

O Brasil e a Argentina têm as chamadas parcerias estratégicas com a China, mas apenas o Brasil tem uma agenda de interesses políticos globais ao lado da China no âmbito do sistema internacional com os BRICS. Mais nenhum dos dois países latino-americanos conseguiu levar essa relação a um plano equilibrado dos intercâmbios comerciais setoriais. Como afirma Becard,

as relações entre a China e o Brasil se caracterizam mais por serem relações verticais com compensações limitadas - principalmente nas relações comerciais -, que por serem uma associação estratégica horizontal e recíproca, baseada no intercâmbio balanceado de produtos e serviços de valor agregado, investimentos e cooperação em áreas fundamentais para o projeto de desenvolvimento do Brasil”. (Becard, 2017, p. 405)

2. Investimento e diversificação produtiva

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) joga um importante papel no desenvolvimento econômico da região. Para a China, o IDE é cada vez mais importante e a América Latina e o Caribe estiveram no alvo desta. O início do processo de investimento na região coincidiu com o “Livro Branco para a América Latina” de 2008, que respaldou o argumento de que as estratégias de investimento foram decisões políticas muito específicas (Oviedo, 2017a; Sevares, 2016). Desde 2007, a China se tornou a segunda fonte de investimento direto estrangeiro para a região e um fornecedor importante de financiamento, através de diferentes mecanismos de empréstimo. Os projetos de infraestrutura “chave na mão”, proporcionados pelas empresas chinesas, passaram a ser importantes instrumentos para promover tecnologia, financiamento, mão-de-obra, manutenção e processos de pós-venda, de origem chinês.

O IDE chinês provoca uma condição contraditória. Apesar da importância que tem para a América Latina, ele gera uma séria consequência econômica ao processo de desenvolvimento na região, já que não possui vínculos com a estrutura produtiva e social dos países latino-americanos e do Caribe (Bernal-Meza, 2012; Ortíz Velázquez & Dussel Peters, 2016). Apesar de a região ser o segundo destino de exportação do capital chinês, paradoxalmente a quantidade e qualidade da produção de tratados de investimentos com a América Latina não promovem o investimento direto estrangeiro chinês na região (Liss, 2018). O autor cita Lin (2015, p. 11), que concluiu que o IDE “demonstra a intenção das empresas estatais chinesas de obter fontes de petróleo e recursos minerais na América Latina e o Caribe”. Outros analistas chegaram à conclusão de que as empresas estatais chinesas não têm a motivação comercial para investir na América Latina e Caribe porque procuram aplicar a “estratégia de desenvolvimento (chinês) a longo prazo” (Liss, 2018). Embora o IDE chinês se concentre em projetos e aquisições intensivas em setores de recursos naturais (mineração, petróleo e gás), nos últimos cinco anos cresceram seus interesses pelo setor das telecomunicações, da indústria indústria automotiva, de eletricidade e das energias não convencionais. Segundo a CEPAL (2018), estes setores oferecem oportunidades atrativas às empresas chinesas e, ao mesmo tempo, podem desempenhar um papel muito relevante para o desenvolvimento da América Latina e Caribe através de investimentos e empréstimos. Estes têm sido decisivos no processo de re-periferização das economias industriais da região, tais como a do Brasil e Argentina. Quanto mais dependente é a América Latina das importações chinesas e das suas exportações de capital, mas comprometida está a região com a sua autonomia econômica e financeira internacional. A figura 4 mostra a distribuição do IDE chinês em 21 países da América Latina e do Caribe.

Fonte: Adaptado de CEPAL (2018), baseado no Financial Times, fDi Markets e Bloomberg

Fig. 4 Investimento direto estrangeiro da China na América Latina e no Caribe (bilioes de US$), 2005 - outubro de 2017. Nota: A estimativa inclui a quantidade de fusões e aquisições e projetos anunciados. 

V. Conclusões

O extraordinário e rápido crescimento da China na estrutura de poder econômico mundial como um fato sem precedentes na história do capitalismo (Li, M., 2008; Li, X., 2010, 2019), tem impactado a região com respeito à redução do desenvolvimento científico-tecnológico e industrial nas suas relações econômicas internacionais. Mas, de acordo com Muchi e Li (2010, p. 53):

“O surgimento da China, por um lado, inevitavelmente gerará uma mudança de poder e moldará de novas maneiras a ordem internacional, mas, por outro lado, ajudará a construir um novo tipo de equilíbrio de poder na política mundial, baseada no multilateralismo e no institucionalismo”.

