1. Introdução
As relações de mais de 500 anos entre o Brasil e Portugal ainda promovem uma circulação de pessoas em ambas as margens do Atlântico, com fluxos intensos em momentos muito particulares da história dos dois países. Tal circulação implica, também, na circulação de saberes, práticas e outras instâncias, gerando e nutrindo novos saberes. (Márcia Taborda, 2011, p. 13) afirma que o violão ou guitarra clássica, possui um histórico de pertinência em diversas camadas sociais dos dois países e subsiste por longas décadas. Enquanto meio de expressão e corporificação das representações sociais, a guitarra clássica tornou-se um destacado objeto de análise, constituindo-se num ponto de partida privilegiado para investigar as dinâmicas destas sociedades. Segundo a autora, mesmo tornando se um instrumento icônico em diversos contextos da produção musical no Brasil, a participação da guitarra no decurso histórico no Brasil ainda carece de investigação: “a enorme popularidade do instrumento [guitarra] em nosso país [Brasil], contrapõe-se à escassez de fontes bibliográficas que tratem de sua introdução e difusão na cultura brasileira” (Taborda, 2021, p. 20). Embora compartilhe diversos momentos históricos de fomento de novas práticas artísticas, emancipações e consolidação de traços culturais em ambas as pátrias, a contribuição portuguesa no âmbito guitarrístico brasileiro possui significativas lacunas históricas, sobretudo no período de maior fluxo de portugueses para terras brasileiras. Sustentado na hipótese de que esses portugueses contribuíram para a formação de intérpretes e pedagogos brasileiros que influenciaram gerações de guitarristas no Brasil, esse trabalho, produto de uma investigação em andamento, procura preencher as lacunas existentes sobre a biografia, a atuação artística e pedagógica de Maria Lívia São Marcos, no Brasil e no exterior.
2. Estado da Arte da pesquisa sobre guitarristas portugueses e seus descendentes atuantes no Brasil de 1875 a 1975.
Nos últimos anos, os estudos sobre a guitarra clássica no Brasil têm ganho contribuições significativas para o preenchimento de lacunas existentes sobre seu percurso histórico. A investigação realizada por (Castagna e Schwarz, 1993) forneceu fontes documentais e bibliográficas sobre as atividades guitarrísticas realizadas entre 1916 e 1990, subsidiando a recomposição da trajetória da guitarra no século XX em investigações subsequentes. (Antunes, 2008), (Taborda, 2011, 2021), (Delvizio, 2011, 2015, 2016) e (Amorim, 2018a, 2018b 2018c, 2019) e (Amorim e Paschoito, 2021), além de contribuírem com importantes aportes históricos e documentais, demonstraram a contribuição de guitarristas estrangeiros para o desenvolvimento artístico e pedagógico da guitarra clássica no cenário brasileiro durante os séculos XIX e XX. Embora estes estudos tenham enriquecido o conhecimento sobre o percurso da guitarra no Brasil, guitarristas atuantes no cenário brasileiro ainda carecem de investigação, dentre estes, guitarristas portugueses e seus descendentes, identificados no Diccionario de Guitarristas (Prat, 1934), e no Catálogo Pocci (Pocci, 2020): Alberto Baltar (?), Antero Martins (?), Melchior Cortez (1882-1947), António Costa Rebello (1902-1965), Manoel Pelicas São Marcos (1909-2004), Norberto Macedo (1939-2011), José Lopes e Silva (1937-2019), Maria Lívia São Marcos (1942-), Sérgio Abreu (1948-) e Eduardo Abreu (1949-).
Manoel São Marcos, Melchior Cortez, Sérgio Abreu, Eduardo Abreu, Aníbal Augusto Sardinha e Alberto Baltar tiveram lugar nas publicações de (Righini, 1991), (Amorim, 2018a, 2018b), (Amorim e Paschoito, 2021), (Dias, 2015), (Arias, 2014) e (Prando, 2021), respetivamente, onde foram ressaltados aspetos biográficos e artísticos desses guitarristas. Singularidades, idiomatismos e outras características gerais, ou mesmo trânsitos entre práticas musicais portuguesas e brasileiras materializados em suas produções, são algumas das possibilidades investigativas a serem realizadas.
3. Metodologia
As investigações em repositórios e acervos digitais foram realizadas em três etapas: (1) investigação em acervos e repositórios digitais brasileiros; (2) investigação em acervos e repositórios digitais portugueses; (3) investigação em repositórios de partituras e redes sociais.
A primeira etapa se utilizou das informações coletadas na revisão de literatura, onde foram identificados os nomes dos guitarristas implicados. Utilizando como palavras-chave o nome de Maria Lívia São Marcos (com a grafia conhecida, ou com uma grafia alternativa - exemplos: “Maria Lívia São Marcos”/ “Maria Lívia S. Marcos”/ “Maria São Marcos”), tratou-se de identificar em motores de busca, acervos, bibliotecas e repositórios digitais, informações relacionadas à mesma. Quando necessário, utilizou-se para a delimitação temporal da investigação o lapso temporal que inicia em 1942 (ano de nascimento de Maria Lívia São Marcos) e o corrente ano de 2024. Priorizou-se, inicialmente, acervos e repositórios digitais, públicos e privados, relacionados às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, uma vez que as evidências documentais apontaram para uma maior atividade de Maria Lívia nesses Estados. Assim, foram verificados, nomeadamente: Acervo Cleofe Person de Mattos, Acervo Levy, Biblioteca Nacional Digital, Projeto Resgate, Arquivo Nacional, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Centro de Memória da Câmara Municipal de São Paulo, Instituto de Estudos Brasileiros, Instituto Moreira Salles e a Hemeroteca Digital Brasileira. Por meio de uma análise sistemática, descartou-se as ocorrências cujo conteúdo não se relacionava à música (homônimos relacionados a outras atividades).
Na segunda etapa, observando os dados coletados nos repositórios anteriormente mencionados, buscou-se, com os mesmos critérios inicialmente descritos, em repositórios e acervos digitais portugueses, nomeadamente: Hemeroteca Municipal de Lisboa, Arquivo Histórico Ultramarino, Torre do Tombo, Arquivo Distrital de Braga e Arquivo Municipal de Lisboa.
Como terceira e última etapa, ainda utilizando como palavra-chave o nome de Maria Lívia São Marcos e suas variantes, buscou-se em repositórios de partituras, nomeadamente: International Music Score Library Project (IMSLP), Acervo do Violão Brasileiro, Catalogo Pocci (Pocci, 2020) e Biblioteca Digital del Patrimonio Iberoamericano (BDPI). Por fim, buscou-se em redes sociais populares (YouTube, Facebook e Blogspot), à procura de dados relevantes utilizando os já mencionados critérios de busca.
4. Considerações sobre o trânsito musical entre Portugal e Brasil
Identificou-se na investigação de (Alves, 2000) informações relevantes sobre o período de maior êxodo de portugueses para o Brasil. (Alves, 2000) afirma que entre o século XIX e o início do século XX o Brasil assume um espaço de destaque no imaginário nas diversas vertentes da vida nacional portuguesa desse período (Alves, 2000, p. 41). Sobre a emigração de portugueses para o Brasil, Alves escreve:
(...) foi um fenómeno permanente na nossa História e que sobreviveu até à década de 60 do século XX como um destino prioritário e, nalguns momentos, quase exclusivo. Neste sentido o espaço brasileiro enquanto local de destino, potenciador de sonhos na Metrópole irrealizáveis e válvula de escape, tanto do crescimento demográfico como da incapacidade de absorção pelo aparelho produtivo, assumiu-se como uma referência obrigatória da nossa História contemporânea (Alves, 2000, p. 42).
No âmbito do trânsito musical entre Brasil e Portugal no século XIX, (Binder, 2006, p. 125), ao pesquisar sobre a difusão e a organização das Bandas Militares no Brasil entre 1808 e 1889, corrobora os apontamentos de (Alves, 2000) afirmando que, embora a introdução ou atualização das bandas de música no Brasil não tenha ocorrido em razão da presença da Banda da Brigada Real, as bandas militares foram parte importante da representação sonora oficial da casa dos Bragança no Brasil. A prática das bandas militares “acompanhava novas formas da cultura aristocrata [sic.] europeia, compartilhada pela oficialidade militar luso-brasileira e europeia de uma maneira em geral” e suas apresentações ocupavam desde os cortejos e noites de festa até as ruas e coretos, para a população que não era admitida no interior dos palácios e teatros (Binder, 2006, p. 125).
Ainda acerca do trânsito musical entre Brasil e Portugal, (Sardo, Godinho e Almeida, 2012) afirmam que, no imaginário português do século XX, a música popular brasileira foi adotada pelos portugueses como uma espécie de lugar de deslumbramento. Os investigadores escrevem que “especialmente nos últimos 20 anos, ela parece constituir um dos poucos argumentos consensuais em relação à condição de ‘brasileiro’” (2012, p. 58) e discorrem sobre as relações entre figuras centrais da Música Popular Brasileira - nas pessoas de João Gilberto e Caetano Veloso - e personagens portugueses como José Afonso, Mário José Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias. Os autores referidos destacam que:
[...] este vaivém musical, ora determinado por relações hegemónicas de poder exercidas pelo aparelho colonial, ora resultado de contactos informais, de adoções, de partilha e de exclusões, foi gerador de frutuosos diálogos discursivos que encontraram na música empatias estéticas particulares e formas de conciliação e de intertextualidade singulares (Sardo et al., 2012, p. 60).
5. Contribuições sobre as atividades de Maria Lívia São Marcos
Maria Lívia São Marcos (Figura 1), paulista nascida em 08 de abril de 1942, iniciou seus estudos na música pelas mãos de seu pai (Figura 2), um reconhecido professor de guitarra, o português Manoel Pelicas São Marcos, ainda em muito tenra idade.

