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Revista Diacrítica
versão impressa ISSN 0807-8967
Diacrítica vol.28 no.1 Braga 2014
A variação ou ̃ oi em Portugal continental: delimitação das áreas geográficas com maior incidência do ditongo oi
The variation ou ̃ oi in mainland Portugal: delimitation of the geographical areas of predominance of the diphthong oi
Ana Paula Veloso Pratas Dias*
*Universidade de Lisboa, Portugal.
RESUMO
Este trabalho estuda a variação dos ditongos decrescentes ou e oi em Portugal continental. Parte de uma hipótese levantada por Luís Filipe Lindley Cintra: o ditongo oi predomina em áreas ameaçadas pela monotongação. Tendo como recursos o Atlas Linguístico da Península Ibérica, o Atlas Linguarum Europae e o Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza, formei um corpus de 26 palavras em que ocorrem os ditongos [ow] e [oj] em posição inicial e medial de palavra, a partir das respostas em formato fonético de 503 informantes em 228 pontos de inquérito. Apresento neste artigo as distribuições geográficas de [ow], [oj] e [o] em todo o território português continental com delimitação das áreas de maior uso de [oj] e mostro que existe uma correlação entre o ditongo [oj] e o monotongo [o].
Palavras chave: ditongos ou e oi; variação; monotongação.
ABSTRACT
This work studies the variation of the falling diphthongs ou and oi in mainlan Portugal. It is based upon a hypothesis launched by Luís Filipe Lindley Cintra: the diphthong oi is more predominant in areas under the threat of monothongation. The data used come from three linguistic atlases: Linguistic Atlas of the Iberian Peninsula; Atlas of the European Languages; and the Linguistic and Ethnographic Atlas of Portugal and Galicia. I created a corpus of 26 words with diphthongs [ow] and [oj] responses obtained in phonetic format from 503 informants in 228 interview points in the 18 portuguese districts. I present the geographical distributions of [ow], [oj] and [o], the delimitation of areas of predominance of [oj] and show there is a correlation between [oj] and [o].
Keywords: diphthongs ou and oi; variation; monothongation.
1. Introdução
Num texto de Lindley Cintra, o qual tomo como motivação teórica para este trabalho "Os ditongos decrescentes ou e ei: esquema de um estudo sincrónico e diacrónico" (Cintra, 1983: 35-54), o autor faz várias observações sobre a situação atual dos ditongos ou e ei e suas variantes no ocidente peninsular, levantando algumas questões interessantes sobre a distribuição e maior incidência do ditongo oi em algumas áreas geográficas. Na sua opinião, nessas áreas a variação dos ditongos é menor, ocorrendo maioritariamente oi.
A variação dos ditongos ou e oi é comum no português atual e ocorre em determinadas palavras. O ditongo ou é proveniente do ditongo au primário ou secundário e alterna frequentes vezes com oi quando este é procedente da vocalização de c no grupo ct ou formado a partir da atração do iode primário da sílaba seguinte: au > ou: tauru> touro (~ toiro), raupa> roupa (~ roipa); al> ou: calce> couce (~ coice), altariu> outeiro (~ oiteiro); nocte> noite (~ noute), octo > oito (~ outo); coriu> coiro (~ couro); tonsoria > tesoira (~ tesoura); -toriu > -dorio > -doiro (~ -douro). A alternância estendeu-se a outras palavras cujos ditongos tinham outras origens, p.e: tucca > toucinho (~ toicinho), *caço ou caçoulo > caçoula (~ caçoila) (Houaiss, 2001).
Com base nos resultados dos inquéritos realizados para o Atlas Linguístico da Península Ibérica (ALPI) no território português continental, Cintra (1983: 119-159) toma como um dos traços fonéticos diferenciadores a pronúncia do ditongo ou, realizado no norte como [ow] ou [?w], enquanto no sul se dá a monotongação em [o]. Assim, Cintra traça uma isófona de divisão entre a área geográfica portuguesa setentrional conservadora do ditongo [ow], região que corresponde ao Minho, Trás-os-Montes, Douro Litoral e parte da Beira Alta e Interior, e a área de monotongação em [o], área designada como centro-meridional, região que corresponde a uma parte da Beira Alta e a maior parte da Beira Litoral, Beira Interior, Ribatejo, Estremadura, Alentejo e Algarve. No mesmo trabalho, Cintra nota que o maior uso de oi parece registar-se na região de entre Douro e Tejo, especificamente em alguns falares regionais em zonas ameaçadas pela monotongação.
No artigo de Cintra estão expostas as opiniões de alguns autores como Leite de Vasconcelos, o qual crê que o uso de ou ou oi em determinadas palavras se dê por razões dialetais e estilísticas. Para este autor a variante oi "‘(…) existe mais ou menos em todo o país, pois alterna com ou em certas palavras: dois ou dous, oiro ou ouro’ […] ‘há algumas palavras em que oi é dialectal, e não geral, como oivir, toica (em Moncorvo)’" (apud idem, ibid.: 43).
Em os Estudos de Philologia Mirandesa, Vasconcelos diz: "Póde escrever-se em português Cicouro e Cicoiro, como Douro e Doiro, ouro e oiro, noute e noite. Em geral na nossa língoa, o ditongo oi reflecte a pronúncia popular, o ditongo ou a pronúncia literária" (p. 75).