O fato de passar da periferia ao centro em menos de quarenta anos tem gerado profundas transformações nas relações entre o centro, a semi-periferia e a periferia (Li, 2012a, 2012b; Li & Christensen, 2012b). Esse movimento ao centro da economia mundial modifica a hierarquia de posições na estrutura econômica mundial. Se tornou uma fonte de conflitos entre os países que vão ficando para trás no processo, principalmente aqueles, como Brasil e Argentina, que haviam iniciado a sua industrialização nos anos 1910-1920, e que em 1970 já eram identificados internacionalmente como parte do segmento “semi-periférico” da economia mundial (Arrighi, 1997, 1998; Wallerstein, 1979).

Visto desde essa perspectiva, a centralização da China está conduzindo à re-periferização dos países hoje semi-periféricos, substituindo as suas produções e mercados de exportação de caráter industrial. Esse fenômeno foi destacado por Li (2012a, 2012b) e Li e Christensen (2012a), que defendiam que já era possível prever que o crescimento econômico da China e a sua participação ativa, especialmente nas zonas da semi-periferia, provocariam mais desafios e restrições ao desenvolvimento dos países mais atrasados. Como destacam Bernal-Meza (2019a) e Oviedo (2012b), os desafios para os países periféricos e semi-periféricos surgem em consequência da bem-sucedida modernização chinesa. Lamentavelmente para a América Latina,

as características que apresenta o comércio entre a região e a China são dificilmente modificáveis no curto prazo. O seu caráter interindustrial é o resultado principalmente da complementaridade entre as respectivas dotações atuais de fatores produtivos, em particular no caso das economias exportadoras de matérias-primas da América do Sul. (CEPAL, 2018, p. 95)

Assim como os governos populares e de esquerda não aproveitaram a bonança para modernizar as estruturas econômicas, o crescimento dos governos liberais e neoliberais e suas políticas de abertura e desregulamentação tem sido um fator de grande importância para entender também a baixa no incremento do setor produtivo sul-americano.

Sete argumentos permitem sustentar o complexo diagnóstico sobre o caráter da relação bilateral sino-latino-americana:

  • - Aparentemente, não há razão para assumir que, politicamente, a China representa para a América do Sul e para a América Latina uma alternativa à autonomia política e econômica com respeito aos Estados Unidos. Ademais de ter o Brasil associado à sua agenda de interesses na cooperação sul-sul e no contexto dos BRICS, nem ele nem os outros países têm sido associados aos seus planos internacionais em relação aos temas de política mundial: segurança estratégica; conflitos regionais; reforma e ampliação do Conselho de Segurança, etc.;

  • - Paradoxalmente, a busca pela primazia econômica mundial fez com que a América Latina desempenhasse um papel importante na estratégia internacional da China. Como destaca Cesarín (2016), os objetivos chineses na região convergem com as suas crescentes aspirações de poder globais, da vontade de projetar seu poder à periferia estadunidense e de acessar os recursos naturais essenciais para sustentar o seu crescimento económico;

  • - Economicamente para a América Latina se repete o ciclo de relações econômicas norte-sul ou centro-periferia que caracterizaram a etapa de hegemonia econômica norte-americana no século XX;

  • - As relações políticas da China com a região reproduzem um padrão de pragmatismo e funcionam de acordo com os interesses econômicos chineses;

  • - Tanto o comércio quanto os investimentos chineses estão vinculados aos seus interesses nacionais, no sentido em que proporcionam segurança alimentar, insumos básicos, comunicação estratégica e acesso ao transporte (Cesarín, 2016; Oviedo, 2016; Sevares, 2015);

  • - A América Latina desempenha um importante papel na estratégia capitalista global da China, através da especialização produtiva e do comércio inter industrial;

  • - A China impacta negativamente nos processos de integração da América Latina, particularmente no MERCOSUL, ao substituir os fluxos comerciais e estimular a especialização. Este fenômeno desintegra a relação econômica internacional entre os países da América do Sul e os distancia economicamente entre eles, devido à falta de complementação e ao aumento da competição produtiva entre eles: Peru e Chile exportam cobre; Argentina, Brasil e Paraguai exportam soja; Venezuela e Argentina abastecem petróleo, etc.

