Janice Jones Monk foi uma geógrafa feminista de destaque, conhecida pelas suas contribuições pioneiras para a geografia social e cultural, especialmente para o campo da geografia e género. Nascida em 13 de março de 1937, em Sydney, Austrália, viria a tornar-se uma figura proeminente na comunidade académica dos EUA e em todo o mundo. Janice Monk foi Professora de Geografia e Professora Investigadora no Southwest Institute for Research on Women (SIROW) da Universidade do Arizona. O seu trabalho focou principalmente o emprego, educação, saúde e cultura de mulheres e grupos minoritários, particularmente nos EUA e no México.
Ao longo da sua carreira, Janice Monk publicou mais de 100 artigos académicos e vários livros influentes, incluindo The Desert Is No Lady, onde explorou narrativas não contadas das mulheres pioneiras no Oeste dos EUA. Foi instrumental no desenvolvimento da Geografia Feminista, defendendo o reconhecimento das contribuições das mulheres dentro de um campo científico e um tempo dominado por homens. Os seus esforços valeram-lhe numerosos prémios, como o Lifetime Achievement Honors da Association of American Geographers e o Taylor and Francis Award da Royal Geographical Society.
Janice Monk foi ainda Presidente da Association of American Geographers e esteve profundamente envolvida na mentoria de professoras em início de carreira e na promoção da igualdade de género no ensino superior. Faleceu em 12 de julho de 2024, deixando um legado de investigação impactante na defesa dos direitos das mulheres e da igualdade de género na Geografia, e mais além.
Uma nota mais pessoal sobre a minha relação com Jan
Conheci a Janice através de Maria Dolors Garcia-Ramon (durante o meu ano sabático, em 2008/09) e por anos recebi desta eminente geógrafa gentis pedidos para lhe enviar contribuições das minhas atividades científicas para alimentar o IGU Gender Newsletter. Esta foi uma missão que Jan levou muito a sério como editora, pois fazia com que este grupo estivesse ciente das oportunidades de carreira em investigação científica e instituições de ensino superior ligadas à ciência geográfica, além de divulgar conferências e publicações sobre temas feministas.
Se eu pudesse definir o que sinto por Janice Monk numa palavra, seria “sororidade” (do latim “soror”), que significa uma relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres, semelhante à estabelecida entre irmãs.
Em 2016, tornei-me editora da Finisterra, da qual Janice assumia o cargo de Editora Externa, e iniciei a Finisterra Annual Lecture. Na sua segunda edição, convidei Janice Monk (fig.1), que prontamente aceitou o desafio. A sua inspiradora palestra foi muito bem recebida pela comunidade geográfica portuguesa e especialmente pelas feministas (e não apenas geógrafas), e foi publicada com o título Placing Gender in Geography: Directions, Challenges, and Opportunities (Monk, 2018).
O que mais me orgulha deste evento é que as muitas distinções, títulos honorários e prémios nacionais e internacionais de Janice não a impediram de aceitar o meu convite para viajar a Lisboa, para ministrar esta palestra. E isso aconteceu no contexto de uma revista (fundada em 1966, uma das mais antigas da Europa) que não tem ampla visibilidade no espaço académico anglo-saxónico, mas é o espaço natural onde está inserida - editada por uma instituição de investigação de longa data com poucos recursos, o Centro de Estudos Geográficos (criado em 1943).
Posteriormente, encontramo-nos em New Orleans e Washington DC, em encontros anuais da American Association of Geographers (AAG), e lembro de me ter escrito convidando para acompanhá-la em eventos relacionados e outros paralelos à AAG, nos quais tinha sido convidada a participar (a Palestra Anual Jan Monk patrocinada pela GPOW, outras reuniões de tributo, lançamentos de livros, etc.). Em todos fez questão de me apresentar a colegas que se destacaram internacionalmente em estudos de género.
Janice Monk era amplamente conhecida pela sua investigação em geografia sobre feminismo e género. O seu envolvimento em geografias não hegemónicas incentivou o desenvolvimento de redes internacionais (os centros e as margens), aumentou o pluralismo disciplinar e a hibridização na pesquisa, especialmente em relação aos países periféricos. Este foi o maior estímulo e inspiração que recebi do seu trabalho profissional e amizade.
Das lições aprendidas com Janice Monk senti que deveria estabelecer pontes entre mulheres “invisíveis”, das “margens” e as feministas “privilegiadas”, dos “centros”. Aprendi com Janice que, se unirmos as nossas forças, criamos condições para capacitar mulheres que raramente são notadas e/ou ouvidas. Quero, assim como Janice fez comigo, e com a comunidade académica através de “On not excluding half of the Human in Human Geography” (em coautoria com Susan Hanson, em 1982), nunca excluir da minha própria pesquisa e reflexões os seres humanos cujo sustento e afetos estão intimamente relacionados com a identidade, género e sexualidade.
Sou profundamente grata pelas suas contribuições inspiradoras para a geografia feminista e o seu compromisso inabalável no reconhecimento das mulheres na academia. O espírito pioneiro e a generosidade de Janice Monk moldaram profundamente a minha perspetiva sobre a Geografia. (Fig.1)
Estou segura de que Jan deixará muitas saudades a todas nós.
Margarida Queirós