Figura 1: Fotografia de Maria Lívia entre três e quatro anos de idade. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Em entrevista concedida a Sérgio Fernandes em 20 de setembro de 2020, e publicizada por meio da página Violão & Violão - hospedada na rede social Facebook, Maria Lívia comenta sobre sua infância:
[...] Eu vivia no mundo… eu cresci no mundo do violão. Então, para a maioria das pessoas, eles começaram a… começaram a… estudar, escolher o professor. Não, eu não escolhi nada! Meu pai me botou violão na mão, e pronto! [...] Muito antes de mexer com os dedos, eu já estava condicionada no ouvido, na cabeça, na minha maneira de viver, na… nas pessoas que viviam comigo, eu já estava condicionada para o violão (São Marcos, 2020/ 2024 , p. 5).

Figura 2: Fotografia de Manoel São Marcos com Maria Lívia no colo em 1942. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Tal exclusividade pode ser atribuída a ausência de espaços formais de ensino de guitarra clássica (Figura 3), como afirma Maria Lívia, tornando os ateliers dos construtores de guitarra da época (liderados, sobretudo, por descendentes de italianos ou italianos - Gianinni, Rozinni, Del Vecchio, Di Giorgio) os principais redutos de prática e aprendizagem:
[...] não tinha informação. [...] Em São Paulo existiu um lugar onde se tocava o violão, era na casa do Chico Del Vecchio, na Rua Aurora. [...] Então eles se reuniam lá na casa do Chico Del Vecchio, que era onde era o ateliê também, onde eles faziam os violões, e ia lá com o meu pai, e no final eu sempre acabava tocando lá, e foi um tempo bom (São Marcos, 2020/ 2024, p. 1).
A convivência e o destaque do seu pai no cenário guitarrístico paulistano, possibilitou à Maria Lívia contato direto com algumas das personagens mais relevantes da época. Manoel São Marcos, além de destacado pedagogo, foi vice-diretor da Associação Paulista de Violonistas, congregação fundada em parceria com o guitarrista uruguaio Isaías Sávio e Ronoel Simões, dentre outros. Esse ambiente de imersão contínua no universo social e sonoro da guitarra paulistana e mundial, moldou sua visão de mundo, suas preferências estéticas e estilísticas, e possibilitou um contato precoce com as principais produções fonográficas da guitarra de concerto da época de sua infância:
[...] Ronoel começou a receber os discos do Segovia [...] e o meu pai me pegava e nós íamos ouvir os discos do Segovia naquele quartinho que ele tinha aqui, onde ele morava [...]. Então foi lá que eu comecei a ouvir violão, não é? Quer dizer, Castelnuovo-Tedesco, Ponce, todo esse repertório que o Segovia gravou depois da guerra. (São Marcos, 2020/ 2024, p. 3).
Entre os sete e os oito anos (Figura 4) , Maria Lívia já começara com suas aparições públicas em espaços artísticos da sociedade paulistana, recebendo significativa atenção da imprensa local e generosos elogios da crítica especializada.
Nos anos que se seguem, concomitantemente aos seus estudos propedêuticos - realizados no Instituto Educacional Caetano de Campos, em São Paulo - Maria Lívia (Figura 5) intensifica as orientações com outro importante guitarrista e pedagogo no cenário paulistano, o uruguaio Isaías Sávio (Figura 6). Sávio, que fora professor de Manoel São Marcos, manteve uma estreita relação familiar e de amizade com os São Marcos.
[...] Quando eu nasci, o meu pai era aluno do meu tio Sávio. Daí, o meu tio Sávio mudou pra muito longe [...] então, meu pai propôs que meu tio viesse em casa dar as aulas dele. [...] Então, o meu tio preparava lá o Bona, e me fazia solfejar. Eu não conseguia, nunca saber o quê que era o sol e o quê que era o si. Então, eu ficava com a mão lá em cima e o meu tio ficava olhando pra mim, daqui a pouco ele fazia [gesto com os dentes e a cabeça]. E eu pensei que ele dizia: si! Mas não, era sol! [risos] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 14).