A complementaridade comercial e a harmonia do intercâmbio entre a China e os países latino-americanos não contribui ao desenvolvimento e à modernização produtiva e industrial dos países da região, já que ambos acontecem para satisfazer a um ator externo, que induz a especialização produtiva.

Por causa do comércio, dos investimentos e dos empréstimos, existe o risco de que os governos de alguns países latino-americanos sofram pressões do estado chinês, como foi observado em alguns casos com as economias mais industrializadas da América do Sul: no contexto do Brasil e do Chile, através dos investimentos chineses no setor elétrico, segmento economicamente estratégico dada a importância que tem para a indústria e os serviços, e no caso da Argentina, através da negociação de acordos com a inclusão da cláusula cross default, que determina que uma vez negociados os termos de um contrato que inclui vários projetos, a revisão de um deles põe fim a todos eles. Desta forma, fica vinculada toda a rede de acordos negociados entre China e Argentina. Esse mesmo mecanismo impediu a Argentina de renegociar com sucesso as condições dos acordos assinados em Pequim, durante os mandatos de Cristina Fernández, cujas condições têm sido consideradas muito benéficas para a China, mas não tanto para a Argentina (Bernal-Meza & Zanabria, 2020; Oviedo, 2016; Sevares, 2015).

O poder acumulado pela China na economia mundial durante os últimos quarenta anos se traduz em uma “consequência não desejada” para outros países, como os da América Latina. Talvez não fosse o “plano original” da China desde um princípio (estratégico ou deliberado) transformar a América Latina na sua periferia. A tática industrial escolhida pela potência asiática criou uma consequência involuntária para outros países, tanto do norte como do sul, porque essas relações estão induzidas pela lei do valor e pela lógica econômica do capitalismo. Parece não haver um processo colonial entre a China e a América Latina - apesar de que algumas características históricas se repitam -, mas sim a existência de claras manifestações de subordinação e de dependência econômica e financeira que derivam das desigualdades de desenvolvimento tecnológico entre uma e os outros.

Neste sentido, deve-se enfatizar que alguns dos fatores que destacam a força e o auge econômico da China também são a expressão das debilidades dos países da região. Ou seja, a outra cara do sucesso chinês é a desgraça da América Latina, dado que, há quarenta anos, a China era um país periférico, como todos os países da América Latina, com exceção da Argentina e do Brasil. O motivo está que, em razão ao amparo e à proteção do modelo de industrialização por substituição de importações, nem o setor privado- que se beneficiou dos mercados dependentes -, nem o Estado - que não impulsionou o seu apoio -, nem as universidades fizeram o investimento em ciência e tecnologia necessários. Melhor dizendo, o desenvolvimento tecnológico e a relação inovação-desenvolvimento não foram uma política pública e tampouco uma direção do setor privado. A consequência tem sido a primarização e a re-primarização econômica da região. O processo de periferização tem sido acompanhado por uma eficiente e bem-sucedida diplomacia chinesa (Bartesagui, 2015; Ferrando, 2016; Oviedo, 2005; Rodríguez & Yan, 2013), com base no win-win rhetoric, que supostamente está nos princípios da cooperação Sul-Sul (Bernal-Meza, 2016, 2017a, 2017b).

A América Latina parece estar se concentrando não somente no investimento, no comércio e na tecnologia chinesas dominantes, mas também na “economia política” provocada pelo auge econômico desse país: os efeitos e as consequências da estrutura de relacionamento bilateral frente às relações econômicas e políticas internacionais de cada parte, no contexto da evolução do sistema capitalista a nível mundial.

Durante quarenta anos, a China veio implementando um plano para conseguir tornar-se o que é hoje. Por outro lado, não vemos um exemplo similar na América Latina. Consequentemente, a natureza da relação China-América Latina deve ser considerada como um resultado da análise precedente. A posição alcançada pela China e o poder econômico-científico-tecnológico que a sustenta evidenciam o rotundo fracasso das estratégias de desenvolvimento executado pelos países da América Latina.