Paiva Boléo dá a sua opinião sobre este assunto em a Introdução ao Estudo da Filologia Portuguesa:
De uma maneira geral, o ditongo oi é mais popular e mais usado que ou, aparecendo em palavras que na linguagem corrente têm ou: oirives, oitono, oitubro (Vej. «Rev. Lus.», XXVIII, 1930), coibe (couve), etc. No entanto, há regiões, p.ex. no Norte, onde o ditongo ou aparece em palavras que correntemente se ouvem com oi: loura, biscouto, doudeira, etc. (p. 91)
Para Gonçalves Viana (apud Cintra, 1983: 45) a alternância parece estar relacionada com questões de contexto fónico: " (…) este ditongo alterna indiferentemente com ou mormente antes de -re -te-". Cintra pensa que embora a alternância ocorra nas cidades, na linguagem das aldeias é inexistente; ou seja, as palavras são pronunciadas sempre da mesma maneira, fenómeno idêntico ao Caipira, um falar da antiga província de São Paulo. Amadeu Amaral (1955) ao descrever este falar nota a falta de sincretismo que ocorre no português europeu e na gente culta do Brasil. Em contínua apreciação das opiniões dadas, Cintra crê que o ditongo oi existe em todos os falares portugueses nas palavras em que o i é etimológico, seja nos casos de metátese como coiro, ou proveniente da vocalização da consoante c no grupo ct como em noite, embora possa, por vezes, alternar com ou ou ô. Nessas zonas de predominância de oi, o ditongo manteve-se nos casos etimológicos, mas também aparece em palavras em que é esperado ou ou ô. Cintra conclui que, independentemente da etimologia, existem zonas em que as palavras são pronunciadas na maior parte dos casos com o ditongo ou, outras com o monotongo ô, e outras com o ditongo oi. A distinção dessas zonas e falares é o seu objetivo principal:
A distinção que me parece necessária é a distinção entre falares e zonas linguísticas em que predomina [?], seja qual for a etimologia, e falares e zonas em que predomina [?i̯] ou [?]; entre falares e zonas, portanto, em que se ouve oiro, toiro, foice, oitro, roipa, oiteiro, ainda que num ou noutro caso apareça [?u̯] ou [?], e outros em que se ouve ouro, touro, fouce, outro, roupa, outeiro, ou ôro, tôro, fôce, ôtro, ôteiro, rôpa, embora algumas palavras apresentem [?i̯]. Ora, esta distinção não só é possível como necessária. (1983: 44)
No mesmo trabalho, Cintra sugere que a região em que parece existir maior predominância de oi é a zona de transição entre [ow] e [o].
Neste artigo, pretendo verificar as hipóteses de Cintra: (i) o ditongo oi predomina em áreas ameaçadas pela monotongação; (ii) a substituição de ou por oi resulta de um esforço de conservação do ditongo.
A alternância que se verifica entre os ditongos decrescentes não é um fenómeno do português atual. Existem registos em textos antigos que podem situar o início da alternância no séc. XIII, no período linguístico do galego-português, tal como atestam os trabalhos de Maia (1986: 555-556)[1]e Cintra (1984: 174, nota 47).[2] A alternância tornou-se mais frequente nos séculos seguintes (cf. Mattos e Silva 1989: 87; Abraham 1938: § 28).[3]
Quanto ao início da monotongação do ditongo ou românico, Cintra supõe que esta tenha surgido no sul, a partir dos séculos XII-XIII, em território que viria a ser português, e que se tenha expandido em direção ao norte nos séculos XIII-XIV.
O tema da alternância dos ditongos ou e oi foi já debatido frequentes vezes por diversos autores e assumindo diferentes perspetivas. As teorias e explicações mais comuns para a origem da alternância são: 1) a semivocalização da consoante c no grupo latino ct que evoluiu para [w] ou [j] (cf. Williams 1994: § 92 7. C.); 2) a "confusão" da terminação sufixal –toriu com a terminação –auru (cf. bebedoiro ~ moiro ( mouro < mauru) (cf. Lucius Gaston Moffat)[4]; 3) o ditongo ou é resultado de uma evolução de caráter culto ou semiculto, e o ditongo oi é popular ou dialetal (cf. Maia, 1986: 556; Vasconcelos, 1970: 91; Boléo, 1946: 91). Para Cintra, após a revisão das explicações de diversos autores sobre a origem da alternância (algumas aqui citadas), o autor concorda parcialmente com Gaston Moffat:
(...) parece-me preferível admitir que o ponto de partida da passagem de ou a oi esteja em alguns casos particulares a que aludiram autores anteriormente citados, mais provavelmente nos casos em que a terminação -ouro (<AURU) se confundiu e começou a alternar com -(d)oiro (<-TORIU), segundo a hipótese de L.G. Moffat, e em certos outros em que, na vocalização de uma consoante, se registou uma oscilação que tanto podia conduzir à fixação do estreitamento caracterizador na região palatal como velar […] Mas o factor decisivo na expansão de oi teria sido a tendência a evitar a fusão dos elementos do ditongo, exercendo-se principalmente no falar popular de zonas ameaçadas pela aproximação de uma corrente monotongadora. Só essa tendência me parece susceptível de explicar a extraordinária frequência de oi por ou em certas linguagens regionais, que está certamente na origem da abundante penetração do fenómeno da linguagem literária. (1983: 51-52)
Uma outra estratégia usada pelos falantes para evitar a monotongação é o uso de uma variante do ditongo [ow], a variante [?w], muito ouvida em Trás-os-Montes, em parte de Entre Douro e Minho e numa parte da Beira. Neste aspeto o ditongo [oj], e o seu uso em zonas ameaçadas pela monotongação, é comparável ao uso dessa variante:
Creio que, quando consideramos […] a localização geográfica actual das zonas onde nos falares regionais existe e predomina oi por ou, zonas de fronteira entre a conservação do ditongo e a sua monotongação, e, muito principalmente, a localização da zona austuriana […], não podemos deixar de nos sentir preferentemente atraídos pela última destas explicações: [oi] aparece-nos efectivamente como mais um resultado – comparável neste aspecto a [?u?] – da tendência a fugir à monotongação pelo afastamento dos dois elementos do ditongo. (Ibidem: 50)
Um dos aspetos contemplados na literatura teórica sobre a passagem de ou a oi está exatamente relacionado com a constituição do ditongo. Visto o ditongo [oj] ser composto por dois elementos de séries diferentes, a vogal é posterior e a semivogal é anterior, existem menores probabilidades de ocorrer a monotongação. No ditongo [ow] a proximidade articulatória entre [o] e [w] é muito estreita. No caso do ditongo [ej], a distância articulatória é maior entre [e] e [j], ainda que a abertura do maxilar seja a mesma para ambos os ditongos, reduzindo, assim, as possibilidades de ocorrer a monotongação (cf. Martinet, 1970: 99). Podemos, desta forma, assumir que, nos casos em que ocorre o ditongo velar dissimilado ou o ditongo palatal, existem menores probabilidades de ocorrer a monotongação.
