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Silva Lusitana

versão impressa ISSN 0870-6352

Silva Lus. v.9 n.2 Lisboa dez. 2001

 

XXIX: Nota sobre a vegetação halocasmofíticadas arribas areníticas e conglomeráticas do superdistrito Sadense.

No arco litoral Tróia-Sines, as arribas estão presentes entre 1,5 Km para norte da Praia da Raposa e a Lagoa de Melides. São arribas talhadas em materiais do Plioplistocénico constituídas por arenitos, conglomerados e pelitos que apresentam, por vezes, cor vermelha devido à abundância de ferro. Estas arribas reaparecem na costa ocidental da Península de Setúbal, entre a Costa da Caparica e um pouco para sul da Lagoa de Albufeira. Trata-se de um biótopo oligotrófico, ácido e com alguma humidade derivada da pouca permeabilidade do estrato miocénico subjacente (formação da Marateca).

A originalidade da vegetação halocasmofítica (Crithmo-Staticetea), que coloniza as referidas arribas, reside na ausência total de espécies do género Limonium e na presença do endemismo português Armeria pungens ssp. major (Daveau) Franco. Relativamente à subespécie pungens (das areias pleistocénicas e holocénicas), diferencia-se pelos escapos maiores, folhas mais compridas e mais largas (FRANCO, Nov. Fl. Port. II). É um táxone cuja distribuição a sul do Tejo corresponde quase exclusivamente a estas arribas.

Assim, propomos uma nova associação para estes biótopos aero-halinos areníticos, endémica do Superdistrito Sadense, entre a Costa da Caparica e a Lagoa de Melides. A referida associação foi incluída na aliança halocasmofítica das arribas meridionais portuguesas Crithmo-Daucion halophili. Esta diferencia-se, face às restantes comunidades da aliança, pelo tipo de habitat colonizado e pela presença de A. pungens subsp. major. A Dactylo marini-Armerietum majoris é a única comunidade da aliança que coloniza arribas de arenitos e conglomerados de carácter ácido e ricas em ferro. Esta originalidade litológica parece-se correlacionar-se com a ausência total de: Limonium ovalifolium, L. ferulaceum, L. echioides, L. plurisquamatum e L. virgatum, que estão presentes nas restantes comunidades da aliança Crithmo-Daucion halophili.

Sintaxonomia

CRITHMO-STATICETEA Br.-Bl. in Br.-Bl., Roussine & Nègre 1952

+ Crithmo-Staticetalia Molinier 1934

*Crithmo-Daucion halophili Rivas-Martínez, Lousã, T.E. Díaz, Fernández-González & J.C. Costa 1990

**Dactylo marinae-Armerietum majoris C. Neto, J. Capelo, R. Caraça & J.C. Costa, ass. nova hoc. loco, holotypus: inventário nº 7 Quadro 1.

Quadro 1 - Dactylo marinae-Armerietum majoris C. Neto , J. Capelo, R. Caraça & J.C. Costa, ass. nova (Crithmo-Daucion halophili, Crithmo-Staticetalia, Crithmo-Staticetea)
Locais: 1 e 2 - Arriba da Praia da Galé (Barrocal-Melides); 3 e 4 - Arriba da Praia do Pinheiro (Costa da Galé); 5 - Arriba da Praia do Barrocalinho (Aberta Nova - Costa da Galé) ; 6 - Arriba da Praia do Pinheirinho (Melides); 7 - Fonte da Telha; 8 - Lagoa de Albufeira, 9 - Praia da Aberta Nova.

 

Carlos Neto; Depto. Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa. Universidade de Lisboa. Jorge Capelo; Departamento de Ecologia, Recursos Naturais e Ambiente. Estação Florestal Nacional. INIA. Lisboa. Rute Caraça; Centro de Botânica Aplicada à Agricultura. Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa. José Carlos Costa; Depto de Botânica e Engenharia Biológica, Instituto Superior de Agronomia, Uiversidade Técnica de Lisboa.