Referências bibliográficas

Arrighi, G. (1997). Workers of the World at Century’s End. Review, 19(3), 335-51. [ Links ]

Arrighi, G. (1998). A Ilusão do desenvolvimento [The Illusion of Development]. Vozes. [ Links ]

Bartesagui, I. (2015). La política exterior de China desde la perspectiva e intereses de América Latina [China’s foreign policy from the perspective and interests of Latin America]. In L. de la Rosa, I. Raquel, & J. C. Gachúz Maya (Coords.), Política Exterior China: relaciones regionales y cooperación y cooperación [Chinese Foreign Policy: Regional Relations and Cooperation and Cooperation] (pp. 245-278). Universidad Autónoma de Puebla. [ Links ]

Becard, D. (2017). China y Brasil: ¿modelo de relaciones Sur-Sur? [China and Brazil: a model of South-South relations?]. In E. B. Pastrana, & H. Gehring (Eds.), La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean] (pp. 387-408). Editorial Javeriana. [ Links ]

Becard, D., Barros-Platiau, A., & Lessa, A. (2019). Brazil in the BRICS after ten years. In L. Xing (Ed.), The International Political Economy of the BRICS (pp. 135-149). Routledge. [ Links ]

Becker, U. (2013). The BRICs and Emerging Economic in Comparative Perspective. Political Economy, Liberalization and International Change. Routledge. [ Links ]

Bekerman, M., & Moncaut, N. (2016). Las relaciones entre China y América Latina. ¿hacia la desestructuración de los sistemas productivos de la región? [Relations between China and Latin America. Towards the destructuring of the region’s productive systems?]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 185-202). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2012). China y la configuración del nuevo orden internacional: las relaciones China-MERCOSUR y Chile [China and the configuration of the new international order: China-MERCOSUR and Chile relations]. In R. Bernal-Meza, & S. Quintanar (Eds.), Regionalismo y Orden Mundial: Suramérica, Europa, China [Regionalism and World Order: Suramerica, Europe, China] (pp. 55-114). Nuevohacer y Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2014). La heterogeneidad de la imagen de China en la política exterior latinoamericana. Perspectivas para la concertación de políticas [The heterogeneity of China’s image in Latin American foreign policy. Prospects for policy concertation]. Comentario Internacional, (14), 113-134. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2016). China and Latin America Relations: The Win-Win Rhetoric. Journal of China and International Relations, Special Issue 2016, 27-43. https://doi.org/10.5278/ojs.jcir.v4i2.1588 [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2017a). Dos aportes teóricos latinoamericanos de relaciones internacionales y su utilización por el pensamiento chino contemporáneo: los casos de Prebisch y Escudé [Latin American theoretical contributions to international relations and their use by contemporary Chinese thinking: the cases of Prebisch and Escudé]. Revista Estudios Sociales, (64), 75-87. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2017b). Las relaciones entre China y América Latina y la retórica “ganadores-ganadores” [Relations between China and Latin America and the “winners-winners” rhetoric]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 25-51). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2019a). Brazil as an emerging power: the impact of international and internal deteriorational effects on the BRICS. In L. Xing (Ed.), The International Political Economy of the BRICS (pp. 118-134). Routledge. [ Links ]

Bernal-Meza, R. (2019b). Brasil: ascenso, declinación y nuevos desafíos de una potencia emergente (2003-2018) [Brazil: rise, decline and new challenges of an emerging power (2003-2018)]. Revista Izquierdas, (49), 516-540. [ Links ]

Bernal-Meza, R., & Li, X. (Eds.). (2020). China-Latin America Relations in the 21st Century: the Dual Complexities of Opportunities and Challenges. Palgrave Macmillan. [ Links ]

Bernal-Meza, R., & Zanabria, J. (2020). A goat’s cycle. The relation between Argentina and the People’s Republic of China during the Kirchner’s and Macri administration (2003-2018). In R. Bernal-Meza, & L. Xing (Eds.), China-Latin America Relations in the 21st Century: the Dual Complexities of Opportunities and Challenges. Palgrave Macmillan. [ Links ]

Comissão Económica para a América Latina e o Caribe. (2015). América Latina y el Caribe y China. Hacia una nueva era de cooperación económica [Latin America and the Caribbean and China. A new era of economic cooperation]. Naciones Unidas. [ Links ]

Comissão Económica para a América Latina e o Caribe. (2018). Explorando nuevos espacios de cooperación entre América Latina y el Caribe y China [Exploring new spaces for cooperation between Latin America and the Caribbean and China]. Naciones Unidas. [ Links ]

Cesarín, S. (2016). China, miradas desde el Sur [China, seen from the South]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 53-76). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

De Gori, E., Gómez, A., & Ester, B. (2017). Gobiernos progresistas en América Latina: cambios y permanencias tras un período [Progressive governments in Latin America: changes and permanence after a period]. In J. A. Sotillo, & B. Ayllón (Eds.), Las transformaciones de América Latina [The transformations of Latin America] (pp. 17-33). Los Libros de la Catarata. [ Links ]