Figura 6: Fotografia de Isaías Sávio com dedicatória a Manoel São Marcos. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia. Nota. Texto da dedicatória: “Al buen amigo Manoel São Marcos [ilegível] de tu maestro. Isaías Sávio”.
As influentes orientações de Sávio se formalizam no momento do ingresso de Maria Lívia no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo: “(...) eu entrei no conservatório com meu tio Sávio só pra fazer um diploma, não é? (...) Ah!, meu tio Sávio era um… [gesto com os dedos junto à boca] maravilha!” (São Marcos, 2020/ 2024, p. 2). Na altura, com cerca de 14 anos de idade, Maria Lívia já gozava de certo prestígio da imprensa local e recebia convites para apresentações em espaço artísticos diversos, como atesta a publicidade realizada no Correio Paulistano (SP), 20 de outubro de 1956, e na Revista do Rádio (RJ), edição 374 (1956), respetivamente: “A Rádio Gazeta está apresentando, em temporada, a ‘virtuose’ do violão, Maria Lívia São Marcos [...]” (“Radio & TV”, 1956, p. 5). “A violonista Maria Lívia São Marcos cumpre temporada vitoriosa na Rádio Gazeta” (“Rádio em Revista. São Paulo”, 1956, p. 46).
Poucos anos depois, com cerca de 17 anos (Figura 7), Maria Lívia diplomou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, no Curso de Virtuosidade. Neste período, além das atividades em rádios e espaços artísticos diversos, Maria Lívia mantém atividades de música de câmara e orquestra, como denota a reportagem veiculado no periódico Correio Paulistano (SP), de 11 de agosto de 1959, pelo Instituto de Artes Contemporâneas - Fundação Armando Álvares Penteado:
No próximo dia 19, às 21 horas, será realizado no Teatro Municipal, a convite do Circuito Israelita de São Paulo, um concerto da Orquestra Sinfônica Juvenil do Instituto de Arte Contemporânea, com a participação dos jovens solistas: Marion Dresel (violino), Salvador Mazano (oboé) e Maria Lívia São Marcos (violão) [...] (“Notas de Arte”, 1959, p. 5).

Figura 7: Fotografia de Maria Lívia entre os 16 e os 17 anos. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Em 1960, o Diário de Notícias, um periódico carioca, de 29 de setembro de 1960, destaca a louvável iniciativa que levou à realização do “Festival de 1960”. Na programação variada, onde se incluiu diversos outros artistas de destaque no cenário paulistano e nacional, encontra-se a intervenção de Maria Lívia São Marcos ao lado de outro importante representante da guitarra brasileira, Antônio Carlos Barbosa-Lima (Figura 8), onde dividiram o concerto. Concerto este identificado com o primeiro de Maria Lívia em terras cariocas: “[...] O programa do ‘Festival de 1960’ já está elaborado e é o que se segue: [...] dia 17 - Audição dos jovens violonistas Antônio Carlos Barbosa Lima e Maria Lívia São Marcos; [...]” (“Festival de Música 1960”, 1960, p. 3).

Figura 8: Fotografia de Carlos Barbosa-Lima, Isaías Sávio e Maria Lívia. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
No mesmo ano Maria Lívia regressa ao Rio de Janeiro se apresentando em outros concertos, como o destacado pelo Diário de Notícias, de 9 de outubro de 1960 (“Recital de Violão”, 1960, p. 3), e de 12 de outubro, p. 3, nesta última publicidade recebendo importante destaque e pomposos elogios do(a) autor(a) da nota:
[...] Sensibilidade apurada, respeito ao estilo, sonoridade rica de matizes, seguranças no que faz, são as características de sua personalidade, que se dirigindo aos recursos do instrumento que escolheu, dele se vale com inteligência e bom gosto para realizar interpretações dignas de elogio [...] (“Violinista Maria Lívia São Marcos”, 1960, p. 3).
Ainda com 18 anos de idade, Maria Lívia São Marcos (Figura 9) gravou o seu primeiro disco contendo o “Quinteto de Boccherini”, com a participação do Quarteto Municipal de São Paulo, noticiada pelo Diário da Noite (SP), de 31 de janeiro de 1961 (“Violão dos Mestres”, 1961, p. 18), como sendo a primeira desta obra em solo brasileiro. No mesmo ano, Maria Lívia participou da inauguração do Museu Villa-Lobos, interpretando obras do compositor no violão do próprio:
[...] Fabricado por Joseph Bellido, em Paris, o violão foi cedido por Heitor Villa-Lobos há cerca de dez anos à sua sobrinha, Maria Regina, filha do Castro Filho [...]. Antes da solenidade, [...] a bela solista Maria Lívia, filha do professor Manoel São Marcos, executou para a viúva Villa-Lobos, ao violão histórico, alguns números do maestro [...]. À noite, no Teatro Municipal, como parte das comemorações da ‘Semana Heitor Villa-Lobos’, a solista Maria Lívia São Marcos apresentou à plateia carioca o primeiro prelúdio do célebre compositor brasileiro, pela primeira vez executado em nosso país. Trata-se de uma fantasia para violão e orquestra [...] (“Doado ao Museu Villa-Lobos o Violão”, 1961, p. 10).

Figura 9: Fotografia de Maria Lívia São Marcos. Fonte: O Jornal (RJ) (“Doado ao Museu o Violão”, 1961, p. 10).
Em entrevista concedida a (Sérgio Fernandes, 2020, p. 2), Maria Lívia comenta sobre o episódio: “Quando Villa-Lobos morreu, eu também toquei o concerto. E a Mindinha, a mulher dele, a Arminda estava fazendo um museu e quem tocou o violão do Villa-Lobos para o museu? Fui eu! Fui eu que toquei no violão do Villa-Lobos” (São Marcos, 2020/ 2024, p. 2). Sobre seu pioneirismo na interpretação e gravação do concerto para guitarra e orquestra de Heitor Villa-Lobos no Brasil, Maria Lívia acrescenta: “Não só a primeira mulher, mas o primeiro violonista” (São Marcos, 2020/ 2024, p. 2), salientando seu protagonismo no ambiente da guitarra de concerto no Brasil, ocupado, sobremaneira, por homens. Embora sua carreira tenha sido inspiradora para outras aspirantes ao universo da guitarra clássica, Maria Lívia não desfrutou de muitas alunas em sua carreira como pedagoga, como destaca a entrevista concedida à Teresinha Prada para o periódico Violão Intercâmbio, edição nº. 36 jul/ago de 1999: “Na minha classe do Conservatório (de Genebra) em 30 anos eu acho que tive 3 alunas. Não mais” (Prada, 1999, p. 6).
Buscando conectar-se com suas raízes lusitanas, Maria Lívia decide por conhecer a avó materna e se utiliza da oportunidade para ampliar sua rede de contatos em Portugal, país de origem de seu pai e avós:
(...) Eu fui pra Europa com dezoito anos. É, eu fiz dezoito anos em Portugal, justamente. Eu fui ver a minha avó, conhecer minha avó, porque meu pai com dezasseis anos foi para o Brasil e nunca mais voltou. Então, como ele não voltava, então fui eu conhecer, conhecer a minha avó, mas claro que levei o violão, não é? E foi aí que eu conheci o Duarte Costa (São Marcos, 2020/ 2024, p. 2).
Segundo (Aires Pinheiro, 2010, p. 47), o patrono e fundador da Escola de Música Duarte Costa (Figura 10) foi um pioneiro na Escola da guitarra clássica em Portugal. Sua Escola, fundada ainda na década de 1950, formou gerações de guitarristas em Portugal, mantendo suas atividades até os dias atuais: “Cada vez que eu ia para Portugal, eu ia lá dar aulas [na Escola Duarte Costa]. A escola tinha um mezzanine. Então eu tinha, assim, uma escadinha, e a gente tinha umas salinhas em cima. Foi bom o tempo” (São Marcos, 2020/ 2024, p. 3).