2. Metodologia
Face aos objetivos deste trabalho, identificar no território português as áreas de maior predominância de [oj] e verificar se esse uso está relacionado com uma tentativa de evitar a monotongação recorri a 3 atlas linguísticos: o Atlas Linguístico da Península Ibérica (ALPI) o Atlas Linguarum Europae (ALE) e o Atlas Linguístico-Etnográfico de Portugal e da Galiza (ALEPG).[5] A partir destes fiz o levantamento das palavras que ocorressem com maior frequência resultando num corpus de 26 palavras em que ocorrem os ditongos ou e oi em posição inicial e medial de palavra: outono, outro/outra, ouvir, oito, roupa, touro, choupo, tesoura, couve, rouxinol, toupeira, pouco, toucinho, coice, coiro, noite, foice, dezoito, coisa, caçoila, suadouro, calcadouro, bebedouro, manjedoura, cantadoura e roçadoura. [6] Os dados foram levantados de um total de 503 informantes do sexo masculino e feminino em 228 pontos de inquérito em18 distritos portugueses. Estabeleci uma rede de localidades com os pontos selecionados, a qual apresento em apêndice juntamente com o Mapa 1 – Rede de Localidades (v. no Apêndice 2 a Lista de Localidades). Após o levantamento das respostas procedi (i) à organização e contagem dos dados por tipo de ocorrência atestada em cada localidade e distrito (v. no Apêndice 2 a tabela de ocorrências); (ii) cartografagem dos dados, i.e., o registo dos dados linguísticos apurados neste trabalho em mapas do tipo interpretativo onde é possível visualizar a distribuição geográfica dos ditongos [ow] e [oj] e do monotongo [o] no território português continental; (iii) delimitação das áreas com maior incidência do ditongo [oj]; (iv) análise da distribuição geográfica dos sufixos douro/-doiro e -doura/-doira; (v) aplicação de um teste estatístico (Correlação) por forma a determinar qual o nível de associação/correlação entre as 3 realizações em estudo, especialmente, entre [oj] e [o].
3. Resultados
Das respostas de 503 informantes obtive um total de 3272 ocorrências das realizações em estudo, sendo que 806 ocorrências são do ditongo [ow], 948 do ditongo [oj] e 1518 do monotongo [o]. A Tabela 1 apresenta o nº de ocorrrências de [ow], [oj] e [o] e as suas percentagens em cada distrito português.
Tabela 1 – Nº de ocorrências de [ow], [oj] e [o] e percentagens por distrito
N.º de ocorrências | Percentagens | |||||
Distrito | [ow] | [oj] | [o] | %[ow] | %[oj] | %[o] |
Viana do Castelo | 120 | 33 | 12 | 72,7 | 20 | 7,3 |
Braga | 107 | 57 | 11 | 61,1 | 32,6 | 6,3 |
Vila Real | 114 | 51 | 19 | 61,9 | 27,7 | 10,3 |
Bragança | 168 | 53 | 18 | 70,2 | 22,1 | 7,5 |
Porto | 90 | 42 | 8 | 64,3 | 30 | 5,7 |
Aveiro | 67 | 31 | 31 | 51,9 | 24 | 24 |
Coimbra | 20 | 54 | 79 | 13,1 | 35,3 | 51,6 |
Viseu | 43 | 50 | 46 | 30,9 | 35,9 | 33 |
Guarda | 34 | 66 | 67 | 20,3 | 39,5 | 40,1 |
Castelo Branco | 11 | 44 | 144 | 5,5 | 22,1 | 72,4 |
Leiria | 14 | 55 | 100 | 8,3 | 32,5 | 59,2 |
Lisboa | 4 | 68 | 93 | 2,4 | 42,2 | 56,4 |
Setúbal | 1 | 48 | 121 | 0,6 | 28,2 | 71,2 |
Santarém | 1 | 52 | 117 | 0,6 | 30,6 | 68,8 |
Portalegre | 4 | 56 | 171 | 1,7 | 24,2 | 74 |
Évora | 1 | 62 | 159 | 0,4 | 27,9 | 71,6 |
Beja | 4 | 39 | 139 | 2,1 | 21,4 | 76,3 |
Faro | 3 | 87 | 183 | 1,1 | 31,8 | 67 |
Total | 806 | 948 | 1518 | 25 | 28 | 46 |
A Tabela 1 revela 3 grupos distintos: em alguns distritos do norte (Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança e Porto), das 3 realizações em estudo, o ditongo [ow] é a variante mais usada em cada distrito; nos distritos da área meridional (Castelo Branco, Leiria, Lisboa, Setúbal, Santarém, Portalegre, Évora, Beja e Faro), o monotongo [o] é a variante mais usada. Em cada um dos distritos destes dois grupos podemos verificar que existem grandes diferenças entre as percentagens de uso da variante mais usada e as percentagens das restantes variantes. Um terceiro grupo é composto pelos distritos de Aveiro, Coimbra, Guarda e Viseu, onde se registam diferentes resultados: no distrito de Aveiro, o ditongo [ow] é a variante mais usada; nos distritos de Coimbra e Guarda o monotongo [o] é a variante mais usada, e no distrito de Viseu o ditongo [oj] é a variante mais usada. No entanto, nestes distritos a distribuição das frequências das 3 realizações faz-se de forma mais semelhante ou homogénea que em qualquer outro distrito português. Tal resultado sugere que nestes distritos existe uma instabilidade quanto à pronúncia dos ditongos. Vejamos de seguida como se distribuem as 3 variantes em todo o território continental (v. Mapa 2).
Para esta análise tomei em conta a realização com maior atestação em cada localidade.[7]
Na contabilização total dos dados e na triagem da realização com maior atestação em cada localidade (uma média de 10 a 15 ocorrências por localidade), obtive o seguinte resultado: (i) o ditongo [ow] é a realização com maior atestação em 79 localidades (79/228 localidades); em 6 localidades [ow] co-ocorre em igual nº de ocorrências com outras variantes[8]; (ii) o monotongo [o] é a realização com maior atestação em 114 localidades (114/228 localidades); em 7 localidades [o] co-ocorre em igual nº de ocorrências com outras variantes; (iii) o ditongo [oj] é a realização com maior atestação em 44 localidades (44/228 localidades); em 10 localidades [oj] co-ocorre em igual nº de ocorrências com outras variantes.
3.1. Distribuição geográ?ca do ditongo [ow] e do monotongo [o]
O ditongo [ow] tem a sua maior incidência na área mais setentrional portuguesa, a norte do rio Douro, na região do Minho, Beira-Alta e Trás-os-Montes. A sul do Douro, em algumas localidades do distrito de Aveiro e também com algum ressurgimento em escassas localidades dos distritos de Coimbra, Leiria e Castelo Branco.