Defelipe Villa, C. (2017). Perspectivas de las relaciones de China y América Latina y el Caribe: ¿del enfoque bilateral hacia el regional? [Perspectives of the relations of China and Latin America and the Caribbean: from the bilateral approach to the regional one?]. In E. B. Pastrana, & H. Gehring (Eds.), La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean] (pp. 123-143). Editorial Javeriana. [ Links ]

Dussel, E. (Coord.). (2016). La nueva relación comercial de América Latina y el Caribe con China. ¿Integración o desintegración regional? [The new Latin American and Caribbean trade relationship with China. Regional integration or disintegration?]. Red Académica de América Latina y el Caribe sobre China, Universidad Nacional Autónoma de México, Unión de Universidades de América Latina y Caribe y Centro de Estudios China-México. [ Links ]

El Cronista. (2017, mayo). Argentina-China. Como es la relacion comercial com el gigante asiatico [Argentina-China. How is the business relationship with the Asian giant]. https://www.cronista.com/columnistas/Argentina-China-Como-es-la-relacion-comercial-con-el-gigante-asiatico-20170516-0107.htmlLinks ]

Ellis, R. (2009). China in Latin America. The Whats & Wherefores. Lynne Rienner Publishers. [ Links ]

Ferrando, A. (2016). China y sus Tratados de Libre Comercio con América Latina y el Caribe [China and its Free Trade Agreements with Latin America and the Caribbean]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 203¬-245). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Guelar, D. (2013). La invasión silenciosa. El desembarco chino en América del Sur [The silent invasion. The Chinese landing in South America]. Debate. [ Links ]

Hiratura, C. (2016). Impactos de China sobre el proceso de integración regional de Mercosur [China’s impacts on the Mercosur regional integration process]. In E. D. Peters (Coord.), La nueva relación comercial de América Latina y el Caribe con China. ¿Integración o desintegración? [The new Latin American and Caribbean trade relationship with China. Regional integration or disintegration?] (pp. 195-243). Red Académica de América Latina y el Caribe sobre China, Universidad Nacional Autónoma de México, Unión de Universidades de América Latina y Caribe y Centro de Estudios China-México. [ Links ]

Idealista/News. (2015, septiembre). Los datos mas curiosos de las grandes economias mundiales en los últimos 35 años [The most curious data of the great world economies in the last 35 years]. Idealista. https://www.idealista.com/news/finanzas/inversion/2015/09/01/738971-los-datos-mas-curiosos-de-las-grandes-economias-mundiales-en-los-ultimos-35Links ]

Jiang, S. (2006). Recent Development of Sino-Latin American Relations and Its Implications. Estudios Internacionales, (152), 19-42. [ Links ]

Legler, T., Turzi, M., & Tzili Apango, E. (2020). Advancing Autonomy? Chinese Influence on Regional Governance in Latin America. In R. Bernal-Meza, & L. Xing (Eds.), China-Latin America Relations in the 21st Century: the Dual Complexities of Opportunities and Challenges. Palgrave Macmillan. [ Links ]

Li, M. (2008). The rise of China and the demise of the capitalist world economy. Monthly Review Pres. [ Links ]

Li, X. (2010). The Rise of China and the Capitalist World Order. Ashgate. [ Links ]

Li, X. (2012a). China y el orden mundial capitalista: El nexo de la transformación interna de China y su impacto externo [China and the Capitalist World Order: The Nexus of China’s Internal Transformation and Its External Impact]. In R. Bernal-Meza, & S. Quintanar (Eds.), Regionalismo y Orden Mundial: Suramérica, Europa, China [Regionalism and World Order: Suramerica, Europe, China] (pp. 29-53). Nuevohacer/Grupo Editor Latinoamericano y Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. [ Links ]

Li, X. (2012b). Introduction: The Unanticipated Fall and Rise of China and the Capitalist World System. In L. Xing, & F. S. Christensen (Eds.), The Rise of China. The Impact on Semi-periphery and Periphery Countries (pp. 1-29). Aalborg University Press. [ Links ]

Li, X. (2019). China’s dual position in the capitalist world order: a dual complexity of hegemony and counter-hegemony. In L. Xing (Ed.), The International Political Economy of the BRICS. Routledge. [ Links ]