Figura 10: Fotografia de Maria Lívia São Marcos com Duarte Costa em umas de suas visitas a Portugal. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Sua relação com os lusitanos se intensificou nos anos seguintes, chegando a realizar, frequentemente, concertos nas cidades de Lisboa, Porto e Coimbra. No Brasil, Maria Lívia ganhou significativo prestígio junto às Sociedades Artísticas paulistanas e cariocas. Com cerca de vinte anos (Figura 11), Maria Lívia gozava de importante prestígio nos meios de comunicação impressos, participando, com frequência, de concertos promovidos pelas entidades culturais e artísticas dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Na reportagem do periódico A Tribuna (SP), de 24 de junho de 1962, o nome de Maria Lívia recebe destaque no título onde dividiu o concerto com a Ars Viva (grupo vocal que interpretava, sobretudo, músicas do período medieval e renascentista) na Sociedade Pró-Música Brasileira.
[...] A segunda parte desse recital estará a cargo da violonista Maria Lívia São Marcos, nome consagrado nos meios artísticos da Capital como intérprete de música brasileira [...]. A pureza de sua técnica e a justeza de sua interpretação valeram-lhe o título de ‘Revelação de 1961’ que lhe foi conferido pelos críticos teatrais. Do vasto repertório de Maria Lívia destacamos um concerto de Villa-Lobos do qual ela fez a primeira gravação mundial - concerto de Vivaldi - Castelnuovo-Tedesco - concerto de Boccherini, para gravação. Maria Lívia realizou diversas ‘tournées’ apresentando-se como solista em sociedades artísticas do Rio e de São Paulo [...]. (“Ars Viva e Maria Lívia São Marcos”, 1962, p. 12).

Figura 11: Fotografia de Maria Lívia com cerca de vinte anos. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
No ano de 1962, pode-se observar uma intensificação nas atividades artísticas de Maria Lívia e são registradas as primeiras incursões de Maria Lívia em outros Estados brasileiros para além dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, como denota a reportagem publicada no periódico paulistano A Tribuna, de 7 de agosto de 1962, onde destaca apresentações nas cidades de Porto Alegre e Belo Horizonte. Coube destaque, também, para o variado repertório interpretado pela artista:
Em recital exclusivo, apresentar-se-á quinta-feira próxima, nos salões do Clube XV, a jovem violonista Maria Lívia São Marcos, nome dos mais destacados no setor artístico-musical do país [...]. No mês findo apresentou-se em dois recitais no Estado da Guanabara, Hotel Glória e Teatro Municipal; no último dia 2 realizou o concerto de gala no Teatro Municipal de São Paulo; ontem apresentou-se na cidade paulista de Rio Preto, na qualidade de convidada na prefeitura local. Tem inúmeros convites e apresentações já marcadas ainda para o mês de agosto, destacando-se as cidades de Porto Alegre e Belo Horizonte [...]. Do programa elaborado para o recital em tela, destacam-se composições de Gaspar Sanz, Isaias Reuner, P. H. Rameau, D. Cimarosa, Fernando Sor, Isaías Sávio, Francisco Tárrega, E. Granados, H. Villa-Lobos e Mário Castelnuovo-Tedesco [...] (“Recital de Violão de Maria Lívia São Marcos”, 1962, p. 8).
O sucesso de suas gravações conferiu à Maria Lívia prestígio junto ao público ouvinte das rádios brasileiras. A música de Maria Lívia ocupou momentos destinados à música de concerto na rádio paulistana A Tribuna - vinculada ao periódico impresso de mesmo nome - com destaque para a gravação do concerto para guitarra e orquestra de Heitor Villa-Lobos, realizado pela Orquestra Municipal de São Paulo, sob a regência de Armando Belardi, observado na reportagem de 18 de outubro de 1962 (“Programa de Música Clássica”, 1962, p. 6), do periódico A Tribuna. No ano de 1963 foram identificados os primeiros registros em periódicos das atividades pedagógicas de Maria Lívia São Marcos. O periódico A Tribuna foi o veículo escolhido pelo Instituto Musical Santa Cecília para a publicidade realizada em 16 de abril de 1963, acerca do início de suas atividades pedagógicas com a participação da, então, proeminente musicista:
Será instalado hoje, oficialmente, o curso de violão erudito do Instituto Musical ‘Santa Cecília’, que terá como professora a virtuose Maria Lívia São Marcos [...]. Maria Lívia São Marcos é considerada pela crítica especializada de São Paulo e do Estado da Guanabara como uma das mais expressivas revelações dos últimos anos, no setor artístico musical. Seus discos obtiveram repercussão no exterior, como ocorreu com ‘Violão dos Mestres’, gravado na ‘Ricordi’, juntamente com o quarteto Municipal de São Paulo e, mais recentemente, o ‘Concerto Brasileiro de Violão’, gravado na ‘Áudio Fidelity’, onde executa o ‘Concerto Para Violão e Orquestra’, de Heitor Villa-Lobos, em primeira audição mundial, sob a regência do maestro Armando Belardi [...] (“Curso de Violão no Inst. Musical”, 1963, p. 2).
Publicidade com o mesmo teor - divulgação das atividades pedagógicas de Maria Lívia junto ao Instituto Musical Santa Cecília - também foram identificadas no periódico A Tribuna, de 16 de abril 1963, (“Curso de violão no Instituto Musical Santa Cecília”, 1963, p. 2), de 4 de agosto de 1963 (“Curso de violão do Instituto Musical”, 1963, p. 18), e de 23 de agosto de 1963 (“Maria Lívia São Marcos no concerto da Fundação”, 1963, p. 7).
Em 31 de outubro de 1963, o periódico A Tribuna publica uma audição dos estudantes do Instituto Musical Santa Cecília, dentre estes, alguns orientados por Maria Lívia São Marcos:
Realizou-se terça-feira a última no salão do Instituto Musical “Santa Cecília”, mais uma audição integrante do programa curricular elaborado pela direção pedagógica do referido estabelecimento e que conta com a participação de alunos dos vários cursos mantidos pelo seu ensino artístico. Foram representadas na ocasião dirigidas pelos seguintes professores do I. M. “Santa Cecília”: Maria Laura Angelucci, Maria Luísa Moura Carvalho, Neide Barros, Iracema de Paula Conceição, Audi Miranda Ferreira da Silva, Maria Lívia São Marcos [...] (“Audição de Alunos”, 1963, p. 5).
Em 17 de dezembro de 1963, o periódico A Tribuna publica a notícia sobre a primeira excursão artística internacional de Maria Lívia São Marcos. Na mesma reportagem o periódico destaca a premiação conquistada em concurso realizado na Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro, bem como o sucesso alcançado por seus LPs gravados pela Ricordi e pela Audio-Fidelity.
[...] Maria Lívia São Marcos vem se destacando no cenário artístico nacional e internacional, sendo hoje considerada pela crítica especializada como uma das mais fiéis intérpretes do referido instrumento. Recentemente, conquistou o primeiro prêmio no concurso levado a efeito na Escola Nacional de Música, do Rio de Janeiro. Em sua carreira de concertista tem conseguido vários lauréis, entre os quais diversos LPs realizados nas gravadoras internacionais ‘Ricordi’ e ‘Áudio-Fidelity’ [...] (“Maria Lívia São Marcos Realizará Digressão Artística pela Europa”, 1963, p. 11).
O regresso de Maria Lívia da Europa foi destaque na 5.ª página da edição de 25 de abril de 1964 do periódico A Tribuna (Figura 12). O periódico discorre sobre seus concertos em Paris e Lisboa, e destaca sua participação nas ações promovidas pela Embaixada Brasileira na França.
Maria Lívia São Marcos, consagrada violonista brasileira, realiza presentemente vitoriosa excursão pelas principais cidades e capitais da Europa, tendo terminado sua excursão por Portugal, onde realizou vários concertos, destacando-se a audição patrocinada pela Sociedade de Belas Artes de Portugal, e o recital efetuado no Conservatório Guitarrístico de Lisboa. Presentemente Maria Lívia São Marcos encontra-se em Paris, no cumprimento de contratos, tendo já se apresentado em concerto oficial promovido pela Embaixada Brasileira em Paris, na ‘Casa do Brasil’, sodalício artístico cultural mantido pelo governo brasileiro naquela capital (“Êxito da violinista Maria Lívia São Marcos na Europa”, 1964, p. 5).