O monotongo [o] apresenta maior ênfase a sul da linha do rio Douro, e com notória expressão a partir do Mondego até ao Algarve, abrangendo a leste parte da Beira-Alta e toda a Beira-Interior.
3.2. Distribuição geográ?ca das áreas de maior incidência do ditongo [oj]
As áreas geográficas de maior incidência do ditongo [oj] correspondem, em alguns casos, a localidades isoladas, noutros casos são localidades mais próximas umas das outras; podemos considerar que sejam "ilhotas" de maior uso do ditongo [oj].
A começar de norte para sul o ditongo [oj] aparece como a variante predominante em 34 localidades (sem co-ocorrentes): Balugães (25), Apúlia (39), Fafe (43), distrito de Braga; Nevogilde (65), Gondar (66), distrito do Porto; Carrazedo de Montenegro (33), Vilarinho de Samardã (54), Sedielos (67), distrito de Vila Real; Vimioso (35), Lagoaça (64), distrito de Bragança; Sobrado de Paiva (74), Famalicão (107), distrito de Aveiro; São João da Pesqueira (76), Ester de Cima (83), Vale de Matos (84), Moimenta da Beira (86), distrito de Viseu; Vale da Mula (97), Casas do Soeiro (98), Vilar Formoso (99), Figueiró da Serra (103), distrito da Guarda; Mira (106), Vila Pouca do Campo (119), Lavos (124), distrito de Coimbra; Chainça (139), Leiria; Almeirim (160), Coruche (172), distrito de Santarém; Sobreiro (170), Povos (171), Aldeia Galega (179), Almargem do Bispo (180), Alcabideche (184), distrito de Lisboa; Moita (189), Santana (195), distrito de Setúbal. A leste, em Campo Maior (174), Portalegre, o ditongo [oj] aparece com especial incidência nas palavras que compõem o corpus deste trabalho (somente em posição inicial e medial de palavra). Trata-se de um único caso na área meridional; talvez este uso se deva ao fato de a localidade se encontrar junto à fronteira e sob a influência do Castelhano (cf. o falar de Olivença e o estudo de José Luis Valiña Reguera Os Falares Fronteiriços de Olivença e Campo Maior: falar alentejano e diversa castelhanização).
Em suma, temos diversas localidades a norte do rio Douro, numa área que se estende do litoral até terras transmontanas (área onde também ocorrem muitas variantes fonéticas dos ditongos [ow] e [oj], as quais mostrarei mais adiante, incluindo a variante do ditongo [ow] já referida por Cintra, a variante [?w]. Nesta região, o ditongo [oj], como variante predominante, surge um pouco abaixo das regiões mais setentrionais de Portugal. No norte dos distritos de Bragança, Vila Real e em todo o distrito de Viana do Castelo existe uma sólida conservação de ou. A variação com oi ocorre sobretudo quando oi é etimológico (oito, noite, coiro, dezoito). As áreas de maior incidência de [oj] abrangem também algumas localidades a norte da isófona da passagem de [ow] > [o] nos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda, e a sul da isófona, em localidades próximas da fronteira dialetal, também no distritos de Aveiro, Viseu e a leste no distrito da Guarda. Podemos considerar serem estas as zonas ameaçadas pela monotongação.
Por forma a corroborar a distribuição de [oj] tendo em conta somente a sua predominância, pois como Vasconcelos mencionou na Esquisse d’une dialectologie portugaise (1901: 91), este ditongo existe em todo o país, recorri à análise da distribuição dos sufixos –douro/a e –doiro/a a partir do levantamento das respostas a 6 palavras que contêm estes sufixos (cf. Mapa 4). Interessa sobretudo verificar se nas áreas em que ocorrem os sufixos com a variante palatal, existem semelhanças com a distribuição geográfica das localidades com maior incidência de [oj]. A partir do Mapa 4, e confrontando-o com o Mapa 3, posso constatar que essas semelhanças existem especialmente no noroeste português; a leste numa faixa muito estreita de Trás-os-Montes; em localidades de Vila Real; nas Beiras (Alta e Litoral), na Estremadura (incluindo o norte do distrito de Setúbal) e no Ribatejo. Excetua-se somente o sul de Portugal, onde, embora ocorra o ditongo [oj] nestes sufixos e nas restantes palavras do corpus, não encontrei áreas de maior predominância de [oj] (com exceção de Campo Maior, embora este seja um caso especial).
Entre outros resultados apurados neste trabalho posso verificar que a norte do rio Douro, nas áreas em que há maior uso do ditongo [oj] (cf. Mapa 5) ocorrem diversas realizações fonéticas dos ditongos [ow] e [oj] ([æw], [?w], [?w], [aw], [?w] /[ej], [?j],[aj]). As variantes de [ow][9] ocorrem em diversas palavras do corpus, enquanto as variantes de [oj] ocorrem sempre na palavra "rouxinol": "reixinol" [rej?in'??]; "raixinol" [r?j?in'??]; "ráixinol" [raj?in'??]. Para além da área referida, uma variante de [oj] volta a surgir em Monsanto (123), Castelo Branco, e.x: "raixinol" [r?j?in'??], o que reforça a ideia de esforço para prevenir a monotongação levando em conta o contato desta localidade com a língua vizinha, (cf. o caso de Campo Maior). Mais a sul, nos distritos de Aveiro e Viseu, posso constatar que em localidades próximas da fronteira de transição de [ow] para [o], voltam a ocorrer diversas realizações fonéticas de [ow] e [oj], respetivamente, em Pardilhó (90), Aveiro, e em Malhada (85), Viseu (cf. Mapa 5). Estes resultados parecem estar de acordo com a observação de Cintra:
A grande expansão da variante [?i?] parece-me característica dos falares populares regionais de uma zona de fronteira entre a região em que se produz a monotongação e aquela em que se conserva o ditongo (nas suas variantes [?u?] ou [?u?]) (1983: 45)
Sobre os distritos de Aveiro e Viseu, Leite de Vasconcelos fez algumas observações interessantes nos Opúsculos acerca do comportamento do ditongo ou no distrito de Aveiro: "O ditongo ou aparece monotongado nuns casos, noutros aparece transformado no ditongo ôi: ôro, cumprô, e rôibar, rôibam, môico" (1985: 297). Nos meus resultados para o distrito de Aveiro, observo que os informantes ou monotongam ou utilizam outras estratégias para evitar a monotongação total: outono, ôtono; ouvir, ôvir, roupa, rôpa; pouco, pôco, peuco ([p'æwku]); touro, tôro, tauro ([t'aw?u]); touro, toiro; couro, cauro ([k'?w?u]); couro, coiro; couce, cauce ([k'?ws?]); couce, coice; noute, nôte; noute, noite; outro/outra, ôtro/ôtra; outro/outra, oitro/oitra; fouce, foice. Quanto ao distrito de Viseu, distrito português cuja realização predominante é o ditongo [oj], os meus resultados vão ao encontro das observações de Vasconcelos; o autor aos descrever os falares de Tabuaço (localidade do distrito de Viseu) nos Opúsculos diz: "O ditongo ou sofre na linguagem de Tabuaço diversas transformações, como tenho observado várias vezes […] b) Muda-se em ôi (como em grande parte do distrito de Viseu); exs: ôiteiro, dôido, côiro, ôitro, sôito, môita, côito, biscôito, lôiça (…)" (Ibidem: 252, § 8, b). A partir do Mapa 2 podemos ver que a norte do rio Douro as variantes com maior atestação são os ditongos [ow] e [oj]; a sul do rio, no distrito de Viseu, mas também nos distritos de Aveiro e Guarda, em algumas localidades, já começam a existir localidades com maior uso de [o]. Pode-se admitir que em algumas localidades exista a substituição de ou por oi e que noutros se mantenha o ditongo etimológico oi.
