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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0807-8967

Diacrítica vol.27 no.1 Braga  2013

 

Sánchez Rei, Xosé Manuel (2011), Lingua galega e variación dialectal,

Edicións Laiovento, 662 páginas

Maria Aldina Marques*

*Universidade do Minho, Instituto de Letras e Ciências Humanas

mamarques@ilch.uminho.pt

 

Xosé Manuel Sánchez Rey é professor titular da Universidade da Corunha e uma referência na área da Filoloxía Galega e Portuguesa, atestada pela variedade e interesse científico dos textos que já publicou. Lingua galega e variación dialectal ocupa na sua vasta bibliografia um lugar de destaque.

Para Xosé Manuel Sánchez Rei, “O desenvolvimento da dialectoloxía galega nestes últimos anos foi, na verdade, sorprendente”(p. 19). Creio que é de toda a justiça integrar aí e em lugar de destaque a obra agora apresentada. De facto, constitui uma reflexão alargada, moderna, no domínio da dialetologia, abordando de forma profunda questões teóricas e metodológicas fundamentais para esta área de investigação, acompanhadas de abundante exemplificação. Vale acentuar que a exaustividade que encontramos no tratamento dos diversos temas é reforçada pela bibliografia que se estende por 57 páginas.

Em termos do quadro teórico adotado, é particularmente relevante a opção por uma perspetiva interdisciplinar, eclética mas crítica. O autor afirma explicitamente a importância de disciplinas como a sociologia, a antropologia, a história da cultura, a psicologia social, entre outras, para o estudo da variação linguística.

É ainda um caso exemplar de interação entre a investigação e o ensino, combinando o rigor científico com uma exposição clara e atrativa.

A obra está estruturada em cinco capítulos, antecedidos por uma Introdução, onde o autor faz a apresentação de alguns vetores teóricos e metodológicos que estruturam o seu trabalho. Integrada, explicitamente, na área científica da dialetologia, e da dialetologia galega em particular, Língua galega e variación dialectal define como objeto de análise “a situación da Galiza e as súas problemáticas específicas” (p. 21), num espaço linguístico que tem no galego-português a sua origem individualizadora e modernamente se assume como um “… punto de vista, que non é outro do que considerarmos o caso do galego e do portugués como dúas normas, dúas variedades (…) do mesmo sistema linguístico” (p. 24).

Os cinco capítulos estão organizados de forma a cobrir toda a complexa problemática dos estudos dialetológicos, nas vertentes teórica e metodológica, sempre concretizada pela aplicação pormenorizada a diferentes fenómenos do galego.

O Capítulo1. A variação linguística estabelece como princípios teórico-metodológicos o primado da oralidade como objeto de estudo e uma perspetiva de análise não normativa; e detém-se longamente, a propósito da importância da análise das variedades das línguas, nas variáveis e fatores a considerar no estudo dos usos linguísticos que caracterizam os diferentes tipos de variacionismo.

Os mecanismos de mudança são abordados a partir de diversas teorias, com destaque para a teoria das ondas (p. 106) a teoria da difusão lexical (p. 108) ou ainda a explanação dos fatores internos e externos já apontados, segundo o autor, por Labov. A escolarização maciça das populações leva à reflexão sobre a complexidade do papel da escola na questão da variação linguística.

O capítulo encerra com uma perspetiva histórica sobre mudanças registadas ao longo do tempo em diferentes espaços, que explicam a estigmatização do dialectal.

O Capítulo 2. Língua e Dialecto, que acentua a centralidade da questão em debate, “o variacionismo e a mudança caracterizan calquera sistema linguístico…” (p. 211), continua a reflexão anterior sobre questões terminológicas. Língua e dialeto são objeto de uma cuidada atenção, em particular na destrinça de fatores e critérios de definição. O autor opta pelo termo variedade, sem conotações negativas, “Fuxindo da carga pexorativa que en ocasións implica a denominación de dialecto e a asumirmos a existencia de variedades dunha língua, que resulta um termo desprovido deses matices negativos,…”(209-210). Este percurso, em si fundamental para a área da dialetologia, leva o autor a uma reflexão sobre o galego ao longo dos séculos e em particular ao “…feito de o galego ser lingua ou en confronto responder mormente a unha variedade dialectal…” (p. 218).

O Capítulo 3. A Dialectoloxía mostra com muita clareza as possibilidades que a dialetologia moderna oferece à investigação, decorrentes de teorias e metodologias mais adequadas. Longe, por exemplo, da tradicional limitação a ambientes rurais, e objetos de análise restringidos à análise fonológica, morfológica e lexical, sobressai a dialetologia urbana ou dialetologia social (p. 246). Complementarmente, a segunda parte deste capítulo desenvolve questões centrais de metodologia de investigação. Tal como no capítulo anterior, o autor finaliza com um extenso subcapítulo dedicado à “Breve historia da dialectoloxía galega…”

O Capítulo 4. Tipoloxía dos dialectalismos e a súa transcendência propõe uma perspetiva alargada das “diversas clasificacións que se puideren facer sobre os fenómenos dialectais” (p. 389). Assim, são elencados e discutidos os fatores mais representativos para a construção de uma tipologia de dialetismos. Cada um destes fatores é ilustrado por exemplos variados do galego. É particularmente relevante o facto de o autor não se limitar aos tradicionais domínios da prosódia, fonética, morfologia, etc., mas integrar, nomeadamente, “dialectismos pragmático-textuais” (p. 451). Assim, sustenta que “… do confronto de varios etnotextos que posuímos, non parece resultar conflituoso acreditarmos, aínda que sexa só provisoriamente, en que se detecta algunha sorte de variacionismo xeográfico tamén no âmbito da pragmática.” (p. 452).

O Capítulo 5. Dialectoloxía, filoloxía e lingüística retoma e aplica a perspetiva interdisciplinar referida no capítulo inicial e explora as relações entre dialetologia, linguística e filologia. Em particular, aborda as relações da dialetologia com a gramática histórica, o generativismo, o estruturalismo, a pedagogia, a informática, a tradução, a didática da língua, etc. A propósito de dialetologia e onomástica, Sánchez Rey realiza uma análise fina dos “nomes de lugar e de persoa” galegos. A propósito, mostra a repercussão neste domínio de fenómenos como a gheada ou o rotacismo, entre outros, e as soluções adotadas relativamente a diferentes localidades galegas.

O Capítulo 6. Conclusións sintetiza a riqueza das informações, propostas e análises realizadas ao longo dos cinco capítulos anteriores. Subscrevo as palavras (modestamente matizadas) do autor, que a meu ver são reveladoras dessa orientação teórica, metodológica e prática que guia todo o texto: “Lingua galega e variación dialectal tencionou mostrar a validade da reflexión linguística nessa liña, fuxindo do arqueoloxismo fácil e a situar a pesquisa dialectolóxica nun degrao diferente ao dunha visión reducionista do variacionsismo.” (p. 602).

A exaustividade da investigação, que apenas aflorámos, fazem deste texto um instrumento de trabalho único para quem pretenda estudar a dialetologia galega. Mas não se fica por aqui. É uma referência obrigatória para todos os que se interessam pela variação linguística.

E ficam assim plenamente justificadas as 662 páginas que acima assinalei.