Figura 12: Fotografia de Maria Lívia São Marcos. Fonte: A Tribuna (“Êxito da violinista Maria Lívia São Marcos na Europa”, 1964, p. 5).
A estada rendeu-lhe possibilidades e contatos importantes, sobretudo em Portugal. Na cidade do Porto, onde realizou um concerto, manteve contato estreito com o então diretor da Orquestra Sinfônica do Porto, o maestro Silva Pereira. Em Lisboa - cujo movimento artístico Maria Lívia qualificou de extraordinário - além de programar consequentes concertos mediados pelo então diretor do Conservatório Musical de Lisboa, Dr. Ivo Cruz, interpretando o concerto de Villa-Lobos para guitarra e orquestra, apresentou-se no salão da Sociedade Nacional de Belas Artes, na Escola Duarte Costa e no Conservatório Nacional de Lisboa, este último como encerramento das atividades pedagógicas orientadas por Emilio Pujol. O periódico A Tribuna, em sua edição de 25 de julho de 1964, encarregou-se da publicidade dos supracitados encontros.
[...] Maria Lívia São Marcos realizou o concerto no Porto, com programa exclusivamente de música erudita. Na estada em Portugal, disse-nos, recebeu as maiores provas de simpatia, mencionando nesse sentido o maestro Silva Pereira, diretor da Orquestra Sinfônica do Porto, e o Dr. Ivo Cruz, diretor do Conservatório Musical de Lisboa, com o qual interpretará no próximo ano concertos de Villa-Lobos para violão e orquestra. Em Lisboa levou a efeito concertos no salão da Sociedade Nacional de Belas Artes, na Escola Duarte Corta e no Conservatório Nacional de Lisboa, por ocasião do término do curso do maestro Emilio Pujol. Como um dos pontos altos da excursão referiu a festejada artista do violão o concerto que realizou na Casa do Brasil, quando de sua visita a Paris, e gravações na Rádio TV Francesa (“De Regresso da Sua Viagem a Portugal”, 1964, p. 6).
Acerca do seu encontro com Emilio Pujol, Maria Lívia comenta - em entrevista concedida a Sérgio Fernandes - que esteve como frequentadora de seus cursos de primavera em duas ocasiões:
O Pujol, durante dez anos ele casou [sic.] com uma portuguesa. Então, durante dez anos, mais ou menos, cada primavera ele fazia esse curso no Conservatório de Lisboa. E calhou de eu estar lá duas vezes durante dois anos que eu estive lá, e pronto. Aí eu fui aluna dele. (...) Ele fazia esses cursos de Lérida [Espanha] e eu fui lá (São Marcos, 2020/ 2024, p. 04).
Acompanhando seu crescente prestígio, novas oportunidades se faziam cada vez mais presentes na rotina de Maria Lívia na década de 1960. Sua atuação em espaços artísticos a levou a consequentes interações com obras teatrais, como registrou o periódico A Tribuna, em 11 de outubro de 1964. Na ocasião, Maria Lívia participou de uma interpretação do ator Sérgio Cardoso na cidade de Santos, sob o patrocínio da Secretaria do Governo do Estado de São Paulo, e por iniciativa do Conselho Estadual de Cultura e da Comissão Estadual de Teatro. É o primeiro registro documental identificado onde Maria Lívia São Marcos participa de uma atividade artística utilizando, como instrumento, o alaúde:
[...] Em ‘O Resto e o Silêncio’ que, será dividido em duas partes, Sérgio Cardoso representará trechos das peças ‘Ricardo III’, ‘Henrique V’, ‘Como quiserdes’, ‘Timão de Atenas’, ‘Otelo’, ‘Romeu e Julieta’, ‘Júlio César’, ‘Noite de Reis’ e ‘O Mercador de Veneza’. Haverá solos de alaúde por Maria Lívia São Marcos nas cenas de ‘Noite de Reis’ (“Sérgio Cardoso Interpretará Amanhã, em Santos, Trechos de Shakespeare”, 1964, p. 10).
Suas atividades realizando solos de alaúde também se fizeram presentes junto ao grupo Ars Viva, grupo dedicado, sobretudo, ao repertório vocal do período Medieval e Renascentista, ao lado de importantes músicos do cenário paulistano, como relata a edição do 16 de dezembro de 1964 do periódico A Tribuna:
Sob os auspícios de “Ars Viva” que convida as entidades culturais, estudantes e demais pessoas interessadas, o Collegium Musicum de São Paulo, sob a regência de Roberto Schnorrenberg, fará realizar seu anunciado concerto nesta cidade, amanhã [...]. No programa organizado para amanhã serão apresentadas obras pela orquestra acrescida de instrumentos de época, como o alaúde que será tocado pela violonista Maria Lívia São Marcos [...]. (“Collegium Musicum Amanhã no Independência”, 1964, p. 7).
Em 1965, Maria Lívia gozava de significativo prestígio na imprensa paulista e carioca, recebendo a alcunha de “uma das revelações mais sérias da nossa vida musical, nos últimos tempos” pela crítica especializada. A edição de 24 de março de 1965 publicizou seu concerto - realizado pela Comissão Municipal de Cultura - denotando, também, a realização de um curso de música brasileira na Escola de Guitarra de Lisboa dirigido por Maria Lívia São Marcos, a convite de Duarte Costa.
[...] A jovem e talentosa artista brasileira, aclamada, em 1962, como “a melhor artista jovem do ano” pela Associação de Críticos de Teatro e Música, esteve recentemente em Portugal, apresentando-se nas salas de concerto do Porto, Lisboa e Coimbra. Em Paris, executou um concerto de grande repercussão, a convite da Casa do Brasil; de volta a Portugal, participou do Curso de Verão - Sobre Música Antiga, ministrado pelo prof. Emílio Pujol, no Conservatório Nacional de Lisboa. Ali, dirigiu um curso de música brasileira na Escola de Guitarra, a convite do prof. Duarte Costa (“ Maria Lívia São Marcos no Auditório do Rádio Clube”, 1965, p. 6).
As edições de 31 de março de 1965 e de 2 de abril de 1965, respetivamente, reforçam a publicidade do concerto realizado pela Comissão Municipal de Cultura, destacando, entre outros fatos, o repertório e suas faculdades como intérprete: “[...] A Rádio “A Tribuna” apresentará na próxima sexta-feira, um programa com gravações de Maria Lívia São Marcos Figura 13 [...]” ( Maria Lívia São Marcos, Dia 5, no Auditório da Rádio Clube”, 1965, p. 6); “[...] A jovem concertista causou a melhor das impressões com a brilhante exibição das suas faculdades que, artística e musicalmente, se alicerçam numa base técnica evoluída e servem, por intermédio de fina sensibilidade, à realização plena de obra de arte [...]” (“ CMC Apresentará Maria Lívia na Rádio Clube”, 1965, p. 5).
A edição de 3 de abril de 1965 do periódico A Tribuna apresenta, como elemento atrativo, informações acerca de suas premiações obtidas nos anos anteriores. Outrossim, encontra-se na mesma reportagem a informação sobre sua primeira interpretação do concerto de Mauro Giuliani para guitarra e orquestra:
[...] Aclamada ‘a melhor artista jovem’ em 1962, pela Associação Paulista de Críticos Teatrais, Maria Lívia desenvolve um repertório de alto nível cultural, apresentando, em seus concertos, desde a música clássica antiga até as obras de autores modernos [...]. Em 1963 apresentou, a convite da direção do Colégio Armando Álvares Penteado, em primeira audição, o ‘concerto de Mauro Giuliani para violão e orquestra’ e, a seguir, venceu o concurso de violão em que se comemorou o Centenário da morte de Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense. Em 1962, após várias apresentações no Rio de Janeiro, Maria Lívia foi agraciada com a Medalha de Ouro pela Associação dos Artistas Brasileiros [...] (“Maria Lívia São Marcos no Auditório do RC”, 1965, p. 6).