Os resultados apurados para o nordeste português, distrito de Bragança, e leste, distrito da Guarda podem-se confrontar com a situação asturiana, i.e., os falares asturianos (cf. Rodriguez-Castellano, 1954) e os falares fronteiriços do concelho de Sabugal (cf. Maia, 1977). Nestes falares oi surge como forma para evitar a monotongação.
Por fim, através da aplicação de um teste estatístico (Coeficiente de Correlação de Pearson) pude verificar qual o nível de correlação (ou grau de associação) entre as variantes em estudo, procurando especialmente saber se existe uma correlação entre o ditongo [oj] e o monotongo [o] que comprove que o primeiro é usado como forma para evitar o segundo. A Tabela 2 mostra os resultados apurados:
Tabela 2 - Valores de Correlação
Valores de Correlação | |
[ow] [oj] | r = -0,27 |
[ow] [o] | r = -0,98 |
[oj] [o] | r = 0,05 |
O valor de correlação (ou grau de associação) entre [ow] – [oj] e [ow] – [o] é abaixo de 0: 0,27% e -0,98%, o que quer dizer que o grau de associação é negativo, ou seja, quando uma realização aumenta, a outra diminui. Para ambos os pares os resultados mostram que as realizações são independentes. Por outro lado, o valor de correlação entre [oj] [o] apresenta um valor baixo mas positivo 0,05%; quer dizer que existe algum grau de associação entre o ditongo [oj] e o monotongo [o] (cf. com os resultados das ocorrências de [oj] e [o] na Tabela 1 para os distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra, ou seja, as áreas ameaçadas pela monotongação). Quando uma destas realizações aumenta, a outra aumenta de forma igual. Por outras palavras: se existir uma tendência para a monotongação, os valores parecem sugerir que o falante poderá contrariar essa tendência com o uso do ditongo palatal.
4. Conclusão
Este estudo, partindo de uma hipótese levantada por Cintra, verifica-a mediante um estudo sistemático, que inclui a cartografia dos dados. Após a análise de diversos aspetos pude concluir que as observações de Cintra se encontram corretas quanto ao maior uso de [oj] em áreas ameaçadas pela monotongação, especificamente em áreas próximas ou que se encontram na zona de transição dialetal entre a conservação de [ow] e a monotongação em [o]. Nestas áreas a maior incidência do ditongo [oj] deve-se a um esforço para prevenir a monotongação; complementarmente, ocorrem também outras estratégias por parte dos falantes, tais como, realizações variáveis dos ditongos [ow] e [oj], formas que previnem a monotongação. O teste estatístico demonstrou que existe algum grau de correlação entre as variantes [oj] e [o]. Tal fato vem corroborar o uso do ditongo [oj] como esforço de diferenciação vocálica.
Por fim, a título de sugestão para uma futura investigação, se atentarmos de novo para as áreas demarcadas com maior incidência de [oj], destacam-se diversas áreas a sul do rio Mondego e até à península de Setúbal em que [oj] é também predominante. Sem ter tido tempo para uma averiguação mais aprofundada, é interessante comparar a distribuição geográfica destas áreas/localidades com algumas fronteiras lexicais e fonéticas traçadas por Cintra e expostas no artigo "Une Frontière Lexicale et Phonétique dans le Domaine Linguistique Portugais" (1983: 95-105). Nesse artigo, Cintra chama a atenção para o contraste cultural e linguístico que separa o Norte do Sul, acentuado ao longo dos séculos e originado pela ação da «Reconquista».
Referências
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Documento na Internet e morfologia
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Notas
[1]Clarinda de Azevedo Maia dá alguns exemplos em documentos galegos e portugueses: adoutivo (1450 Lugo), doutor (1280 Ponte-Vedra; 1414 Lugo), Outubro (1327 Minho; 1472 Douro Litoral; 1410 Lugo); Oytubro (1401 Minho; 1278 Lugo; 1302 Orense;1348 Orense), Oytobro (1267 Orense).
[2]"Além de couto e coto, a importantíssima variante coyto, uma só vez, na rubrica de I, 2, tal como aparece incluída, no índice do livro, fol.1r do mss. Trata-se de um dos mais antigos exemplos até agora assinalados da passagem em certos casos de ou > oi,.
[3]Mattos e Silva apresenta algumas hipóteses: no Orto do Esposo, finais do séc. XIV, verifica-se a seguinte grafia nuoyte ocorrência que a autora interpreta como podendo ser um indício da variação ou ~ oi – a par de noyte que ocorre 6 vezes. Na tese de Richard D. Abraham, trabalho feito sobre o texto medieval Barlaam e Josaphat, texto do último quartel do séc. XVI, o autor diz existir somente um caso de variação ou~oi: "The diphthongs ou and oi are not confused; cf. ouro (11 vo, 8) and coyro (7 vo, 4); except in one case, i.e., noute (13 vo, 3; 18 vo, 19; 33 ro, 7); cf. noyte (12 ro, 25) which occurs four times".
[4]Informação retirada da recensão de María Rosa Lida de Malkiel a Lucius G. Moffat "Considerations on the Interchange of –ou-, -oi- in Portuguese e publicada na Nueva Revista de Filologia Hispânica (1949: 83-84).
[5]Para os dados do ALPI acedi à base de dados investigável no site ALPI Online: http://www.alpi.ca. Os dados do ALE e do ALEPG foram disponibilizados pelo Centro de Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL) por intermédio da professora Ernestina Carrilho (investigadora) e João Saramago (investigador).
[6]O corpus é formado por palavras cujo ditongo ou provém de au primário, latino ou germânico; au secundário o ditongo é resultante da semivocalização de l do grupo lt; e ainda de outras origens diversas: outono < autumnu-, ouvir < audire, touro < tauru-, pouco < paucu-, cousa < causa, couve < caule-; roupa < raupa; outro e outra < alteru-, couce < calce-, fouce < falcee toupeira < talpa + eira; rouxinol < *lusciniolu-, toucinho < tucca, choupo < popplu e caçoula < *caco ou caçoulo; couro < coriu-; tesoura < tonsoria; oito < octo, dezoito < decem et octo e noite < nocte. As palavras derivadas são compostas por um verbo e os sufixos -douro/-doura ou -doiro/doira.
[7]Em todas as localidades existe co-ocorrência das 3 variantes. Neste mapa, porém, apresento somente as realizações com maior atestação, com inclusão dos casos em que há o mesmo nº de ocorrência das 3 variantes na mesma localidade.
[8]Nos mapas onde aparece a isófona de conservação do ditongo [ow], esta está desenhada o mais próximo possível da de Cintra, com base na informação disponível, começando num ponto acima de Aveiro, a sul de Pardilhó (90) - localidade enumerada no ALPI com o nº 242 -, passando a sul da Murtosa (96), localidade do distrito de Aveiro, infletindo para sul e passando a sul da Lajeosa do Dão (102) - localidade enumerada no ALPI com o nº 240 - infletindo depois para norte passando por terras do distrito de Viseu - localidades que não fazem parte da rede de inquérito do ALPI - e até Granja do Tedo (78), passando a norte desta e a sul de São João da Pesqueira (76) - localidade enumerada no ALPI com o nº 235 - localidade do distrito de Viseu, continuando em direção a Este, passando a norte de Vila Nova de Foz Coa (79) no distrito da Guarda - localidade enumerada no ALPI com o nº 229 - e seguindo o curso do rio Douro até terras de Espanha.
[9]Ditongo [ow]: [?w]: ‘couro’ [k'?w?u]; [æw]: ‘outro’ [æwt?u], ‘outra’ [æwt??], ‘toupeira’ [tæwp'ej??], ‘pouco’ [p'æwku], ‘roupa’ [r'æwp?], ‘touro’ [t'æw?u], ‘couce’ [k'?ws?], ‘caçoula’ [k?s'æwl?]; [aw]: ‘couce’ [k'aws?]; [aw]: ‘touro’ [t'aw?u]; [?w]: ‘couve’ [k'aws?], ‘touro’ [t'æw?u], ‘couce’ [k'?ws?]; [?w]: ‘roupa’ [r'?wp?], ‘touro’ [t'?w?u], ‘couro’ [k'?w?u], ‘couce’ [k'?ws?].
Anexos
Apêndice 1: Mapa 1 - Rede de localidades
(NOTA: ver a Lista de Localidades no Apêndice 2)
Distritos:A=Aveiro,B=Beja,Bç=Bragança,Br=Braga,CB=CasteloBranco,C= Coimbra,E=Évora,F=Faro,G=Guarda,L=Leiria,Lx=Lisboa,Pl=Portalegre,P= Porto, S= Santarém, St= Setúbal, VC= Vianado Castelo, VR= Vila Real, V= Viseu
Apêndice 2: Localidades, distritos e no de ocorrências de [ow], [oj] e [o] por localidade
Localidade e Distrito | Nº de ocorrências por localidade | Localidade e Distrito | Nº de ocorrências por localidade | ||||
[ow] | [oj] | [o] | [ow] | [oj] | [o] | ||
1 - Paderne, VC | 8 | 3 | 0 | 2 - Fornelos, VC | 7 | 3 | 2 |
3 - Castro Laboreiro, VC | 9 | 1 | 0 | 4 - Bade, VC | 8 | 1 | 0 |
5 - Estrica, VC | 9 | 1 | 0 | 6 - Insalde, VC | 7 | 4 | 1 |
7 - Sobreira, VC | 7 | 1 | 1 | 8 - Choças, VC | 9 | 0 | 1 |
9 - Moledo, VC | 18 | 6 | 4 | 10 - Arcos de Valdevez, VC | 7 | 1 | 0 |
11 - Tamente, VC | 7 | 4 | 1 | 12 - Pitões das Júnias, VR | 10 | 2 | 2 |
13 - Montalegre, VR | 6 | 5 | 1 | 14 - Sobreiró, Bç | 8 | 3 | 0 |
15 – S. Lourenço da Montaria, VC | 9 | 3 | 0 | 16 - Gimonde, Bç | 10 | 0 | 2 |
17 - Portuzelo, VC | 8 | 4 | 1 | 18 - Negrões, VR | 8 | 1 | 0 |
19 - Rebordãos, Bç | 7 | 4 | 0 | 20 - Salamonde, Bg | 8 | 2 | 0 |
21 - Sonim, VR | 25 | 2 | 3 | 22 - Lanção, Bç | 16 | 1 | 0 |
23 - Outeiro, Bç | 11 | 3 | 1 | 24 - Castelo do Neiva, VC | 7 | 1 | 1 |
25 – Balugães, Br | 6 | 7 | 0 | 26 - Fiscal, Br | 5 | 1 | 0 |
27 - Covas de Barroso, VR | 11 | 1 | 1 | 28 – Torre de D. Chama, Bç | 9 | 2 | 0 |
29 - Marinhas, Br | 10 | 1 | 0 | 30 - São Romão da Ucha, Br | 10 | 5 | 3 |
31 - Gondomar das Taipas, Br | 9 | 2 | 3 | 32 - Vila Boa de Bucos, Br | 10 | 6 | 1 |
33 - Carrazedo de Montenegro, VR | 3 | 8 | 0 | 34 - Macedo de Cavaleiros, Bç | 8 | 1 | 2 |
35 – Vimioso, Bç | 5 | 6 | 0 | 36 - Esposende, Br | 5 | 1 | 3 |
37 - Cabeceiras de Basto, Br | 8 | 3 | 0 | 38 - Campo de Víboras, Bç | 7 | 2 | 2 |
39 - Apúlia, Br | 5 | 10 | 0 | 40 - Pousada de Saramagos, Br | 5 | 1 | 0 |
41 – Brito, Br | 5 | 5 | 0 | 42 - Guimarães, Br | 10 | 1 | 1 |
43 – Fafe, Br | 5 | 7 | 0 | 44 – Arco de Baúlhe, Br | 6 | 5 | 0 |
45 - Viduedo, VR | 9 | 4 | 1 | 46 - Marmelos, Bç | 16 | 1 | 3 |
47 - Sambade, Bç | 7 | 0 | 1 | 48 - Peredo, Bç | 8 | 4 | 0 |
49 - Algoso, Bç | 6 | 2 | 3 | 50 - Vila do Conde, P | 9 | 3 | 0 |
51 - Gião, P | 7 | 3 | 0 | 52 - Santo Tirso, P | 7 | 6 | 0 |
53 - Barrosas, P | 8 | 3 | 2 | 54 – Vilarinho de Samardã, VR | 5 | 6 | 0 |
55 - Perafita, VR | 8 | 4 | 5 | 56 – Murça, VR | 9 | 2 | 1 |
57 - Vilarinho das Azenhas, Bç | 8 | 4 | 0 | 58 – Penas Roias, Bç | 7 | 7 | 0 |
59 - Travanca, Bç | 9 | 1 | 0 | 60 - Ordem, P | 4 | 1 | 1 |
61 - Mondrões, VR | 7 | 7 | 1 | 62 - Roalde, VR | 10 | 4 | 3 |
63 - Larinho, Bç | 17 | 2 | 0 | 64 – Lagoaça, Bç | 0 | 10 | 1 |
65 - Nevogilde, P | 6 | 7 | 0 | 66 - Gondar, P | 4 | 8 | 0 |
67 – Sedielos, VR | 3 | 5 | 1 | 68 - Mazouco, Bç | 9 | 0 | 3 |
69 - Porto, P | 6 | 3 | 2 | 70 - Sobrado, P | 8 | 5 | 0 |
71 - Marco de Canavezes, P | 13 | 0 | 2 | 72 - Paço do Rei, P | 8 | 2 | 0 |
73 - Sardoura, P | 8 | 1 | 1 | 74 - Sobrado da Paiva, A | 6 | 7 | 0 |
75 - Valença do Douro, V | 3 | 3 | 3 | 76 – S. João da Pesqueira, V | 3 | 8 | 2 |
77 - Pocinho, G | 11 | 1 | 0 | 78 - Granja do Tedo, V | 3 | 6 | 8 |
79 - Vila Nova de Foz- Côa, G | 9 | 3 | 0 | 80 - César, A | 10 | 4 | 2 |
81 - Carvoeiro, A | 10 | 2 | 2 | 82 - Arouca, A | 9 | 1 | 0 |
83 - Ester de Cima, V | 3 | 4 | 1 | 84 - Vale de Matos, V | 2 | 7 | 3 |
85 - Malhada, V | 5 | 2 | 1 | 86 - Moimenta da Beira, V | 2 | 7 | 4 |
87 - Figueira de Castelo Rodrigo, G | 3 | 5 | 9 | 88 - Válega, A | 6 | 0 | 2 |
89 - Covo, A | 7 | 1 | 2 | 90 – Pardilhó, A | 7 | 5 | 0 |
91 - Vila Verde, V | 8 | 1 | 0 | 92 - Avelal, V | 6 | 3 | 3 |
93 – Rãs, V | 3 | 3 | 2 | 94 - Pala, G | 5 | 4 | 4 |
95 - Quinta Nova, G | 1 | 5 | 5 | 96 - Murtosa, A | 1 | 0 | 6 |
97 - Vale da Mula, G | 0 | 4 | 3 | 98 - Casas de Soeiro, G | 0 | 6 | 3 |
99 - Vilar Formoso, G | 0 | 7 | 4 | 100 - Moitinhos, A | 2 | 4 | 5 |
101 - Pardeeiro, A | 7 | 1 | 2 | 102 - Lajeosa do Dão, V | 5 | 6 | 19 |
103 - Figueiró da Serra, G | 2 | 4 | 1 | 104 - Malharda Sorda, G | 0 | 6 | 7 |
105 – Praia de Mira, C | 4 | 5 | 12 | 106 – Mira, C | 6 | 7 | 5 |
107 - Famalicão, A | 1 | 6 | 2 | 108 - Ervedal da Beira, C | 0 | 3 | 7 |
109 - São Romão, G | 0 | 5 | 5 | 110 - Sabugueiro, G | 1 | 5 | 9 |
111 - Belmonte, CB | 0 | 3 | 8 | 112 - Santo Estêvão, G | 0 | 4 | 6 |
113 - Aldeia do Bispo, G | 0 | 6 | 6 | 114 - Fóios, G | 2 | 1 | 5 |
115 – Penacova, C | 1 | 3 | 6 | 116 - Arganil, C | 0 | 3 | 7 |
117 - Unhais da Serra, CB | 0 | 5 | 10 | 118 - Montemor-o- Velho, C | 0 | 6 | 6 |
119 - Vila Pouca do Campo, C | 0 | 12 | 4 | 120 - Papanata, C | 3 | 5 | 11 |
121 - Porto de Vacas, C | 0 | 0 | 13 | 122 - Alcongosta, CB | 0 | 1 | 4 |
