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Revista Diacrítica

versão impressa ISSN 0870-8967versão On-line ISSN 2183-9174

Diacrítica vol.38 no.2 Braga ago. 2024  Epub 09-Mar-2025

https://doi.org/10.21814/diacritica.5666 

Articles

"UMA GRANDE SURPREZA” A ATIVIDADE CONCERTÍSTICA DE GUITARRISTAS ESPANHÓIS EM PORTUGAL (1854-1909)

"A GREAT SURPRISE" THE CONCERT ACTIVITY OF SPANISH GUITARISTS IN PORTUGAL (1854-1909)

* Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, Instituto de Etnomusicologia Centro de Estudos em Música e Dança.


Resumo

O presente artigo visa contribuir para a história da guitarra clássica em Portugal entre 1854 e 1909 através de uma análise dos artigos publicados pela imprensa da época. Será apresentada e discutida a presença e atividade performativa de concertistas internacionais espanhóis em Portugal, nomeadamente Francisco Trindad Huerta, Antonio Cano, José Rojo e José Toboso, Antonio Jiménez Manjón, Luis de Soria, Agustin Rebel Hernandéz, Rafael Tost, Brassó e Peraire. O artigo descreve as suas viagens, concertos e programas; reflete a receção, por vezes contrastante, que os diversos artistas internacionais mencionados encontraram da parte do público e da crítica, bem como o uso da guitarra em diversos contextos sociais e artísticos durante o século XIX em Portugal.

Palavras-chave: Guitarra Clássica; História; Portugal.

Abstract

The present article aims to contribute to the history of classical guitar in Portugal between 1854 and 1909 through an analysis of articles published by the press of that time. It presents and discusses the itineraries and performances of Spanish international concert guitarists in Portugal, including Francisco Trinidad Huerta, Antonio Cano, José Rojo, José Toboso, Antonio Jiménez Manjón, Luis de Soria, Agustin Rebel Hernández, Rafael Tost, Brassó, and Peraire. The article describes their travels, concerts and musical programs, reflecting the sometimes-contrasting reception from the public and critics, as well as the use of the guitar in various social and artistic contexts during the 19th century in Portugal.

Keywords: Classical Guitar; History; Portugal.

1. Introdução

O presente texto visa contribuir para o conhecimento da história da guitarra clássica em Portugal. Trabalhos recentes como (Pinheiro, 2010), (Caetano, 2015), (Amorim, 2018), (Rei-Samartim, 2020), (Rodrigues, 2021), (Taborda, 2021), (Soares, 2023) e (Namora, 2023) são um importante alerta sobre o reduzido saber gerado em torno deste instrumento em Portugal entre 1850 e 1950. O artigo procura, através de artigos de imprensa da época, revelar e explorar a atividade concertística de guitarristas espanhóis em Portugal, bem como demonstrar a receção dos músicos pelo público e pela crítica nos diversos contextos sociais e artísticos. Após análise e coleta de dados, dada a dimensão dos mesmos, decidiu-se dividir este período de 100 anos, e o artigo atual contemplará, grosso modo, a segunda metade do século XIX e, por uma questão de coerência no que diz respeito ao modelo governativo, a primeira década do século XX. Em termos políticos, abrange a fase quase inicial da Regeneração de 1851 até às vésperas da Implantação da República (Lains, 1995). O espectro temporal exato que se encontra em análise, 1854 a 1909, corresponde, como se verá, ao primeiro concerto de Trinidad Huerta e ao último concerto conhecido de Rebel Hernandéz.

2. Concertistas espanhóis

2.1. Trinidad Huerta

A presente secção irá demonstrar a presença e circulação de concertistas espanhóis em Portugal entre os anos de 1854 e 1909. Segundo Emilio Pujol (1886-1980) na década de 1850, “Los nombres que gozaban de mayor prestigio entre los guitarristas españoles de este período eran los de Trinidad Huerta, Antonio Cano, Juan Parga y Julián Arcas” (1960, p. 67). Consequentemente, um dos momentos mais significativos no âmbito do concertismo guitarrístico desse período foi a vinda a Lisboa do virtuoso espanhol Francisco Trinidad Huerta (Figura 1) em 1854. Huerta (1800-1874) era já reconhecido internacionalmente como o “Paganini da Guitarra”, um músico cuja notoriedade era tão marcante que o seu nome foi mencionado no tratado de orquestração de H. Berlioz, datado de 1844. O primeiro concerto de Huerta em Lisboa foi anunciado no jornal Imprensa e Lei de 20 de agosto de 1854:

THEATRO DO GYMNASIO Segunda feira, 21. - Tendo chegado a esta capital o sr. Huerta, célebre tocador de viola francesa, dará o seu primeiro concerto n'esta noite: 1.º grande phantasia sobre motivos da ópera Semiramis, composição do mesmo; 2.º gran marcha nacional hespanhol com variações, composição do mesmo; (“Espectáculos”, 1854a) 1

Tendo em consideração o programa divulgado, importa mencionar o formato que as atuações dos guitarristas assumiam. Assim, era frequente que tais apresentações tivessem lugar nos intervalos de espetáculos de tipologia tão variada como, a título de exemplo, óperas, teatro e bailados ou, como verificaremos mais tarde, de zarzuelas no caso de diversos músicos espanhóis. Huerta irá apresentar-se novamente no Theatro do Gymnasio no dia 25 de agosto de 1854. O mesmo periódico, datado de 24 de agosto de 1854, indica o seguinte programa: “1º Ouverture de Rossini; 2º Variações, sendo uma delas executada exclusivamente com a mão esquerda” (“Espectáculos”, 1854b). A diferenciação da descrição do programa pode revelar como este elemento técnico-musical era incomum (e algo surpreendente) na prática de então. Após estes dois concertos, surge ainda no mesmo diário, a notícia do evento de dia 28 de agosto de 1854, novamente no Theatro do Gymnasio, onde “Terá lugar o benefício do sr. Huerta, célebre tocador de viola franceza” (“Espectáculos”, 1854c). Huerta iria, a 7 de setembro, ter a possibilidade de se apresentar perante o rei D. Fernando II, a quem dedicaria a fantasia “Souvenir de Cintra” (Suárez-Pajares, 2020).

Figura 1:  Capa de “Souvenir de Cintra” de Francisco Trinidad Huerta2 Fonte: Imagem gentilmente cedida por Rui Namora. 

2.1.1. Antonio Cano

O próximo guitarrista internacional a visitar Lisboa foi, segundo as fontes consultadas, Antonio Cano (1811-1897). 3 Apresentou-se, à semelhança de Trinidad Huerta, no Theatro do Gymnasio onde teve possibilidade de realizar três concertos entre 29 de agosto e 8 de setembro de 1855 (“Espectáculos”, 1855). O programa anunciado consistia em “Primeira Parte. - Phantasia com variações brilhantes composta e executada pelo dito sr.; Segunda Parte. - Capricho sobre motivos da opera Marino Faliero, e polaca brilhante pelo mesmo sr.”. Antonio Cano regressaria a Lisboa nos anos de 1871 e 1894. A 20 de junho de 1871 apresentou-se novamente no Theatro Gymnasio com uma obra intitulada “Variações de viola franceza” (“Espectaculos”, 1871). A notícia de 1894, ano da última visita de Cano a Lisboa é mais lacónica, pois refere “Está em Lisboa o notável professor de viola franceza, Antonio Cano. Vae dar brevemente um concerto n’um dos theatros” (“Echos da Havaneza”, 1894).