Figura 13: Fotografia de Maria Lívia São Marcos. Fonte: A Tribuna (“ No Instituto Musical Santa Cecília”, 1963, p. 2).
Em 4 de abril de 1965, na décima página do periódico A Tribuna, encontramos uma citação do periódico O Século, de Lisboa, destacando, dentre outras habilidades, “a beleza e a variedade tímbrica de seu som”.
[...] Os críticos de além mar foram unânimes em considerar Maria Lívia ‘guitarrista excepcional’, assim de expressando Humberto D’Ávila, de ‘O Século’, de Lisboa: ‘... através do turbilhão de pianistas que avassala a nossa vida musical, constituiu um oásis apetecido o recital de ontem à noite por Maria Lívia São Marcos, cuja passagem, em boa hora a Sociedade Nacional de Belas Artes soube aproveitar. [...] Senhora de uma técnica límpida em que sobressai a beleza e a variedade tímbrica de som, exala-se dela e comunica-nos não só aquele prazer de tocar que é próprio dos verdadeiros artistas, mas também e sobretudo, um orgulhoso afeto pelo seu instrumento que é próprio de todos os prosélitos e traduz o espírito de missão que a si impôs’ [...] (“CMC Apresenta Maria Lívia São Marcos Amanhã”, 1965, p. 10).
Em agosto de 1965, Maria Lívia embarca novamente para Europa como representante brasileira numa série de concertos, destacando-se o concerto realizado como solista da Orquestra Sinfônica de Lisboa. Nesse mesmo período, Maria Lívia realizou seu primeiro encontro com Andrés Segóvia Figura 14, um dos principais representantes da guitarra clássica na época, como destaca a reportagem do periódico A Tribuna, de 28 de agosto de 1965:
[...] Maria Lívia São Marcos, representará o Brasil na temporada artística de 1965 a instalar-se nos próximos dias em vários países da Europa, devendo ainda se apresentar como solista da Orquestra Sinfônica de Lisboa, em concerto a ser efetuado no próximo mês de setembro. No campo pedagógico participará do tradicional curso ministrado anualmente em Santiago de Compostela (Espanha), pelo gênio da arte violonística André Segóvia [...] (“Seguiu para a Europa a Violonista Maria Lívia São Marcos”, 1965, p. 7).

Figura 14: Fotografia de Maria Lívia São Marcos no curso realizado em Santiago de Compostela (Espanha) sob a orientação de Andrés Segóvia. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia. Nota. Da esq. para direita: Raul Maldonado, Ernesto Bitetti, Andrés Segovia, Emilita (esposa de Segóvia), Enrique Flores, [não identificado] e Maria Lívia.
Maria Lívia, em entrevista concedida a Sérgio Fernandes, comenta sobre sua primeira interação com Segóvia:
[...] o Segóvia brigou com a Espanha. Então, quem dava uns cursos lá de Santiago… não era o Segóvia. E eu tive a chance de ir lá quando ele [...] voltou para a Espanha. Foi o primeiro ano que ele voltou para a Espanha [...]. Segóvia era único. Único. [...] (São Marcos, 2020/ 2024, pp. 4-5).

Figura 15: Fotografia de Maria Lívia São Marcos no concurso de Santiago de Compostela, cujo júri era presidido por Segóvia. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
A atuação de Maria Lívia nos concertos realizados na Europa foi tema de destaque na edição de 22 de outubro de 1965 do periódico A Tribuna. Além do destaque para o título de “Guitarriste Notábile”, recebido no concurso realizado entre os participantes do curso de verão em Santiago de Compostela Figura 15, o periódico destaca suas aparições em programas de rádio e televisão das cidades onde realizou concertos. Na mesma edição observa-se, ainda, o primeiro registro documental onde Maria Lívia São Marcos inclui o Concerto de Aranjuez, do espanhol Joaquín Rodrigo, num de seus programas:
[...] após a conquista do título de ‘Guitarriste Notábile’, obtido no concurso de encerramento do ‘Curso de Verão’, em Santiago de Compostela, na Espanha, Maria Lívia São Marcos exibiu-se recentemente da Televisão Francesa; na Rádio e Televisão Nacional de Madrid, tendo realizado ainda recitais na Casa do Brasil em Madrid; Colégio Guadalupe e da Sociedade Guitarrística da Capital Espanhola, a mais importante entidade do gênero, na Europa. Entre a programação a ser desenvolvida proximamente por Maria Lívia São Marcos na Europa, destaca-se uma série de concertos em Portugal, para onde irá como convidada contratada da Televisão Nacional de Lisboa [...]. Em seu regresso ao Brasil, Maria Lívia São Marcos executará o Concerto de Aranjuez, de Joaquín Rodrigo, para Violão e Orquestra, no Teatro Estadual da Guanabara, sob o patrocínio da Secretaria de Cultura da Embaixada da Espanha no Brasil [...] (“Marcante Atuação de Lívia São Marcos na Europa”, 1965, p. 9).
Maria Lívia comenta com Sérgio Fernandes sobre a distinção de “Guitarriste Notábile” recebida no concurso de Santiago de Compostela:
[...] [toquei a] Flauta Mágica e Villa-Lobos. Daí então ele quis me trocar o doigté, que eu disse para ele: “mas maestro, que eu vou continuar com os meus, porque veja o tamanho da sua mão e o tamanho da minha…” [...]. Daí ele botou a mão [gesto de uma mão sobre a outra]... a mão dele ainda tinha um tanto assim depois da minha, não é? Depois teve um concurso pra ver se qual era o qual era o nível, não é? [...] E daí eles deram o resultado por ordem de… não é... decrescente… crescente! E, bom…do meu nome não chegar, eu não chegava, e daí eu disse: “Nossa, eu toquei tão mal que nem nos piores eu estou!” E daí, la Guitarriste Notable, quem era? Fui eu! Eu fui a última. Então aquela noite nós comemoramos a noite toda! [risos] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 14).
O título recebido por Maria Lívia São Marcos no concurso de Santiago de Compostela foi notícia nas edições de 22 de dezembro de 1965 (“Regresso da Violinista Maria Lívia São Marcos”, 1965, p. 13), de 22 de março de 1966; com especial atenção à primazia da honraria “pela primeira vez atribuída a um concertista erudito da América Latina” (“Violinista Maria Lívia São Marcos Europa”, 1966, p. 9).
Outro fato de destaque na mesma edição refere-se a inclusão do alaúde em seu recital solo realizado na cidade de Santos, São Paulo: “apresentará pela primeira vez nesta cidade um programa no qual inclui a apresentação do alaúde, instrumento tradicionalista na galeria universal de cordas dedilhadas [...]” (“Regressou ao Brasil a Violinista Maria Lívia São Marcos”, 1966, p. 7). Maria Lívia São Marcos é destaque na edição de 25 de novembro de 1966 do periódico A Tribuna, ao realizar, ao lado de Sônia Jorge, um curso para a formação da Escola Violonística do Estado de Sergipe. É o primeiro documento identificado onde Maria Lívia assume o protagonismo de um projeto de criação de um curso para formação de novos guitarristas:
Maria Lívia São Marcos e Sônia Jorge, pertencentes ao corpo docente do Instituto Musical Santa Cecília, seguem viagem amanhã para Aracaju, onde, durante um mês, realizarão curso de formação da escola violonística do Estado de Sergipe. O convite a ambas foi feito pelo governo do Sergipe, que pretende ficar normas para o desenvolvimento do estudo do violão como instrumento de interpretação de músicas eruditas naquele Estado (“ Violinistas para Sergipe”, 1966, p. 9).
No início de 1967, o prestígio de Maria Lívia na imprensa local lhe rendeu a alcunha de “uma das mais categorizadas violonistas eruditas do Continente americano” e seu sucesso com a gravação onde interpreta a Suíte Popular Brasileira, de Villa-Lobos, Tema, 20 variações e fuga sobre as Folias de Espanha, de Manuel Maria Ponce, foi destaque no periódico A Tribuna (SP), de 16 de março de 1967.
A violonista paulistana Maria Lívia São Marcos, considerada pela crítica como uma das mais categorizadas violonistas eruditas do Continente americano, obteve novo êxito lançando um LP no qual interpreta a ‘Suíte Popular Brasileira’, de Villa-Lobos, e ‘Folias de Espanha’, tema, 20 variações e fuga, Manoel Ponce (...) (“ Maria Lívia Obtém Nôvo Êxito”, 1967, p. 3).
Suas atividades em Aracaju possibilitaram, sob sua direção, a realização do I Seminário Nacional de Música, como relata o periódico A Tribuna (SP), de 27 de junho de 1967.
Tendo como diretora e planejadora a violonista Maria Lívia São Marcos, realiza-se entre os dias 3 e 29 do mês que vem, em Aracaju, o I Seminário Nacional de Música, patrocinado pela Sociedade de Cultura Artística da capital sergipana, com o objetivo de incrementar o interesse pela música erudita naquela região (...) (“ IMSC no Seminário de Música”, 1967, p. 13).
Em dezembro de 1967 as edições de 7 de dezembro de 1967 (“Festival Villa-Lobos pelo ‘Santa Cecília’, 1967, p. 6); a de 13 de dezembro de 1967 (“Festival Villa-Lobos Amanhã no Coliseu”, 1967, p. 6); e a de A Tribuna (SP), de 14 de dezembro de 1967 (“Conservatório ‘Villa-Lobos’ Tem Diplomas e Festa, Amanhã “, 1967, p. 6), do periódico A Tribuna, relatam a participação de Maria Lívia - destacada como "expressão máxima do violão erudito no Brasil” - na encenação do poema coreográfico Uirapuru, dentro da programação do Festival Villa-Lobos, promovido pelo Instituto Musical Santa Cecília.
No início da década de 1970, em uma de suas muitas idas à Portugal, Maria Lívia conheceu seu marido, o violinista suiço Franco Fischer Figura 16: “ele estava em Portugal, porque ele estava até aqui de Genebra [mãos acima da cabeça], então ele foi tentar um pouco, mas ele não gostou muito de Portugal” (São Marcos, 2020/ 2024, p. 7). Após o término do contrato temporário de Franco junto à Orquestra Sinfônica de Lisboa, Maria Lívia decide acompanhar seu então namorado em seu regresso para Genebra. Na entrevista concedida a (Sérgio Fernandes, 2020, p. 5), Maria Lívia conta mais detalhes sobre sua mudança para Genebra:
Eu conheci meu marido em Portugal, em outubro, e ele era spalla da orquestra, mas ele tocava aqui na Suisse Romande. E ele foi para Portugal fazer uma prova, quem sabe ele mudasse. Ele estava meio cheio da Suíça, e, bom… eu cheguei lá e nos conhecemos. E daí ele começou. No final, quando acabou o contrato dele no final, em outubro… em dezembro ele veio embora. E começou: “Ah, vamos pra Genebra, vamos pra Genebra…”. [...] Bom, na véspera de viajar eu comecei a pensar: por quê eu não vou pra Genebra? Qual é a razão que eu não vou pra Genebra? Eu vou dar uma voltinha em Genebra e depois volto para o Brasil. Daí eu telefonei para o meu marido: “Olha, Franco, eu vou para Genebra amanhã com você”. Falei para minha locatária lá que eu não ficava mais no apartamento e vim pra Genebra [...] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 5).

Figura 16: Fotografia de Maria Lívia São Marcos com seu esposo, o violinista Franco Fischer. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
A ida de Maria Lívia para Genebra foi um momento oportuno para seu ingresso no Conservatório de Genebra, onde lecionou por trinta e sete anos, como relata na entrevista concedida a Sérgio Fernandes:
Chegando aqui [em Genebra], foi a maior deceção da minha vida. [...] Não tinha neve. Em Genebra não tinha neve, é raro nevar, não é? É… Bom, aí no dia seguinte [...] o Franco [...] passou no conservatório e disse pra secretária: “Olha, eu gostaria de ter o endereço do professor de violão, porque eu tenho alguém que gostaria de encontrá-lo”. E a secretária disse: “Oh! O professor de violão fugiu com uma aluna menor! Estamos com uma classe de trinta alunos sem professor. Depois do Natal nós não temos mais professor!” E o Franco saltou na ocasião e disse: “Ah! Não tem professor? Vou trazer um já!”. E daí eu fui falar com o diretor. E eu tinha o meu disco de Ponce, das vinte e quatro variações, e justamente o diretor tinha sido colega do Ponce em Paris. E pronto! Fiquei sendo professora [...] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 6).
Além de uma família Figura 17, sua parceria com Franco Fisher rendeu algumas produções fonográficas e trocas de conhecimentos musicais. Segundo Maria Lívia, Franco foi, depois de seu pai, o homem mais importante da sua vida musical:
[...] Então… eu vou te dizer, confessar: os dois homens mais importantes da minha vida foram o meu pai e o meu marido. [...] Então, o meu pai foi o meu professor, e o meu marido foi a continuação do meu pai, mas em tudo, não é? Porque o meu pai não era só o meu professor, ele nunca foi muito difícil, porque eu nunca sabia se eu tava falando com o pai, o quê… o professor, enfim. E a mesma coisa com o Franco: tinha um marido e tinha a pessoa que me ajudava artisticamente, não é? [...] Então meu marido foi um grande professor, ele me ajudou muitíssimo, muitíssimo [...] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 12).

Figura 17: Fotografia de Maria Lívia com suas duas filhas no final da década de 1970. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Sua colaboração com o seu marido, Franco Fischer Figura 18, durou até a morte dele, em 2008.

Figura 18: Fotografia de Franco Fischer com suas duas filhas. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Por seu prestígio de reconhecimento internacional, suas atividades como pedagoga junto ao Conservatório de Genebra permitiu lecionar a estudantes de música de todas as nacionalidades, dentre eles, poucos brasileiros:
[...] eu tive aluno no mundo inteiro, menos da China e do Japão, nunca tive japonês. Mas brasileiros tive poucos. [...] O Bellinati [Paulo Bellinati, seu ex-aluno] era bom, ele era não, ele é bom! [...] Teve aqui também, foi meu aluno, foi o Dagoberto Linhares, que era aluno do meu pai, depois ele ficou aluno aqui. A Sônia Lavouage [incompreensível], que foi minha assistente no conservatório, depois ela pegou uma classe numa escola de música muito importante, muito boa professora ela era. E… mais ninguém de brasileiro (São Marcos, 2020/ 2024, p. 6).
Ao comentar sobre seus alunos mais destacados, além de Paulo Bellinati Figura 19 e Dagoberto Linhares, Maria Lívia menciona Dušan Bogdanović, guitarrista e compositor sérvio que a substituiu no Conservatório de Genebra, aquando de sua reforma:
“[...] o Dušan Bogdanović. Um compositor muito, muito, muito excelente! E tocado no mundo inteiro, aliás. E que foi o meu sucessor no Conservatório. Nossa! [...] Mas esse não é só um compositor de violão, não é? Ele tem obras para coro, para orquestra, para quarteto [...] (São Marcos, 2020/ 2024, p. 9)

Figura 19: Fotografia registrada em 2010 de Maria Lívia São Marcos com o violonista e compositor Paulo Bellinati, um de seus alunos mais destacados. Fonte: Arquivo pessoal de Maria Lívia.
Ao longo de sua carreira, Maria Lívia produziu álbuns (Tabela 1) em diversas gravadoras, no Brasil e no exterior. Não há um catálogo definitivo sobre suas gravações, carecendo, ainda, de informações básicas sobre algumas de suas produções. Foram identificados os seguintes álbuns:
Tabela 1: Álbuns com participação de Maria Lívia São Marcos.
| ano | Descrição do álbum |
|---|---|
| 1961 | Violão dos Mestres - Ricordi - LP |
| 1961 | Concerto Brasileiro de Violão - Dischi Ricordi S.P.A (Brasil) |
| 1962 | Heitor Villa Lobos - Concerto para Violão e Orquestra - Audio Fidelity Records AFLP-1991 |
| 196? | Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e Maria Lívia São Marcos (violão) regida por Armando Belardi - Discos RCA LSC 3231 (Brasil) |
| 1966 | Heitor Villa-Lobos: Suite Popular Brasileira - Manuel Ponce: Folias de Espanha - Discos Chantecler - CMG-1040 (Brasil) |
| 1969 | Maria Lívia São Marcos e Franco Fisch (Violino) - Discos RGE - Fermata FB-297 (Brasil) |
| 1969 | Maria Lívia São Marcos - Everest Records SDBR 3240 |
| 1969 | The Classical Brazilian Guitar (LP) - Everest Records SDBR 3248. Reeditado e remasterizado em CD pela EMG Classical |
| 1970 | Maria Lívia São Marcos (violão) - Discos RGE - Fermata FB-355 (Brasil) |
| 1972 | Heitor Villa Lobos - Por Maria Lívia São Marcos (LP instrumental) - Discos RGE - Fermata Produções 303.1006 (Brasil) |
| 1973 | Internacional - Maria Lívia São Marcos - Discos RGE - Fermata Produções 303.1009 (Brasil) |
| 1973 | Cinq Préludes pour Guitare - Heitor Villa-Lobos: Suite Populaire Brésilienne - Disque BAM (maison de disques) LD 5813 |
| 1974 | Barockmusik auf der gitarre - musica barroca (Cimarosa, Handel) - Discos RGE - Fermata Produções 303.1011 (Brasil) |
| 1974 | Heitor Villa-Lobos: Douze Études pour Guitare - Disque BAM (maison de disques) LD 5832 |
| 1975 | Heitor Villa-Lobos: 12 Estudos Para Violão - Discos RGE - Fermata Produções 303.1039 (Brasil) |
| 1975 | Maria Lívia São Marcos Joue Bach - Disque BAM (maison de disques) LD 5865 |
| 1977 | Guitare: Bach, Sor, Villa-Lobos, Werner, Kruse - Disque Disc'AZ (compilação) |
| 1978 | Saudades do Brasil - Discos RGE - Fermata Produções 303.1013 (Brazil) remasterizado em CD pela Mondia Records MON 102 |
| 1978 | Maria Lívia São Marcos Plays Baroque Music - Classic Pick Music 70-124 |
| 1978 | Classical Guitar and Strings - Everest Records SDBR 3420 - Maria Lívia São Marcos Guitare Solisti di Zagreb - LP PICK Classic 70-118 |
| 1979 | Serenata Espanhola - Discos RGE - Fermata Produções 303.1095 (Brasil) |
| 198? | Niccolò Paganini: Concerto for Violin and Orchestra no. 5 in A Minor |
| 198? | Terzetto for Guitar, Violin and Cello in D Major - CD Vivace - Loosdrecht |
| 198? | Lyubomir Gerogiev (violoncelo) e Maria São Marcos (violão) |
| 1986 | Notas Clássicas - Reedição / compilação |
| 1990 | Antonio Vivaldi: The four seasons: Concerto for guitar, violin, viola and cello; Concerto grosso, op. 3, no. 11 (L'Estro Armonico); Concerto for guitar and strings - Bescol Compact classics. |
| 1995 | Heitor Villa-Lobos - CD RGE 342.6188 (Brasil) Compilação de obras. |
| 2003 | Invocations and Dances (Hommage à Manuel de Falla) - CD Cascavelle VEL3046 |
| 2012 | Classical Brazilian Guitar - CD Essential Media - com o grupo Solisti di Zagreb (remasterização) |
6. Considerações finais
As evidências apontam para uma atuação diversificada da vida artística e pedagógica de Maria Lívia São Marcos, gozando, ainda em vida, do prestígio e do reconhecimento do meio artístico. As atividades pioneiras demonstram a importância de suas contribuições para a guitarra clássica brasileira e mundial. As produções fonográficas até o momento identificadas retratam uma arte eclética, por vezes ligada aos cânones do repertório guitarrístico, mas, também, a interpretação de obras pouco exploradas. São significativas as lacunas sobre as atividades artísticas e pedagógicas dos guitarristas estabelecidos no Brasil entre 1875 e 1975, bem como seus descendentes, lacunas estas preenchidas, paulatinamente, por trabalhos realizados nos últimos anos e destacados neste texto, bem como nas publicações que se seguirão no decurso da investigação que resultou neste artigo. Essa primeira biografia documentada de Maria Lívia São Marcos poderá contribuir para a difusão e o aumento do interesse pela sua produção artística, cujos registros sonoros são pouco difundidos. Por fim, destaca-se que a possibilidade de recomposição das trajetórias dos guitarristas portugueses e de seus descendentes poderá contribuir para o conhecimento de memórias e trocas culturais relevantes entre Brasil e Portugal, além de reconstituir parte da história da guitarra clássica no Brasil.

