123 – Monsanto, CB | 4 | 9 | 23 | 124 - Lavos, C | 0 | 8 | 4 |
125 - Casconho, C | 6 | 2 | 4 | 126 - Antões, L | 6 | 5 | 5 |
127 - Mosteiro, L | 0 | 1 | 9 | 128 - Oleiros, CB | 0 | 5 | 7 |
129 - Cardosa, CB | 6 | 2 | 6 | 130 - Tinalhas, CB | 1 | 1 | 8 |
131- Idanha-a-Nova, CB | 0 | 5 | 20 | 132 - Salvaterra do Extremo, CB | 0 | 3 | 14 |
133 - Vieira de Leiria, L | 0 | 13 | 24 | 134 - Figueiró dos Vinhos, L | 1 | 4 | 6 |
135-Boca-da-Mata, L | 2 | 3 | 13 | 136 - Isna, CB | 0 | 2 | 9 |
137 - Foz do Cobrão, CB | 0 | 2 | 14 | 138 - Rosmaninhal, CB | 0 | 6 | 21 |
139 - Chainça, L | 1 | 8 | 3 | 140 – Igreja Nova do Sobral, S | 0 | 1 | 15 |
141 - Nazaré, L | 2 | 2 | 6 | 142 - Moita do Martinho, L | 2 | 5 | 5 |
143 - Ferreira do Zêzere, S | 1 | 6 | 18 | 144 - Mesão Frio, S | 0 | 5 | 15 |
145 – Cela Velha, L | 0 | 4 | 10 | 146 - Mira de Aire, L | 0 | 4 | 8 |
147 - Montalvo, S | 0 | 4 | 7 | 148 - Pereiro, S | 0 | 7 | 13 |
149 - Belver de Gavião, Pt | 0 | 6 | 7 | 150 - Montalvão, Pt | 0 | 1 | 10 |
151 - Nisa, Pt | 0 | 2 | 8 | 152 - Amiais de Baixo, S | 0 | 0 | 15 |
153 - Vale da Vinha, Pt | 0 | 1 | 8 | 154 - Alpalhão, Pt | 1 | 2 | 34 |
155 - Ferrel, L | 0 | 6 | 11 | 156 - Alcanhões, S | 0 | 4 | 6 |
157 - Dagorda, Lx | 0 | 4 | 14 | 158 - Reguengos, Pt | 0 | 4 | 8 |
159 - Vale de Santarém, S | 0 | 3 | 8 | 160 - Almeirim, S | 0 | 5 | 4 |
161 - Parreira, S | 0 | 3 | 8 | 162 - Vale de Açor, Pt | 0 | 4 | 8 |
163 - Alegrete, Pt | 0 | 7 | 14 | 164 - Póvoa de Penafirme, Lx | 0 | 5 | 6 |
165 - Foros do Arrão, Pt | 0 | 6 | 24 | 166 - Enxara do Bispo, Lx | 0 | 8 | 11 |
167- Glória do Ribatejo, S | 0 | 2 | 11 | 168 – Avis, Pt | 0 | 4 | 14 |
169 - Cabeço de Vide, Pt | 1 | 5 | 24 | 170 - Sobreiro, Lx | 0 | 7 | 4 |
171 - Povos, Lx | 2 | 9 | 1 | 172 - Coruche, S | 0 | 7 | 4 |
173 - Santa Justa, S | 0 | 6 | 8 | 174 - Campo Maior, Pt | 2 | 14 | 12 |
175 - Assafora, Lx | 0 | 5 | 13 | 176 - Freixial, Lx | 0 | 7 | 9 |
177 – S. Lourenço de Maporcão, E | 0 | 1 | 9 | 178 - Fontanelas, Lx | 0 | 7 | 13 |
179 - Aldeia Galega, Lx | 0 | 10 | 9 | 180 - Almargem do Bispo, Lx | 0 | 6 | 5 |
181 - Alcochete, St | 0 | 5 | 8 | 182 - Lavre, E | 0 | 4 | 12 |
183 – S. Romão, E | 1 | 10 | 17 | 184 - Alcabideche, Lx | 4 | 8 | 3 |
185 - Lisboa, Lx | 0 | 6 | 12 | 186 - Canha, St | 0 | 4 | 21 |
187 - Arraiolos, E | 0 | 4 | 15 | 188 - Alandroal, E | 0 | 4 | 9 |
189 - Moita, St | 0 | 7 | 3 | 190 - Palmela, St | 1 | 2 | 14 |
191 – Foros do Baldio, B | 0 | 2 | 11 | 192 – S. Matias, E | 0 | 3 | 7 |
193 - Senhora da Machede, E | 0 | 2 | 12 | 194 - Terena, E | 0 | 2 | 6 |
195 - Santana, St | 0 | 6 | 5 | 196 - Palma, St | 0 | 2 | 8 |
197 - Alcáçovas, E | 0 | 10 | 20 | 198 - Carrapatelo, E | 0 | 9 | 21 |
199 - Água Derramada, St | 0 | 1 | 9 | 200 - Santana, E | 0 | 1 | 10 |
201 - Melides, St | 0 | 5 | 12 | 202 - Grândola, St | 0 | 8 | 16 |
203 - Barrancos, B | 0 | 4 | 8 | 204 - Peroguarda, B | 0 | 7 | 23 |
205 - Porto Covo, St | 0 | 8 | 19 | 206 - Foros da Casa Nova, St | 0 | 0 | 12 |
207 – Quintos, B | 0 | 4 | 11 | 208 - Serpa, B | 3 | 5 | 21 |
209 - Aljustrel, B | 0 | 6 | 9 | 210 - Corte Cobres, B | 0 | 3 | 7 |
211 - Vale Chaim de Baixo, B | 0 | 1 | 8 | 212 - Ourique, B | 0 | 2 | 11 |
213 - Mértola, B | 1 | 2 | 9 | 214 – Zambujeira do Mar, B | 0 | 2 | 16 |
215 - Mesquita, B | 0 | 1 | 5 | 216 - Penteadeiros, F | 1 | 5 | 11 |
217 - Aljezur, F | 0 | 7 | 16 | 218 - Marmelete, F | 0 | 9 | 12 |
219 - São Marcos da Serra, F | 0 | 5 | 14 | 220 - Laranjeiras, F | 0 | 6 | 10 |
221 - Alte, F | 0 | 7 | 22 | 222 - Alta Mora, F | 0 | 6 | 14 |
223 - Vila do Bispo, F | 0 | 7 | 11 | 224 - Salema, F | 2 | 10 | 18 |
225 - Alvor, F | 0 | 6 | 11 | 226 - Quarteira, F | 0 | 6 | 12 |
227 – Fuseta, F | 0 | 9 | 21 | 228-Santa Luzia, F | 0 | 4 | 11 |