Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Análise Psicológica
versão impressa ISSN 0870-8231
Aná. Psicológica v.24 n.2 Lisboa abr. 2006
Educadores de infância promotores de saúde e resiliência: Um estudo exploratório com crianças em situação de risco (*)
GLICÉRIA GIL (**)
JOSÉ ALVES DINIZ (***)
RESUMO
Estima-se que em Portugal 11% das crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 6 anos apresentam Necessidades Educativas Especiais (NEE) e 37% das crianças vítimas de maus-tratos e abandono, sujeitas a processo tutelar em 1996, tinham idade inferior a 6 anos. A presença de crianças consideradas em situação de risco e vulnerabilidade no que respeita à sua saúde psicosocial e à sua qualidade de vida implica, quer uma interrogação permanente sobre a natureza dos problemas que contribuem para definir essas situações, quer um notável desafio para aqueles que, nas escolas e jardins de infância, lidam com essas crianças e têm de desenvolver uma prática educativa que vá ao encontro das necessidades diagnosticadas. A Promoção da Saúde e Resiliência junto de crianças em risco tem demonstrado resultados positivos no que respeita à prevenção de comportamentos de risco na adolescência e idade adulta.
No presente artigo assume-se a multidimensionalidade do conceito de promoção de saúde e resiliência e apresenta-se uma investigação empírica desenvolvida com o objectivo de identificar e especificar a importância dessas dimensões no desenvolvimento das práticas educativas dos educadores de infância.
Trata-se de um estudo transversal e exploratório que abrangeu 274 sujeitos, 164 da região do Alentejo e 110 da região do Algarve. Através da análise de correspondências múltiplas seguida de uma classificação hierárquica identificaram-se duas classes de educadores – “mais” e “menos” promotores de saúde e resiliência. Os resultados sugerem que a integração de crianças em situação de risco não é condição imprescindível para que os educadores sejam considerados mais promotores de saúde e resiliência. Do mesmo modo, parece também não existir associação entre a disciplina de Educação para a Saúde (EpS) ou similar, presente na formação inicial, e uma prática mais promotora de saúde e resiliência. Contudo, exercerem funções na rede pública, trabalharem em Jardins de Infância pertencentes à Rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde (RNEPS), a EpS integrada no Projecto Educativo (PE) de escola e o apoio de equipa de saúde escolar são elementos impulsionadores para uma intervenção nesta área.
Palavras-chave: Educador de infância, crianças em situação de risco, promoção de saúde e resiliência.
ABSTRACT
It is estimated that 11% of Portuguese children under 6 years old exhibit Special Educational Needs and 37% of abused and/or abandoned children, under the tutelar proceeding in 1996, were also under six years old. The existence of children considered at risk and vulnerable, when it comes to their psychosocial health and quality of life, implies a continued questioning of the factors that lead to those situations, as well as a challenge to those who work with these children, and must find ways to match educational practices to the children’s needs. Intervention, with children at risk, in the area of Resilience and Health Promotion has been one of the most effective programs in preventing risk behavior in adolescence. This article assumes the multidimensionality of the resilience and health promotion concepts, and presents an empirical investigation aiming to the identification and specification of the importance of those dimensions in the development of educational practices among preschool teachers.
We will refer to a transversal and exploratory study using a questionnaire, involving 274 subjects, 164 working in Alentejo and 110 in Algarve. Through multiple correspondence analyses, followed by a hierarchical classification technique, it was possible to identify two types/classes of resilience and health promoting educators: more and less promoting. The results suggest that, in order to consider a teacher as belonging to the more promoting type, it is not obligatory that there are children at risk integrated in his/her class. Also, there seems to be no relation between the subject of Health Promoting during the teachers education and a more resilience and health promotion oriented practice. However, the following variables are considered important to an educational practice aiming to the health and resilience promotion: working in the public schools; working in a network of Health-Promoting Schools (NHPS); having Health Education integrated in the curriculum; and the support of the Health Services.
Key words: Pre-school teacher, children-at-risk, health and resilience promotion.
Texto completo disponível apenas em PDF.
Full text only available in PDF format.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Andrade, M. (1995). Educação para a saúde – Guia para professores e educadores (1.ª ed.). Lisboa: Texto Editora.
Anspaugh, D., & Ezell, G. (1993). Teaching today’s health. New York: Maxwell Macmillan Publishing Croup.
Bairrão, J. (1993). A educação pré-escolar em zonas desfavorecidas. Encontro sobre Educação Pré-Escolar. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Benard, B. (1993). Fostering resilience in kids. Educational Leadership, 51, 44-48.
Benard, B. (1997). Turning it around for all youth: From Risk to Resilience. [ERIC document reproduction n.º ED412309].
Benard, B., & Marshall, K. (2001). Opportunities for child-initiated learning: long-term follow-up studies of preschool programs. Minnesota: National Resilience Resource Center, University of Minnesota.