Li, X., & Christensen, S. (2012a). The Rise of China and the Myth of a China-led Semi-periphery Destabilization: The Case of Brazil. In X. Li, & S. F. Christensen (Eds.), The Rise of China. The impact on semi-periphery and periphery countries (pp. 31-58). Aalborg University Press. [ Links ]

Li, X., & Christensen, S. (Eds.). (2012b). The Rise of China. The impact on semi-periphery and periphery countries. Aalborg University Press. [ Links ]

Li, X. , & Shaw, T. (2013). From ‘Polities in Command’ to ‘Economics in Command’; China-Africa Relations in an era of Great Transformations. In L. Xing, & A. O. Farah (Eds.), China-Africa Relations in a Era of Great Transformations (pp. 1-22). Ashgate. [ Links ]

Lin, Y. (2015). Firm Heterogeneity and Location Choice of Chinese firms in Latin America and the Caribbean: Corporate Ownership, Strategic Motives and Host Country Institutions. China Economic Review , (34), 274-292. [ Links ]

Liss, J. (2018). Tratados de inversión entre China y América Latina y la salida de inversión extranjera directa de China en la región: un análisis interdisciplinario [Investment treaties between China and Latin America and the direct foreign investment of China in the region: an interdisciplinary analysis]. Centro de Estudios México-China, Universidad Nacional Autónoma de México. [ Links ]

Medeiros, C., & Cintra, M. (2015). Impacto da ascensão chinesa sobre os países latino-americanos [Impact of Chinese rise on Latin American countries]. Revista de Economia Política, 35(1), 28-42. [ Links ]

Moneta, C. (2016). Lectura para Latinoamericanos. El desarrollo e inserción geoeconómica internacional china, 2010-2030/2040 [Reading for Latin Americans. China’s international geoeconomic development and insertion, 2010-2030/2040]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 113-183). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Moneta, C., & Cesarin, S. (2016). La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far]. Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Muchi, M., & Li, X. (2010). The myths and realities of the rising powers. Is China a threat to the existing world order?. In L. Xing (Ed.), The Rise of China and the Capitalist World Order (pp. 51-70). Ashgate. [ Links ]

Ortiz Velázquez, S., & Dussel Peters, E. (2016). La nueva relación comercial entre América Latina y el Caribe y China: ¿promueve la integración o desintegración comercial? [The new trade relationship between Latin America and the Caribbean and China: does it promote trade integration or disintegration?]. In E. D. Peters (Coord.), La nueva relación comercial de América Latina y el Caribe con China. ¿Integración o desintegración regional? [The new Latin American and Caribbean trade relationship with China. Regional Integration or Disintegration?] (pp. 13-58). Red Académica de América Latina y el Caribe sobre China, Universidad Nacional Autónoma de México, Unión de Universidades de América Latina y Caribe y Centro de Estudios China-México. [ Links ]

Oviedo, E. (2005). China en expansión [China in expansion]. Editorial de la Universidad Católica de Córdoba. [ Links ]

Oviedo, E. (2012a). The Struggle for Modernization and Sino-Latin American Economic Relations. In L. Xing, & S. F. Christensen (Eds.), The Rise of China. The Impact on Semi-Periphery and Periphery Countries (pp. 103-131). Aalborg University Press. [ Links ]

Oviedo, E. (2012b). Puja de modernizaciones y relaciones económicas chino-latinoamericanas en un mundo en crisis [Bidding for modernizations and Chinese-Latin American economic relations in a world in crisis]. In R. B. Meza, & S. V. Quintanar (Eds.), Regionalismo y Orden Mundial: Suramérica, Europa, China [Regionalism and World Order: Suramerica, Europe, China] (pp. 115-151). Nuevohacer and Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. [ Links ]

Oviedo, E. (2014). Principales variables para el estudio de las relaciones entre Brasil y China [Main variables for the study of the relations between Brazil and China]. In R. Bernal-Meza, & L. Bizzozero (Eds.), La política internacional de Brasil: de la región al mundo [Brazil’s international politics: from the region to the world] (pp. 143-166). Ediciones Cruz del Sur and Universidad de la República. [ Links ]

Oviedo, E. (2016). Déficit comercial, desequilibrio financiero e inicio de la dependencia argentina del capital chino [Trade deficit, financial imbalance and the beginning of Argentina’s dependence on Chinese capital]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: current, near and far] (pp. 273-298). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Oviedo, E. (2017a). Alternancia política y capitales chinos en Argentina [Political Alternation and Chinese Capital in Argentina]. In D. Oviedo (Ed.), Inversiones de China, Corea y Japón en Argentina: análisis general y estudio de casos [Inversions of China, Korea and Japan in Argentina: general analysis and case studies] (pp. 12-35). UNR Editora. [ Links ]