À semelhança de Trinidad Huerta, os encontros de Cano com a monarquia portuguesa encontram-se refletidos na produção artística disponível na Biblioteca do Palácio Real de Vila Viçosa (Alegria, 1989) com as seguintes obras: “Ultimo pensamento / de Weber / arranjado para viola franceza / por Antonio Cano”; “As brisas de Cintra / valsa brilhante / por Antonio Cano. // Para viola francesa. Oferta à Rainha Senhora D. Amélia”; “Peteneras Sevilhas / para / Viola franceza / por / Antonio Cano. // (...) Oferecido ao Rei D. Fernando.”

A notícia do seu falecimento (ocorrido a 21 de outubro de 1897) foi publicada na revista Amphion de 15 de dezembro de 1897: “Com 86 annos e na mais profunda miseria, falleceu em Madrid Antonio Cano celebre professor e concertista de viola franceza.” (“Noticiário”, 1897). Tendo em consideração a relação construída ao longo de várias décadas com o público português e o reconhecimento internacional deste artista, a menção não deixa de surpreender pela sua diminuta dimensão.

2.1.2. Antonio Cano/ap

Existe, no entanto, uma inusitada série de acontecimentos posteriores que envolvem o nome de Antonio Cano enquanto intérprete de viola francesa em Portugal entre os anos de 1905 e 1908, na região de Braga. Assim, como demonstrado pela notícia transcrita seguidamente, é possível saber que o apócrifo concertista Antonio Cano (doravante designado como Antonio Cano/ap.), de muito modesta aparência, se encontra em Braga onde pretende apresentar-se ao público após realizar concertos em Vigo e Viana do Castelo. Reside há mais de 30 anos em Lisboa e já teve a possibilidade de tocar na presença do imperador do Brasil (referência provável a D. Pedro II, 1831-1889) e do rei D. Luiz I (1838-1889).

Concertista notavel Encontra-se n'esta cidade o applaudido concertista de viola franceza, snr. D. Antonio Cano, que pretende dar aqui alguns concertos. Vem de Vigo e de Vianna do Castello, onde se fez ouvir foi apreciadissimo, como se vê dos jornaes d'aquellas cidades, que lhe tecem largos elogios. O snr. D. Antonio Cano reside em Lisboa ha mais de 30 annos, tendo tido a honra de tocar na presença dos fallecidos imperador do Brazil e rei D. Luiz I, e na de muitas outras pessoas de distincção, que lhe conferem a sua estima. É um artista muito modesto na apparenzia, mas de verdadeiro valor na precisão e mimo com que executa deliciosas musicas no seu instrumento favorito - a viola franceza. (“Concertista Notável”, 1905)

No número do Comércio do Minho de 16 de maio do mesmo ano (“Conferencia-Retrato”, 1905) é referida a participação de Antonio Cano/ap. em uma conferência decorrida no Circulo Catholico de Operários em Braga: “nos intervallos (...) o apreciavel concertista D. Antonio Cano executou no violão alguns trechos de musica, sendo muito aplaudido.”. A 4 de setembro de 1906 (“Concertista de Violão”, 1906) é possível saber que “Regressou do Gerez, onde foi muito bem recebido e apreciado, o habil concertista de viola franceza snr. Antonio Cano. Hoje parte para Vizella, onde certamente não deixará de ser egualmente apreciado.”.

A 13 de agosto de 1907, identifica-se nova publicação no Commercio do Minho onde podemos ler “O snr. Antonio Cano, habil professor de viola franceza, partiu para o Gerez, onde vae dar alguns concertos. É de esperar que sejam muito concorridos, attento o merecimento do artista.” (“Concertista”, 1907). A 4 de agosto de 1908 surge, sempre no Commercio do Minho, a última notícia encontrada sobre as atividades artísticas de Antonio Cano/ap.:

Concertista de violão Encontra-se n'esta provincia, em tournée artistica pelas estancias thermaes, o distincto professor concertista de viola franceza, snr. Antonio Cano, devéras apreciado onde quer que se apresenta, pelo primor com que executa n'aquelle instrumento bellos trechos de musica. Este eximio artista compoz ultimamente uma Melodia sentimental para violão, dedicada á memoria do rei D. Carlos e do principe real, indo ao paço das Necessidades offerecel-a a ss. mm. el-rei D. Manuel e rainha snr.ª D. Amelia que effusivamente agradeceram o delicado brinde. (“Concertista de Violão”, 1908, p. 1)

A atividade artística de Antonio Cano/ap. não pode deixar de suscitar diversas dúvidas, a começar pela identidade do músico e a veracidade de alguns elementos publicados, e.g., as apresentações perante a monarquia e a positiva receção concedida pelos diferentes monarcas. De igual modo, não foi possível encontrar, à data da escrita do presente trabalho, uma obra que se identifique com a tal “Melodia sentimental”, bem como a sua autoria. Existe, em termos geográficos, uma indubitável circunscrição à região de Braga/Gerês ao longo destes anos de atividade, não tendo sido encontrada qualquer outra referência a Antonio Cano durante este período em outras regiões e publicações portuguesas. Não foi possível determinar o grau de relacionamento (se existente) com Antonio Cano e exclui-se a possibilidade de descendência direta, pois o seu filho, Federico Cano, viveu entre 1838 e 1904. Diante das incertezas que envolvem a figura de Antonio Cano/ap., resta-nos mergulhar futuramente na pesquisa para desvendar os mistérios que permeiam a sua trajetória artística na região do Minho lusitano.

2.2. José Martínez Toboso e José Rojo

O ano de 1885 foi particularmente rico em acontecimentos guitarrísticos de escopo internacional, pois Portugal recebeu importantes figuras como Antonio Jiménez Manjón, José Toboso e José Rojo. Curiosamente, todos os músicos mencionados usavam guitarras com um número de cordas superior às seis cordas mais comuns, mais especificamente onze cordas, tendo estes instrumentos sido construídos por Antonio de Torres (Romanillos, 2004, p. 60).

O nome de José Martínez Toboso (1857-1913) não granjeia atualmente a fama de outros tempos, mas foi um dos mais ativos intérpretes da segunda metade do século XIX4. Toboso foi discípulo de Julián Arcas e amigo de Francisco Tárrega com quem partilhou concertos (Prando, 2021) e algumas cómicas vivências relatadas por Pujol no seu Ensayo Biográfico dedicado a (Tárrega, 1960, p. 72). Originário de Valência, realizou concertos, segundo a presente investigação, em Portugal desde janeiro de 1885 até janeiro de 1886. Nos primeiros meses de 1885 (janeiro-março) a sua atividade concertística teve lugar na região de Lisboa em duo com José Rojo (1867-?), com quem, segundo Prat, Toboso se apresentava em concerto na Península Ibérica desde 1882, i.e., desde os quinze anos de Rojo (Prat, 1934, p. 196). O registo posterior indica que os concertos de José Toboso se realizaram a solo em várias cidades do país. Uma das primeiras notícias, datada de 8 de janeiro de 1885 e publicada no jornal Commercio de Portugal, relata a ida de Toboso e Rojo à redação do diário Correio da Noite. Esta ação de divulgação do duo foi, tal como se pode ler, bem recebida pelos jornalistas que prontamente publicaram uma elogiosa notícia sobre a chegada dos músicos onde enalteceram as suas qualidades artísticas e musicais:

Guitarristas hespanhoes - Estão em Lisboa dois artistas muito distinctos, os srs. D. José Toboso e D. José Rojo, que tocam viola franceza com muita correcção. Foram hontem ouvidos por varios jornalistas, reunidos na redacção do nosso collega Correio da da Noite, sendo applaudidos com muita justiça. Notamos-lhe muita affinação, execução e especialmente bom gosto e sentimento, tirando das suas violas de onze cordas, todos os effeitos de que aquelles instrumentos são susceptiveis. (“Guitarristas Hespanhoes”, 1885)

Tal como se verá com Manjon mais adiante, a oferta de concertos para membros da imprensa aquando da chegada a uma cidade era um processo costumeiro que permitia, com celeridade, travar conhecimentos e contactos passíveis de organizar e promover novos concertos, ganhar destaque na imprensa e, finalmente, capitalizar o escasso tempo que iriam passar no local. O mesmo jornal informa que estes músicos haveriam de participar num sarau organizado pela Associação Portuguesa de Jornalistas e Escritores Portuguezes, que teria como objetivo a recolha de fundos para as vítimas do tremor de terra que teve lugar na Andaluzia a 25 de Dezembro de 1884 (“Concerto”, 1885d). Tal como se pode ler em O Occidente (“Chronica Occidental”, 1885), a magnitude deste evento destruidor catalisou o apoio internacional e, em Portugal, para além de Lisboa, eventos beneficentes foram organizados nas cidades de Porto, Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra e Elvas. O duo Toboso-Rojo participou, por mais do que uma vez, como atração principal destes eventos.

Os dois músicos iniciam de seguida um périplo pelos principais teatros lisboetas: a 17 de Janeiro apresentam-se no Theatro do Gymnasio (“Festas d’ámanhã”, 1885); a 18 de Janeiro no Theatro do Principe Real (“Foyer”, 1885a) e; a 31 de Janeiro no Theatro da Trindade (“Foyer”, 1885b) para novo evento de solidariedade para com as vítimas andaluzas promovido pela associação espanhola La Fraternidad. A 4 de março de 1885, encontramos o seguinte anúncio ao concerto do duo:

No sabbado próximo, 7 do corrente, realisa-se no theatro do Gymnasio um beneficio que deve sem duvida ser muito concorrido. Tomarão parte no espectaculo os insignes concertistas de guitarra José M. Toboso e José Rojo que abrilhantarão a festa com as melhores peças do seu variado e selecto reportorio. Estes artistas malagueños, em cujo beneficio reverterá o espectaculo d'essa noite, são dignos do favor do publico, além de eximios executantes, o que constitue um duplo motivo de attração e sympathia da parte dos diletanti. (“Guitarristas Malagueños”, 1885, p. 2)

Apesar da incorreta denominação da origem geográfica dos intérpretes (Rojo é originário de Toledo e Toboso de Valência), é evidente o tom laudatório com que se reverencia o duo, o que comprova o seu percurso e reconhecimento crescente durante a estadia em Lisboa. Este foi o último registo encontrado de um concerto partilhado pelo duo José Martinez Toboso-José Rojo. Após este evento, foi possível constatar um hiato de várias semanas no que diz respeito à publicitação da atividade concertística dos artistas mencionados na imprensa local.

Será já no mês de maio que o nome de José Toboso volta a surgir mencionado nos jornais, mais especificamente n’O Tribuno Popular, jornal de Coimbra, datado de 9 de maio de 1885. O jornal anuncia aquilo que, independentemente da época e país, terão sido dois concertos protagonizados e partilhados por dois dos maiores virtuosos da história da guitarra: José Martínez Toboso e Antonio Jiménez Manjon. O percurso individual de Antonio Jiménez Manjon em Portugal será, à semelhança do itinerário de Toboso, discutido posteriormente neste documento com maior detalhe. Na notícia d’O Tribuno Popular (“Matiné”, 1885), é possível conhecer a positiva receção que os músicos receberam no concerto anterior bem como o repertório apresentado:

Matinée Tem ámanhã logar uma matinée nas salas da academia dramatica á 1 hora da tarde. Apresentam-se novamente os applaudidos concertistas de viola, Toboso e Gimenez, que se fizeram já ouvir no domingo passado, e que tanto agradaram. Estes artistas são auxiliados com a cooperação dos estudantes Costa Macedo, Agostinho Rego, Bernardo Lucas, Solano d'Abreu, Belchior Figueiredo e Eugenio de Castro. O programma é o seguinte: 1.ª PARTE TOBOSO E GIMENEZ 1.º - Symphonia de Jean d'Arc...Verdi 2.º - Sonho Dourado (walsa)...Strauss 3.º - Moraima.................Spinosa 2.ª PARTE 1.º - Symphonia da opera Semiramis... Rossini 2.º - Serenata Mourisca .......Chapê 3.º - Dolores (walsa)....Waudteufeul 3.ª PARTE 1.º - Thema Allemão............Aumel 2.º - Celestal (Mazurka)......Toledo 3.º - Vorrey Morire (Melodia)..Tosti 4.º - Andante................Gimenez 5.º - Canto Arabe.............Cuevas 6.º - Habanera................Toboso 7.º - Estudantina............. >>

Trata-se, portanto, de um anúncio ao segundo concerto que terá lugar na Academia Dramática de Coimbra a 10 de maio, não tendo sido possível, até à data, encontrar uma publicação relativa ao mencionado primeiro concerto de dia 3 de maio. O programa, ainda que partilhado com Manjon, consiste principalmente em obras que Toboso tocou em duo ao longo da sua vida com diversos guitarristas como, por exemplo, Parga, Moreno, Romans, Rojo, Plá ou Gil-Orozco (Mangado, 2021). As duas primeiras partes do concerto foram exclusivamente interpretadas em duo e, formalmente, revelam semelhanças estilísticas entre si. Constam, em ambas, transcrições de aberturas de ópera, obras de caráter dançante e, finalmente, obras de compositores espanhóis, o alicantino Ruperto Chapí e o murciano Gaspar Espinosa. A terceira parte tem início com uma peça denominada “Thema Allemão” de Aumel. Este é, na realidade, o duo “Introduction und Variationen über einen beliebten Walzer von Himmel” (Introdução e Variações sobre uma valsa favorita de Himmel), Op. 16, para duas guitarras ou piano, composta por Wilhelm Neuland. A obra, publicada em 1834, acompanhou Toboso ao longo da sua vida profissional e apresenta denominações bastante variadas (Mangado, 2021). Posteriormente, foram interpretadas obras a solo pelos dois músicos e, após confronto com outros programas de concertos da altura, é possível sugerir a seguinte distribuição: Toboso interpretou uma obra de Fermín Toledo e, muito provavelmente, “Vorrei morire” de Francesco Paolo Tosti (sabendo que Manjón também realizou um arranjo desta obra, é plausível que a tenha interpretado). Seguidamente, Manjón tocou a sua obra (Andante) e uma obra de Cuevas. Não foi possível recolher informações sobre as restantes obras (“Habanera” e “Estudantina”) cuja autoria recai, no anúncio, em José Toboso.

De Coimbra, José Toboso segue para o norte do país e surgirá, no jornal A Folha de Vila Verde datado de 21 de junho de 1885, a notícia da sua chegada a Braga: “Está n'esta cidade, onde tenciona dar alguns concertos de guitarra, o snr. José M. Toboso, concertista distincto e de grande nomeada.” (“Notícias de Braga”, 1885). Assim, a 1 de julho de 1885 poderemos ler que foi “n'uma sala do sr. Vianna, na Arcada, que na noite de quarta-feira se realisou o concerto de violão a 12 cordas, dado pelo distincto concertista hespanhol, sr. Toboso.” (“Concerto”, 1885b). A mesma publicação relata como “o habil concertista foi muito aplaudido pelos numerosos cavalheiros presentes” para posteriormente indicar um novo concerto de Toboso na Assembleia Bracarense no dia 4 de julho. Sucede-se novo hiato de notícias entre a publicação anterior e o excerto “Chronica das Praias” do Jornal da Noite de 17 de setembro de 1885 (“Chronica das Praias”, 1885), no qual se dava nota que Toboso se encontrava hospedado num hotel da praia da Granja onde participava, com grande sucesso, em saraus artísticos.

Tendo em conta a distância temporal entre os eventos de Coimbra e de Braga (43 dias) e o espaço das publicações entre Braga e Granja (77 dias), será provável que Toboso tenha mantido a sua atividade artística e realizado concertos nas principais cidades portuguesas (p.e., Porto ou Aveiro) durante estas semanas. Esta hipótese é confirmada pela seguinte notícia publicada no número de 5 de novembro do Economista (1885); mau grado, não foi possível identificar, à presente data, outras fontes mais específicas sobre os programas apresentados e a data de realização dos concertos:

Acha-se em Coimbra o distincto violista D. José Toboso, já conhecido no Porto, onde deu alguns concertos, assim como na Foz e em Mathosinhos. D. José Toboso dará um concerto unico na primeira d'aquellas cidades, em um dos salões do Club Academico; de Coimbra virá a Lisboa. (“Várias Noticias”, 1885b).

Para além do anúncio ao concerto de Coimbra, podemos traçar parte da trajetória artística prévia de Toboso, que inclui apresentações em locais de destaque como Porto, Foz (muito provavelmente Foz do Douro ainda que (Mangado, 2021) sugira Figueira da Foz com base na mesma fonte noticiosa) e Matosinhos. A realização de concertos em cidades tão distintas sugere uma ampla gama de contactos e uma reputação consolidada como músico itinerante. A notícia seguinte surge já a 7 de janeiro de 1886 e confirma a chegada de Toboso a Lisboa:

Real Gymnasio Club Realisou-se hontem n'esta sociedade a apresentação do distincto concertista hespanhol o sr. D. José Toboso, que fez ouvir perante uma selecta concorrencia de socios e senhoras de sua familia, alguns trechos em viola, admiráveis pela execução e sentimento. Confessamos que é a primeira vez que ouvimos tocar aquelle instrumento com tanta mestria. (“Real Gymnasio Club”, 1886).

As notícias seguintes surgem já do país vizinho, descrevendo um concerto de Toboso na cidade de Badajoz no dia 26 de junho de 1886 (Mangado, 2021). A 4 de julho de 1886 sabemos, pela descrição presente em “Elementos para um dicionário de Geographia e Historia Portugueza. Concelho d’Elvas e extinctos de Barbacena, Villa-Boím e Villa Fernando, Victorino d’ Almada, 1889” que Toboso recebe de António Simões de Carvalho Barbas, 5 importantíssima figura da história da música em Portugal, uma obra de concerto (Caetano, 2015).

A última notícia encontrada durante a presente pesquisa referente a um evento com a participação de Toboso em Portugal data de 25 de agosto 1886 e localiza-o no Luso onde realiza concertos e participa em encontros com a aristocracia (s.n., 1886).

Aproxima-se o final do percurso de Toboso. A sua estadia em Portugal foi uma das mais longas retratadas no presente trabalho (segunda apenas para a trajetória artística de Rebel Hernández), pois durou mais de um ano e meio. A sua atividade nas diversas cidades foi apoiada, evidentemente pela sua qualidade musical, mas também pela divulgação e repercussão da sua receção na imprensa e pela sua capacidade de relacionamento com várias camadas da sociedade. Não terá sido um percurso isento de imprevistos artísticos, como a eventual transição de concertos em duo com José Rojo para concertos a solo, pois uma análise ao percurso global de Toboso revela uma clara preferência pelas apresentações em duo, formação com a qual ocupará a maior parte da sua vida profissional (Mangado, 2021). O regresso a Lisboa pode ter tido uma receção menos entusiasta do que aquela esperada por Toboso, mas, após um ano de intensa atividade, é expectável que o efeito novidade tenha diminuído com o tempo. Após nova partida da capital, o percurso de Toboso levá-lo-á à Galiza onde, segundo Rei-Samartim, alcançará novos públicos e sucessos em Santiago de Compostela a novembro de 1886 (2020, p. 516).

2.3. Antonio Jiménez Manjón

2.3.1. Primeira Tournée Portuguesa (1885-1886)

Antonio Jiménez Manjón (1866-1919) foi um dos mais destacados intérpretes e compositores para guitarra da segunda metade do século XIX. Não obstante a sua valiosa contribuição para a história da guitarra, a informação referente aos seus primeiros vinte anos é escassa e, por vezes, contraditória. Nascido em Villacarrillo (Jáen), cego desde o primeiro ano de vida, Manjón deixou a sua vila natal para realizar concertos com apenas catorze anos de idade graças às suas precoces qualidades musicais (Altamira, 2012). Portugal conhecerá Manjón em 1885, três meses depois do fatídico terramoto de 25 de dezembro de 1884 na Andaluzia. A primeira notícia encontrada sobre a atividade artística de Manjón data de 15 de março e, dada a riqueza de detalhes aí contida, encontra-se seguidamente reproduzida na íntegra:

Telegrammas e correspondencias TORRES NOVAS, 16 Sabbado houve aqui um concerto no club dado por um artista hespanhol que toca admiravelmente viola. Chama-se D. Antonio Gimenez. Já tinha dado dois concertos em Abrantes; partiu domingo para Santarem, onde vae dar tambem alguns concertos, suppondo-se que irá em seguida a Lisboa. É um verdadeiro artista, antigo alumno do conservatorio de Paris. Tem de dezoito a vinte anos, é muito sympathico, pequeno buço loiro, e é cego. Nasceu na Andaluzia, que foi forçado a abandonar por causa dos terramotos. Toca musica hespanhola caracteristica, habaneres, peteneras, etc. musica italiana e musica classica com execução magistral. Esteve muito animado o concerto, a que assistiram as principaes familias da terra, muitos officiaes, auctoridades judiciaes e administrativas, etc. O artista não marcou preço de entrada. Um official de artilheria encarregou-se de fazer uma quête desde que soube das precarias circumstancias em que se encontrava o violinista, conseguindo obter 7 libras. Tem sido muito concorrida e animada a feira no Rocio do Carmo, chamada feira de março. E nada mais por agora tenho a communicar-lhes (“Telegrammas e correspondências”, 1885).

Podemos então traçar o primeiro percurso de Manjón em Portugal: durante as primeiras semanas de março encontra-se em trânsito pela região centro do país e passa por Abrantes, a 14 de março apresenta-se em Torres Novas, e, a 15 de março, parte para Santarém onde terá realizado concertos. A 29 de março, Manjón apresenta-se à imprensa lisboeta num concerto realizado numa das salas do jornal Commercio de Portugal tendo o concerto sido divulgado não apenas naquele periódico (1885a), mas também n’A Nação (“Concertista”, 1885) e n’O Economista (“Várias Noticias”, 1885a). Manjón é descrito como “um moço muito simpathico e um artista digno de proteção” (“Concerto”, 1885a) e como um "habilissimo tocador de viola.” (...) “O sr. Antonio Gimenez, além de ser artista eximio, é cego, e isto basta para que mereça protecção.” (“Concertista”, 1885). No entanto, não foi possível encontrar outras notícias referentes a concertos ou apresentações públicas ocorridas em Lisboa nas semanas subsequentes. A leitura dos jornais lisboetas (Commercio de Portugal, O Economista, A Nação, Diário Illustrado) publicados no período decorrido entre o dia 29 de março e o dia 3 de maio de 1885 (data do concerto de Manjón e de Toboso em Coimbra) não permitiu, salvo erro inadvertido, encontrar registos de qualquer outra atividade artística de Manjón na capital portuguesa. A notícia seguinte surge, pois, já em Coimbra para anúncio dos já mencionados concertos de Toboso e Manjón de 3 e 10 de maio de 1885. Manjón continuou a sua viagem em direção ao norte de Portugal (terá ele viajado com Toboso?) e, a 9 de agosto, é anunciado um concerto seu em Braga, mais especificamente na Sociedade Democrática Recreativa Bracarense (“Concerto”, 1885c). Uma breve recensão surgirá, dias depois, publicada no Commercio do Minho:

Concerto. - Realisou-se na noite de domingo na Sociedade Democratica um magnifico concerto de viola franceza, pelo eximio artista cego, Antonio Jimenez. Executou o desventurado moço formosissimos trechos classicos, recebendo ovações unanimes e prolongadas dos numerosos espectadores (“Concerto”, 1885d).

Novamente, o período entre Coimbra (10 de maio) e Braga (9 de agosto) comporta uma distância temporal muito expressiva. À semelhança do percurso de Toboso, podemos identificar diversas possibilidades geográficas para apresentação entre estas duas cidades, com especial relevância para o Porto. Adicionalmente, existe um novo vazio entre o concerto de Braga de 9 de agosto de 1885 e a notícia de um novo concerto que terá lugar quase um ano depois, a 5 de junho de 1886, e novamente em Braga:

Concerto. Realisa ámanhã no elegante salão do Atheneu Commercial, da rua de Santo André o concerto de viola franceza o snr. D. Antonio Gimenez Monjon. Os applausos que este artista insigne tem arrancado a todos os innumeraveis espectadores das principaes cidades e villas do paiz, onde perante quem tem revellado a sua notavel mestria artistica, e o sentimento fino impressionativo que sabe imprimir às suas execuções, são a mais eloquente recommendação que lhe podemos fazer. O snr. Monjon é um artista consummado; um artista d'alma que não só comprehende o bello da musica mas sabe traduzir o belo da musica com especial elegancia e mimo, em um instrumento tam difficil como é a viola franceza. (“Concerto”, 1886)

O enaltecimento francamente elogioso e poético com que o autor da notícia descreve Manjón, concede um desfecho honroso e memorável ao reconhecimento e ao percurso, já longo, deste músico em Portugal.

No atual momento da investigação, não nos foi possível identificar fontes primárias que nos especifiquem a atividade concertística de Manjón na cidade do Porto, embora aquela citada por Rei-Samartim, reproduzida abaixo, referente a um concerto na Galiza a 15 de junho de 1886, corrobore a sua participação em concertos no Palácio de Cristal.

Se halla de paso en esta capital el notable concertista Don Antonio Gimenez Manjon que á juzgar por referencias y lo que de él dicen los periódicos que tenemos á la vista es un verdadero y concienzudo artista que no puede confundirse con las vulgaridades que á cada paso se presentan con tan honroso título. Su especialidad es la moderna guitarra de once órdenes que los portugueses llaman viola francesa. El último punto en donde actúo el señor Manjon fué en el Palacio de Cristal de Oporto donde recibió una entusiasta ovacion. El género del artista es clásico. (“Pontevedra y Galicia”, 1886)

Chega ao fim a primeira tournée de Manjón em Portugal. A sua estadia levá-lo-á a compor e a apresentar em concerto um “Potpourri español y portugués” (Rei-Samartim, 2022), obra não identificada (seria, eventualmente, uma versão antecessora da sua Rapsódia Gallega?), mas que revela uma especial relação e conexão maturada ao longo de mais de um ano em terras lusas. A sua atividade terá sido mormente concertística, sendo provável que Manjón se tenha dedicado, ainda que de forma mais informal, ao ensino, intenção revelada desde a sua chegada a Lisboa: “Parece que se fará ouvir nas salas do nosso collega Correio da Noite, abrindo, depois, um curso de viola.” (“Concertista”, 1885). Investigações futuras poderão avaliar a dimensão destes encontros pedagógicos e colmatar lacunas temporais na atividade concertística de Manjón em Portugal.

2.3.1. Segunda Tournée Portuguesa (1890)

Manjón regressa a Portugal, acompanhado pela sua esposa, a pianista Rafaela Salazar Manjón, em junho de 1890. Tal como fizera no passado, organiza e oferece um recital dedicado à imprensa lisboeta de modo a divulgar o seu trabalho e construir redes de contactos que irão apoiar futuros concertos do duo em Portugal. O primeiro recital começou a ser divulgado no dia 3 de junho pelo Jornal da Noite (1890) e viria a ter lugar dois dias depois no salão da Real Academia de Amadores de Música. À data da publicação deste primeiro anúncio, estaria já em andamento a negociação para futuros eventos do duo: “Os concertos publicos [dos Manjón] começarão brevemente, devendo, segundo todas as probabilidades, realisar-se no salão da Trindade” (“Concerto”, 1890). A 7 de junho foi publicada uma das mais completas críticas sobre um concerto do duo Manjón a que foi possível aceder durante a presente pesquisa. Nela, o articulista elogia Manjón enquanto instrumentista virtuoso, como habilíssimo transcritor e notável compositor. Pela rara dimensão, pela riqueza de informação contida, segue-se a transcrição integral da crítica:

Concerto. - Verificou se, com effeito, ante-hontem, na Real Academia de Amadores de musica, o concerto dado pelo sr. D. Jimenez Manjon e sua ex.ma esposa a sr.ª D. Salazar Manjon, concerto de viola e piano. Esta pequena festa musical, dada principalmente em honra da imprensa de Lisboa, esteve muito animada e deixou satisfeitos todos que a ella assistiram. D. Jimenez Manjon é innegavelmente uma verdadeira notabilidade e talvez a primeira no instrumento que escolheu (viola franceza de onze córdas) e a que dedicou todo o seu brilhante talento e toda a sua vocação artistica. É assombroso o que elle, cego de nascença, revéla de conhecimento profundo da musica e de primor na execução, excedendo tudo quanto até hoje se tem exhibido á nossa admiração e aos nossos applausos. É principalmente, o que foi para muitos dos ouvintes uma grande surpreza, na musica classica, onde Jimenez mais enthusiasmo causa, porque adapta admiravelmente o seu instrumento favorito a todas as bellezas e difficuldades das composições de Sor, Mendelssohn, Schumann e Beethoven, fazendo sobresahir com rara habilidade todos os encantos d'essa escóla immortal. Como no auditorio abundavam verdadeiros amadores, foram elles inexoraveis para com o illustre artista, forçando-o a bizar alguns dos mais bellos e mais difficeis trechos. A execução é de tal ordem, que dir-se-hia ter tal musica sido inventada e escripta unicamente para a viola franceza! Como esperamos que o sr. D. Jimenez Manjon se faça ouvir em publico, haverá ocasião para se verificar que não exageramos. Sua esposa D. Salazar Manjon é uma pianista distinctissima, que no methodo, comprehensão e execução, se mostra digna do 1º premio do Conservatorio de Madrid, distinção que basta para dar um logar importante no artistico. A gentil pianista foi, como seu marido, muito applaudida. Não esqueceremos mencionar que a ultima parte do concerto foi toda preenchida por uma suite em mi menor, composição de D. Jimenez Manjon, trechos de grande mimo e em que elle se revéla compositor tão notavel como é notavel executante. (“Concerto”, 1890b)

A crítica é, a todos os níveis, auspiciosa e seria previsível que os concertos seguintes recebessem, de organizadores e do público, igual reconhecimento.

Os concertos em Lisboa do duo Manjón foram organizados no Real Colyseu de Lisboa, sala inaugurada em 1887, e não no Teatro da Trindade como inicialmente previsto. É muito provável que a maior capacidade de lotação do Real Colyseu tenha contribuído para esta escolha. O anúncio ao primeiro concerto tem honras de primeira página no Diário Illustrado (Figura 2) e outros anúncios encontram-se publicados no Correio da Manhã (“Espectaculos”, 1890) e Commercio de Portugal (“Colyseu”, 1890), jornal que publicou a anterior e laudativa crítica.

Figura 2: Diario Illustrado de 12 junho 1890 Fonte: “Hoje - Real Colyseu - Hoje” (1890

Tendo em consideração os anúncios publicados no Correio da Manhã dos dias 14 e 16 de junho em conjugação com o anunciado no Diario Illustrado (12 de junho), estariam previstos três concertos no total, concertos esses que seriam realizados precisamente a 12, 14 e 16 do citado mês. Seria expectável que o reconhecimento da crítica não apenas coincidisse com o do público, mas também atendesse às necessidades financeiras do próprio duo. Tal não acontece, pois como se lê em notícia publicada a 14 de junho:

Pede-nos o sr. Antonio Jimenez Manjon, artista hespanhol que veiu a Lisboa na intenção de dar concertos de viola franceza, para participar ao publico que, em virtude das fracas vantagens que lhe offerecia o contracto feito com a empreza do Colyseu, rescindiu esse contracto, de accordo com a mesma empreza. O sr. Jimenez Manjon parte hoje no comboio da noite, para o Porto. Desejamos lhe mais felicidades do que as que encontrou por cá. (“Foyer”, 1890)

Não terá sido sem alguma desilusão que, após tão auspiciosa análise da crítica especializada, o duo Manjón parta, a 14 de junho, em direção ao norte do país. O duo apresentar-se-á de seguida em Coimbra onde fará dois concertos. Não é possível precisar a data do primeiro concerto, mas terá, muito provavelmente, ocorrido entre 16 e 20 de junho de 1890, pois tal como descrito pel’ O Tribuno Popular de 21 de junho de 1890: “Realisa-se hoje o 2.º e ultimo concerto na Sala da Associação dos Artistas, pelo celebre artista Jimenez Manjon, coadjuvado por sua esposa Salazar Manjon. O programma é deveras attrahente.” (s.n., 1890).

É possível conhecer o programa apresentado pelo duo graças à divulgação dos concertos pela imprensa da cidade do Porto. A primeira notícia da chegada de Manjón ao Porto foi publicada a 22 de junho: “O reputado concertista de viola franceza, snr. Gimenez Manjon, que se acha em Coimbra, vem procimamente a esta cidade dar um concerto, com sua esposa a snr.ª Salazar, que o acompanha ao piano.” (“Correio de Theatros”, 1890). O concerto terá, segundo o Jornal do Porto (“Concerto de Viola e Piano”, 1890a), lugar no “Palacio de Crystal” a 28 de Junho, o preço será para a “Entrada geral 200 reis, cadeiras reservadas mais 100 reis; creanças de 7 a 12 annos, 100 reis. - No caso de mau tempo o espectaculo realisar-se ha na Nave Central” e o programa anunciado é o seguinte:

Primeira parte: - Romanza e movimento continuo da “suite en mi menor” - em viola franceza e piano, Maujon [sic] Viola franceza: Movimento apasionado, Schumann; Romanza em lá, Mendelssohn; Peteneras (aire hespanhol) Maujon Segunda parte: - Piano: Fantasia op. 28 e Andante - Allegro com moto-presto, Mendelssonh. Viola franceza e piano: Rondó em “lá menor”, Aguada [sic]; “Rafaele” romanza, Maujon. Viola franceza: Andante e Scherzo da Grande Sonata, Sor; Fantasia hespanhola, Maujon

O programa, com grafia variável no nome de Manjón, 6 apresenta obras de grande relevo do repertório guitarrístico como o Rondó em lá menor de D. Aguado e andamentos da Sonata de F. Sor. Trata-se, muito possivelmente, da 2º Grande Sonata, op. 25, apesar da diferencia da nomenclatura atribuída ao segundo andamento (Scherzo no lugar de Allegro). De acordo com (Rei-Samartim, 2022), Manjón apresentará esta obra, na sua versão completa, nos seus concertos de 1891 na Galiza. A escolha de repertório revela um aprimoramento na construção de programas desde a última visita em 1885 a Portugal ou 1886 na Galiza. Nesses anos, a escolha de Manjón incidiu principalmente em transcrições (como processo de alargamento de repertório, como aproximação às preferências do público, como legitimação do instrumento) e obras da sua própria autoria, obras essas de cariz, índole musical mais ligeira, de salão, intimamente relacionadas com os contextos de apresentação mais frequentes de Manjón. O desenvolvimento na definição dos programas e das próprias composições deve, muito provavelmente, ser fruto do seu matrimónio, contraído em 1890, com a pianista Rafaela Salazar, união que certamente contribuiu para a cristalização da obra artística e pedagógica de Manjón tal como proposto e discutido por (Altamira, 2009). O programa foi igualmente divulgado n'A República (“Palacio de Crystal”, 1890).

O concerto realiza-se então a 28 de junho e, no dia seguinte, foi possível ler uma crítica ao evento:

Os concertistas Maujon [sic] Fez-se o concerto, perante uma concurrencia pequenissima, no Palacio de Crystal. Illuminação de pequena gala, as arvores immobilisadas, punham a sua nota escura, como pedaços de treva amontoada, na luz branca do luar: algumas senhoras com as suas toilettes claras, frescas, em que os perfis se esbatiam, arrastavam um tedio insupportavel, de quem se sentia corrido pelo brouhaha da cidade festejando o caduco S. Pedro. Era desolador, d'uma amargura infinita ver Maujon, com a sua figura esguia e triste, d'uma brancura marbrina, gemer sentidamente, melancolicas cançoes, na viola franceza, deante de meia duzia de pessoas que o ouviam, bocejando, no embotamento revoltante de quem não comprehende ou não pode sentir. Feliz, n'este momento, do pobre artista cego, que não pôde ver o irrespeito d'um publico sem nervos. A senhora Maujon acompanhou o ao piano, executando também só, magnificos trechos de musica. (“Os Concertistas de Maujon”, 1890)

A crítica revela um novo infortúnio do duo Manjón em Portugal. Após as dificuldades sentidas em Lisboa, onde o duo se viu obrigado a cancelar os concertos previstos em virtude dos fracos resultados financeiros, eis que o concerto no Porto, certamente ansiado como um marco da tournée portuguesa, confirma o descaso da sociedade perante os concertistas. A calendarização, coincidente com a celebração das festas em honra de S. Pedro, terá certamente contribuído para a fraca afluência do público.

Chega ao fim a 2.ª tournée portuguesa de Antonio Jiménez Manjón. A curta duração de cerca de um mês é, perante a dimensão temporal da 1.ª tournée, indiciadora de alguma desilusão com a última visita e, em segunda instância, reveladora de um foco e objetividade para o futuro do duo. A flexibilidade no agendamento e calendarização de espaços, possível em 1885 aquando da realização dos concertos a solo, encontrava-se reduzida pela necessidade da existência (ou apenas necessidade) de um piano. Certamente que tal indispensabilidade terá contribuído para que a agenda de 1890 tivesse um maior grau de precisão na sua calendarização. Nos meses seguintes, o duo Manjón apresentar-se-á na Galiza (Rei-Samartim, 2022) e, em 1893, o duo parte para a América Latina, onde Antonio Jiménez Manjón publicará algumas das suas obras e influenciará, de maneira profunda e duradoura, a comunidade artística do continente sul-americano onde se destaca, sobremaneira, o nome de Agustín Barrios.

2.4. Rebel, Tost, Peraire, Soria

2.4.1 Rebel

A ordem de apresentação dos ilustres músicos acima mencionados segue exclusivamente a sequência cronológica dos seus concertos. Naturalmente, o grau de influência, artística e/ou geográfica de cada um é variável em função do contexto e duração em que o seu trabalho (performativo ou pedagógico) se desenvolve.

O primeiro nome, Agustín Rebel Hernández, é, na minha opinião, um nome maior da história da guitarra em Portugal. Tendo em consideração a dimensão possível para o presente artigo e o espectro temporal da sua atividade em Portugal que se estende, de acordo com a atual pesquisa, de 1885 a 1909 (“Cartas de Verão”, 1885; Soares, 2023), encontra-se em preparação um artigo exclusivamente dedicado à atividade deste músico em Portugal. Rebel realizou, tal como se verá no futuro texto, concertos de norte a sul do país onde recebeu elogios do público pelas suas capacidades artísticas e composicionais (os seus concertos eram primordialmente preenchidos por composições próprias que, na sua essência, refletiam uma estética nacionalista espanhola). Adicionalmente, publicou um método para guitarra (Rei-Samartim, 2020), lecionou na Escola Nacional de Música7 (“Escola Nacional de Música”, 1903), foi professor de Martinho d’Assunção, por sua vez professor de José Duarte Costa (Aires, 2010) o que, consequentemente, coloca Rebel nas primeiras raízes de uma eventual árvore genealógica da guitarra em Portugal.

2.4.2. Tost

A 18 de dezembro de 1886 é anunciado o concerto de Raphael Torts no jornal A Correspondência do Norte. A notícia descreve como “O snr. D. Raphael Torts vem precedido de bastante fama; a julgar pelos elogios que lhe teem sido tecidos pela imprensa portugueza, é um artista de primeira ordem.” (“Sarau Litterario-musical”, 1886). O mesmo nome surge no número 4179 do jornal Conimbricense de 1887 (Braga, 2013) para divulgar um concerto deste músico na “cidade dos estudantes”. Ao considerar o período temporal, é muito provável que exista um equívoco na escrita do nome e que se trate, na realidade, de Rafael Tost, de nome completo Rafael Tost y Marías. Tal como descrito por (Salinas, 2014), Rafael Tost foi um guitarrista itinerante que, como muitos outros músicos, percorria as cidades da nação de Espanha e que oferecia concertos em espaços de diferentes tipologias. Salinas inclui ainda uma crítica a um concerto realizado por Tost em 1892 na localidade de Betanzos, Corunha: “(…) al terminar la primera parte del programa era unánime la opinión de que el profesor no era ninguna notabilidad. Cuando más podía pasar por un alumno aventajado de Parga” (Salinas, 2014). Existe, no meio artístico, uma pluralidade de expressões cujo espectro varia das mais discretas matizes até às mais exuberantes demonstrações de virtuosismo e Tost poderá assim representar uma faixa de artistas de mais modestas inspirações.

2.4.3. Brassó e Peraire

Um interessante exemplo de adaptabilidade a múltiplos contextos geográficos, é-nos relatado nos diversos anúncios aos concertos de Brassó e Peraire, duo de violino e guitarra. É, no momento atual, particularmente difícil a identificação destes músicos, pois os seus nomes, à semelhança de tantos outros nomes (veja-se o caso de Manjón), sofreram variantes gráficas. Assim, é possível encontrar os nomes Brassó (o mais comum), Brasó, Braré, Brazó e Braró para identificar o violinista e Peraire (novamente, o mais frequente), Peraise, Pereira e Perdire para nomear o guitarrista. É referida, ao longo das notícias publicadas, uma afiliação ao Conservatório de Barcelona, o que indicia uma eventual ascendência catalã dos dois artistas. A primeira notícia data de 9 de abril de 1888 e localiza o duo em Guimarães onde “(...) deram ontem um concerto no café do snr. Fernandes. O violinista toca primorosamente, sendo muito applaudido, assim como tambem o foi o snr. Peraire que toca violão.” (“Concertistas”, 1888). A notícia seguinte, de 1892, relata a apresentação do duo nas termas de Caldas da Felgueira, espaço privilegiado pela burguesia que assiste, segundo a mesma fonte, aos concertos privados do compositor e pianista Alexandre Rey Colaço (“Caldas da Felgueira”, 1892). Já em 1893, são anunciados os concertos de Brassó e Peraire no Real Colyseu de Lisboa. A análise do trajeto destes músicos demonstra aquilo que pode ser descrito como um percurso ascendente no que diz respeito ao estatuto dos espaços de apresentação. A sua chegada a Lisboa não deixa, no entanto, de conter alguns elementos surpreendentes. pois Brassó e Peraire são anunciados como pessoas com deficiência visual, informação essa que não tinha sido divulgada nas publicações acedidas. Durante o mês de junho de 1893, o duo apresentou-se em espetáculos onde figuravam ilusionistas (Dicka, a Mysteriosa), encantadores de animais (Sakontala, a fascinadora de pombos), e os adestradores de animais Madame Demansy e Antonet (“Real Colyseu”, 1893a, 1893b). No que diz respeito ao repertório, é possível conhecer uma parte das obras interpretadas graças ao Diário Illustrado (“Pelos Palcos e Circos”, 1893) onde vem referida a execução da Sinfonia de abertura de Semiramis (Rossini) e de uma valsa de concerto sendo imediatamente percetível a semelhança com os programas anteriormente realizados por Toboso e Manjón. Um outro elemento que revela a popularidade de Brassó e Peraire é o facto de, entre 15 e 22 de junho, os seus concertos de periodicidade, grosso modo, trissemanal serem comummente anunciados como os últimos eventos protagonizados pelo duo, estratégia comumente usada por empresários para atrair público. Tal como se pode ler, a 15 de Junho: “Ultimo espectaculo em que tomam parte os cegos Brassó e Peraire (…)” (“de Havaneza”, Echos 1893); a 17 de Junho: “A despedida dos cegos Brasó e Peraise, os excellentes professores de violino e violão realisa-se esta noite, devendo attrahir enorme concorrencia.” (“Real Colyseu”, 1893a); a 20 de Junho: “apresentam-se esta noite extraordinariamente, e pela ultima vez ao publico lisbonense, gratos ao sympathico e delirante acolhimento que lhes foi feito” (“Real Colyseu”, 1893c); a 22 de Junho: “A pedido, realisam hoje um ultimo concerto, no Real Coliseu, os célebres cegos Brasó e Peraire que nos poucos concertos que deram entre nós souberam impôr-se como verdadeiras notabilidades, e como taes foram consagrados.” (“Echos dos Bastidores”, 1893). A carreira do duo continuou rumo ao norte chegando, meses depois em setembro de 1893, à Galiza onde continuariam as suas apresentações (Rei-Samartim, 2020). É, no meu entender, muito interessante notar a adaptabilidade deste duo aos diferentes espaços de apresentação, a sua capacidade de divulgação, bem como a sua capacidade de atração de interesse e gestão profissional, capacidades essenciais a qualquer músico, independentemente da sua época.

2.4.4. Luis de Soria

O último nome encontrado para esta pesquisa de cariz maioritariamente hemerográfico é o de Luis de Soria Iribarne (Almería, 1851 - Madrid, 1935). Discípulo de Julián Arcas, amigo de Francisco Tárrega (com quem, aliás se apresentaria em concerto), Luis de Soria pertence a um ilustre grupo de instrumentistas do século XIX cujas preferências recaíram sobre guitarras com um número de cordas superior ao normal (Altamira, 2005). Para além de ter realizado concertos em duo com Francisco Tárrega, Luis de Soria tocou em duo igualmente com José Toboso e, em 1883, ao lado de Toboso e de Eduardo Moreno Borraz, teve possibilidade de se apresentar perante as famílias reais espanholas e portuguesas num concerto realizado no palácio de Aranjuez (Mangado, 2021, p. 85). Luis de Soria atuou em Portugal no dia 21 de janeiro de 1898, tal como se pode ler na seguinte notícia: “Esta tarde ás 3 horas, um violinista hespanhol que se acha entre nós, o sr. Luiz de Soria dá um concerto no salão Sassetti offerecido á imprensa.” (“Echos dos Bastidores”, 1898). Soria procura seguir o processo já descrito anteriormente, uma exibição inicial perante jornalistas e melómanos, de modo a alargar a sua rede de contactos e agenda de concertos. O uso do termo “violinista” poderá tratar-se de um simples engano ou, eventualmente, denotar o desconhecimento do redator perante terminologia adequada (violista). Tal confusão não surgiria na notícia seguinte, onde o seu nome é referenciado e elogiado ao lado do já mencionado Alexandre Rey Collaço: “Amanhã é a distribuição de premios nas escolas Caridade e Divina Providencia, com a assistencia do sr. Nuncio. Os srs. Rei Collaço distincto pianista e Luiz de Soria eximio concertista de viola, abrilhantarão esta festa dos probresinhos.” (“Echos Mundanos”, 1898). No dia 4 de fevereiro, Luiz de Soria realiza um concerto no Teatro do Gymnasio (“Espetáculos”, 1898), evento onde apresenta obras de Chueca, Espinosa e de sua autoria, e que é positivamente descrito no dia seguinte pelo cronista do diário A Nação:

D. Luiz Soria Esteve muito animada a recita de hontem no Gymnasio, em que tomou parte o distincto violista hespanhol, sr. Luiz Soria. O exímio artista desempenhou todos os seus numeros de uma maneira extraordinaria, fazendo enthusiasmar os espectadores com o producto magico da sua viola. Foi um espectáculo para entendidos e bons amadores que não se cançaram em applaudir o sympathico artista. (“D. Luiz Soria”, 1898)

A escassez relativa de notícias sobre a presença de Soria em Portugal não é, evidentemente, representativa da sua importância enquanto músico (vide Rodríguez, 2021), compositor, professor (foi, p.e., professor de Regino Sainz de la Maza) e mesmo inovador instrumental na qualidade de luthier (trata-se de um dos principais representantes da guitarra multicordal, a designada “Guitarpa”) (Figura 3).

Figura 3:  “Cuarteto guitarpista español” 8 Fonte: Recursos de domínio público da Biblioteca Nacional da Espanha. 

3. Conclusão

A anterior descrição procurou revelar a amplitude, até ora pouco explorada, da atividade concertística realizada por músicos espanhóis em Portugal entre 1854 e 1909. Algumas das maiores figuras da guitarra do século XIX como Huerta, Cano ou Manjón percorreram o país, aqui compuseram obras, estreitaram laços artísticos e pedagógicos ao longo das suas tournées, cuja duração variava de algumas semanas até períodos superiores a um ano. Neste aspeto, merece especial relevo o caso de Agustín Rebel Hernández, cujo estabelecimento em Portugal durou várias dezenas de anos. Tão necessária na época como nos dias de hoje, demonstra-se a capacidade de adaptação dos artistas aos espaços sociais e artísticos que percorreram, bem como a sua capacidade de divulgação e protoagenciamento. No que diz respeito ao reconhecimento do estatuto do instrumento e dos instrumentistas, muito estaria por percorrer, pois tal como sugerido pelo artigo d’A Arte Musical (1902) dedicado a Miguel Llobet: “Enaltecer um tocador de viola, por muito famoso que ele seja, é uma cousa que fará sorrir muito provavelmente o snobismo e a basófia indigena.” (“Miguel Llobet”, 1912). É, no entanto, inegável que as atividades e presenças dos músicos anteriormente referidos, simbolizam a existência de um público e esse público simboliza o despertar de uma nova geração de músicos em Portugal.

Referências

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1Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

2Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

3Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

4Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

5Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

6Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

7Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

8Na capa, imediatamente abaixo do nome do autor, é possível ler a referida dedicatória: “Senor – La acojida que V. M. tuvó a bien dispensarme y la gran bondad que V. M. a tenido en alternar con su brillante voz las piezas de musica que tuve el alto honor de tocar en mi Guitarra en la noche de 7 de Setiembre de 1854, me han inspirado a dedicar a V. M. esta memoria por su aprecio / y grande inteligencia en la Musica. La aprobacion que V. M hizo y el placer que me mostró al oirlas, es un honor que estima en mucho su humilde servidor que besa la mano de V. M.”

Recebido: 28 de Fevereiro de 2024; Aceito: 01 de Julho de 2024

Autor correspondente: pedrojrodrigues@ua.pt

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