Bender, S., Neutons, J., Skonie-Hardin, S., & Sorochan, W. (1997). Teaching Health Science. Sudbury, MA: Jones & Bartlett Publishers.
Brooks, R. B. (1994). Children at risk: Fostering resilience and hope. American Journal of Orthopsychiatry, 64, 545-553.
Clark, C. M., & Peterson, P. L. (1986). Teachers’ thought processes. In M. C. Wittrock (Ed.), Handbook of research on teaching (3rd ed., pp. 255-296). New York: Macmillan.
Correia, L. (1997). Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Regulares. Porto: Porto Editora.
Costa, M., & López, E. (1996). Éducación para la salud – Una estrategia para cambiar los estilos de vida. Madrid: Ediciones Pirâmide.
Cruz, I. (1995). Um programa de intervenção pré-escolar centrado na comunidade. Psicologia, 10, 91-106.
Dias, N. (2001). Observatório dos apoios educativos. Lisboa: Ministério da Educação.
Dunn, L., & Kontos, S. (1997). Developmentally appropriate practice: What does research tell us? [ERIC document reproduction n.º ED 413 106].
Garmezy, N. (1991). Resilience in children’s adaptation to negative life events and stressed environments. Paediatric Annals, 20, 459-466.
Garmezy, N. (1993). Children in poverty: resilience despite risk. Psychiatry, 56, 127-136.
Garmezy, N. (1994). Reflections and commentary on risk, resilience and development. In R. J. Haggerty, R. Sherrod, N. Garmezy, & M. Rutter (Eds.), Stress, risk and resilience in children and adolescents: processes, mechanisms and interventions (pp. 1-17). New York: Cambridge University Press.
Golden, C. J., Sawick, R. F., & Franzen, M. D. (1984). Test construction. In G. Goldstein, & M. Herson (Eds.), Handbook of Psychological Assessment (pp. 19-37). New York: Pergamon Press.
Grotberg, E. (1995). A guide to promoting resilience in children: strengthening the human spirit. Early childhood development: practice and reflections, 8. Bernard van Leer Foundation.
Grotberg, E. (1996). Resilience and culture/ethnicity. Examples from Sudan, Namibia, and Armenia. Annual Convention of the International Council of Psychologists, 1997, Italy. [ERIC document reproduction n.º ED 417 860].
Hatch, J., & Freeman, E. (1988). Kindergarten philosophies and practices: perspectives of teachers, principals and supervisors. Early Childhood Research Quarterly, 3, 151-166.
Hayden, J., & McDonald, J. J. (2000). Health promotion: A new leadership role for early childhood professionals. Australian Journal of Early Childhood, 25 (1), 32-41.
Henderson, N., & Milstein, M. (1996). Resiliency in Schools – Making it happen for Students and Educators. California: Corwin Press, Inc.
Hill, C. (2000). A descriptive analysis of south Carolina’s first-year elementary classroom teacher’s perceptions of their competence to teach health education based on the National Health Education Standards. Tese de doutoramento apresentada na Universidade de Carolina do Sul.
Hill, M., & Hill, A. (2000). Investigação por questionário. Lisboa: Edições Sílabo.
Isenberg, J. P. (1990).Teachers’ thinking and beliefs and classroom practice. Childhood Education, 66, 322-327.
Kurtz, Z., & Thornes, R. (2000). Health needs of school age children. Young Minds. URL: http\\www.wiredforhealth.gov.uk/healthy/Kurtzmarch00.pdf.
Masten, A. S. (1994). Resilience in individual development: successful adaptation despite risk. In G. Wang (Ed.), Risk and resilience in inner city America: Challenges and prospects (pp. 3-25). Hillsdale, N.J.: Erlbaum.
Masten, A. S. (1997). Resilience in children at risk. Research/Practice, 5 (1), 4-6.
Masten, A. S. (1999). Resilience comes of age: reflections on the past and outlook for the next generation of research. In J. Glantz (Ed.), Resilience and development positive life adaptations. New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers.
Masten, A. S. (2001). Ordinary Magic – Resilience processes in development. American Psychologist, 56 (3), 227-238.
Masten, A. S., Best, K., & Garmezy, N. (1991). Resilience and development: Contributions from the study of children who overcome adversity. Development and Psychopathology, 2, 425-444.
Masten, A. S., Sesma, A., Si-Asar, R., Lawrence, C., Miliotis, D., & Dionne, J. A. (1997). Educational risks for children experiencing homelessness. Journal of School Psychology, 35, 27-46.
Masten, A. S., & Coastsworth, J. D. (1998). The development of competence in favorable and unfavorable environments. American Psychologist, 53, 205-220.
Masten, A. S., & Sesma, A. (1999). Risk and Resilience among children homeless in Minneapolis. Cura Reporter, 29 (1), 1-6.
Masten, A. S., & Reed, M. G. (2002). Resilience in development. Forthcoming in C. R. Snyder, & S. J. Lopez (Eds.), The handbook of positive psychology (pp. 3-39). Oxford: Oxford University Press.
Metropolitan Educational Research Consortium (1992). A qualitative study of resilient at-risk students. [ERIC document reproduction n.º ED 389 779].
Ministério da Educação (1997). Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Lisboa: Ministério da Educação.
Morel, A., Boulanger, M., Hervé, F., & Tonnelet, G. (2001). Prevenção das toxicomanias. Lisboa: Climepsi Editores.
Pacheco, J. A. (1995). O pensamento e a acção do professor. Porto: Porto Editora.
Pereira, M. M. (2000). Promoção da saúde na educação pré-escolar em Portugal: concepções, e práticas de educação dos educadores de infância em educação para a saúde. [Dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Medicina de Lisboa].
Pereira, H. G. (1987). Tratamento informático de questionários: o ponto de vista da análise factorial das correspondências. Análise Social, 23 (98), 733-746.
Ruivo, J. B., & Almeida, I. C. (2002). Contributos para o estudo de práticas de intervenção precoce em Portugal. Lisboa: Ministério da Educação.
Rutter, M. (1984). Resilient children why some disadvantaged children overcome their environments, and how we can help. Psychology Today, March, 56-65.
Snyder, M. (1999). Head teachers’ beliefs and practices about risk and resilience. Tese de doutoramento apresentada na Universidade de George Mason, Fairfax, Virginia.
Soares, I. (2000). Psicopatologia do desenvolvimento: trajectórias (in)adaptativas ao longo da vida. Coimbra: Quarteto.
Spidell-Rusher, A., McGrevin, C., & Lambiotte, J. (1992). Belief systems of early childhood teachers and their principals regarding early childhood education. Early Childhood Research Quarterly, 7, 277-296.
Torres, L. (1997). Cultura Organizacional Escolar. Oeiras: Celta Editora.
Vines-Curbow, T. L. (2001). Effectiveness of an experiential learning based health education curriculum on fifth grade children’s health behaviors. Tese de doutoramento apresentada na Universidade de Arkansas.
Von Amann, G. (1995). A integração escolar de alunos com NEE e NSE. Dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Medicina de Lisboa.
Waxman, H. C., Gray, J. P., & Padrón, Y. (2002). Resiliency Among Students At Risk of Academic Failure. Yearbook of the National Society for the Study of Education, 101 (2), 29-48.
Weare, K. (2000). Mental, Emotional + Social Health – a Whole school approach. London and New York: Routledge.
Werner, E. (1990). Protective factors and individual resilience. In S. Meisels, & J. Shonkoff (Eds.), Handbook of Early Childhood Intervention. New York: Cambridge University.
Werner, E. E. (1993). Risk, resilience, and recovery: Perspectives from the Kauai longitudinal study. Development and Psychopathology, 5, 503-515.
Werner, E. E., & Smith, R. S. (1982). Vulnerable but invincible: A longitudinal study of resilient children and youth. New York: McGraw-Hill.
Werner, E., & Smith, R. (1992). Overcoming the odds: high risk from birth to adulthood. Ithaca, NY: Cornell University Press.
Wilkinson, R., & Marmot, M. (1998). Social determinants of health. Copenhaga: OMS.
Winfield, L. (1994). Developing Resilience in Urban Youth. URL: www.ncrel.org/sdrs/areas/issues/educatrs/leadrshp/leOwin.htm.
(*) Este artigo tem por base um estudo mais alargado no âmbito do II Mestrado em Saúde Escolar (FM-UL) intitulado “Educadores de Infância Promotores de Saúde e Resiliência Junto de Crianças em Situação de Risco: Percepções e Intervenções” elaborado pelo primeiro autor sob a orientação do segundo.
Agradecimentos: Agradecemos à Professora Maria Catalina Pestana pela co-orientação, incentivo e inspiração e à Professora Margarida Gaspar de Matos, à Drª Gregória Von Amann e à Drª Maria Paula Aguiar que nos ajudaram a confrontar, amadurecer, organizar e elaborar o instrumento de recolha de dados. Agradecemos também à DGRHE – Ministério da Educação, às Direcções Regionais de Educação do Algarve e Alentejo, aos Presidentes dos Conselhos Executivos dos Agrupamentos de Escola do Alentejo, aos participantes que generosamente disponibilizaram o seu tempo e que graças à sua boa vontade contribuíram para a concretização deste estudo.
(**) Jardim de Infância N.º 4 de Portimão, Portugal. E-mail: gliceria@netcabo.pt.
(***) Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal. E-mail: jadiniz@fmh.utl.pt