Oviedo, E. (2017b). Inversiones de China, Corea y Japón en Argentina: análisis general y estudio de casos [Inversions of China, Korea and Japan in Argentina: general analysis and case studies]. UNR Editora. [ Links ]

Pastrana, E., & Gehring, H. (2017). La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean]. Editorial Javeriana. [ Links ]

Pieterse, J. (2017). Multipolar Globalization: Emerging economies and Development. Routledge. [ Links ]

Polanyi, K. (1944/1957). The Great Transformation: The Political and Economic Origins of Our Time. Beacon Press. [ Links ]

Prebisch, R. (1949). El desarrollo de América Latina y algunos de sus principales problemas [The development of Latin America and some of its main problems]. CEPAL. [ Links ]

Prebisch, R. (1951). Problemas teóricos y prácticos del crecimiento económico [Theoretical and practical problems of economic growth]. CEPAL. [ Links ]

Prieto, G., Figueredo, A., & Rodríguez, L. (2017). El comercio de China con América Latina: panorama de reprimerización [China’s trade with Latin America: reprimerization outlook]. In E. P. Buelvas, & H. Gehring (Eds.), La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean] (pp. 219-265). Editorial Javeriana. [ Links ]

Rodríguez, I., & Yan, S. (2013). La diplomacia pública de China en América Latina [China’s public diplomacy in Latin America]. RIL Editores. [ Links ]

Sevares, J. (2012). El ascenso de China y las oportunidades y desafíos para América Latina [The rise of China and the opportunities and challenges for Latin America]. In R. Bernal-Meza, & S. Quintanar (Eds.), Regionalismo y Orden Mundial: Suramérica, Europa, China [Regionalism and World Order: Suramerica, Europe, China] (pp. 325-344). Nuevohacer and Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. [ Links ]

Sevares, J. (2015). China. Un socio imperial para Argentina y América Latina [China. An imperial partner for Argentina and Latin America]. Edhasa. [ Links ]

Sevares, J. (2016). Préstamos e inversiones de China en América Latina [Chinese loans and investments in Latin America]. In C. Moneta, & S. Cesarín (Eds.), La tentación pragmática. China-Argentina/América Latina: Lo actual, lo próximo y lo distante [The pragmatic temptation. China-Argentina/Latin America: Current, near and far] (pp. 247-270). Universidad Nacional de Tres de Febrero. [ Links ]

Tzili Apango, E. (2017). Antecedentes y proyecciones del Foro China-Celac y su influencia en la dinámica hemisférica [Background and projections of the China-Celac Forum and its influence on hemispheric dynamics]. In E. Pastrana, & H. Gehring (Eds.), La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean] (pp. 145-169). Editorial Javeriana. [ Links ]

Vadell, J., Ramos, L., & Neves, P. (2014). The international implications of the Chinese model of development in the Global South: Asian Consensus as a network power. Revista Brasileira de Política Internacional, 57(special), 91-107. [ Links ]

Velosa, E. (2017). Los puentes de China: roles y redes entre China y América Latina y el Caribe [China’s bridges: roles and networks between China and Latin America and the Caribbean]. In E. Pastrana, & H. Gehring (Eds.), La proyección de China en América Latina y el Caribe [The projection of China in Latin America and the Caribbean] (pp. 189-216). Editorial Javeriana. [ Links ]

Wallerstein, I. (1979). The Capitalist World-Economy. Cambridge University Press. [ Links ]

World Integrated Trade Solutions. (2018). Trade flow - 2018. WITS-World Bank. https://wits.worldbank.org/CountryProfile/es/Country/BRA/StartYear/2018/EndYear/2018/TradeFlow/Import/Indicator/MPRT-TRD-VL/Partner/CHN/Product/All-GroupsLinks ]

1i Em setembro de 2019, a China substituiu o Brasil como principal parceiro comercial da Argentina. Fonte: https://www.lanacion.com.ar/economia/comercio-exterior/china-el-gigante-asiatico-ya-es-el-principal-socio-comercial-de-la-argentina-nid2317061

Recebido: 01 de Outubro de 2019; Aceito: 01 de Março de 2021

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons